sábado, março 26, 2011

POLÍTICA


Sobre o antiamericanismo

Um puxão de orelha em quem acredita que os EUA são o único país a promover o imperialismo.

quinta-feira, março 24, 2011

História

Sobre a URSS


Vídeo-artigo que discorre acerca do principal papel da URSS e seu legado para todos os povos do mundo.


quarta-feira, março 23, 2011

MUNDO

Começaram os bombardeios contra a Líbia
Por Cristiano Alves

O Prêmio Nobel da Paz

A Página Vermelha condena as ações imperialistas da Organização do Tratado do Atlântico Norte(OTAN-NATO) contra a Grande Jamairia Socialista Árabe do Povo Líbio, país independente que apresenta os melhores índices sociais da África, com a 53ª posição no ranking do IDH crescente(o Brasil está 20 posições atrás), mais nivelamento social do que em outros países da África e mesmo América Latina, e índice de analfabetismo de apenas 15%, o menor da África.

O bombardeio da Líbia já começou há muito tempo, só que a priori, não com bombas, mas com falsas notícias. Há cerca de 10 anos atrás, a Venezuela conheceu um golpe de Estado orquestrado pela oposição e a CIA[1], que depôs Hugo Chavez e causou grande algazarra nas ruas de Caracas após atiradores não identificados dispararem contra a população, levando a mídia a apresentar tais disparos como sendo das tropas chavistas, o que foi muito bem desmascarado no documentário "A revolução não será televisionada". Já faz quase 1 mês que toda uma guerra psicológica vem sendo montada de modo a impedir o cidadão comum de refletir sobre os acontecimentos no país, demonstrando que o homem ocidental médio é facilmente manipulado como um marionete, como gado que vai na direção que o seu vaqueiro, a mídia de massa, quer que ele vá, que enxerga apenas o que a mídia quer que ele enxergue, que ouve apenas o que a mídia de massa quer que ele veja. Uma das provas mais contundentes da efetividade de toda essa lavagem cerebral, foi uma manifestação numa cidade européia de indivíduos em frente à Embaixada da Líbia, mostrando o quanto esses eram incapazes de pensar por si próprios. Prepara-se psicologicamente uma população inteira para apoiar cegamente um massacre imperialista.

Poucos são aqueles capazes de identificar na invasão da Líbia pela NATO(e não apenas os EUA) um ato de roubo do petróleo de outros povos. Imaginar os EUA e a NATO, é como imaginar uma abelha(sem ofensas contra estes animais pacíficos, produtores do nosso mel), que voa para qualquer lugar com aroma doce, sendo que os caças e bombardeiros da USAF[2] e seus aliados voam para onde há petróleo e um líder não disposto a abrir mão dele tão facilmente. Na Líbia, há ainda outro mineral esquecido por muitos - o gás! Há alguns meses atrás uma crise da Rússia com a Ucrânia, país que aquece toda a Europa através de seus gasodutos, praticamente mantendo seu monopólio deste mineral, ameaçou a subida dos preços. Segundo os jornais da mídia de massa, foi sugerida na Europa a criação de um gasoduto entre a Líbia e a Europa, que passaria pelo mar. Caso isso seja concretizado num futuro, com o consentimento de um governante fantoche da NATO, a Europa perderia sua independência relativa ao gás russo, e também talvez mesmo a Ucrânia, o que possibilitaria sua entrada na NATO e fortaleceria a sua Drang Nach Osten[3] contra a Rússia, fortalecendo o seu poderio militar e hegemonia global, criando um império de proporções monstruosas nunca antes vistas. Ainda, outro fator em jogo, é o impedimento da criação de uma base naval russa no Mar Mediterrâneo.

As ações da NATO demonstram que é cada vez mais evidente a idéia de que é impossível falar numa paz continua, através de um caminho independente, num país de recursos minerais abundantes, sem falar em armas nucleares, em ICBM[4], algo que é reconhecido tanto pela esquerda quanto pela direita, que o diga o finado Dr. Enéias Carneiro. Não há paz sem a preparação para a guerra, diante de um tirano que é hipocritamente agraciado pelo Reino da Suécia com o "Prêmio Nobel da Paz", reino esse que não passa de mero vassalo dos EUA. 

Fatos como a invasão da Líbia demonstram a plena atualidade do termo "imperialismo", cunhado há quase 100 anos atrás pelo filósofo, advogado, operário e revolucionário russo, Vladimir Ilich Ulyanov, mais conhecido como Lenin, imperialismo esse que é reacionário e genocida. Aqueles que defendem a sua ideologia nefasta, ou simplesmente com ela simpatizam, são cúmplices morais de todos os seus crimes.


[1] Sigla para "Agência Central de Inteligência", organização terrorista responsável pelo patrocínio de organizações paramilitares, mercenárias, golpes de Estado, organizações neofacistas e neonazistas, desinformação, contra-informação, guerra psicológica, censura, chantagem, sabotagem e espionagem, dos Estados Unidos da América.

[2] Sigla para "Força Aérea dos Estados Unidos", a primeira do mundo a usar armas nucleares contra civis e responsável por milhões de mortes no Vietnã, Camboja e Laos, também responsável pela violação do espaço aéreo soviético nos anos 40, enquanto desenvolvia um plano para jogar centenas de bombas atômicas na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A violação de seu espaço aéreo cessou a partir do desenvolvimento dos caças MiG-15, que num desses ocorridos chegou a metralhar a fuselagem de um bombardeiro B-52. Num outro ocorrido, o avião-espião U-2 foi derrubado por um míssel terra-ar soviético, levando à captura de seu piloto, Francis Garry Powers.

[3] Drang Nach Osten é como era descrita a "Marcha para o Leste" da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, ordem militar católica de caráter extremamente agressivo responsável pelo massacre, terror e subjugação de diversos povos eslavos à Roma. Em sua tentativa de capturar a capital da Rússia antiga, a República de Novgorod, foi derrotada pelo Príncipe Alexander Nevsky na batalha sobre o lago gelado Chudskoe, onde após uma série de combates o gelo rachou e "engoliu" os cavaleiros com as suas pesadas armaduras. A ordem teutônica deixou de existir após a Batalha de Grunwald, na Polônia, onde foram também derrotados.

[4] Míssil Balístico Intercontinental, modalidade de míssel capaz de carregar ogivas nucleares e lançá-las em qualquer parte do planeta. De acordo com muitos especialistas, sua posse tem ajudado a evitar muitos conflitos e mesmo uma III Guerra Mundial, em razão da "Doutrina MAD".

