segunda-feira, março 31, 2014

MUNDO: Comunistas russos enfrentaram a neve para apoiar o referendo da Crimeia

Notícia do Perviy Kanal


MUNDO: Comunistas russos saúdam a decisão do povo da Crimeia



“É muito justa a decisão de antecipar a data da realização do referendo de 30 de março para 16 de março, porque isso impedirá que determinadas forças interessadas preparem provocações para fazer fracassar o referendo”, declarou à imprensa o primeiro vice-presidente do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) e primeiro vice-presidente da Duma do Estado (Parlamento), Ivan Melnikov.

Ele espera uma grande discussão sobre o mérito da decisão das autoridades da Crimeia a respeito da introdução do quesito do ingresso na Federação Russa. Segundo Melnikov, é necessário compreender dois pontos chaves.

“Em primeiro lugar, as autoridades executivas e legislativas da Crimeia gozam da evidente confiança dos habitantes da Crimeia, agem de acordo com a vontade do povo, tendo os seus sentimentos em consideração, afirmou Melnikov.

“Em segundo lugar, os habitantes da Crimeia têm o absoluto direito de pôr qualquer quesito no seu referendo. Propor um quesito não representa nem uma resposta nem uma decisão, mas apenas uma proposta. Em todo caso, tudo será decidido através de uma votação”, agregou o primeiro vice-presidente do PCFR.

“Compreensivelmente, a reação do Ocidente e do seu aparato propagandístico fora da Rússia e dentro do nosso país sobre a questão do ingresso da Crimeia na Federação Russa será novamente histérica, agressiva e inspirada no clichê do duplo critério”, declarou Ivan Melnikov.

Além disso, falar de separatismo na ausência de um governo central legítimo é incorreto. “Qualquer pessoa de autênticas convicções democráticas tem o dever de concordar com o direito dos habitantes da Crimeia de decidir sobre o próprio destino nas condições difíceis com que se têm defrontado. De decidir tendo em conta todos os fatores, inclusive a particularidade e os laços históricos”, disse o dirigente do PCFR.

“Os comunistas saúdam tais maneiras de apresentar a questão, porque não representa uma decisão artificial, mas totalmente natural e por muito tempo adiada. A decisão deve ser tomada somente pelos cidadãos da Crimeia e a Rússia aceitará qualquer resposta à questão. Toda a comunidade internacional deve renunciar a qualquer tentativa de pressão”, concluiu Ivan Melnikov.

Fonte: Marx 21. Traduzido do russo para o italiano por Mauro Gemma

sexta-feira, março 28, 2014

CAMPANHA: A culpa do estupro nunca é da vítima



TEORIA: A moral socialista


Por V. Kolbanoski



Nota de introdução por Cristiano Alves: É muito comum ouvir de liberais anticomunistas e mesmo da chamada "esquerda festiva", isto é, esquerdistas que não aderiram às ideias de esquerda por defender uma sociedade melhor para o povo trabalhador, mas por ver nesse meio uma chance para desfrutar de uma vida desregrada e imoral, a acusação de que os comunistas são "moralistas", como se isso fosse insulto. Realmente, somos moralistas, defendemos a moral e a estética socialista!



As questões de moral, assim como todas as questões da vida social, pela primeira vez foram colocadas em sólidas bases cientificas quando surgiu o materialismo histórico, que é a verdadeira ciência das leis do desenvolvimento social.

À luz do materialismo histórico, revela-se claramente a inconsistência das concepções idealistas da moral. Ficam assim expostos os defeitos das teorias sobre moral, correntes até antes do aparecimento da filosofia materialista de Marx.

Os manuais idealistas ou ligam a moral à religião, afirmando que as concepções morais dos homens se originam da "razão divina", ou a atribuem a um sentimento moral particular, a uma consciência do dever moral instintiva da alma humana.

Ordinariamente as concepções idealistas da moral apresentam a questão como se em todos os tempos e entre todos os homens existissem, concepções idênticas, e reconhecidas de modo geral, sobre o que é bom e o que é mau.

A afirmação de que a moral é eterna e não se altera não é privilégio apenas das teorias idealistas. Os materialistas anteriores a Marx e Engels tinham ponto de vista idêntico, embora rejeitassem a origem divina da moral e tentassem ligar as concepções éticas aos pontos de vista materialistas sobre a natureza.

