Por Cristiano Alves
NOTA DE INTRODUÇÃO: O nome de Stepan Bandera tem ficado cada vez mais popular após os últimos acontecimentos no cenário mundial referentes à Ucrânia, onde tem lugar uma guerra civil pela independência de algumas partes do país e uma considerável ameaça de uma nova guerra mundial, dados os movimentos de tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte e da Federação Russa em direção às fronteiras deste último. O fato também culminou na saída do G8.
Stepan Bandera é reverenciado pelos ativistas da Maydan, mesmo é defendido em alguns blogs lusófonos. Mas quem é esse homem cuja personalidade é cultuada em eventos na Ucrânia, que tem estátuas erguidas em seu nome e grandes retratos afixados em prédios públicos? Seu legado é positivo para a Ucrânia ou para o mundo?
Jornalista investigativo e tradutor, fluente em inglês e na língua russa, o autor desse artigo consultou arquivos ucranianos, russos e até poloneses que nos levam a surpreendentes descobertas sobre o nome de Stepan Bandera e de sua organização na Ucrânia e muito além dela.
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Monumento a Stepan Bandera no oeste da Ucrânia |
Com o desencadear dos últimos acontecimentos na Ucrânia, muitos devem ter ouvido falar ou visto por acaso referências a um certo Bandera. Não se trata de Moniz Bandeira ou Antônio Bandeiras, muito menos do herói literário Bender, mas sim do carrasco ucraniano Stepand Bandera, agente do Abwergroup, a inteligência nazista comandada pelo grande espião Reinhard Gehlen, agente da Alemanha Nazista e depois da CIA, responsável pela direção da Rádio Europa Livre(originalmente Radio Svoboda). A história de Stepan Bandera está repleta de sangue e ódio, responsável pela limpeza étnica de poloneses em Volhynia e de poloneses e ucranianos(seu próprio povo) na Galícia(Halychina) Oriental, sua organização criminalizada não apenas na URSS e na Rússia, como também na Polônia(rival político da Rússia), República Tcheca, Eslováquia e Belarus.
Stepan Bandera era filho de um padre greco-católico1 nascido em Uhryniv Stariy, na Galícia, quando esta região da Ucrânia atual fazia parte do Império Austro-Húngaro, depois fazendo parte da Polônia, da qual fazia parte a cidadania de Stepan Bandera. Bandera fundou a maior organização terrorista da Ucrânia, surgida de um racha de uma organização pré-existente, a Organização dos Ucranianos Nacionalistas(OUN). Ele teve contato com várias organizações nacionalistas ucranianas desde a infância, dentre as quais a Plast, organização de escoteiros de ucranianos fora da Ucrânia(na Ucrânia, soviética, a única organização desse tipo eram os Pioneiros), depois a Organização para a Libertação da Ucrânia, até ter contato com a Organização dos Ucranianos Nacionalistas, da qual foi um de seus primeiros membros na Ucrânia Ocidental. De todas as essas, a OUN era a mais ativa.
Ativista dedicado, Bandera cresceu rapidamente nas fileiras da OUN. Em 1932, ingressou em uma escola de inteligência na Alemanha, em Dantzig. A OUN, como todos os movimentos que defendiam o "nacionalismo ucraniano", já apresentava, nessa época já antes dos nazistas chegarem ao poder, uma forte inclinação pró-alemã que aumentaria exponencialmente com a chegada de Adolf Hitler. Mesmo ciente do envolvimento de Bandera com a inteligência alemã, a direção da OUN o apontou para funções ainda mais importantes. No período de 1930 a 1933, Stepan Bandera foi preso 5 vezes. Em 1930 foi preso com seu pai por "propaganda antipolonesa", no verão de 1931 por tentar cruzar ilegalmente a fronteira polaco-tchecoeslovaca, e em março de 1931 pelo assassinato de um comissário de polícia política polonês, sendo preso várias vezes por isso.
Em 1933, a OUN assassinou o agente secreto soviético A. P. Maylov, em operação coordenada por Bandera e executada por Nikolay Lemik, preso pela polícia polonesa e condenado à prisão perpétua. Outra ação conhecida dele foi a direção de um atentado à bomba contra a sede do jornal Pratsiya, executado por Ekaterina Zaritskaya. O crime mais famoso cometido a mando de Bandera foi o assassinato do Ministro dos Assuntos Internos Bronislav Peratskiy. O assassino, Grigoriy Matseyko, conseguiu fugir para o estrangeiro. Uma vez que Bandera e seu companheiro Bogdan Pidgayskiy foram flagrados tentando cruzar a fronteira com a Tchecoeslováquia, ambos foram presos pela polícia polonesa, julgados e condenados à morte. Uma vez que no mesmo dia do julgamento de Bandera um professor ucraniano foi assassinado pela mesma arma que assassinou o ministro polonês, foi marcado um novo julgamento que condenou Bandera à prisão perpétua por ter ordenado o assassinato do professor Ivan Babiy, considerado um informante da Polícia Polonesa. Por essas ações, a OUN passaria a ser considerada pelos poloneses como uma organização terrorista.
Preso de 1936 a 1939, Bandera foi transferido para várias prisões, a última delas a Fortaleza de Brest, cidade então controlada pela Polônia. Com a invasão alemã, as forças militares polonesas foram alertadas pelo Marechal Rydz-Smigly para que não combatessem os soviéticos, que após a colapso do Estado Polonês(seus líderes internaram-se na Romênia, Estado neutro), a Ucrânia e a Bielorrússia Ocidentais foram incorporadas à RSSB e à RSSU, ambos países integrantes da União Soviética. Segundo algumas versões, os agentes carcerários resolveram liberar os presos da Fortaleza de Brest ante o colapso do Estado Polonês devido à invasão alemã. Segundo outras, estes teriam sido libertados pelo Exército Vermelho, que utilizaria como guarnição de fronteira a Fortaleza de Brest, ponto mais ocidental da URSS.
Mas a OUN nada tinha de simpática aos comunistas soviéticos, a quem consideravam como o inimigo "judaico-moscovo-bolchevique". Bandera, libertado, retornaria à Ucrânia ocidental, onde a OUN passaria a atuar de forma clandestina sob o governo bolchevique. O NKVD, o Comissariado dos Assuntos Internos, da União Soviética, já conhecia as atividades terroristas da OUN e inclusive já a combatia ao redor do mundo. Em 1938, em Rotterdã, na Holanda, o agente soviético Pavel Sudoplatov logrou se infiltrar na OUN e matou o seu fundador, Evgen Konovalets, em um atentado à bomba, escondido numa caixa de chocolates, um suposto presente seu. De acordo com Sudoplatov, também responsável pela eliminação de Trotsky, segundo ele próprio, a ordem foi emitida a ele por Iossif Vissaryonovich Stalin: "Este não é apenas um ato de vingança, apesar de que Konovalets é um agente do fascismo alemão. Nosso objetivo é decapitar o movimento do fascismo ucraniano às vésperas da guerra e forçar esses gangsteres a aniquilar um ao outro em sua luta por poder"2. Com o poder soviético estabelecido na Galícia, o novo governo tratou de perseguir os membros da organização terrorista ucraniana, comprovadamente ligada aos alemães. Bandera, temendo ser pegue pelo NKVD fugiu de Lvov.
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Charge russa ironiza os "Doces Sudoplatov", em razão da bomba criada pelo agente soviético |
Em 1940, a OUN conheceria um racha que afetaria a organização. Stepan Bandera rompera com o líder Andriy Melnyk, considerado demasiado pró-alemão. Bandera, ao mesmo tempo defendeu uma aliança temporária com os nazistas para o controle da Ucrânia, proposição no mínimo ingênua com relação a Adolf Hitler, que declarara o desejo de transformar a Ucrânia numa lebesraum, isto é, o "espaço vital" dos alemães, e que, inspirado no programa de eliminação dos índios para embranquecer os Estados Unidos, planejava a eliminação dos eslavos para germanizar a Ucrânia e a Rússia. Quando o III Reich invadiu a União Soviética, a OUN de Bandera, mais que a de Melnyk, revelou-se colaboradora fervorosa dos nazistas.
De acordo com os apologistas de Stepan Bandera, muitos deles integrantes das diásporas ucranianas ocorridas entre a guerra civil russa e os anos 40, Bandera "apenas queria a independência da Ucrânia", mas por que eles acham que o III Reich, despois de incorporar à Alemanha vários Estados, incluindo a França, iria permitir aos ucranianos formar um Estado independente? Muitos também fazem uma analogia entre Bandera e Stalin, mesmo com Chamberlain e Daladier mencionando que naquelas alturas o nazismo não era considerado abominável como nos dias de hoje e "se era moral que Stalin, Daladier e Chamberlain pactuassem com Hitler, logo também o seria se Bandera fizesse o mesmo". Esse discurso é falacioso e peca pela omissão, omitindo que todos esses pactos tinham objetivos diferentes daquele proposto por Bandera. Chamberlain e Daladier pactuaram com Hitler para entregar ao seu controle zonas estranhas aos interesses de seus Estados, no caso a Tchecoeslováquia. Stalin pactuou com Hitler para ganhar tempo para preparar o Exército Vermelho para se proteger da invasão nazista e uma possível invasão da Inglaterra. Bandera pactuou com Hitler para garantir a estadia do III Reich em território ucraniano e para garantir que ucranianos lutassem ao lado de Hitler contra o seu próprio povo e contra o "judaico-moscovo-bolchevismo".