Ver também:

As "revoluções" árabes
Texto de A. V. Kharlámenko do Partido Comunista (bolchevique) de Toda a União sobre a ofensiva imperialista sendo preparada na Líbia para saquear seus recursos e recrudescer a onda reacionária no mundo
http://inverta.org/jornal/agencia/internacional/africa/as-revolucoes-arabes

O que está acontecendo na Líbia

segunda-feira, março 21, 2011

História

Racismo: uma história
Documentário da British Broadcast Company(BBC)

Você acha que o nazismo e a segregação em campos de concentração começaram com Hitler? Se sim, você está completamente enganado. A história do racismo é anterior a Hitler e os nazistas, séculos antes ela foi iniciada por colonizadores europeus e perpetuada até o século XX pelos Estados Unidos da América e a África do Sul, representantes genuínos do capitalismo.

Uma errata do documentário, entretanto, é a alegação de que a Constituição Haitiana foi a primeira a criminalizar o racismo. De fato, foi a primeira a proibir a escravidão, mas não o racismo em si, embora talvez leis possam ter sido criadas para impedir essa prática no ordenamento jurídico haitiano. A primeira Constituição a abolir o discriminação por motivo de etnia/nacionalidade foi a Constituição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em seu artigo 123.

O documentário demosntra algumas das razões pelas quais a África é um continente impregnado de guerras tribais, quase todas apoiadas por imperialistas da Europa e EUA, sejam estes governos ou instituições privadas que contrabandeiam armas ou treinam paramilitares, tais como a XE/Blackwaters. É ainda abordada a questão dos ameríndios da América do Norte, que mesmo com sua postura pacifista e mesmo amistosa com relação aos colonizadores dos EUA, foram praticamente extirpados do território que hoje compreende este mesmo país.

Muitos racistas contemporâneos costumam tentar minimizar o racismo, com argumentos estilo "não foi tão ruim assim", "não sofreram tanto assim", numa tentativa de revisar a história, tal como os defensores dos crimes do nazismo. Capitalismo e racismo são duas faces da mesma moeda, conforme demonstrado no documentário da BBC que se segue:


EPISÓDIO I

Resumo: Aborda o genocídio dos ameríndios, a posição da Igreja Católica Apostólica Romana, que considerava os índios como "seres sem almas e passíveis de escravização", até o debate dos clérigos Las Casas e Sepúlveda, jesuíta, assim como as teorias racistas anti-negro, que apresentavam-no como resultado de "miscigenação entre seres humanos e macacos" e justificaram alguns dos mais brutais genocídios da história.

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4



EPISÓDIO II

Resumo: Discorre sobre os crimes de genocídio exercidos pelo capitalismo, especialmente Reino Unido, que acabou com nacionalidades inteiras na Tanzânia e matou 30 milhões na Índia, e pelo Império Alemão, que já em 1905, antes mesmo de Hitler, usou campos de concentração para exterminar povos inteiros na África. Demonstra ainda como esses genocídios foram riscados da história européia.

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4



EPISÓDIO III

Resumo: Descreve o extermínio de pelo menos 10 milhões de pessoas pelo imperialismo belga, cujo Exército, sob ordens do Rei Leopoldo II, decepava as mãos dos congoleses escravizados que não aumentavam os lucros do monarca belga. Demonstra ainda os "Zoológicos Humanos" de Leopoldo II. Vale destacar um dos cartazes expostos por um racista num dos vídeos: "Miscigenação é comunismo!".

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4

quinta-feira, março 17, 2011

FILOSOFIA


Vídeo-artigo sobre mitos acerca de Marx, Engels e o movimento operário
Por Cristiano Alves

Vídeo-artigo que desmascara alguns mitos de grande popularidade contra a pessoa e a obra de Karl Heinrich Marx e do movimento operário como um todo.



sábado, março 12, 2011

Internet

Cresce a divulgação de idéias neonazistas pela internet
Por Cristiano Alves
Notícia em comunidade virtual, claramente adulterada, baseada em original da ABC News

A idéia de superioridade racial sempre foi uma constante no modelo capitalista contemporâneo. A fim de justificar a opressão dos negros na América, a redação original da Constituição dos Estados Unidos da América considerava os negros como apenas 2/5 humanos, depois promulgando a Lei Jim Crow, de teor nitidamente segregacionista, que proibia casamentos entre pessoas de etnias diferentes e negava direitos sociais aos mestiços. Setores mais reacionários da Igreja Católica, para justificar a escravização de índios nas Américas, defenderam a inexistência de alma em ameríndios e negros, o que foi seguido também por cientistas como Linneu.

O fato é que o racismo, isto é, a discriminação do indivíduo baseado na cor da pele ou etnia deste é uma construção que durante anos tem prejudicado a vida de muitas pessoas e negado direitos fundamentais a estas, produzindo regimes de terror manifestados principalmente em práticas escravistas e sistemas fascistas. Consiste num equívoco acreditar que somente pessoas de cores diferentes são vítimas desta prática. É um fato, por exemplo, que por volta do século XVIII e XIX teve lugar na Europa um verdadeiro surto de "polonofobia", isto é, o ódio contra poloneses. Muitos ideólogos de idéias racistas, principalmente na Alemanha, de maioria "branca", advogavam a idéia de que os poloneses eram uma "raça inferior", equiparada aos negros, Otto von Bismarck referira-se a eles como "animais", tal como lobos, que alguém deveria matar a tiros a vista.[1] Na França, país de maioria branca, durante a Idade Média, a classe dominante francesa apresentava-se como "de sangue normando" e a plebe como "de sangue gaulês", o que justificaria sua dominação. Os judeus europeus, geralmente de tez clara, sofreram pogroms em diversos lugares da Europa e os eslavos da ex-União Soviética perderam mais de 20 milhões de pessoas no maior holocausto da história[2], empreendido desde os primeiros dias da Operação Barbarrossa[3].

Seguindo os seus antepassados, as elites internacionais do capitalismo fomentam o ódio contra determinados grupos sociais, especialmente em países como Brasil, EUA e outros da América Latina, onde tem lugar o capitalismo mais selvagem possível. Michael Moore, cineasta, jornalista e pensador americano, denuncia o uso de programas policiais como instrumento discriminatório anti-negro nos EUA, situação facilmente verificada no Brasil.

A idéia básica do racista tem como premissa a chamada falácia do tipo "generalização apressada", também conhecida por "falsa indução", consistindo em atribuir regras específicas ao caso genérico. Assim, mostra-se um crime bárbaro cometido por uma pessoa de origem africana e usa-se um caso específico como argumento para "provar" que todos os negros são criminosos, argumento que pode ser facilmente desmantelado ao mostrar que existem pessoas de cor que são grandes intelectuais, operários, camponeses ou soldados sem nenhum histórico criminal. 