Ao contrário das diversas teorias não cientificas sobre a moral, o marxismo apresenta a tese de que o homem, em todas as suas manifestações psíquicas, em toda a sua vida intelectual e moral, é o produto de um meio social e, sobretudo, de um meio social concretamente específico, determinado ele próprio, em última análise, pelos meios de produção.

Por essa razão não pode haver um sistema de moral definitivo e em geral aceito como bom para todos os tempos e para todos os homens. Não só a concepção e o julgamento do bem e do mal diferem em cada época, como até, nos limites da mesma e única época, diferem as teorias morais e são contrárias entre si as concepções das classes sociais antagônicas.

Salienta Engels que na sociedade burguesa distinguem-se nitidamente três formas de moral: a moral que nos ficou como herança do feudalismo, a moral da burguesia e a moral do proletariado.

Mas se nas condições de uma sociedade caracterizada por seus antagonismos internos, a moral se apresentava inevitavelmente como moral de classe e não pode, portanto, ser reconhecida por todos, na sociedade que não conhece antagonismos de classes, criam-se condições para o triunfo de uma moral comum a todos os homens. A propósito, escrevia Engels:

"A moral verdadeiramente humana, que se elevará acima das contradições e das reminiscências de classes, só será possível na etapa do desenvolvimento social em que o antagonismo das classes tenha sido não apenas eliminado, mas em que até os seus vestígios tenham desaparecido da vida prática"(1).
Os fundadores do marxismo descobriram a natureza de ciasse da morai e mostraram suas origens e evolução na história da sociedade humana. Nas condições de nossa época, entretanto, os grandes mestres do proletariado apenas puderam esboçar, em traços largos, os contornos da futura moral comunista.

Deve-se a Lênin e a Stálin a descoberta posterior das manifestações e da essência da moral comunista. Em seu notável discurso perante o III Congresso das Juventudes Comunistas da Rússia, Lênin deu a característica do conteúdo da moral comunista, traçando suas linhas essenciais. E o camarada Stálin, generalizando a grande experiência da luta do Partido e do povo soviético para a edificação do socialismo em nosso pois, desenvolveu as idéias de Lênin sobre a moral comunista.

Em suas intervenções, o camarada Stálin indicou como devia proceder um membro do Partido Bolchevique, para ser digno desse título; mostrou o que devia ser um homem político do tipo Leninista; explicou o que se exige de cada cidadão soviético para que esteja ao nível da moral comunista e da conduta comunista. Nessas intervenções, o camarada Stálin deu a característica do papel da edificação soviética e da atividade dirigente do Partido Bolchevique e no ensino da moral comunista. As intervenções do camarada Stálin mobilizam as massas na luta pela vitória do comunismo, educam o povo num espírito de patriotismo a toda prova, no espírito da moral comunista.

A moral comunista é a fase superior do desenvolvimento da moral proletária, que começa a elaborar-se dentro do quadro do capitalismo, na luta contra a moral burguesa, que ocupa a posição dominante no regime capitalista. A moral que domina na sociedade burguesa é determinada pelas relações capitalistas de produção, caracterizada pela exploração do homem pelo homem. Em que se baseia, afinal, a sociedade burguesa, do ponto de vista moral? A essa questão, responde Lênin:

"Baseia-se no princípio de que — ou tu roubas aos outros ou os outros te roubam; ou trabalhas para os outros ou os outros trabalham para ti; ou és o senhor dos escravos ou tu serás o escravo. E é compreensível que os homens formados numa tal sociedade tenham, por assim dizer, bebido no leite materno a psicologia, os hábitos, as concepções ou de um senhor de escravos ou de um escravo, de um pequeno proprietário, de um pequeno funcionário ou de um intelectual — numa palavra, de um homem que apenas se ocupa de uma coisa: ter algo para si, e que se desinteressa do resto.
Se eu sou o dono deste pedaço de terra, que me importa o semelhante; se o próximo tem fome, melhor, pois venderei meu trigo mais caro. Se tenho meu lugarzinho como médico, como engenheiro, professor, empregado, estou-me rindo do próximo. Se eu fôr indulgente, adulador do poderio dos ricos, talvez — raciocina ele — possa conservar meu lugarzinho e quem sabe mesmo se não poderei tornar-me burguês".(2)