A organização de Stepan Bandera tinha muito em comum com a organização de Adolf Hitler. Este último clamava a "superioridade da raça germânica" e evocava seu suposto papel civilizatório da humanidade. O primeiro clamava a "superioridade da cultura ucraniana" e evocava o seu papel de "verdadeiros ucranianos". Os russos que conhecemos, segundo os "nacionalistas" ucranianos seriam uma suposta invenção tártaro-mongol diferentes da etnos ucraniana. Se o fascismo alemão tem como marcas de seu ódio o antissemitismo, o racismo antinegro, a eslavofobia e o anticomunismo, o fascismo ucraniano tem como marcas de seu ódio o antissemitismo, a russofobia e o anticomunismo(posteriormente elementos como o racismo antinegro passariam a integrar a ideologia fascista ucraniana). É importante frisar que essa teoria do "russo mongol", embora cultivada pelos nacionalistas ucranianos, é uma invenção eugenista alemã, surgida quando o Pangermanismo e o Pan-eslavismo rivalizavam entre si durante o século XIX. A Alemanha, com o intuito de justificar o seu controle sobre a Europa Oriental, procurou retratar os russos como "tártaro-mongóis" ávidos por barbarizar a Europa. Adolf Hitler e Stepan Bandera apenas desenterraram essas teses do Império Alemão para justificar seu ódio russofóbico.
Apesar de ser visto por alguns ucranianos como um "herói da independência", ele não passava de uma marionete dos alemães, "Stefan Popel", como era chamado no serviço secreto alemão. Bandera respondia diretamente ao famoso espião nazista Reinhard Gehlen, conhecido como "O lobo cinzento de Hitler", oficial do Abwehr e depois da CIA, americana. A Gehlen, além de Popel(Stepan Bandera) e a OUN(facção B), também respondiam a Ustasha croata, os Vanagis letões, a Guarda de Ferro romena e os vlassovistas russos. Gehlen também coordenou a inteligência da Alemanha Ocidental. Sua organização também forneceu armas, equipamentos e munições a uma organização soviética disfarçada de colaboradores bielorrussos, o SMYERSH(sigla para MORTE AOS ESPIÕES), coordenada pelo agente comunista Rudolf Abramovich Abel, o "espião de seis faces", mestre do disfarce.
Bandera colaborou ativamente com os nazistas quando de sua chegada na Ucrânia. Lugares históricos na Ucrânia chegaram a ser remodelados com a inscrição "Heil Hitler! Slava Hitlera! Slava Bandery"(Salve Hitler! Glória a Hitler! Glória a Bandera!). Sobre a invasão nazista, repudiada na República Socialista Soviética da Ucrânia, a OUN-B emitiu o seguinte comunicado:
1. Pela vontade do povo ucraniano, a Organização dos Ucranianos Nacionalistas sob a direção de Stepan BANDERA proclama a formação do Estado Ucraniano ao qual curvaram a cabeça gerações dos melhores filhos da Ucrânia.
(...)
2. Nas terras ocidentais da Ucrânia um Governo Ucraniano é formado, que está subordinado ao Governo Nacional Ucraniano que será formado na capital da Ucrânia - Kiev.
3. O novo Estado Ucraniano formado colaborará com a Grande Alemanha Nacional-Socialista, sob a liderança de seu líder Adolf HITLER que está formando uma nova ordem na Europa e no mundo e está ajudando o povo ucraniano a se libertar da ocupação Moscovita.
O Exército Revolucionário Nacional Ucraniano que foi formado em terras ucranianas, continuará a lutar com o ALIADO EXÉRCITO ALEMÃO contra a ocupação moscovita pela soberania de um Estado unificado e pela nova ordem no mundo inteiro.
Vida longa à Soberania da Ucrânia Unida! Vida longa à Organização dos Ucranianos Nacionalistas! Vida longa ao líder da Organização dos Ucranianos Nacionalistas e do povo ucraniano - STEPAN BANDERA! Glória à Ucrânia!
Como se pode perceber no comunicado banderista, o governo soviético é apenas descrito como "moscovita". Ele também deixa claro o intuito de "lutar com o aliado exército alemão... pela nova ordem no mundo inteiro", isto é, uma ordem imperialista, capitalista e abertamente racista. Esse "nacionalismo" em realidade sequer nasceu na Ucrânia, mas sim na Galícia, território por séculos ocupado por poloneses, austríacos e alemães. Segundo estudiosos, diferente do nacionalismo dos países ocidentais, que começou moderado, clamando a reunificação nacional e depois se tornou extremista, após a consolidação do Estado, exemplo notável na Itália e na Alemanha, na Galícia esse nacionalismo já surgiu extremado. É importante frisar que na Ucrânia, no século XIX, surgira um nacionalismo diferente daquele surgido na Galícia no século XX, ele possuía um caráter socialista ou liberal, reivindicando valores humanistas. Ele encontrava a sua expressão em nomes como o ex-servo Taras Shevchenko, exaltado na União Soviética como herói proletário, e mesmo no atamã cossaco Bohdan Hmelnytskiy, que combateu o invasor polonês. Talvez mesmo poderíamos falar do escritor ucraniano de origem cossaca Nikolay Gógol. O nacionalismo da Galícia, segundo a classificação do Carlton Hayes em The Historical Evolution of Modern Nationalism, esse seria um "Integral nacionalismo". Foi provavelmente o reconhecimento desse "nacionalismo socialista" ucraniano do século XIX que levou Lenin defender a independência da Ucrânia, fato consumado com o estabelecimento da República Socialista Soviética da Ucrânia.
"Minha pátria por 2 milhões de marcos"
De acordo com a Academia Nacional de Ciências da Ucrânia e outras fontes, o líder da OUN-B, Stepan Bandera, participou de vários encontros com os líderes da inteligência da Alemanha, referentes à formação dos Batalhões Rouxinol e Roland. Em 25 de fevereiro de 1941, o líder do Abwehr, Wilhelm Franz Canaris sancionou a criação da "Legião Ucraniana" sob o comando da OUN-B. A organização de Bandera esperava que a unidade se tornasse o núcleo do futuro Exército Ucraniano. Para isso, durante a primavera, a organização de Bandera recebeu 2.5 milhões de marcos para promover atividades subversivas e sabotagem contra a retaguarda do Exército Vermelho, facilitando o avanço das tropas alemãs em seu ataque à União Soviética.
Na Alemanha, em novembro de 1941, os seguidores de Bandera foram reorganizados no 201º Batalhão Schutzmannschaft. A eles foram dados contratos individuais e pagamento. Segundo o livro "História da União Soviética: Período socialista 1917-1957", escrito nos anos 50, o perfil dos colaboradores era geralmente o de ex-detentos e elementos vadios da sociedade.
Sob o comando de Roman Shuhyevich, braço direito de Bandera, o Batalhão, composto de 650 pessoas, participou de ações contra a Bielorrússia. Expirado o seu contrato de um ano, os mercenários ucranianos se recusaram a renovar o contrato, o que levou à sua prisão pela Gestapo. O seu comandante Roman Shuhyevich foi poupado.
Segundo o historiador judaico-polonês Frank Golczewski, especialista no Holocausto, as atividades do 201º Batalhão Schutzmannschaft na Bielorrússia consistia no combate aos partizany e no massacre de judeus. De acordo com os próprios registros da OUN e com o Instituto de História da Ucrânia da Academia de Ciências Ucraniana, de nítidas inclinações nacionalistas, conforme visível em sua página virtual, mais de 2000 guerrilheiros soviéticos foram mortos durante as ações do batalhão comandado por Roman Shuhyevich. O historiador Anders Rudling clama que o termo partizan era quase sempre um sinônimo para "judeus", fato que comprova que a ideologia "nacionalista" ucraniana, o banderismo, a mesma ideologia que vive a alardear o mundo sobre um suposto "genocídio ucraniano promovido por Stalin", foi ela própria uma justificativa para a participação de sua organização no Holocausto nazista.
O pogrom de Lvov
Se as primeiras ações dos bolcheviques visavam o pão, a paz e a terra, as primeiras ações dos banderistas, autoproclamados "revolucionários", começaram com os pogrons, a exaltação e do nazismo e o desejo de com ele colaborar. Os banderistas do recém formado Exército Insurrecional Ucraniano(UPA) uniram-se aos batalhões da SD e lograram massacrar a intelligentsia russa, judaica e comunista da cidade de Lvov(Lviv em ucraniano). Por toda parte cartazes banderistas alardeavam que "os judeus eram a vanguarda do imperialismo moscovita" ou que eram "a vanguarda do comunismo", assim, eles eram arrastados pelas ruas, mulheres eram humilhadas, tendo as suas roupas arrancadas, sendo apedrejadas por crianças e espancadas. Judeus passavam pela mesma humilhação, em alguns casos eram forçados a beijar monumentos a Lenin derrubados. Tudo isso era, a propósito, filmado e fotografado pelos soldados nazistas. Nesses pogrons as milícias ucranianas de Lvov não raramente demonstravam um grande estado de êxtase, comparável apenas ao demonstrado pelos americanos durante os linchamentos de negros nos Estados Unidos da América. Os judeus também eram forçados a andar de joelhos pelas ruas calçadas da cidade. O pogrom de Lvov foi um dos primeiros pogrons iniciados pelos nazistas em território soviético que integrariam o Holocausto Judeu, o seu primeiro na URSS se daria em outra república soviética que hoje é conhecida também pela sua russofobia e anticomunismo, a Letônia, após a entrada dos nazistas.