Aleksander Pushkin, maior escritor da Rússia, país de esmagadora maioria branca, era de origem afro-russa
Há que se fazer aos racistas algumas interrogações, quem foi o maior assassino de brancos que a humanidade já teve? Ora, não foi ele um branco, o austríaco, Adolf Hitler? Que países promoveram as maiores guerras de destruição contra países países de maioria branca? Não foram países europeus de maioria branca tais como a Alemanha, Itália(Império Romano incluso) e França? Quem foram os maiores pilhadores e piratas da Idade Média? Não foram eles os vikings? Para muitos especialistas, ainda que todas as pessoas tivessem uma determinada cor, ainda haveria discriminação baseada num dado aspecto físico, uma vez que o racismo é na realidade uma construção social. Por que será que esses noticiários policiais não se preocupam em mostrar os milhões de brancos vítimas de Napoleão Bonaparte, os milhões de brancos vítimas de Hitler, as vítimas de Harry Truman, Clinton, Bush ou as milhares de vítimas do rei Leopoldo II no Congo?

É uma excrescência querer atribuir um determinado crime ou prática a uma determinada etnia, uma vez que delitos ocorrem por razões sociais, passionais, dentre outras, circunstâncias estas que podem estar presente em toda e qualquer etnia, seja ela branca, negra, asiática, hispânica, mediterrânea, nórdica, germânica, eslava, ariana, semita, ou seja lá qual for a divisão que se costuma criar entre seres humanos.

De fato, ante quaisquer estatísticas que os racistas queiram atribuir, nenhuma supera a das matanças de "brancos" pelos próprios "brancos", nenhuma justifica a violência e o ódio contra determinada etnia. Este ódio, que é fomentado por noticiários criminais na mídia burguesa e fomentado por todo um aparato ideológico, de forma aberta ou velada, atingindo facilmente a mente do néscio, do indivíduo desprovido de senso crítico. Embora esse tipo de "noticiário" não seja abertamente racista, eles, tais como certos filmes, transmitem uma mensagem subliminar que induz uma idéia falsa no indivíduo, especialmente aqueles que defendem a manutenção da estrutura social desigual do capitalismo, dos dominadores ou aqueles que aspiram chegar a tal posição, razão pela qual tais idéias encontram terreno fértil na burguesia, nos defensores do liberalismo econômico, que já possuem até o adubo em suas cabeças para a germinação da semente racista e irrigação.

Com a popularização das redes sociais, fica mais evidente o nível de preconceito que está impregnado nas mentes de muitos integrantes da burguesia e pequena-burguesia. Estes não são membros de nenhum partido comunista, onde tais indivíduos inexistem, mas elementos perigosos da sociedade e covardes, uma vez que usam-se com frequência de perfis falsos onde expressam o seu verdadeiro caráter. Através de comunidades orkutianas, revela-se personagens macabros como Mayara Peluso e outros que nem sempre se tornam tão famosos pelos seus crimes. Uma dessas comunidades se chama "BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO", criada em Caps Lock, vinculada a uma sociedade que se auto-intitula "HDB", isto é, "Homens de Bem", embora seu conteúdo sugira exatamente o contrário, dada a sua cumplicidade com um crime manifestamente repudiado inclusive na Constituição da República Federativa do Brasil, equiparado inclusive ao terrorismo.

Tendo o predomínio de membros direitistas dentre seus participantes mais ativos, a comunidade é infestada de opiniões racistas, num de seus tópicos, que traz uma notícia claramente distorcida e manipulada a respeito do estupro de uma garota de 11 anos, a usuária identificada por "Angel", nas mesmas linhas de Mayara Peluso, destila o seu neonazismo: "Minha nossa! Ae vc chama uma raça maldita dessa de macacos ainda vai responder processo! Bando de desgraçados deviam ser picados vivos!"(sic). Um outro membro de viés nitidamente racista apresenta "a raça negra e os pardos" como principais perpetuadores de crimes.

Clique na foto para ampliá-la
As sociedades socialistas como a da antiga União Soviética e da antiga Tchecoeslováquia conseguiram banir o racismo de seu território, empreendendo organizações da infância e da juventude como os Pioneiros e o Komsomol. Países como Cuba e Coréia do Norte também conseguiram destruir o racismo através da educação socialista e de leis implacáveis contra o crime de discriminação, tendo sido a Constituição da União Soviética a primeira a criminalizar a discriminação baseada na etnia ou nacionalidade do indivíduo.

Somente através da supressão da sociedade capitalista e de sua superação através de uma nova democracia é que poderá extirpar a peste racista da face da Terra e levar a humanidade para um novo e mais avançado estágio evolutivo.



[1] Ogónopolski Konkurs Internetowy Historia Strajku Dzieci Wrzesinskich, citado em artigo da Wikipedia em: http://en.wikipedia.org/wiki/Anti-Polish_sentiment
[2] ANDREEV, E.M., et al., Naselenie Sovetskogo Soiuza, 1922-1991. Moscou, Nauka, 1993
[3] Operação Barbarrossa: maior operação de cunho terrorista da história motivado pela ideologia anticomunista e racista eslavófoba em vigor na Alemanha sob o "Reich" de Adolf Hitler, tirano austríaco responsável pela maior guerra da história da humanidade, cujo número de vítimas oscila entre 50 e 60 milhões.

terça-feira, março 08, 2011

8 de março

Quem foi Marina Raskova
Por Cristiano Alves

Durante os tempos do Império Russo, as mulheres operárias e camponesas vivenciavam um estado de submissão e ignorância, a elas eram negados direitos básicos como a educação, sendo muitas analfabetas, tendo sua vida econômica restrita a algumas atividades braçais, à escravidão doméstica ou, em certos casos, à prostituição. Apenas as mulheres que faziam parte da nobreza tinham acesso a alguns direitos além destes, sendo alfabetizadas, porém, a Revolução de Outubro de 1917, como toda revolução comunista, estendeu direitos antes limitados apenas à aristocracia, como o de saberem ler e escrever, a todas as trabalhadoras e camponesas do país. Nos anos 20 e 30, entretanto, elas viriam a dar passos muito mais longos.

Privilégios como o acesso às idéias mais modernas, uma formação filosófica e cultural se restringiam às elites russas até a Revolução de 1917, a pessoas como Catarina II, autocrata de Toda a Rússia
A aviação dava seus primeiros passos nos anos 20, o invento de Alberto Santos Dumont ganhava novas dimensões e capacidades que até então eram estranhos para homens e mulheres. Poderia o homem voar? Esta pergunta, cuja resposta negativa consistia uma "verdade eterna", cuja resposta afirmativa era até então apenas uma mera afirmação de loucos, foi devidamente respondida com o século XX, entretanto, com tantos avanços, as mulheres, consideradas inferiores aos homens, seriam capazes de operar máquinas voadoras?