Essa ordem de coisas capitalistas engendra homens que são, do ponto de vista moral, uma pepineira de egoísmo empedernido e de insensibilidade em relação ao destino humano. A realidade capitalista engendra o mal e o crime, pelo próprio caráter das relações que estabelece entre os homens. Isto foi demonstrado pelo escritor inglês D. Priestley em sua peça "Ele Chegou". Nessa obra, o autor representou uma honrada família burguesa da Inglaterra, da qual todos os membros, o pai, a mãe, o filho, a filha e o noivo da filha foram culpados pela morte de uma jovem operária, embora nenhum deles tivesse desejado a morte dessa jovem. Mas objetivamente, pela lógica das relações existentes na sociedade burguesa, cada um dos membros dessa família burguesa teve sua parte de responsabilidade no crime.

O capitalismo engendra tipos humanos que, mesmo ao reconhecerem o caráter desumano da ordem de coisas capitalista, evitam de todas as formas lutar contra o mal e a injustiça e são inteiramente absorvidos por seu pequeno e mesquinho mundo, por seus interesses estreitos e prosaicos. Tal é, por exemplo, o "jogo de dama" da novela de Wells:

"Vejo bem, diz ele, que nos achamos ainda sob o domínio do homem das cavernas e que este prepara um reaparecimento em grande estilo. . . Que volte a idade da pedra, que seja, como dizeis, o declínio da civilização, é realmente uma pena; mas, esta manhã, nada posso fazer. Tenho minhas obrigações. Aconteça o que acontecer, vou jogar damas com minha tia".
Quanto mais avança o capitalismo, tanto mais se aprofunda o precipício entre os preceitos morais, de um lado, e a conduta real, a verdadeira atividade dos homens, de outro lado. Os próprios ideólogos do capitalismo têm que concordar com isso. Um dos conselheiros de Roosevelt, James Arburg, que foi, em certo período, diretor de propaganda do Bureau de Informação de Guerra, escreveu em seu livro intitulado: "A política externa começa no próprio país":

"O modo de vida atual na civilização européia, é um conflito insolúvel, pois, do ponto de vista ético e religioso, a civilização baseia-se na fé, na justiça e na igualdade, mas na vida prática o que reina é a doutrina da seleção natural e da eliminação dos mais fracos".
É claro que não se pode falar da pretensa "seleção natural", que dizem reinar na sociedade. A verdade é que a civilização burguesa atual é cada vez menos compatível com as exigências elementares da moral humana, embora palavras como "o bem", "a equidade", ressoem freqüentemente nos discursos dos homens que servem ao capitalismo.

Como harmonizar as palavras — liberdade, progresso, humanidade — usadas pelos representantes oficiais da sociedade burguesa, na América do Norte, por exemplo, com a hierarquia de raça que de fato reina ali e que está em contradição com as mais elementares exigências da moral humana? Como harmonizar essas exigências elementares com o desprezo e os atos desumanos contra a população, que se tornaram hábito nos Estados Unidos?

Desde as primeiras etapas do desenvolvimento da sociedade burguesa, surgiu com toda a nitidez a diferença entre a propaganda oficial dos princípios elevados de igualdade humana, de fraternidade e de liberdade, e as relações existentes na sociedade burguesa, onde reina a exploração, a opressão e uma competição desenfreada. Esta circunstância marcou com o selo do tartufismo e da hipocrisia a moral burguesa. A propagação dessa moral reveste-se de um caráter servil, arranjado para disfarçar a hediondez da realidade, justificar a ordem capitalista, defendê-la contra o inconformismo crescente das massas trabalhadoras.

Com o desenvolvimento da sociedade burguesa, à medida que a ordem estabelecida se torna um obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas e que a luta de classe entre o proletariado e a burguesia se exacerba — essas formas da ideologia burguesa, sob as quais os interesses de classe da burguesia, inclusive a moral burguesa, aparecem como sendo os interesses gerais, perdem seu conteúdo real e se tornam frases vazias, engodo consciente, premeditada hipocrisia. E quanto mais a vida demonstra a mentira e a falsidade interna dessa moral, tanto mais a linguagem da sociedade burguesa oficial se torna hipócrita.