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Judeu idoso é chutado por pogromista ucraniano |
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Aqui mais um colaborador ucraniano coordena atos de repressão |
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Prisioneiros judeus são obrigados a exumar cadáveres de criminosos ucranianos sem equipamento |
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Judeus são obrigados a andar de joelhos por Lvov, capital da colaboração ucraniana |
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Mulher é publicamente humilhada pelos "inocentes ucranianos" |
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Cidadão é obrigado a beijar um monumento derrubado de Lenin |
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Mais uma vítima dos fascistas ucranianos |
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Foto com um pogromista identificado, Mihaylo Pecharskiy, integrante da Milícia Ucraniana, criada pela OUN e reconhecida pelos nazistas. |
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Nessas duas fotos é identificado mais um seguidor de Stepan Bandera, Ivan Kovalishin, integrante da Milícia Ucraniana, formada pela OUN. Os pogroms de Lvov eram uma espécie de "carnaval" para os fascistas locais. |
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Mais uma mulher humilhada pelos nazistas ucranianos. |
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Grupo de cidadãos pacíficos executados pelos capangas de Stepan Bandera. Essa imagem é frequentemente descrita como "vítimas do terror do NKVD". Todavia, além deste executar em celas individuais, o NKVD removia utensílios como suspensórios e cintos, visíveis nessa foto. Estima-se que só nos primeiros dias da ocupação nazista, os fascistas ucranianos executaram pelo menos 4 mil judeus em Lviv só nos primeiros três dias. Ressalte-se que isso se deu apenas nos primeiros dias, sendo o número de suas vítimas muito superior. Nenhum governo da época, exceto o da Alemanha nazista, se igualava aos métodos empregados pelos nazistas ucranianos. |
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Aqui o responsável pelo pogrom de Lviv, carrasco de mais de 4 mil judeus, Yaroslavo Stetsko, entrega pão decorado com sal(costume da hospitalidade eslava) ao seu velho mestre nazista. Quando Stetsko e Bandera decidiram por uma Ucrânia mais autônoma em relação a Hitler, ambos foram presos, todavia, mesmo presos, os nazistas permitiram que Stetsko escrevesse sua autobiografia, nela se lê: “Moscou e os judeus são os maiores inimigos da Ucrânia. É por isso que eu enfatizo o apoio à ideia de eliminar os judeus, bem como a relevância dos métodos alemães de despovoamento de judeus para excluir a sua assimilação”. |
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Aqui o responsável pelo pogrom de judeus em Lviv, Yaroslav Stetsko, aperta a mão do seu novo mestre capitalista e anticomunista, George Bush, conhecido pelo seu envolvimento com o terrorista Osama Bin Laden e com o processo de entrada de criminosos de guerra nazistas nos Estados Unidos. Milhares de colaboradores de nazistas foram abrigados nos Estados Unidos em troca de sua colaboração na cruzada anticomunista. Eles eram as "testemunhas do terror stalinista". |
É importante frisar que a posição antissemita dos neonazistas ucranianos foi relativizada nos dias atuais. Se os nazistas ontem promoviam o pogrom, hoje eles admitem até um presidente ilegítimo judeu, o "rei do chocolate" Petro Poroshenko. Mesmo na época de Bandera judeus foram permitidos em algumas posições de sua organização, mas isso não foi o suficiente para impedir os pogrons. Por mais bizarro que possa parecer, hoje a cidade de Lvov(Lviv) na Ucrânia tem ruas e até monumentos erguidos em homenagem aos criminosos da OUN(b) e ao próprio Stepan Bandera.
Apesar de ser um agente alemão, Bandera(ou Stefan Popel, seu codenome) nem sempre reinou sobre a Ucrânia durante a ocupação nazista. Após alguns meses de ocupação, ele e seu círculo mais próximo visou mais autonomia em relação a Hitler, o que levou à sua prisão e à de Yaroslav Stetsko e mesmo à prisão e fuzilamento de alguns membros da OUN-B. Segundo alguns autores, isso teria sido ensaiado por Bandera a fim de promover um expurgo na organização e minar a luta pelo poder. Bandera, junto a Stetsko, foi levado a um campo de concentração alemão para "prisioneiros VIP" como pilotos ingleses, por exemplo. Essa prisão é comumente alegada pelos apologistas do fascista ucraniano como suposta "prova de que ele só queria usar os nazistas", ignorando se tratar de um campo VIP e que ele próprio seria depois liberado pelos alemães.
Mesmo não tendo sido levado ao Tribunal de Nuremberg, Stepan Bandera foi descrito várias vezes como "agente do Abwehr" pelo coronel Stolze, do Abwehr II, em dezembro de 1945. De acordo com o seu testemunho, "Conduzindo as instruções de Keitel e Jodl mencionadas acima, eu contatei os nacionalistas ucranianos que estavam no Serviço de Inteligência Alemão e outros mebros de grupos nacionalistas fascistas, a quem eu recrutei para conduzir as tarefas definidas acima. Em particular, as instruções foram dadas a mim pessoalmente para os líderes dos ucranianos nacionalistas, os agentes alemães Myelnik(codenome Consul I) e Bandara para organizar, imediatamente após o ataque da Alemanha à União Soviética, e provocar demonstrações na Ucrânia para desintegrar a retaguarda dos exércitos soviéticos, e também para convencer a opinião pública internacional da alegada desintegração da retaguarda soviética."3 Isso ajuda a entender como "o povo ucraniano recebeu e saudou os invasores nazistas", fato esse verificado apenas nos territórios ocidentais do país como a Galícia, onde era ativa a atuação da OUN(B).
Hatyn, Bielorrússia: "nós não somos alemães"
O massacre de Hatyn, na Bielorrússia(atualmente o país se chama Belarus) foi um dos mais brutais crimes cometidos contra os povos eslavos durante a ocupação alemã da União Soviética. De tão profunda que é a cicatriz deixada pelo massacre na história da República de Belarus, ele foi dramatizado no filme "Idi i smotri"(Vá e veja). O filme, produzido pelo cineasta bielorrusso Elem Klimov, ele próprio um sobrevivente da guerra, é uma obra prima do cinema por captar todo o terror psicológico produzido pelo massacre de Hatyn. Nele um garoto perde toda a sua infância observando o seu povo ser exterminado, até que no final, após capturados pelos partizans, isto é, os guerrilheiros da resistência, um dos carrascos capturados grita histericamente my ne nemtsy, my ne nemtsy(nós não somos alemães, não somos alemães)! E de fato, os promotores deste massacre, que envolveu mais de 300 fuzilados e mais de 100 pessoas queimadas vivas no vilarejo bielorrusso, não eram alemães, mas sim ucranianos colaboracionistas, conforme confirmado por historiadores e investigadores históricos da República de Belarus, Federação Russa e da própria Ucrânia.
Em março de 1943 foram queimados vivos 152 habitantes da aldeia bielorrussa de Hatyn, dentre essas 75 crianças entre 7 semanas de vida e 15 anos. Eles foram trancados numa igreja da aldeia, sendo lá dentro trancados e queimados vivos. Alguns conseguiram escapar, mas foram alvejados por tiros de metralhadora. Dentre os vivos restaram apenas 4, um deles um ancião, Iosif Kaminsky. Procurando o cadáver de seu filho, ele o encontrou queimado e o ergueu em seus braços, cena que celebrizou um monumento hoje erguido em Belarus dentre as ruínas de Hatyn.
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Memorial de Hatyn, na República de Belarus |
Durante a Era Soviética evitou-se falar dos verdadeiros autores de Hatyn, a fim de não prejudicar a "amizade dos povos", princípio que norteia as ideias comunistas. Temia-se a criação de conflitos entre ucranianos e bielorrussos, por isso mesmo o filme feito sobre o massacre evitou falar diretamente sobre a autoria da monstruosidade, fato conhecido pelos sobreviventes de Hatyn e investigadores soviéticos. Com o fim da União Soviética e consequentemente da noção de "amizade dos povos"5, assim como o ressurgimento do fascismo na Ucrânia, investigadores históricos passaram a "dar nome aos bois".
Produzido em 2008, o documentário russo-bielorrusso Pozornaya tayna Hatyni(O segredo vergonhoso de Hatyn) nos dá provas da autoria do 118º Batalhão de Polícia do Exército Ucraniano sob o comando do major polonês Smowsky. Deste batalhão fazia parte um grande número de membros da OUN-UPA, um desses o primeiro-tenente ucraniano Grigoriy Vassyura. Cerca de duzendos deles eram "nacionalistas" da cidade de Tchernovtsy, oeste da Ucrânia, eles formavam a espinha dorsal deste batalhão. Em 22 de março de 1943, os partizany bielorrussos lograram destruir o automóvel e a vida do capitão fascista Hans Woellke a apenas 40Km de Minsk. Ele era campeão de arremesso de peso das Olimpíadas de 1936, o primeiro campeão alemão em atletismo leve, querido de Hitler. Assim, em represália os nazistas determinaram "ações punitivas" contra vilarejos bielorrussos. Uma vez que o major Smowsky encontrava-se doente, ele colocou o primeiro-tenente Vassyura, desertor do Exército Vermelho, no comando do destacamento do batalhão, sob ordens do major de polícia alemão Erich Kerner6. Um dos comandantes era outro ucraniano, Vassiliy Meleshko. Primeiro eles chacinaram 27 habitantes da vila de Kozyry, depois partiram para Hatyn. O próprio Vassyra, armado de pistola e submetralhadora, fuzilou vários pessoalmente. O batalhão punitivo executou ações de genocídio contra outros 12 vilarejos.