Amelia Earheart, filha de um influente banqueiro e de uma família cheia de fortunas, foi uma mulher pioneira na aviação, cruzando o Oceano Atlântico e recebendo condecorações americanas e francesas, além de ser uma ativista pelos direitos das mulheres, embora sua defesa fizesse apologias à propriedade privada dos meios de produção, no "Partido National das Mulheres", burguês. Será que no país dos sovietes, até então conhecido por ser um país de "meros camponeses" alcançar tamanha façanha em um meio de transporte de tamanho avanço tecnológico?

Amélia Earheart, aviadora americana filha de um próspero banqueiro
Marina Malinina era uma jovem soviética, morena e amante da música clássica, filha de um cantor russo. Durante sua infância, tinha o sonho de se tornar uma cantora lírica, de ópera. Por um acidente no destino, as circunstâncias mudaram. Seu pai morreu atropelado por uma motocicleta em 1919, quando então tinha 7 anos de idade. Mesmo com seus estudos de música, ela sofria constantemente de stress, até trocar a música pela química, graduando-se em 1929 e passando a trabalhar numa fábrica de tinturas como química. Após casar-se com o engenheiro Sergey Raskov, tornando-se então Marina Raskova, ela passou a trabalhar no Laboratório de Aviação da Academia da Força Aérea Soviética, onde ganhou interesse pela aviação e fazendo curso de navegadora e de piloto. A função de navegadora tinha uma enorme importância numa era em que não existia o radar.

Após o término do curso, Marina Raskova tornou-se a primeira navegadora e piloto da Força Aérea Soviética. Um ano depois ela se tornou a primeira instrutora de vôo da academia da Força Aérea, tornando-se ainda célebre por estabelecer vários recordes no país, a maioria entre 1937 e 1938. Um desses conferiu à Marina Raskova e a outras duas camaradas suas, Polina Osipyenko e Valentina Grizodubova o mesmo status de Yuri Gagárin viria a desfrutar na URSS nos anos 50. Marina e suas camaradas aceitaram o desafio de voar seis mil quilômetros, de Moscou a Komsomolsk-sobre-o-Amur, distância equivalente a uma ida e vinda de São Paulo a Fortaleza, pilotando um avião que seria batizado como "Rodina"(Pátria), um Antonov 37, de controles mecânicos, que exigia força para manusear seu manche, avião bimotor e capacidade de vôo muito inferior ao dos aviões modernos.

Antonov-37, fabricado na Ucrânia soviética
O vôo das "três irmãs" eram uma sensação nas rádios da União Soviética, que decidiu cobrir o evento, até que por um momento apareciam cada vez menos notícias de seu vôo, dando a entender que haviam falhado ou prestes a falhar. Ao enfrentar uma tempestade na Sibéria, o avião era quase como uma folha de papel ante os ventos fortes e congelantes, que chegavam a congelar partes do avião. Tudo indicava que, sob as péssimas condições de visibilidade, que prejudicam até hoje os aviões modernos, o bimotor Ant-37 iria colidir com os pinheiros da taigá siberiana, o que levou as aviadoras a se desfazer de vários mantimentos a fim de liberar o peso do avião. Uma vez que a cabine de navegadora apresentava sérios riscos para esta, em caso de colisão, assim como para liberar mais peso do avião, Marina Raskova soltou de pára-quedas do avião, em plena Sibéria, sem levar kit de sobrevivência. Apesar de seu salto, o recorde já havia sido batido.

Marina Raskova, Valyentina Grizudobova e Polina Osypienko junto ao avião "Rodina"(Pátria)
Após o salto de Marina Raskova o Antonov 37 aterrissou em seu destino, completando 6,450 km percorridos após 26 horas de vôo, no qual as "três irmãs voadoras" se revezaram. Apesar de tudo, as duas que chegaram ao destino final se recusaram a participar de quaisquer celebrações antes de ter notícias de Marina Raskova. Após 10 dias desaparecida, a comunista foi encontrada por um caçador solitário em plena floresta siberiana, onde poderia morrer de frio ou ser devorada por lobos, ursos ou mesmo o temido tigre da Sibéria, o maior de todos. 

Com o recorde alcançado, as três comunistas receberam a Ordem de Lenin e o título de Herói da União Soviética, tendo sido as primeiras soviéticas a serem agraciadas com tal honraria, que receberiam pessoalmente do então Primeiro-Ministro da União Soviética, Iósif Stalin. Em 1939 as três receberiam a Estrela Dourada, que neste ano passou a distinguir os Heróis da União Soviética daqueles agraciados com a Ordem de Lenin. Marina Raskova, Valentina Grizudobova e Polina Osypienko passariam então a desfrutar da mesma fama de Yuri Gagárin nos anos 30.

Com o estourar da II Guerra Mundial e a Grande Guerra Patriótica, Marina Raskova, usando-se de sua posição influente no país, solicitou a Stalin a criação de três regimentos especiais de mulheres como pilotos, engenheiras e mecânicas, o que foi de pronto atendido pelo líder e revolucionário soviético. A unidade recebeu inicialmente o nome de Grupo de Aviação 122, e, após o fim do treino dividiu-se em outros grupos.

Marina Raskova foi a idealizadora da formação de unidades especiais de mulheres na Força Aérea Soviética
O primeiro grupo, idealizado por Raskova, tornou-se 586º Regimento de Aviação de Caça(incumbido de atacar outros aviões), da Força de Defesa Aérea(PVO), tendo voado 4.419 vôos, destruindo 38 aeronaves inimigas em 125 batalhas aéreas. Este foi o primeiro a entrar em combate nos ares, operando caças Yakovlev. Uma de suas mais famosas integrantes, depois movida para um regimento masculino, foi a Aspirante Lidiya Vladimirovna Litvyak, a "Rosa Branca de Stalingrado", maior ase feminina da história.

Modelo do Yak-1
O segundo grupo e sem dúvidas o mais célebre, foi o 46º Regimento da Guarda de Aviação de Bombardeiros Noturnos, isto é, de ataques a alvos terrestres. Este grupo produziu 24 Heróis da União Soviética, após voar mais de 24 mil missões de combate até o final da guerra. Foi o único dos grupos a ser exclusivamente feminino até os últimos dias da guerra. Por voarem em aviões de madeira e lona, obsoletos, mas eficazes monomotores Po-2, além de disseminar o terror entre o inimigo em aviões praticamente inaudíveis e quase invisíveis a olho nu, mesmo com auxílio dos holofotes, além de ser alvo difícil para os aviões alemães, em razão de sua baixa velocidade, os nazistas as apelidaram de "As Bruxas da Noite".

