MUNDO
Russos fazem página desmistificando mitos sobre o país e a Grande Guerra Patriótica
Por Cristiano Alves
Foi dito certa vez pelo filósofo alemão Karl Heinrich Marx que antes da invenção da imprensa acreditava-se que ela acabaria com todos os mitos medievais, porém criou-se muito mais mitos do que antes após a sua invenção. Com o surgimento do cinema e da internet, esses mitos e boatos ganharam uma dimensão ainda maior num sistema que vive do ódio, do racismo e da mentira, o capitalismo.
Tal qual como os negros na América foram e são ainda vítimas de ampla campanha difamatória, normalmente baseado em estudos superficiais, boatos, casuísmos... motivados pela sanha exploradora das elites nacionais, o mesmo ocorre com os russos na Rússia. Transmite-se às massas desde a simples boatos segundo a qual "na Rússia neva o ano inteiro e cada russo tem um urso polar de estimação do quintal", até boatos segundo os quais "a União Soviética só venceu a II Guerra Mundial por causa do inverno"(como se os russos, especialmente civis, não sofressem os efeitos do frio e da escassez de alimentos dele resultante), segundo os quais "o Exército Vermelho lutava mais por medo do NKVD do que por amor ao seu país e ao socialismo" ou ainda segundo os quais "os militares comunistas não passavam de estupradores". Todos estes não passam de mitos baseados em casos isolados que apelam para generalizações e em grande parte dos casos inclusive para a propaganda nazista, pois uma vez que foi a forma mais violenta de propaganda anticomunista, foi vista como útil pela burguesia e perpetrada por seus assalariados muito mal travestido de historiadores, num mundo onde é cada vez mais fácil falsificar a história com usando o poder da mídia e o Photoshop.
Um grupo de russos da Sociedade da Grande Vitória resolveu refutar vários pontos colocados em fóruns, livros e filmes(que moda os americanos têm de querer fazer filme sobre outros países, como se fossem grandes especialistas no assunto!) sobre o seu país. O sítio virtual "A Rússia em Guerra" (http://www.great-victory1945.ru) discorre rapidamente sobre a história da Rússia e enfatiza o seu papel na II Guerra Mundial, ilustrado com fotos reais e lindos desenhos artísticos sobre fatos da guerra, trazendo referências bibliográficas russas e ocidentais que corroboram os pontos de vista do autor. Dentre alguns mitos destruídos na página, alguns extremamente populares nos Estados Unidos, estão o mito de que "foi a participação americana que decidiu o fim da guerra", mito perpetrado especialmente por Holywood, inclusive apresentando os historiadores americanos como "narcisistas", conforme denunciou um historiador britânico. Um ponto interessante abordado no site é que um verdadeiro russo nunca usa o termo "esse país", mas sim o termo "nós"(my), cita o autor inclusive um episódio em que este teve aulas de história com um professor estrangeiro e este, ao perguntar aos alunos russos quem derrotara Napoleão, estes responderam "nós", ao fazer outras perguntas sobre invasores ou realizações da Rússia, estes respondiam "nós", o que surpreendeu o professor, que então dissera "mas não vocês um grupo de criancinhas"; ocorre que a mentalidade russa é diferente da tradicional mentalidade ocidental, o sentimento de povo, de país, é mais forte no povo russo, daí um russo verdadeiro nunca ou raramente usa o termo "esse país", mas "nós", e isso é facilmente verificável no cotidiano, em livros ou mesmo filmes, palavras como "nasha strana"(nosso país), "nasha rodina"(nossa pátria), "nashi lyudi"(nosso povo), são termos muito mais utilizados por um russo do que "a Rússia" ou "o povo russo", isso é ocorre desde um discurso de um aluno numa escola primária até a apresentação de um filme de grande bilheteria, por exemplo. Também é comum os russos falarem que "nossos avós lutaram", uma vez que praticamente o país inteiro combateu o fascismo, e não apenas alguns militares. Um outro ponto que distingue o povo russo de outros povos, ressaltado pelo autor, e talvez o principal no modelamento do caráter e espírito desse povo, outrora já ressaltado em documentários como "The battle of Russia", é que diferente da maioria dos outros povos, principalmente Brasil e Estados Unidos, na maior parte da história russa estão presentes as guerras contra invasores. A Rússia foi invadida desde o seu início por vikings noruegueses, mongóis, tártaros, suecos, alemães, poloneses, lituanos, turcos, cazares, franceses, tchecos, americanos, britânicos... praticamente toda a Europa já enviou tropas invasoras para a Rússia e a URSS, alguns desses países até mais de uma vez. Ante todos estes invasores a Rússia permaneceu de pé, mesmo com diferentes sistemas econômicos, embora o autor mencione como determinante o papel do sistema socialista soviético para a vitória na II Guerra e da liderança de Stalin, enfatizando também o papel da fé ortodoxa (o próprio site traz em várias oportunidades a cruz ortodoxa de 8 braços ao lado de símbolos comunistas e a fita de São George).
Embora os alemães tenham matado mais de 20 milhões de soviéticos no maior holocausto da história, estuprado mulheres, pilhado e aniquilado cidades inteiras, o site "Russia at War" não guarda ressentimentos pelos invasores, não demosntrando qualquer sinal de "germanofobia", inclusive apresentando a Alemanha como uma antiga nação de guerreiros, porém condenando o nazismo e sua postura imperialista. O sítio virtual satiriza em várias oportunidades a noção nazista de "super-homem ariano", mostrando como os bárbaros nazistas tratavam seus prisioneiros, enviando fotos de enforcamento e crueldade para seus entes queridos como mães ou namorada, ao passo que os russos faziam esforço para tratar bem os prisioneiros alemães, inclusive prestando atendimento médico e respeito para com o inimigo. A página traz muitas fotos fortes, com barbáridades dos nazistas contra populações civis inclusive, denunciando a idéia de que essa brutalidade era exclusiva da Waffen SS, sendo também perpetrada por tropas regulares alemãs.
O sítio é um ótimo remédio contra os falatórios anti-soviéitcos e russófobos, abordando rapidamente a Guerra Fria e inclusive ridicularizando uma técnica extremamente ignóbil, reacionária, fascista que tinha por objetivo disseminar o terror psicológico dentre o público americano, o famoso "duck and cover", algo como "abaixe-se e tome cobertura", muito usado com crianças, uma técnica onde diante de uma simulação de um ataque nuclear soviético, muitas vezes não anunciada, todos tinham que abaixar-se e tomar algum tipo de cobertura, passando a impressão de que a URSS, que jamais utilizara armas nucleares contra outros povos, queria a todo custo destruir os EUA com uma guerra nuclear, incitando a paranóia e alimentando os cofres de charlatães burgueses que lucraram milhões com a construção de ridículos "abrigos nucleares domésticos". Um dos pontos negativos do site, entretanto, encontra-se em algumas posições levemente chovinistas, como uma passagem onde o autor menciona que "não havia ateus no front soviético". Algumas passagens que podem assustar o leitor, também, é o momento em que os autores proclamam "ser brancos e cristãos com orgulho", isso por que além da Rússia não ter colonizado outros continentes como os espanhóis na América, é na verdade uma reação a alguns mitos que apresentam o povo russo como um povo "mongolóide"(isto é, asiático), geralmente com o intuito de diminuir o seu papel e falsificar a sua identidade para a construção de um discurso racista e russófobo, uma vez que "seriam biologicamente estranhos ao continente europeu". "Russia at War" é um lugar na rede mundial onde se pode aprender e compreender um outro povo para construir um mundo melhor, com respeito mútuo.