Com seus feitos inteiramente desconhecidos ao final da guerra, Vassyra foi preso e condenado a 25 anos em um campo de trabalho corretivo(unidade do GULAG) por colaboração com os alemães. Seu destino mudaria drasticamente com o advento da "desestalinização" promovido por Nikita Hruschov. Alegando ter sido condenado apenas por "ter sido feito prisioneiro", Vassyura foi anistiado e retornou à Ucrânia, passando de "inimigo do povo" para a condição de "vítima do stalinismo". Na Ucrânia soviética ele chegou a se tornar diretor de uma fazenda coletiva(kol'hoz). Pelo seu "exemplo", ele tornou-se "veterano de guerra e do trabalho", chegou a participar de vários encontros com crianças em escolas.
Durante o aniversário de 40 anos do final da guerra, por ter se apresentado como um "combatente do front", Vassyura foi ousado a ponto de reclamar para si uma das mais importantes ordens militares atribuídas aos veteranos da II Guerra na União Soviética, a Ordem da Guerra Patriótica. A princípio os órgãos legais interessaram-se pela história desse "herói de guerra" que constava como "desaparecido em combate". Uma ampla investigação levou a colegas de Vassyura, que por sua vez o denunciaram como "um dos cruéis comandantes do batalhão da morte". Na lista do ex-oficial do Exército Vermelho constavam 360 mulheres, idosos e crianças executados. Além de Hatyn, ele liderara expedições punitivas contra os vilarejos de Dalkovich e Ossov, onde fuziladas 78 pessoas, além de expedições contra Makove, Uborok e Kaminskaya Sloboda, onde exterminou pelo menos 50 judeus.
Processado, julgado e condenado por um Tribunal Militar na Bielorrússia, Grigoriy Vassyura foi fuzilado em 1986 por crimes de guerra. Seus cúmplices tiveram sentenças menores, no mínimo 8 anos de prisão. O depoimento de Grigoriy Vassyura feito em seu julgamento rendeu um livro em 14 tomos. Longe de inocentar seus homens, ele declarou em juízo: "peguem o comandante Meleshko, ele é um sádico que fede a sangue". Ele confessou ter matado não menos que 360 pessoas.
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Grigoriy Vassyura, um dos comandantes do massacre de Hatyn. Sentenciado a 25 anos de prisão na época de Stalin, ele foi libertado durante a "desestalinização" e elevado à condição de "vítima do stalinismo". Chegou a dirigir um kol'hoz na URSS, participar de encontros com crianças em escolas e foi desmascarado ao tentar, ousadamente, solicitar uma Ordem da Guerra Patriótica, o que levou a uma investigação de seu passado e à descoberta de seus crimes em nome do "nacionalismo ucraniano" defendido por Stepan Bandera. |
O caso Vassyura e suas confissões, como o fato de cidadãos de Tchernovstsy terem sido voluntários do 118º Batalhão de Polícia do Exército da Alemanha nazista constitui a prova inexorável da autoria dos banderistas no extermínio de cidadãos pacíficos da República Socialista Soviética da Bielorrússia, demonstrando que o seu ódio aos "moscovitas", poloneses, comunistas e judeus iam muito além. Esse fato destrói pedra sobre pedra o mito de que os "nacionalistas" ucranianos apenas lutavam contra o domínio de Moscou e de Varsóvia, tratando-se de genocidas e carrascos sem quaisquer escrúpulos.
Volhynya, o holocausto polonês
Em 1943, Stepan Bandera encontrava-se prisão de Sachsenhausen, no quartel de Zellenbau, para presos de alto perfil que colaboravam com os nazistas. Fora da Ucrânia ele ficava longe dos conflitos entre a OUN(b) e a facção de Andriy Melnyk, que em sua luta pelo poder eventualmente combatiam entre si. Isso também impedia que um agente nazista tão valioso fosse emboscado por partizany. O controle que a OUN-UPA(o Exército Insurrecional Ucraniano, organizado sob a tutela dos nazistas) exercia sobre o ocidente da Ucrânia era muito grande.
Enquanto a OUN de Melnyk admirava os aspectos do fascismo italiano, a OUN de Bandera admirava os aspectos do fascismo alemão. A ideologia de sua organização incluía a glorificação da violência, nacionalismo integral, totalitarismo, racismo russofóbico, antipolonês e em vários casos antissemita, e anticomunismo. O componente antipolonês da ideologia banderista seria expresso no massacre de Volynia. A limpeza étnica promovida nessa região estava em conformidade com as ideias de Bandera de criar um país sem minorias étnicas.
Com o crescente número de atividades guerrilheiras por parte dos poloneses e de prisioneiros de guerra do Exército Vermelho que escaparam dos nazistas, a região de Volynya passou a ser uma área de preocupação para o comando alemão, que buscou métodos de "pacificar" a região. Com a constituição do Exército Insurrecional Ucraniano(UPA), o comando foi atribuído ao braço direito de Stepan Bandera, Roman Shuhyevich, que visava aprender com os alemães os seus métodos de extermínio.
Os métodos de extermínio dos alemães consistiam em primeiramente planejar cuidadosamente a operação, estudar o local, efetuar promessas vãs para a população local antes de sua aniquilação, cerco repentino e matança em massa. O treinamento desses métodos em 1942, bem como no manuseio de armas alemãs, preparou os fascistas ucranianos para o extermínio dos poloneses.
Dentre 1942 e 1943, estima-se que os fascistas ucranianos, atuando como unidades de Polícia do Exército Alemão, exterminaram em Volhynia e na Galícia Oriental, pelo menos 100 mil poloneses! Os números variam de acordo com os historiadores, sendo as cifras mais altas dentre os historiadores poloneses. Segundo Czeslaw Partacz, dentre 134 mil e 200 mil poloneses foram exterminados em Volhynya e na Galícia. Lucyna Kulinska fala em 150 a 200 mil nos mesmos territórios. Um estudo conjunto feito por historiadores da Polônia e Ucrânia feito no ano 2000 aceitou o número de 50 a 60 mil só em Volhynya. Alexander Gogun, historiador russo participante da Conferência de Potsdam, dos Aliados, estimou que só em Volhynya mais de 25 mil foram mortos dentre 1943 e 1944. É um número muito elevado dado o curto período de tempo e métodos intencionais de extermínio através da brutalidade.
As atrocidades perpetradas pelos seguidores de Stepan Bandera contra a minoria polonesa não poupavam civis independente de idade ou sexo em nome de sua política racista de "despolonização". Segundo Norman Davies, em No Simple Victory:
Vilas eram queimadas. Padres católicos romanos eram esquartejados a golpes de machado ou crucificados. Igrejas eram queimadas com todos os seus clérigos. Fazendas isoladas eram atacadas por gangues carregando ciscadores e facas de cozinha. Gargantas eram cortadas. Mulheres grávidas eram mortas à baioneta. Crianças eram partidas ao meio. Homens eram emboscados no campo. Os perpetradores não poderiam determinar o futuro da província. Mas ao menos podiam determinar um futuro sem poloneses
Em Volhynya veio ficou registrado o ápice do terror banderista, era constante o uso de métodos de sadismo que nem mesmo os fascistas alemães usaram de forma tão explícita. Ações terroristas como o desmembramento de civis, decapitação e esquartejamento de homens em frente às suas famílias eram comuns. Mulheres eram estupradas e mutiladas pelas gangues de Stepan Bandera, por vezes em frente à sua família. A resistência a essas ações eram impossibilitadas devido à garantia de que "nada lhes seria feito" e de que a ocupação de tais vilas seria supostamente temporária. Além disso, todos os habitantes das vilas eram exterminados, quase nunca sobravam testemunhas. Crianças eram enforcadas e amarradas a árvores com arame farpado. Poloneses tinham objetos pontiagudos como pregos introduzidos em seus crânios, a fim de que morressem de forma lenta e dolorosa.