O grande dramaturgo inglês Bernard Shaw ridicularizou, com seu estilo mordaz, a tática do burguês britânico que comete as coisas mais infames sob a máscara da caridade cristã. Diz ele, em "O Homem do Destino":

"E sempre, e para todos os casos, têm à mão uma atitude de homem de boa moral. Como grande combatente pela liberdade e a independência nacional, conquista e anexa ao seu país a metade do mundo e chama a isso colonizar, é necessário, por exemplo, um novo mercado para suas mercadorias acumuladas em Manchester? Então ele envia rapidamente um missionário a tal parte e, em seguida, tomando das armas, vai no rastro do missionário defender a cristandade. Ele se bate pela cristandade, faz suas conquistas em nome do cristianismo e apodera-se do mercado como de uma recompensa celeste".

Por outro lado o capitalismo moderno engendrou e engendra verdadeiros apologistas do canibalismo, os quais tentam cada vez mais soltar a besta que existe no homem. Através dos imperialistas alemães reacionários, cultivou-se e alimentou-se o fascismo, que conduziu aos limites extremos a ideologia do ódio entre os homens, a prática do extermínio bárbaro e em massa dos homens, a prática da destruição da cultura material e espiritual da humanidade. O diabólico "fuhrer" dos fascistas alemães declarou:

"Eu liberto o homem da quimera aviltante que tem por nome consciência. A consciência, assim como a instrução, deforma o homem. Tenho a vantagem de que nenhuma consideração de caráter teórico e moral me detém".
O condutor dos modernos canibais, que se declarou o símbolo do princípio do amoralismo, conseguiu arrastar milhões de alemães na senda dos crimes mais monstruosos contra a humanidade.

Devido à vitória militar contra o imperialismo alemão e japonês, o fascismo sofreu uma derrota moral e política. Entretanto, os círculos reacionários do mundo imperialista atual tentam, cada vez com maior insistência e obstinação, impedir a derrota política e moral definitiva do fascismo, cultivando a ideologia do ódio humano, representada pelo racismo, chamando em seu socorro as revivescências do canibalismo, a fim de ter o terreno preparado para realizar seu plano de agressão, sua política de conquista territorial e de escravização dos povos.

Só uma luta enérgica das forças progressistas da humanidade contra as forças da reação poderá assegurar a derrota moral e política definitiva do fascismo. Nesta luta das forças progressistas, visando liquidar completamente a ideologia bestial do fascismo e extirpar o canibalismo fascista, cabe o primeiro papel à URSS como baluarte da democracia e do progresso. Nos países estrangeiros são os representantes de vanguarda da classe operária, lutando sob a bandeira das idéias sociais e políticas mais avançadas e sob a bandeira de uma moral de vanguarda, que estão combatendo o fascismo de maneira conseqüente.

A história confiou ao proletariado a grande missão de liquidar a estrutura de classe da sociedade, de liquidar a exploração e as causas que lhe dão origem e de criar um novo regime social — o comunismo.

Do ponto de vista proletário, só é moral a conduta dos homens baseada na grande luta pela libertação da humanidade de todos os jugos e de quaisquer formas de exploração.

Qualidades de caráter tais como a honestidade, a sinceridade, a dedicação, a coragem, a energia e a solidariedade entre camaiadas, a dedicação à causa da libertação dos trabalhadores e muitas outras qualidades morais, desenvolveram-se e fortaleceram-se entre os massas trabalhadoras; embora a burguesia tenha brutalmente espezinhado esses princípios morais e empestado a atmosfera social com o egoismo, a extorsão, a hipocrisia e outros sentimentos amorais.

Ainda no início de sua atividade revolucionário, observando os operários que entravam no movimento socialista, afirmou Marx:

"A fraternidade humana em seus lábios não é apenas uma frase, mas uma verdade, e de seu rosto endurecido pelo sofrimento toda o beleza da humanidade nos contempla"(3).
O desenvolvimento da moral proletária manifestou-se com particular nitidez em nosso país, porque, devido a condições históricas, foi ele o primeiro a começar a reconstrução da sociedade em base socialista.