Po-2(também chamado U-2), modelo então obsoleto durante a IIGM, mas que produziu um dos melhores resultados em termos de bombardeio noturno
O terceiro grupo era o 125º Regimento de Bombardeiros da Guarda, comandado pessoalmente por Marina Raskova, que operava o melhor de todos os bombardeiros soviéticos, o Pe-2. Após voar mais de 1.134 missões de combate, este grupo descarregou cerca de 980 toneladas de bombas sobre os nazistas, tendo produzido 5 Heróis da União Soviética.

Pe-2, o mais moderno bombardeio da Força Aérea Soviética. Já nos primeiros dias da guerra efetuou bombardeios em Berlim, na Alemanha nazista
A major Marina Raskova, uma das quase 1 milhão de mulheres a combater os fascistas durante a IIGM, entraria para a glória eterna em 5 de janeiro de 1943, quando, operando na já triunfante Batalha de Stalingrado, o avião de Marina tentou um pouso forçado num banco do rio Volga, o que acarretou num desastre que vitimou toda a população. Comunista dedicada, recebeu o primeiro velório oficial da guerra, tendo as suas cinzas sido depositadas no Muro do Kremlin de Moscou. Nos Estados Unidos da América, país capitalista, um navio cargueiro foi batizado com o seu nome, o SS Marina Raskova.

Marina Raskova, em seu uniforme de aviadora    

Ordem da Guerra Patriótica, conferida à Marina Raskova, póstuma
Estrela Dourada de Herói da União Soviética, conferida à Marina Raskova em vida
8 de março

Elisa Branco, heroína internacional da paz
Por Augusto Buonicore e Fernando Garcia

Publicado originalmente no sítio da Fundação Maurício Grabois

Há 60 anos ocorreu um fato que se tornaria um dos símbolos mais importantes da luta dos comunistas pela paz mundial. Foi a prisão da operária paulista Elisa Branco. Seu crime: esticar uma faixa que dizia “Os soldados nossos filhos não irão para a Coréia”, durante um desfile de sete de setembro. Ela foi condenada a 3 anos de prisão. A partir de então teve inicio uma grande campanha por sua libertação. Depois de libertada, Elisa foi agraciada com o Prêmio Stalin da Paz, a maior honraria prestada pelo movimento comunista naquela época.


Elisa Branco sendo homenageada na URSS

Elisa nasceu em Barretos (SP) em 29 em dezembro de 1912. Era uma mulher do povo que possuía apenas o curso primário. Ingressou ainda jovem no Partido Comunista do Brasil. Segundo os arquivos do DOPS, em 1945, já era secretária do Partido Comunista na sua cidade natal. Nesta condição, participou ativamente da eleição ocorrida naquele ano. Deu assim sua contribuição para eleger uma grande bancada de parlamentares comunistas.

Em 1948, ela e sua família se mudaram para cidade de São Paulo. Aquele era um momento no qual aumentava drasticamente a repressão aos militantes do PC do Brasil. Uma de suas primeiras atitudes foi integrar-se à Federação das Mulheres Paulistas, dirigida pelas comunistas.

Elisa foi presa, pela primeira vez, quando ajudava na organização do I Congresso dos Trabalhadores Têxteis do Estado de São Paulo. Categoria composta predominantemente por mulheres. Como militante comunista, aderiu de maneira entusiástica à campanha mundial pela paz. Constantemente era vista, com outras camaradas, distribuindo panfletos e coletando assinaturas para o “Apelo de Estocolmo”, que exigia a proibição das armas atômicas..

Elisa foi presa, pela primeira vez, quando ajudava na organização do I Congresso dos Trabalhadores Têxteis do Estado de São Paulo. Categoria composta predominantemente por mulheres. Como militante comunista, aderiu de maneira entusiástica à campanha mundial pela paz. Constantemente era vista, com outras camaradas, distribuindo panfletos e coletando assinaturas para o “Apelo de Estocolmo”, que exigia a proibição das armas atômicas..

Em junho de 1950 iniciou-se a Guerra da Coréia. Logo começou a pressão estadunidense para que seus tradicionais aliados latino-americanos, incluindo o Brasil, mandassem contingentes militares para participar da luta contra a Coréia do Norte, que tinha apoio da China Popular. O mundo naqueles anos que durou a guerra chegou às portas de uma III Guerra Mundial.

Os comunistas e demais forças progressistas iniciaram uma grande campanha internacional contra a guerra na Coréia e o envio de tropas para combater ao lado dos Estados Unidos. Em nosso país, o grande articulador desse movimento de caráter internacionalista foi o Partido Comunista do Brasil. Sob sua coordenação, elaboraram-se abaixo-assinados e realizaram-se dezenas de atos públicos. A imprensa ligada aos comunistas deu grande destaque ao assunto.
Passavam-se os meses e cresciam os boatos de que o governo do Marechal Dutra pretendia enviar as tropas requeridas pelos estadunidenses. Diante dessa ameaça, toda movimentação de recrutas era vista com apreensão pela população.

Foi assim que um grupo de pessoas, ligado a Federação de Mulheres Paulistas, resolveu fazer o seu protesto. Surgiu então a idéia de, aproveitando as comemorações do dia da Independência, fazer uma panfletagem denunciando o envio de soldados brasileiros. Isso ainda era pouco. Precisaria de alguma coisa a mais que marcasse o dia. Uma faixa com nossa reivindicação, propôs uma das participantes. Mas, quem a levaria e estenderia na hora certa? A honrosa tarefa coube à costureira Elisa Branco.

Quando começou o desfile Elsa, esticou a faixa com os dizeres “Os soldados nossos filhos não irão para a Coréia”. Foi um espanto geral. Em pouco tempo caiu sobre ela a temida polícia do governador paulista Ademar de Barros e, sob protesto, arrancou-lhe a faixa que trazia nas mãos.

A polícia não teve condição de levá-la naquele instante. Precisou esperar terminar o desfile, e o povo dispersar, para, finalmente, poder pendê-la. Mesmo assim só conseguiu fazê-lo com o reforço da tropa de choque. Elisa foi colocada à força dentro de um ônibus e conduzida até a delegacia. 

Parecia ser mais uma prisão – como centenas de outras havidas durante aqueles anos. Ela passou cinco dias numa solitária e, depois, foi levada para a Casa de Detenção. Para surpresa geral, um juiz condenou Elza a 4 anos e meio de prisão, por crime contra a segurança nacional. Elisa era casada e tinha duas filhas adolescentes, Horieta e Florita, que atuavam no movimento estudantil secundarista paulista e pertenciam à Juventude Comunista.