Abaixo algumas das atrocidades cometidas em nome de Stepan Bandera:
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Massacre em vila polonesa. Aproximadamente 170 poloneses assassinados em uma noite. |
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Exumação de cadáveres na vila de Wola Ostrowiecka, revelando sinais de golpes de machado |
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Cadáveres de crianças polonesas mortas pelos fascistas ucranianos. À esquerda, Janusz Mekala, de 3 anos de idade, morto com as costelas quebradas. Ao centro Stasia Stefaniak, de 5 anos, morta com uma abertura na cavidade abdominal e costelas quebradas. À direita Marek Mekala, de 2 anos, morto com golpes de baioneta várias vezes. |
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Camponesa polonesa esquartejada pelos fascistas ucranianos em 1943. Esses atos eram comumente aplicados às mulheres, após estuprá-las. |
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Mulher polonesa com uma das mãos decepadas, aparentemente com o corpo partido ao meio. |
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Mais um registro do massacre promovido pelos anticomunistas ucranianos, defensores ardentes do capitalismo e de Adolf Hitler, seguidores de Stepan Bandera |
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Crianças amarradas a uma árvore com arame farpado pelos banderistas |
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Ex-presidente ucraniano Viktor Yuschenko cumprimenta um grupo neonazista da Ucrânia |
Inúmeros são os relatos dos poucos sobreviventes do massacre sobre os crimes cometidos pelos gângsteres de Stepan Bandera, crimes esses cometidos não apenas contra poloneses, mas também contra tchecoeslovacos, minoria em Volhynya, e mesmo contra os próprios ucranianos que se recusavam a participar de suas raides assassinas contra camponeses pacíficos. Os ucranianos que se recusavam tinham seu sangue derramado e com ele mesmo era escrito na parede de suas casas "Sou um traidor da Ucrânia! Glória à Ucrânia! Glória aos Heróis!".
A Waffen SS Galizien
Com a mudança no curso da guerra a partir da vitória soviética na Batalha de Stalingrado, foi formada em abril 1943 a 14ª Divisão de Granadeiros da Waffen SS, mais conhecida como Waffen SS Galizien. A divisão era formada por católicos orientais e permitia capelães. Ela incluía os voluntários banderistas do ocidente da Ucrânia, da Galícia e da Volhynia, incluso os integrantes do Batalhão Volhynya, ou Unidade de Defesa Ucraniana, 31º Destacamento Punitivo da SD. Uma minoria de seus integrantes incluía alemães e holandeses. A unidade militar participou de ações de extermínio não apenas na Ucrânia, mas também de uma rebelião na Eslováquia e na Eslovênia, onde combateu uma guerrilha antinazista.
Em um discurso para os oficiais da Waffen SS Galizien disse o reichsführer Heinrich Himmler:
Sua terra natal tornou-se muito mais bonita desde que vocês perderam - sob nossa iniciativa, devo dizer - os residentes que frequentemente sujavam o bom nome da Galícia, nominalmente os judeus7
Até os dias atuais os apologistas de Stepan Bandera negam o seu colaboracionismo com os nazistas. Toda essa sofistaria não possui nenhum valor de veracidade diante dos fatos! Como bem coloca o historiador belga Ludo Martens, a colaboração de banderistas e nazistas era conhecida até mesmo do outro lado do oceano - o Exército Americano fez 11 álbuns que comprovam a colaboração bandero-hitlerista. As fotos abaixo comprovam o envolvimento dos fascistas da Ucrânia com os da Alemanha:
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O Reichsfüffer SS Heinrich Himmler inspeciona a divisão da SS formadas por voluntários ucranianos. Coincidentemente ou não, o seu número é "14", que na simbologia nazista indica a saudação Sieg Heil |
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Alguns apologéticos da Waffen SS Galizien e de S. Bandera clamam que se tratou de mera "aliança de oportunidade", como a da URSS e da Alemanha nazista, todavia os militares comunistas jamais juraram lealdade a qualquer símbolo ou estandar nazista. Nessa foto os colaboradores ucranianos prestam um juramento aos nazistas. A bandeira nazista ucraniana carrega a mesma cor e o mesmo símbolo do Estado ucraniano moderno. |
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A confiança dos alemães era tanta nos "nacionalistas" ucranianos, que alguns militares aparecem aqui com a mais alta condecoração da Alemanha nazista, a Cruz de Ferro |
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Túnica da farda de oficial(aparentemente tenente-coronel) da Waffen SS Galizien. Em sua gola percebemos, além do posto, o leão que é o brasão de Lvov e símbolo da divisão da SS. Na manga esquerda está o brasão da Galícia, com o leão(Lviv/Lvov significa "leões" em ucraniano/russo) |
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"Junte-se às tropas da Divisão de Fuzileiros da Galícia da SS", cartaz de propaganda em ucraniano |
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"Eu sou voluntário", cartaz de propaganda dos banderistas, para recrutamento na SS Galícia |
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"Levante-se para lutar com o bolchevismo nas tropas da Divisão da Galícia". Cartaz anticomunista dos nazistas e dos "nacionalistas" ucranianos |
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"A SS da Galícia vai à batalha". Panfleto banderista exaltando o nome de Adolf Hitler em ucraniano |
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"Divisão Ucraniana Galícia. 1943. Eles defenderam a Ucrânia" |
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Veterano da SS Galizien marcha com jovens neonazistas e cartazes de apologia ao nazismo na Ucrânia antes da Maidan |
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Os neonazistas da Maydan não surgiram do dia para a noite. Desde a "independência" da Ucrânia, manifestações de apologia do nazismo e de divulgação do "Holodomor" são permitidas no país. Nessa marcha percebe-se um grande número de jovens, muitos de cara limpa, e bandeiras da Ucrânia e da OUN(b), rubro-negras, juntas, sem qualquer laivo de coação policial. Nos cartazes estão alguns personagens da Ucrânia, dentre os quais o criminoso nazista Roman Shuhyevich. O nazismo na Ucrânia, desde o fim do socialismo, não só é tolerado como é promovido pelas autoridades. |
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Cemitério erguido em homenagem ao racismo na Ucrânia capitalista |
A ideia de que o o "nacionalismo ucraniano não tem qualquer associação com o nazismo", ou de que "se tratou de mera aliança de oportunidade" não condiz com os fatos e é inclusive refutada facilmente por um amplo acervo fotográfico.
Embora filmes ucranianos contemporâneos clamem que "os banderistas lutaram contra Stalin e contra Hitler", além dessa versão ser facilmente refutável pelo acervo citado, ela também é refutada pelos fatos e por um discurso do próprio Adolf Hitler. Em abril de 1941, a Divisão SS Galizien foi transferida para o agora formado Exército Nacional Ucraniano, força guerrilheira anticomunista e racista que visava atacar a retaguarda, especialmente os suprimentos do Exército Vermelho, de modo a retardar o avanço deste até Berlim(o que se concretizaria em maio). Esse exército seria comandado pelo ucraniano Pavlo Shandruk. Frequentemente seus comandantes e destacamentos seriam transportados de avião pelos alemães e lançados de paraquedas na Ucrânia, na retaguarda do Exército Vermelho com armamentos modernos que incluíam o fuzil automático Stg-44.
Cético quanto à capacidade dos ucranianos de impedir que o Exército Vermelho chegasse a Berlim, Hitler chegara a dizer que os fascistas ucranianos estavam sendo melhor armados do que os fascistas alemães:
"Seja essa unidade confiável ou não. No momento eu não posso sequer criar novas formações na Alemanha por que eu não tenho armamentos. Deste modo é idiotia dar armas à divisão ucraniana que não é completamente confiável. Eu preferiria tomar as armas deles e montar uma nova divisão alemã. Eu considero que ela está excelentemente ocupada, talvez muito melhor armada do que a maioria das divisões que estamos criando neste momento."8
De combatentes nazistas a "vítimas do comunismo"
Para o pós-modernismo, polpa ideológica da burguesia, conceitos como "bom" e "ruim", "moral" e "imoral" são apenas pontos de vista. Marx, em "O manifesto comunista", já dizia que a burguesia "submergiu nas águas glaciais do cálculo egoísta os frêmitos sagrados da piedade exaltada, do entusiasmo cavalheiresco"9. Em outras palavras, o doutor alemão demonstra que a burguesia abandonou completamente a noção de honra, sendo seguida, no campo ideológico, por pessoas frívolas, oportunistas, fracas!
Durante 4 anos o comunismo deixara de ser o grande "bicho-papão". Findada a guerra, ao mesmo tempo em que até desenhos da Disney abominavam o nome de Adolf Hitler, os nomes de Iósif Vissaryonovich Stalin e do povo soviético eram elevados às alturas! Grandes comandantes americanos declaravam publicamente sua admiração pelo "heroísmo do Exército Vermelho", almirantes, generais e ministros da guerra americanos falavam que "nós e os nossos aliados estão eternamente gratos e sempre em débito com o exército e o povo da União Soviética."10. No Rio de Janeiro, um grupo de alpinistas afixou no Corcovado uma faixa chamando Stalin de "o grande campeão da paz", em fins dos anos 40. Mas se o Exército Vermelho salvara o próprio povo e o de outros países da tirania e da selvageria fascista, ele também salvara, involuntariamente, os negócios de grandes capitalistas e as ações das bolsas de Londres e de Nova Iorque. E feito isso, ninguém mais precisava de Stalin e do Exército Vermelho. Para justificar suas ações militares pelo mundo também precisavam de um motivo, de um "novo Hitler", de um novo III Reich, e esses seriam Stalin e a União Soviética.