O movimento operário em nosso país, nascido mais tarde de que nos outros países europeus, chocou-se com a reção feroz da polícia do tzarismo.

Os bolcheviques, que a autocracia transformava nos revolucionários mais conseqüentes e irredutíveis, sofreram particularmente suas cruéis sevícias.

Achando-se no próprio âmago do movimento operário, os bolcheviques elevaram o nível da consciência política dos operários, cultivaram em si os sentimentos necessários à vitória da classe operária, da solidariedade de classe, da união entre camaradas, o sentimento da dedicação.

A luta pela honestidade moral, pela firmeza e o espírito de princípio entre os revolucionários profissionais e entre todos os operários que participavam no movimento revolucionário, forma uma das páginas mais brilhantes da história do bolchevismo na Rússia.

II

A MORAL comunista é a moral de tipo novo, e sua base difere da base das outras morais que a precederam. Por isso tem outro conteúdo e outra é sua missão.

Na sociedade que assenta sobre a propriedade privada, a moral que domina, ao lado do direito, destina-se a manter a instituição da propriedade privada. A burguesia apenas colocou a lei do Estado a serviço desta instituição: declarou que a propriedade privada era sagrada e inalienável, emprestou-lhe um aspecto moral e religioso. A moral que domina na sociedade burguesa consagra o regime de exploração e desigualdade, o regime de opressão e escravidão criado pela propriedade privada.

Bem ao contrário da moral burguesa, a moral comunista, da mesma forma que o direito comunista, destina-se a servir ao fortalecimento da propriedade socialista coletiva. Na sociedade em que a terra, as fábricas e as usinas deixaram de ser a propriedade dos exploradores e se tornaram apanágio do povo inteiro, a propriedade socialista coletiva é sagrada e inalienável; tem seu defensor fiel não só no direito socialista, como também na moral comunista. A moral comunista defende o novo regime social criado na base da propriedade socialista coletiva, regime de que foram banidas a exploração e todas as formas de opressão e escravização. Lênin acentuou:

"A moral comunista baseia-se na luta pelo fortalecimento e pelo aperfeiçoamento do comunismo"(4).
Desta finalidade da moral comunista deriva seu conteúdo de princípios diferentes. Se, na sociedade baseada nos princípios da propriedade privada dos meios de produção, é alimentada entre os homens a psicologia da propriedade privada em todas suas manifestações amorais, na sociedade socialista, onde existe a propriedade socialista coletiva dos meios de produção, estabelecem-se relações de solidariedade entre todos os seus membros, que possuem interesses comuns, fins comuns e aspirações comuns.

Durante a transformação socialista da sociedade, realiza-se entre os homens uma renovação do sistema moral; a antiga psicologia, ligada à propriedade privada, é substituída pela psicologia do apoio mútuo a serviço da causa comum. Os homens perdem pouco a pouco os antigos hábitos e tradições, os sentimentos de cupidez e desse egoísmo calculado e frio que a sociedade burguesa cultiva. Em sua obra "Anarquismo ou socialismo?", escreveu o camarada Stálin:

"No que se refere às opiniões e aos sentimentos bárbaros dos homens, não são tão antigos como alguns pensam: houve tempo, na época do comunismo primitivo, em que o homem não conhecia a propriedade privada; veio o tempo da produção individual em que a propriedade privada se apoderou dos sentimentos e da razão dos homens; aproxima-se um tempo novo, o tempo da produção socialista — que há, pois, de extraordinário em que os sentimentos e pensamentos dos homens se embebam nas aspirações socialistas? Pois não é certo que o tipo da vida determina "os sentimentos" e as "opiniões dos homens"?"(5).

A experiência, de importância histórica mundial, da edificação do socialismo em nosso país, demonstrou em seus contornos práticos o processo da transformação socialista da consciência dos homens, o processo da formação da moral comunista.

Os homens que se ligaram à edificação do socialismo, saíram da sociedade capitalista. É natural que, em sua maioria estivessem sob a influência de tradições, hábitos, preconceitos, vestígios do passado, que se fizeram sentir fortemente na consciência dos milhões de homens chamados a edificar uma vida nova.