Liberdade para Elisa

Formou-se em todo país, comitês pela libertação de Elisa. Entre os que aderiram à campanha estava o deputado estadual paulista Jânio Quadros. Um hábeas corpus foi pedido ao Supremo Tribunal Federal. Mas, Elisa permaneceu na prisão.

Não podendo ficar parada, ela pediu que lhe enviassem seus materiais de trabalho: linhas, panos, agulhas. Voltava, entre as grades, exercer o seu oficio de simples costureira e, ainda, aproveitava o tempo para ensinar às outras prisioneiras à arte do “corte e costura”. Ensinava-lhes também os rudimentos da leitura e da escrita. Assim, Elisa tornou-se uma referência para todas elas. A politização daquelas mulheres deu algum trabalho ao diretor do presídio. Elas chegaram a organizar um núcleo do movimento contra a guerra na Coréia.

Em São Paulo 20 mil pessoal assinaram o abaixo-assinado pela libertação de Elza. Numerosa comissão de “partidários da paz” e delegações de associações populares e democráticas compareceram à Assembléia Legislativa num dia nacional de protesto. Os participantes entregaram a presidência da Casa o resultado da campanha do apelo de Estocolmo, contra a utilização da arma atômica. Protestaram contra o possível envio de 20 mil soldados brasileiros para a Coréia e a prisão de Elisa Branco.

O próprio Prestes lançou manifesto solicitando a ampliação da campanha pela libertação de Elisa. Escreveu ele: “A condenação de uma mãe de família por semelhante crime político é inédito na história do nosso povo”. Continuou: “o gesto de Elisa, além de rigorosamente constitucional, traduz os sentimentos mais nobres do amor materno e da vontade de paz da mulher brasileira”.

O caso de Elisa foi para julgamento um ano mais tarde, em setembro de 1951. O relator do processo, Juiz Rocha Lagoa pronunciou-se pela condenação. A votação empatou três a três. Foi preciso o voto de minerva do presidente do Tribunal, ministro Orozimbo Nonato, que decidiu pela inocência da acusada. Elisa, finalmente, conseguia a liberdade.

Houve comemorações entre os partidários da paz. Mensagens de congratulações chegaram de várias partes do mundo, revelando a importância que adquirira aquele gesto de Elisa. A primeira secretária do comitê antifascista das mulheres soviéticas mandou uma mensagem que dizia: “Nós, mulheres soviéticas soubemos com a maior satisfação que foi libertada Elisa Branco, a intrépida filha do povo brasileiro e ardente lutadora da causa da paz. As suas palavras simples dirigidas aos soldados brasileiros há um ano exprimiram não só os anseios das mães brasileiras, mas também os das mães de todos os países do mundo”. O secretário do Partido Comunista da Argentina também congratulou por sua libertação. A mesma coisa fez a delegação juvenil latino-americana que estava participando de um congresso na URSS.

Elisa era agora, definitivamente, uma heroína internacional. Por isso, em março de 1952, ela foi uma das convidadas e oradora da Conferência Continental da Paz, realizada no Uruguai. Este seria o primeiro evento internacional do qual participou.

No segundo semestre daquele ano foi convidada para participar do Congresso dos Povos Pela Paz, que se realizaria em Viena em dezembro. Nesta primeira viagem à Europa, estava acompanhada de Jorge Amado e da atriz Maria Della Costa.

O Prêmio Stalin da Paz

Em Viena, numa reunião de delegadas latino-americanas, receberia a mais surpreendente notícia de sua vida. Foi ela mesmo que contou o ocorrido ao jornalista d’A Voz Operária: “No meio da reunião, a senhora Carmem de Santis, delegada italiana ao Congresso, entrou na sala e pediu cinco minutos para fazer uma comunicação importante. Falou em francês, língua que eu não entendo. Imediatamente, todas as presentes se levantaram e, ante minha surpresa, me abraçaram e me beijaram. Fiquei atônita e quando me disseram que havia sido laureada com o Prêmio Stalin Internacional da Paz, quase perdi a respiração”.

Os prêmios Stalin da Paz foram criados pelo Presidium do Soviet Supemo da URSS em 22 de dezembro de 1949. Era uma homenagem aos 70 anos do generalíssimo. Vivíamos o auge do culto à personalidade. O laureado receberia uma medalha de ouro com a esfinge do próprio Stalin e um prêmio de 100 mil rubros. Foi formado um comitê seleto para selecionar os premiados, que era presidido pelo acadêmico russo Dmitri Skobeltsin. O vice-presidente era o renomado poeta francês Louis Aragon. O primeiro brasileiro premiado foi o escritor Jorge Amado, que recebeu o prêmio em dezembro de 1951.

Convidada para dar uma entrevista para a rádio Moscou, afirmou: “Escrevi algumas palavras. Mas, pensa que foi fácil lê-las ao microfone? As letras sumiam dos meus olhos, a voz não passava pela garganta, enquanto as lagrimas me rolavam pela face (...) Eu nunca poderia esperar que viesse a receber tão grandiosa homenagem e que meu modesto nome figurasse ao lado de Ilya Ehrenburg, Paul Robeson e outras pessoas conhecidas em todo mundo e cuja contribuição em favor da paz foi considerada excepcional”.

De Viena seguiu de trem à URSS, onde receberia o prêmio. A viagem durou 3 longos dias. No caminho foi homenageada pelas mulheres da Hungria e das cidades soviéticas por onde o comboio passava. Em Budapeste o trem chegou às 3 horas da manhã. Mesmo assim, um grupo de mulheres ali estava para entregar-lhe ramalhetes de flores. Passou o natal nos trilhos. Chegou à Moscou em 26 de dezembro – em meio ao rígido inverno soviético. Para sua decepção ficou gravemente doente logo que chegou. Teve que ser socorrida pelos enfermeiros e médicos soviéticos.

Lamentou ela, “esse resfriado foi uma verdadeiro azar ... Enquanto as outros membros da delegação brasileira partiam para visitas ...(eu) ficava ali, em cima de uma cama, perdendo uma oportunidade com que vinha sonhando há anos de conhecer ao máximo como é a vida na União Soviética”.