Durante a guerra, John Loftus era responsável, no Departamento de Justiça de Washington, pelo serviço de pesquisas especiais, encarregado de detectar os nazistas que procuravam infiltrar-se nos Estados Unidos. Em seu livro The Belarus Secret(O segredo bielorrusso), ele afirma que seu serviço se opunha à entrada no país de nazistas ucranianos. Mas Frank Wisner, que dirigia o Escritório de coodenação política, um serviço de informação, fazia sistematicamente entrar nos EUA antigos nazistas ucranianos, croatas, húngaros. Wisner, que teria mais tarde importante papel na CIA, declara9:
"A organização dos nacionalistas ucranianos e o exército dos resistentes que ela criou em 1942 (sic), o exército insurrecional ucraniano, lutaram asperamente tanto contra os alemães quanto contra os russos soviéticos"10. Deste modo, ficava claro que o serviço secreto americano havia adotado a versão da história dada pelos nazistas ucranianos com o propósito de entrar nos Estados Unidos. Loftus respondeu a Wisner:
"Isso é completamente falso. O Corpo de Contra-Inteligência dos Estados Unidos tinham um agente que havia fotografado 11 álbuns de fichas secretas internas da OUN, relativas a Bandera. Essas fichas mostram claramente que a maior parte de seus membros trabalhava para a Gestapo ou a SS como policiais, executores, caçadores de resistentes e funcionários municipais"12
Mas falecido o democrata antifascista Roosevelt e finda a guerra, os Estados Unidos não apenas recebiam nazistas como os financiavam através dos "Institutos de Pesquisa" fundados pelos banderistas da OUN-UPA, fossem da tendência Melnyk ou da tendência Bandera. Loftus declarou que "o financiamento desses "institutos de pesquisa", que não eram outra coisa senão grupos de cobertura para antigos oficiais de informação nazistas, veio do Comitê Americano para a Libertação do Bolchevismo"13.
Esses "institutos de pesquisa" deram uma valorosa contribuição ao anticomunismo nos Estados Unidos. Em 1985, nos anos de Ronald Reagan, o filme Harvest of Despair obteve a medalha de ouro no 28º Festiva Internacional do Cinema e de TV de Nova Iorque. Harvest of Despair(A colheita do desespero) era um filme feito para o grande público, Harvest of Sorrow(Colheita da tristeza), era um livro, feito para a intelectualidade. Ambos se tratavam de trabalhos com base em "vítimas do comunismo". Durante o filme, sobre o "genocídio" ucraniano, aparecem como testemunhos Stepan Skrypnik, que foi redator-chefe do jornal nazista Volin, vivia como refugiado na América. Outro testemunho é o alemão Hans Von Herwarth, que trabalhava na URSS recrutando russos para o exército colaboracionista do general Andriey Vlassov. Outro testemunho do filme é o seu compatriota Adolf Henke, diplomata nazista. Ilustram a "fome genocida contra os ucranianos" fragmentos dos filmes Le Tsar Famine(A fome do tzar), de 1922, Arsenal, de 1929, e depois sequências de Le Siége de Léningrad(O cerco de Leningrado), filmado nos anos da IIGM.
O filme foi atacado publicamente em 1986 por falsificações. Muitas dessas imagens são ainda veiculadas em documentários sobre o Holodomor e em exposições sobre o "Holocausto ucraniano", além de poderem ser facilmente achadas em blogs anticomunistas.
Os banderistas por muito tempo foram as fontes fascistas de Robert Conquest, que conforme revelado pelo jornal The Guardian em janeiro de 1978, era um agente do IRD britânico que depois ingressou na CIA americana e, apadrinhado por essa, tornou-se historiador de Harvard, sendo a fonte de consulta de muitos historiadores, tido por autoridade no assunto. Seu livro Harvest of Sorrow, publicado em 1986, é uma versão pseudo-acadêmica da história, tal como ela é contada pela extrema-direita da Ucrânia, pretendendo que lutaram "contra Hitler e contra Stalin".
Se um banderista conseguia até mesmo se esconder na própria União Soviética e até quase chegar a receber uma grande condecoração militar, como vimos aqui, que dirá de Estados anticomunistas? Mas não era apenas os Estados Unidos que abrigava os companheiros de Bandera. Além de países como o Brasil e outros, um banderista podiam entrar sem muitas dificuldades no Canadá, isto é, parte da Comunidade Britânica. Ele podia permanecer até mesmo na Alemanha Ocidental, destino do próprio Stepan Andriyovich Bandera! Se os banderistas trocaram o fuzil alemão pela caneta americana, Bandera o fez pela alemã, passando a viver com uma nova identidade desde que fora libertado em 1944 pelo regime nazista.
Esse privilégio de ingressar em países capitalistas, como vimos, não era um privilégio exclusivo de fascistas ucranianos, mas também de fascistas alemães. Além de Bandera e hordas de criminosos de guerra, a Alemanha Ocidental recebeu o chefe de Bandera, o "Lobo cinzento de Hitler", o General-Major Heinhard Gehlen. Lá ele viveu até o fim dos seus dias, escreveu um livro que chegou a ser publicado em português, "O serviço secreto". O espião nazista passou a atuar no serviço secreto alemão ocidental e depois na Agência Central de Inteligência(CIA), americana. Com o apoio dessa e recursos do Departamento de Estado dos Estados Unidos, o nazista tornou-se diretor da Rádio Europa Livre(Radio Svoboda), especializada em rádio-difusão anticomunista voltada para a Europa Oriental. Essa rádio existe até hoje e pode ser sintonizada em qualquer parte do mundo através de ondas curtas.
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O jovem general-major Gehlen, agente do Abwehr e depois da CIA, foi o responsável por cooptar traidores soviéticos como Stepan Bandera e o colaboracionista russo Andriey Vlassov. Ele também dirigiu a Rádio Europa Livre, fundada com recursos do Departamento de Estado dos EUA |
Os últimos dos moicanos
Como apresentado neste artigo, o próprio Hitler admitia que os fascistas ucranianos estavam melhores equipados do que muitas unidades alemãs. Muitos foram transportados da Alemanha até a Ucrânia soviética, que então já havia sido libertada pelo Exército Vermelho. Embora o combate do Exército Soviético e das forças americanas contra o Eixo tenham encerrado em 1945, durante mais alguns anos continuaria a atuar em território soviético a guerrilha nazista formada por remanescentes da OUN-UPA de Stepan Bandera, ela se denominava "Conselho Supremo de Libertação da Ucrânia".
O conselho decidiu que por razões de segurança Stepan Bandera não deveria retornar à Ucrânia, deste modo, lideraria a OUN(b) em território soviético o braço direito de Bandera, veterano do pogrom antissemita e anticomunista de Lvov, remanecente do núcleo original da organização, Roman Shuhyevich. Uma de suas atividades mais notáveis de Shuhyevich foi um boicote às eleições na República Socialista Soviética da Ucrânia em 1946. Nesse mesmo ano ele seria promovido a "General" do Exército Insurrecional Ucraniano.
Dado que se tratava de uma ameaça interna, o combate da guerrilha banderista coube ao NKVD, agora renomeado MVD, isto é, o Ministério dos Assuntos Internos. Ao órgão cabia a perseguição aos "últimos dos moicanos", responsáveis por atos diversionários contra o poder soviético, por aterrorizar vilas de camponeses e tramar a derrubada do Estado Soviético e a constituição de um regime nazista na Ucrânia.
Sob o comando de Roman Shuhyevich os banderistas viriam o seu fim enquanto organização guerrilheira anticomunista. A diretriz dada aos homens do MVD era para que capturassem, se possível, vivos, os integrantes da organização de Stepan Bandera, a fim de que usassem-nos como propaganda, mostrando a sua reintegração à sociedade soviética.
A organização de Bandera e de Shuhyevich lançou ataques guerrilheiros nas regiões de Ternopolskiy, conhecida pela sua minoria grega, Lvov e Ivano Frankvisk. Para agir livremente pelo território soviético, Shuhyevich usou disfarces, por exemplo, documentos com uma foto colada que o apresentavam como "Yaroslav Vassilyevich Polevskiy" ou como "Maksim Stepanovich Orlovich". Seu esconderijo era desconhecido pelos órgãos de segurança.
Em 1950, seria presa pelo MGB, órgão subordinado ao MVD, a mensageira pessoal de Roman Shuhyevich, Darya Gusyak, apelidada "Darka". Com a introdução de uma agente do MGB disfarçada em sua cela, "Roza", ela confessou a participação na organização de Shuhyevich e revelou o seu esconderijo, o que se confirmou verídico pela investigação dirigida pelo espião comunista ucraniano Pavel Sudoplatov, conforme suas Memórias.
Cercados pelas tropas especiais(Spetsnaz) do MVD, Shuhyevich foi rendido em seu esconderijo. Conforme as memórias de Sudoplatov, o General Drozdov, do MGB, exigiu que Shuhyevich baixasse as suas armas, garantindo que seria poupada a sua vida. Em resposta, ouviu-se uma rajada de fuzil, Shuhyevich, tentando abrir uma brecha no cerco, atirou duas granadas de mão. Um disparo durante o tiroteio acabou com a vida de Roman Shuhyevich, acabando assim com um dos principal líder nazista na Ucrânia, depois de Bandera, que encontrava-se na Alemanha. Durante o tiroteio morreu também o major ucraniano Revenko, do MGB. Para não dar grande repercussão ao caso, nenhum dos participantes da missão foi condecorado. Em vez disso recebeu os agradecimentos oficiais e um prêmio de 1000 rublos o sargento do MGB Polischuk, pela neutralização de Roman Shuhyevich. Seu corpo foi levado para reconhecimento pelo seu filho, uma mulher e um padre católico-grego. Seu corpo foi cremado e suas cinzas jogadas para fora da Ucrânia.