Este o caso principalmente das massas camponesas, mas também foi o caso de amplas camadas de trabalhadores que não tiveram imediatamente a consciência dos interesses comuns do Estado. No entanto, na base da edificação socialista, que principiou a se desenvolver, e graças ao trabalho de organização e educação do Partido Bolchevique, as fileiras dos operários de vanguarda, pelo seu exemplo de dedicação e heroísmo, cresceram rapidamente.

Desde os primeiros anos de existência do Estado Soviético, a atitude comunista dos operários em face do trabalho, evidenciando a existência de novas relações entre os homens — as relações de ajuda e apoio recíprocos — manifestaram-se com bastante clareza. Os "domingos comunistas" o comprovam.

O valor particular da iniciativa dos operários na organização de "domingos comunistas" estava, conforme indicou Lênin, na preocupação desinteressada

"dos operários de base, em aumentar a produtividade do trabalho, zelar cada "pud" (medida equivalente a 16 kg.) de trigo, de carvão, de ferro e de produtos destinados, não especialmente ao operário, nem a seus parentes, ou amigos mais próximos ou afastados, mas à sociedade em seu conjunto às dezenas e centenas de milhões de homens reunidos, primeiro num só Estado socialista e depois na União das Repúblicas Socialistas"(6).

Mas enquanto na economia do país subsistiam numerosas camadas sociais e enquanto a agricultura produzia pouco para o mercado, a massa dos milhões de camponeses continuava com a herança do passado, ainda sob a influência da psicologia da propriedade privada.

O desenvolvimento da moral comunista entre as massas camponesas só encontrou terreno propício quando, segundo o projeto genial do camarada Stálin, e sob sua direção, os camponeses de nosso país foram reunidos nos kolkozes. Só nos kolkozes a consciência dos milhões de camponeses começou a tornar-se socialista.

No regime kolkozeano o campesinato encontrou a forma de sua união, a forma da colaboração e da ajuda mútua entre camaradas, forma que constituía base da consciência e da moral comunista. A vitória do regime kolkozeano levou igualmente ao fortalecimento considerável dessas relações amistosas entre os camponeses e operários de nosso país e a um fortalecimento da união entre essas duas classes.

Durante a edificação socialista e graças a seus resultados, surgiram novos intelectuais, animados de sentimentos fraternais em relação aos operários e camponeses e agindo de acordo com eles. Desta forma, devido à vitória do socialismo, à liquidação das classes exploradoras na sociedade soviética, formou-se e consolidou-se a unidade moral e política de nosso povo.

A ajuda mútua fraternal também triunfou nas relações entre todas as nações e povos de nosso país. A formação da unidade moral e política da sociedade soviética marcou a consolidação das nações, a verdadeira unidade nacional. Os laços que unem os homens, na base de suas tradições nacionais, foram pela primeira vez libertados do caráter de antagonismo inerente à nação na sociedade burguesa, sociedade em cujo seio a noção é dividida por contradições internas de classes. A verdadeira simpatia mútua triunfou entre todos os homens pertencentes a uma determinada nação e unidos pela comunidade de sua história e de sua cultura. Ao mesmo tempo, esses sentimentos de simpatia entre homens unidos pela origem nacional, harmonizam-se com os sentimentos de amizade em relação aos homens das outras nacionalidades. A amizade cresceu e se fortificou entre os povos, paralelamente com os resultados da edificação do socialismo.

Assim, no domínio das relações entre classes e grupos sociais, da mesma maneira como no domínio das relações entre nações, triunfou um verdadeiro sentimento de humanidade.

Tudo isto significa que na sociedade socialista, o sentimento de humanidade, nas relações mútuas entre os homens, adquire realmente essa universalidade tão decantada em todos os estatutos morais de todos os tempos, mas que se conserva como uma palavra vazia de sentido, nas sociedades internamente antagônicas.