A doença tornou-a ainda mais sensível e a saudade do seu país aumentou. “A fim de que tivesse notícia do Brasil, da Rádio Moscou me telefonavam todo dia. Numa dessas ocasiões soube que continuava a greve dos têxteis no Rio, que tinha havido numerosas prisões em Belo Horizonte (...) Essas notícias muito me entristeceram. Lembrei-me da pátria distante, do povo que continuava sofrendo tanto, em contrate com o povo soviético (...). Senti uma saudade e uma angustia tão grandes que não pude sequer terminar de ouvir as notícias e comecei chorar. Nisto entra no quarto a enfermeira e, vendo-me assim, ficou aflitíssima. Ela falava em russo, mas compreendi pelo tom de sua voz e pelos gestos que me perguntava o que tinha ocorrido. Eu lhe dizia, inutilmente: ‘não é nada, não é nada’. Mas, ela também não entendia ... Não me esqueço de sua pronúncia, a voz cheia de solidariedade: ‘Elisa Brancô, Elisa Brancô’ ... O que sei é que meia hora depois chegaram médicos para me examinar e a partir daí ficou um interprete permanente no meu quarto. Não esperava causar tal rebuliço”. Ela acabou passando seu aniversário numa cama de hospital.

Por fim, chegou o grande dia da premiação. Da mesa diretora do evento faziam parte o acadêmico soviético Dmitri Skobeltsin, presidente do comitê, Nina Popova, presidente do Comitê Antifascista de Mulheres e os escritores Verassimov, Ilya Ehrenburg e Jorge Amado. Vários oradores falaram e destacaram a grande contribuição do povo brasileiro à causa da paz, especialmente a campanha contra o envio de tropas para Coréia.

No final, falou a laureada. “Reafirmei, ali, as palavras do nosso grande Prestes de que o povo brasileiro jamais pegará em armas contra o nobre povo soviético. Disse também que continuaria a luta com cada vez com maior decisão pela legenda da faixa que abri no Anhangabaú, isto é, que os nossos filhos jamais irão para a Coréia matar os filhos de outras mães. O povo brasileiro não será o agressor de qualquer outro povo”. Elisa recebeu o prêmio juntamente com cantor negro norte-americano Paul Robeson e o escritor soviético Ilya Ehrenburg. Dois grandes ícones da cultura comunista nos anos 1940 e 1950.


A despedida

Quando houve a cisão em 1962, Elisa acabou ficando com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), por ser uma grande admiradora de Prestes. Em 1964, durante o Golpe Militar, foi presa dentro de sua própria casa. “Os bandidos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) reviraram tudo e ainda me tiraram um monte de fotografias do álbum de família”, afirmou ela. Desta vez ficou detida apenas oito dias para averiguações. No auge da repressão política, em 1971, sofreu outra prisão. Os agentes invadiram sua casa de madrugada para prendê-la. Procurando alertar os vizinhos, ela saiu aos gritos que a polícia política a estava levando. Passou três dias desaparecida. Muitos temeram por sua vida, mas ela foi solta por falta de provas.

Mais tarde, discordado da linha política do PC Brasileiro, acabou se afastando da militância. Em 2000, integrou-se ao pequeno Partido Comunista Marxista-Leninista, de linha prestista. Chegou mesmo compor a direção daquela agremiação pouco antes de sua morte, que ocorreu em 8 de junho de 2001. Morreu sem lamentar minimamente as prisões e martírios pelos quais passou. Numa de suas últimas entrevista afirmou: “Nunca fiz sacrifícios pelo partido”.

Fontes

Coleção Voz Operária – (1949-1953)

Dossie Elisa Branco - Arquivo Público do Estado de São Paulo

Elisa Branco, 87 anos - A costureira que ganhou o Prêmio Stalin, Fábio Bittencourt, Revista Isto É - Gente. Fábio Bittencourt http://www.terra.com.br/istoegente/42/testemunha/index.htm

Veja outros materiais do especial "60 anos da prisão de Elisa Branco e as campanhas pela Paz"
8 de março

As mulheres na Era Stalin
Por Anna Louise Strong

Este texto foi originalmente publicado há 10 anos atrás, no antigo domínio www.apaginavermelha.hpg.com.br, traduzido por Cristiano Alves, quando era fácil encontrar domínios gratuitos para páginas, o que veio a ser ofuscado pela popularização dos blogs e pelo declínio da gratuidade da hpg. Tendo sido publicado também em www.anovademocracia.com.br, a quem é devida a gratidão pela manutenção da tradução. Não fosse isso, o texto em língua portuguesa teria sido praticamente perdido na rede mundial, sendo republicado aqui com ligeiras reedições para facilitar o entendimento.

O depoimento da jornalista Anna Louise Strong, que morou 20 anos na União Soviética e dezenas de anos na República Popular da China, a transforma numa "contraparte" feminina do famoso jornalista John Reed, que testemunhou a revolução, ao passo que Anna testemunhou o desenvolvimento dessa revolução. Um de seus trabalhos mais importantes foi sem dúvidas uma entrevista ao líder revolucionário Mao Tsé Tung, em 1946.

A reportagem a seguir é o testemunho da luta dos bolcheviques pela liberdade na antiga União Soviética, libertando as mulheres da Ásia Central das garras do obscurantismo fundamentalista que oprimia implacavelmente as mulheres na Ásia Central, na extinta República Popular Soviética de Buhara, uma república em estado de transição para o socialismo, onde ainda existia a propriedade privada, garantida pela constituição local.

Cidade de Buhara, no Uzbequistão
A mudança no status das mulheres constituiu-se numa das transformações sociais mais importantes ocorridas no interior da nova sociedade em toda a URSS. A revolução dera às mulheres uma igualdade jurídica, porque, principalmente, havia produzido grandes e decisivas conquistas políticas. A industrialização em bases revolucionárias dotou a economia do pagamento igualitário para igual trabalho.

Ainda assim, em cada aldeia, as mulheres tinham que lutar contra hábitos seculares. Notícias vindas de uma aldeia da Sibéria, por exemplo, onde — depois de implantadas as granjas coletivas, as mulheres passaram a ter uma renda independente —, as esposas se decidiram por uma greve dirigida contra as surras que levavam dos maridos e, no prazo de uma única semana, puseram fim à tradição consagrada ao longo dos séculos de divisão social do trabalho. "Os homens todos zombaram da primeira mulher que nós elegemos no soviete da nossa aldeia", me falou uma presidenta da aldeia, "mas na próxima eleição nós elegeremos seis mulheres e seremos nós quem riremos". Conheci vinte destas presidentas de aldeias, em 1928, em um trem na Sibéria, rumo ao Congresso das Mulheres em Moscou. Para a maioria delas, aquela tinha sido a primeira viagem de trem e apenas uma estivera fora da Sibéria alguma vez. Elas tinham sido convidadas para ir a Moscou com o intuito de "aconselhar o governo" sobre as exigências das mulheres; para tanto, seus municípios as haviam escolhido por votação para representá-los. 