Os remanescentes ativos da OUN-UPA viriam o seu último combate nas montanhas dos Cárpatos, até serem presos ou mortos em combate contra as tropas do MVD. Eles não tinham mais para onde fugir, em 1950 a Tchecoeslováquia e todos os Estados em volta da Ucrânia soviética eram Estados de orientação marxista e fervorosamente antifascistas. Darka, mensageira de Shuhyevich, foi sentenciada a 25 anos de prisão, sendo solta nos anos 70 e vivendo hoje na Ucrânia com seus 90 anos de idade, destino esse que jamais seria conferido a um comunista nas mãos de banderistas.
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Identidade falsa de Roman Shuhyevich sob o disfarce de "Yaroslav Polyoviy". O nazista chegou a utilizar como símbolo uma estrela com a foice e o martelo, símbolos do comunismo, que odiou até o fim de seus dias |
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A última foto de Roman Shuhyevich, precisamente, de seu cadáver |
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Retrato de Shuhyevich em uniforme nazista |
O fim de Stepan Bandera
O líder do movimento nacionalista ucraniano mais extremista vivia refugiado em Munique, na Alemanha Ocidental, destino de muitos criminosos nazistas. Lá, com documentos falsos, ele se apresentava como "Shtefan Popel" e dirigia as atividades da OUN(b) a partir do exterior. A organização, após a destruição de sua guerrilha na União Soviética, agora participava de influentes círculos ao redor do mundo.
Em 1958, em Rotterdã, reuniu-se toda a direção da OUN para homenagear Yevheniy Konovalets, fundador da organização. Dentre os participantes do evento, encontrava-se um certo jovem, admirador seu, Hans Johann Budeit, em realidade, o agente do KGB Bohdan Stashinskiy, sua missão - gravar a fisionomia de Stepan Bandera. Um julgamento realizado à revelia, nos anos 50, condenou à morte o líder fascista ucraniano.
Nascido numa família de ucranianos "nacionalistas", Bohdan era membro da OUN e foi detido pela Milícia por ter furtado uma mala em 1950. Em 1951 foi recrutado pelo MGB. Uma de suas primeiras missões consistiu em um ato contra a própria irmã, noiva de um comandante de um destacamento armado de banderistas. Ele o conduziu até a floresta, entregando-o ao serviço secreto.
De 1952 a 1954, Bohdan Stashinskiy foi educado na língua alemã e polonesa em Kiev, depois disso sendo estabelecido na Alemanha Oriental, onde passaria a trabalhar, oficialmente, como tradutor.
Com a queda do agente Pavel Sudoplatov, após o fuzilamento de Lavrenti Beria, coube a Alexander Shelyepin, líder da juventude comunista e agente do KGB organizar a missão de eliminação de Stepan Bandera. Ele era conhecido pelo recrutamento de Zoya Kosmodemyanskaya9. Graças a ele o feito da partizanka tornara-se conhecido por todo o país. Shelyepin agora recrutara Stashinsky.
A primeira missão de Stashinsky paga por Shelyepin consistia na eliminação de Lev Rebet, um dos líderes da OUN. Atuando sob o disfarce de "Joseph Lehman", Stashinsky recebeu do KGB uma arma completamente diferente. Tratava-se de uma "pistola" que mais parecia uma caneta, para quem a via, todavia, ela não disparava projéteis, e sim um spray de cianeto. A inoculação do spray fazia a vítima morrer em instantes e o agente, para se proteger dos efeitos, tinha que ingerir imediatamente um comprimido que o protegia dos efeitos do spray de cianeto. Deste modo, acreditou-se inicialmente que Lev Rebet morreu de ataque cardíaco, isto é, de morte natural.
Semelhante ao caso Rebet, Bandera veio a ser executado com a mesma arma secreta de cianeto. Ele havia acado de chegar ao edifício onde estava seu apartamento e dispensou os seus guarda-costas. Ao chegar em frente ao seu apartamento, no 3º andar, ele viu o KGB Stashinsky lendo um jornal, ao que perguntou: "o que você faz aqui?". Stashinsky então baixou o seu jornal e puxou a manga da camisa, então disparou o jato de veneno bem na cara de Bandera, retirando-se em seguida e ingerindo o comprimido. Bandera caiu no chão ainda com vida, começando a sangrar. Os vizinhos, ouvindo o barulho, ligaram pedindo ajuda. Socorrido ainda com vida, ele morreu na maca, acabando com as intenções ocidentais de sublevação na Ucrânia. Pela sua missão, Bohdan Stashinsky foi condecorado com a Ordem da Bandeira Vermelha, por eliminar o Bandera rubro-negro.
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Julgamento de Stepan Bandera na União Soviética, feito à revelia |
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Na foto, Stepan Bandera ao centro, o mais baixo de todos(tinha cerca de 1,50m, alguns admiradores de suas ideias falam em 1,58) |
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Retrato de Stepan Bandera e reconstituição de seu assassinato |
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Desenho da arma secreta usada no assassínio de Bandera |
Reabilitando um genocida
Nos anos do Estado soviético o banderismo foi contido e combatido, mas não completamente destruído. Em realidade, ao contrário do que pregam muitos propagandistas do anticomunismo, na União Soviética alguém podia pensar de qualquer maneira, inclusive acreditar no nazi-fascismo, o que era proibido era a propaganda dessas ideias. Isso mudaria nos anos 80 com a glasnost.
Ao contrário do que alardeiam muitos autores ocidentais e os próprios ideólogos da perestroyka e da glasnost, esta última não era uma "transparência", mas sim um bombardeio ideológico, uma guerra de propaganda empreendida com o objetivo de conseguir aquilo que mais de 17 exércitos tentaram fazer nos anos da Guerra Civil Russa, que as hordas hitlerianas não conseguiram, destruir a União Soviética à partir de dentro. Numa entrevista a uma universidade na Turquia em meados do ano 2000, Gorbatchov declarou que seu objetivo era a aniquilação do Estado soviético, o que fizera com o apoio de sua mulher. Assim, durante a glasnost, criminosos de guerra, inimigos do povo, eram agora declarados "vítimas do stalinismo", tudo era válido em nome do "combate ao stalinismo", inclusive a reabilitação de colaboradores de nazistas. Alexander Soljenitsyn, que apresentou os detentos da OUN-UPA como "combatentes da liberdade", durante uma rebelião carcerária ocorrida no Cazaquistão, retornou à União Soviética. Grupos de oposição neofascistas tornaram-se fashion como o jeans e o McDonalds na União Soviética em fins dos anos 80 e começo da década de 90.
Com o fim da URSS e a declaração de independência das repúblicas soviéticas, nasceu a nova Ucrânia, que adotava como cores nacionais, simbologia e bandeira nacionais as mesmas adotadas pelos banderistas. Mas apenas isso não bastava, as novas gerações eram agora educadas nas escolas sobre a "luta pela independência da Ucrânia de Stepan Bandera", canais de TV, agora pertencente a mafiosos oligarcas, exibiam dia e noite sobre como o espião alemão "lutou pela Ucrânia livre". A OUN-UPA renascia enquanto organização, produzindo inclusive filmes e amostras. Emigrados ucranianos retornavam do exterior para agora dizer como os ucranianos deveriam pensar e agir.
Mas não era necessário apenas falar de um "herói", era necessário mostrar contra o quê lutou esse "herói", um mito fundacional que justificasse a existência da Ucrânia e não fazê-la parecer um "Estado artificial", daí a "fome genocida" passou a ser denominada "Holodomor", o "holocausto ucraniano", avatar do anticomunismo. Então assim definia-se a nova ideologia, "se os soviéticos eram ruins e assassinos, logo os banderistas seriam bons e justos". Stepan Mazepa, um cossaco que traiu o seu povo em nome do Império Sueco e do Império Turco, também era apresentado agora como herói, e Bohdan Hmelnitsky, que dirigira a luta contra os poloneses e defendera o tzar, era tido como um "herói que foi enganado".
Com a eclosão das "revoluções coloridas", no início da década de 2000, foram instalados governos pró-Washington em várias ex-repúblicas soviéticas, a primeira delas a Geórgia. Na Ucrânia não foi diferente, em 2004 eclodiu a Revolução Laranja, em realidade um movimento contra a posse de Viktor Yanukovich, eleito por maioria de votos, em favor de Viktor Yuschenko, que prometia a entrada do país na União Europeia e na OTAN, a exemplo do que se sucedera a países do antigo Pacto de Varsóvia. Colocado no, Yuschenko não hesitou em enviar tropas da Ucrânia para a Guerra do Iraque e do Afeganistão, para o lado das tropas americanas.
Uma das mais notáveis medidas do governo de Yuschenko, o que contou com a reprovação de aliados políticos seus inclusive, foi a reabilitação em caráter oficial de Stepan Bandera e Roman Shuhyevich. Agora eles eram não apenas fantasmas do passado, mas "Heróis da Ucrânia", o mais alto título dignatário conferido a colaboradores de nazistas e carrascos.
O título viria a ser cancelado durante o governo de Viktor Yanukovich.