É por isso que a moral comunista é reconhecida por todos os povos e recebe assim a consagração que nenhuma outra sociedade poderia receber, ao contrário da sociedade burguesa, onde coexistem sistemas opostos de moral e onde a moral das classes exploradoras dominantes é imposta aos trabalhadores com toda a espécie de falsidades. Na sociedade socialista, a moral comunista existente goza do apoio geral. Explica-se desta forma o fato de que, ao contrário da moral dominante nas sociedades internamente antagônicas, que sempre caminha de par, com a religião, tendo necessidade dela como tutor, a moral comunista está liberta de tal união.

Para que a moral das classes exploradoras dominantes possa ser inculcada no povo, necessita do beneplácito e do apoio da religião. Quanto à moral comunista, esta não tem necessidade de ser consagrada pela religião, visto que é sincera, correspondendo inteiramente aos interesses do povo, e sendo a expressão de sua consciência e de sua vontade, apoia-se em sua unanimidade e goza do reconhecimento geral.

Os princípios da moral comunista são princípios sinceros e têm base científica. A moral comunista, criada pelas necessidades da classe social mais avançada, sendo o reflexo fiel, completamente científico, de suas necessidades, é a moral que educa, ao contrário da moral burguesa, que degrada e degenera. Engels demonstrou que a única

"moral que contém em si os elementos mais numerosos, prenunciadores de uma longa existência e que exprime o futuro é a moral proletária"(7).

Na medida em que a moral comunista, proletária, exprime o ponto de vista do futuro, interfere, como ideal moral, na base científica. Kautsky afirmou que cada ideal moral, via de regra, não tinha base no conhecimento científico, mas isso não corresponde à verdade.

Na realidade, o ideal moral do comunismo baseia-se no conhecimento científico. O Partido Comunista, apoiando-se no conhecimento das leis da edificação do comunismo, define claramente as tarefas que deve cumprir para ensinar a moral comunista e formar o homem novo. Estas tarefas de ensino de moral comunista, propostas por nosso Partido, não são um ideal moral sedutor qualquer — têm suas raízes na própria realidade.

Em que se manifesta a moralidade comunista e que exige ela do homem?

Na sociedade socialista, o bem pessoal de cada um dos membros da sociedade é inseparável do bem geral de todos, o bem geral das classes trabalhadoras e de todo o povo soviético. Este caráter inseparável do interesse pessoal e do interesse social, além de estender-se a todas as esferas da vida e da atividade do homem, distingue-se pela sua continuidade.

Numa sociedade de classes antagonistas, há momentos em que os interesses individuais concordam com os interesses gerais, por exemplo quando a nação, o Estado, está ameaçado por um inimigo externo e que é do interesse de todos os patriotas se unirem para lutar contra o inimigo comum. Mas uma tal concordância de interesses privados e gerais é apenas transitória e termina logo que desaparece o perigo de uma invasão estrangeira.

Na sociedade socialista, a concordância entre os interesses de todos os seus membros, existe permanentemente pelo fato de que, em seu trabalho diário, o homem soviético tem nos outros trabalhadores — não concorrentes ou inimigos, mas camaradas e amigos.

Pela primeira vez na história da humanidade, o domínio do trabalho se tornou a arena em que se podem desenvolver e desenvolvem, as forças morais do indivíduo, sua dedicação à causa comum, seus esforços pessoais visando o progresso geral, sua ajuda aos que estão sendo superados, e sua própria aspiração em alcançar os melhores. Isto se aplica na emulação socialista que vê manifestar-se o alto valor moral dos homens, de forma diametralmente oposta à crueldade da concorrência, com seu princípio desumano; líquida aquele que ficou para trás, caminha sobre aquele que tombou. Lênin nos ensinou que:

"O comunismo é a produtividade de operários voluntários, conscientes, unidos, dispondo de uma técnica de vanguarda; produtividade elevada em relação à produtividade do trabalho capitalista"(8).
As qualidades morais dos trabalhadores socialistas, baseadas na consciência profissional, na boa vontade e solidariedade dos operários, são os fatores decisivos de uma alta produtividade do trabalho. A moralidade comunista adquire assim o papel de fator extremamente poderoso de nossos progressos.

Hoje, nosso país começou uma nova era de desenvolvimento pacífico e realiza o programa grandioso da edificação econômica e cultural, fixado no novo plano qüinqüenal. A realização desse plano representa um passo a frente, e grande importância, no caminho da completa edificação da sociedade socialista e no caminho da passagem progressiva ao comunismo.