"O que a Revolução de Outubro deu às trabalhadoras e camponesas" Na foto verifica-se bibliotecas, clubes de recreação, creches para os filhos das operárias, escolas e universidades, antes lugares impensáveis para a maioria das mulheres trabalhadoras, restritas à escravidão do trabalho doméstico
A mais difícil região onde as mulheres tiveram que lutar pela sua liberdade foi a Ásia Central. Ali, as mulheres eram tratadas como bens semoventes, vendidas em matrimônio. Mesmo assim, quando muito jovens, e nunca, depois disso, eram vistas em público sem o horroroso paranja — um longo véu preto feito com crina de cavalo tecida, que cobria toda a face, dificultando a respiração e a visão das mulheres. A tradição conferia aos maridos o direito de matar as esposas caso retirassem o véu e os mulás, sacerdotes muçulmanos, justificavam tal prática através da religião. As russas trouxeram a primeira mensagem de liberdade: elas montaram clínicas de bem-estar para as crianças e, através delas, as mulheres nativas retiraram o véu em suas presenças.
Exemplar da paranja
Ali, foram discutidas as liberdades a serem conquistadas pelas mulheres e os males advindos do uso do véu. O Partido Comunista pressionou seus filiados a permitir que suas esposas retirassem os véus se assim desejassem.

Quando visitei Tashkent pela primeira vez, em 1928, uma conferência de mulheres comunistas estava denunciando: "Nossas camaradas estão sendo estupradas, torturadas e assassinadas. Por isso, ainda este ano, teremos que acabar com essa horrorosa obrigação do uso de véus; este deve ser um ano histórico."

Enquanto isso, incidentes chocantes deram razão a esta resolução. Houve o caso da garota de uma escola de Tashkent, que recebeu férias para que pudesse participar de agitações pelos direitos das mulheres na aldeia de sua casa. Como resposta, seu corpo desmembrado foi mandado de volta à escola em uma carroça, onde se lia: Isto é para a liberdade de suas mulheres.

Uma outra mulher havia recusado as atenções de um proprietário de terras e casara-se com um camponês comunista. Em conseqüência, um grupo de dezoito homens, incitados pelo proprietário, a estuprou no oitavo mês de gravidez e lançou seu corpo em um rio. Poemas foram escritos por mulheres para expressar sua valentia e o suplício a que fora submetida. Quando Zulfia Khan, uma lutadora da liberdade, foi queimada viva pelos mulás, as mulheres de sua aldeia escreveram um lamento: "Ó mulher, o mundo não esquecerá da sua luta pela liberdade! Sua chama não os deixou pensar que te consumiu. A chama na qual você queimou é uma tocha em nossas mãos."

A fortaleza da opressão ortodoxa era Santa Bokhara. Ali, um dramático desvelamento vinha se organizando. Foi difundida a notícia de que "algo espetacular" aconteceria no dia 8 de março, o Dia Internacional das Mulheres. Celebraram-se reuniões massivas de mulheres em muitas partes da cidade naquele dia, e as oradoras urgiram que todas as mulheres se "desvelassem de uma só vez". As mulheres marcharam, então, à plataforma, lançaram seus véus ante suas companheiras e realizaram uma manifestação pelas ruas. Tribunas foram erguidas, de onde os líderes do governo saudavam as mulheres. Outras companheiras mais, se uniram à parada, saindo diretamente de suas casas e abandonando seus véus ao passar nas tribunas. Aquele ato quebrou a tradição do véu em Santa Bokhara. Muitas mulheres, claro, vestiram seus véus novamente antes de encarar seus maridos enfurecidos. Mas o véu aparecia cada vez menos, desde então. Ao tomar conhecimento deste fato, o Poder Soviético usou várias armas para libertar as mulheres, como a educação, a propaganda e a lei em todas as partes. Grandes julgamentos públicos condenaram duramente os maridos que assassinaram suas esposas. Com a pressão das novas exigências, juízes confirmaram a pena de morte para os praticantes do que o velho costume não considerava como crime.

A arma mais importante para livrar as mulheres era, como na própria Rússia, a industrialização. Visitei um novo moinho de seda em Velha Bokhara. O diretor desse empreendimento, era um homem pálido, exausto, trabalhando sem sono para construir uma nova indústria. Disse não esperar que o moinho fosse lucrativo por muito tempo. "Nós estamos treinando as aldeãs para ter um novo pessoal nos futuros moinhos de seda do Turcomenistão. Nosso moinho é a força conscientemente aplicada que quebrou o véu das mulheres; nós exigimos que as mulheres se desvelassem no moinho". Jovens trabalhadoras do setor têxtil escreveram canções para o novo significado da vida, quando trocaram o véu pelo lenço de cabeça russo, o kerchief. "Quando tomei a estrada da fábrica, eu lá encontrei um novo kerchief, um kerchief vermelho, um kerchief de seda, comprado com o trabalho das minhas próprias mãos! O rugido da fábrica está em mim. Me dá o ritmo, me dá a energia".

Alguém pode ler isto quase sem recordar, mas em contraste com "A Canção da Camisa", de Thomas Hood, expressou como eram as fábricas inglesas de hoje: "Com dedos cansando e trabalhando/com as pálpebras pesadas e vermelhas, uma mulher sentou, vestida de trapos/manipulando a agulha e a linha. Pondo, ponto a ponto, em pobreza, fome e sujeira,/ e ainda, com uma voz de doloroso cansaço/ela cantou a canção da camisa". Na Inglaterra capitalista, a fábrica apareceu como uma arma de exploração para lucro. Na URSS, ela era não apenas um meio de riqueza coletiva, mas, também, uma ferramenta conscientemente usada para quebrar as algemas do passado. 

Mulher uzbeque em traje típico

 


O hino da antiga República Socialista Soviética do Uzbequistão iniciava-se com "Assalom, rus halky"(Saudações, irmão russo), agradecendo-o por orientá-lo na luta pela liberdade e a democracia.

sábado, março 05, 2011

CULTURA

Jornalista paraibana desmascara o carnaval
Por Cristiano Alves

A jornalista paraibana Rachel Sheharazade fez uma intervenção até então inédita na mídia, trazendo alguns fatos de alta relevância sobre o caráter elitista do carnaval, um circo armado para aqueles que sequer tem pão. Festa brasileira? Popular? Será?

O carnaval brasileiro é bem diferente do que muitos "compradores de abadares" ou turistas imaginam que seja. A repórter, fazendo jus à Sheharazade de "As mil e uma noites", falou coisas que todos precisavam ouvir para refletir sobre os fatos.