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Ucraniana carrega o retrato de Bandera adiante dos manifestantes da Maydan, nos protestos de 2014 |
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Culto da personalidade de Bandera em prédio público na Ucrânia. Percebe-se uma pichação da runa Das Reich, considerada de suma importância pelos nazistas |
O legado de Stepan Bandera
Quando se fala de um dado personagem histórico, há que se verificar o seu legado para o seu país e para a humanidade. Napoleão Bonaparte tinha ambições imperialistas, sonhava com seu projeto de senhoria do mundo, iniciou uma grande guerra, se tornando um vilão para muitos. Todavia o projeto napoleônico teve o seu lado positivo, não apenas ajudou a difundir as ideias iluministas da Revolução Francesa, como também uma avançada legislação trabalhista. Alguém pode vociferar histericamente contra o bolchevismo, mas há que reconhecer que ele criou um eficiente sistema educacional que em tempo recorde acabou com o analfabetismo, industrializou um país em tempo recorde, instituiu o sufrágio universal, onde todos votavam, fossem minorias nacionais ou mulheres, e criou uma avançadíssima legislação antirracista, além de diversos feitios científicos como o primeiro homem no espaço. O mesmo pode ser dito sobre Getúlio Vargas, no Brasil, que reprimiu os trabalhadores e permitiu as mais bárbaras torturas10, mas por outro lado contribuiu para a modernização e integração do Brasil, combateu o Eixo e criou uma importante legislação trabalhista. Mas e Stepan Bandera, ele deixou algum legado positivo?
Quando os bolcheviques chegaram ao poder, seus primeiros decretos foram sobre o pão, a paz e a terra. Quando os banderistas chegaram ao poder, seus primeiros decretos foram sobre o extermínio de judeus e de outras minorias nacionais, incluindo camponeses inocentes sem qualquer participação na luta revolucionário. Sua primeira declaração foi uma ode a Adolf Hitler, ao tirano austríaco que pintou com sangue, ossos e gás o retrato do III Reich.
O banderismo usou-se de métodos de sadismo desconhecido pela maioria dos exércitos e guerrilhas das nações civilizadas, métodos barbáricos comuns há centenas de anos. Não se trata de um ideal solidificado sobre bases humanistas, mas de uma vertente extremada do fascismo. O banderismo queimou cidadãos pacíficos vivos em Hatyn, fuzilou e queimou civis vivos num sindicato em Odessa, nos dias atuais. O banderismo, na Ucrânia e fora dela, influencia desde os liberais(incluindo algumas vertentes de movimentos feministas como o FEMEN e o pós-moderno LGBT) aos neonazistas sem máscaras, sendo praticamente um ponto comum à direita daquele país. Em nada fez a nação ucraniana avançar no plano social ou econômico. Agora, ele produz agitações na Ucrânia, extermina mulheres e crianças com foguetes disparados contra zonas civis na República da Novorrússia, ameaça um conflito com a Crimeia e, sem exageros, mesmo ameaça o surgimento de uma nova guerra mundial!
Bandera não era um líder do porte de Washington, Tiradentes ou Lenin que viveram dentre os seus povos e visavam mudar suas realidades, ele sequer vivera na Ucrânia que tanto dizia defender, sua vida era restrita à Galícia, um pequeno pedaço do oeste do país, mas queria ensinar a todos os ucranianos como deveriam viver e como pensar. O banderismo deixou algum legado positivo para a Ucrânia ou para o mundo? A resposta a essa pergunta é não! Ele não apenas reconduziu nazistas ao poder, como deixou uma mancha na história do povo que descende da "Rússia de Kiev", uma mancha pintada com as cores do racismo, do sadismo e do genocídio.
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Militantes do FEMEN, organização pós-modernista que milita pela causa LGBT, segura uma bandeira da OUN-UPA, organização responsável pelo genocídio de camponeses poloneses e tchecos de Volhynia, colaboração com o nazismo e banditismo na antiga União Soviética. São visíveis também bandeiras do partido neonazista Svoboda. |
Notas de rodapé:
1- A Igreja greco-católica ucraniana(por vezes chamada de católico-ortodoxa) é um cisma da Igreja ortodoxa ocorrido em virtude do controle das zonas ocidentais do país. Diferente das igrejas ortodoxas tradicionais, os greco-católicos adotam ritos similares aos dos ortodoxos, mas aceitam a supremacia do papa romano. Assim como na ortodoxia, os padres(presbíteros) podem se casar. São também chamados genericamente de "católicos orientais".
2- SUDOPLATOV, Pavel. Special Tasks: The Memoirs of an Unwanted Witness, a Soviet Spymaster, pages 23-24 . Acesso em 27/05/14 às 20:40.
3- The Nizkor Project. O julgamento dos maiores criminosos de guerra alemães. Depoimentos do Tribunal de Nurembergue. Disponível em: http://www.nizkor.org/hweb/imt/tgmwc/tgmwc-06/tgmwc-06-56-12.html . Acesso em 01/06/14 às 23:30.
4- Hatyn sozhgli boytsy UPA - ucheniki Stepana Bandery. Disponível em: http://versia.ru/articles/2014/mar/22/khatyn_stepan_bandera . Acesso em 02/06/14 às 15:30.
5- Durante a Era Soviética evitava-se qualquer conflito com os povos integrantes da federação. No filme sobre o mítico herói Ilya Muromets, por exemplo, que combateu os invasores tártaros de Kiev, fala-se nos fictícios invasores "tugares" asiáticos. Evitou-se também um filme sobre o personagem da literatura russa Taras Bulba, a fim de evitar confrontos políticos com os poloneses, que então sediavam o Pacto de Varsóvia.
6-
Zverstvo v Hatyni. Chih ruk delo?(Selvageria em Hatyn. De que mãos é a autoria?) Matéria do jornal Komsomolskaya Pravda. Disponível em: http://www.kp.ru/daily/26203.4/3089116/ Acesso em 02/06/14 às 16:42.
7- "Pure Soldiers or Bloodthirsty Murderers?: The Ukrainian 14th Waffen-SS Galicia Division" por Sol Littman, página 78, nota de rodapé 38 e "Galicia Division: The Waffen-SS 14th Grenadier Division 1943 - 1945" por Michael O. Logusz, página 463, notas de rodapé 34.
8- "The Waffen-SS: Hitler's Elite Guard at War 1939-1945" por George H. Stein, páginas 194-195.
9- Zoya Kosmodemyanskaya: Jovem comunista de apenas 19 anos que fugiu de casa secretamente para combater os alemães. Traída por um companheiro capturado, ela foi chicoteada, teve seu corpo queimado e foi levada nua à neve invernal, sem no entanto entregar os companheiros. Por isso foi enforcada e esquartejada pelos nazistas, o que lhe garantiu o título de Herói da União Soviética,
post mortem.
10- É registrado que no Brasil que o alemão Arthur Ewert, comunista, teve um arame em brasa inserido na sua uretra. O grau de torturas sofrido o levou à loucura.
Fontes de consulta:
- United States Holocaust Memorial Museum. Disponível em: http://www.ushmm.org/
- IVISSIN(Instituto e Iniciativa de Investigação Política). The Bandera Militia and Lviv pogroms of 1941. Disponível em em: http://www.invissin.ru/topics/ukrain_en/the_bandera_militia_and_lviv_pogroms_of_1941/
- Jornal Versiya. Disponível em Versiya.ru . Acesso em 02/06/14 às 15:30
- Página do Instituto de História da Ucrânia da Academia de Ciências Ucranianas. Disponível em: http://www.history.org.ua/ . Acesso em 03/06/14 às 21:23.
- A fascist hero in democratic Kiev(Um herói fascista na Kiev democrática). Artigo de Timothy Snyder em The New York Review of Books. Disponível em: http://www.nybooks.com/blogs/nyrblog/2010/feb/24/a-fascist-hero-in-democratic-kiev/ Acesso em 03/06/14 às 21:30.
- MARTENS, Ludo. Stalin, um novo olhar. Tradução Pedro Castro e Pedro Castilho. Rio de Janeiro. Revan, 2003.
- URSS. Academia de Ciências da URSS. A história da URSS: Período socialista, 1917-1957. Tradução de João Alves dos Santos. Editora Grijalbo Ltda. São Paulo, 1960.
- The Global discussion. Disponível em: http://globaldiscussion.net/topic/5660-anonymous-operations-expose-ukrainian-bandera-nazis/ Acesso em 05/06/14 às 20:13.
- WENDEL, Marcus. Axis History. Site sobre a história do Eixo. Disponível em: http://www.axishistory.com/axis-nations/1295-14-waffen-grenadier-division-der-ss-ukrainische-nr-1 Acesso em 03/06/14 às 21:30.
- PODKOVA, Klim.
Kak likvidirovali Banderu(Como liquidaram Bandera). Artigo sobre a morte de Stepan Bandera. Disponível em: http://topwar.ru/35140-kak-likvidirovali-banderu.html . Acesso em 07/06/14 às 19:30.
- SHAPOVAL, Iuri. Has the final mistery of the UPA been solved?(O mistério final do UPA foi resolvido?). Artigo sobre a morte de Roman Shuhyevich. Disponível em http://www.day.kiev.ua/en/article/history-and-i/has-final-mystery-upa-been-solved Acesso em 03/06/14 às 19:00.