Na realização dessa obra, cabe importante tarefa ao Partido Comunista, que deve educar os trabalhadores de maneira comunista, que deve desenvolver o princípio da moral comunista e incorporá-la à vida.

Ensinar a moral comunista é, antes de tudo, educar os homens soviéticos, a juventude soviética em particular, no espírito de uma dedicação sem limites à causa do comunismo e de abnegação ao serviço da pátria socialista. Educar os trabalhadores de forma comunista, é inculcar no povo a dedicação à política do Estado Soviético, política que constitui a base vital do regime soviético. A educação é incompatível com a falta de espírito político. Na resolução do Comitê Central do P. C. (b), relativa às revistas "Estrela" e "Lêningrado", observa-se:

"O regime soviético não pode aceitar que a juventude seja educada num espírito de indiferença diante da política soviética, num espírito de conformismo, falho de convicções".
Não se serve à causa do desenvolvimento e do fortalecimento da moralidade comunista senão dando convicções elevadas e a consciência do dever comum a todos os cidadãos.

A moral comunista, as idéias morais comunistas, que são idéias de vanguarda, possuem como todas as outras idéias de vanguarda, a virtude de fazer marchar para a frente a sociedade humana. Sobre isso, ensina o camarada Stálin:

"As novas idéias e teorias sociais não surgem senão quando o desenvolvimento da vida material da sociedade colocou novas tarefas diante da sociedade. Mas, uma vez nascidas, elas tornam-se uma força muito importante que facilita a solução das novas tarefas colocadas na ordem do dia pelo desenvolvimento da vida material da sociedade e facilita os progressos da sociedade"(9).

O ensino da nova moral destina-se, em primeiro lugar, a reforçar a atitude socialista, em relação ao trabalho, a favorec«r o desenvolvimento da emulação socialista, aumentar a preocupação dos homens soviéticos pelo crescimento e consolidação do poderio econômico e militar da União Soviética. O novo e poderoso impulso da emulação socialista, dado em toda a União Soviética, sob a iniciativa dos trabalhadores das empresas de vanguarda, é uma brilhante demonstração do crescimento da consciência comunista dos homens de nosso país. Se não ensinarmos a moral comunista aos homens, é inútil falarmos da criação das condições necessárias para passar ao comunismo.

A questão do ensino da moral, do ensino da atitude socialista diante do trabalho e diante da propriedade sociaJ, tem ainda maior importância visto que os vestígios do capitalismo ainda não desapareceram da consciência dos homens e que o perigo da influência da psicologia da propriedade privada, hostil ao comunismo, não foi ainda liquidado em certas camadas da população. Deve-se igualmente ter em vista que nos anos de guerra, nas regiões ocupadas pelos alemães, a população foi submetida a uma propaganda fascista que tentou implantar o espírito adequado ao regime da propriedade privada, espírito hostil aos kolkozes e ao Estado.

Os delapidadores da propriedade social, que causam prejuízo ao Estado socialista com objetivos de lucros pessoais, ainda não desapareceram.

A luta contra esses violadores da lei do Estado deve ser severa e impiedosa. Nesta luta, a vigilância sempre desperta dos homens soviéticos perante os violadores das regras da comunidade socialista, que recorrem, com fins pessoais de lucros, a roubos, pilhagem, e cuja conduta criminosa causa prejuízo aos trabalhadores conscienciosos de nosso país, tem importância considerável.

A luta contra o relachamento pequeno burguês na produção e na administração uma atitude honesta em relação ao trabalho, uma atitude cuidadosa perante a propriedade socialista coletiva, o cuidado de fortalecer o poderio econômico e militar do país, são as principais exigências da moral comunista.

Não há nada mais progressista, mais digno dos esforços humanos do que servir ao comunismo, que é o regime social mais avançado e o mais justo. Servir com desinteresse à pátria socialista é a mais alta manifestação do dever moral. Por isso o patriotismo do homem soviético é a expressão mais completa e mais conseqüente de sua alta moralidade. Foi o que demonstrou, bem claramente, de forma desconhecida até ao presente, a guerra patriótica do povo soviético contra os conquistadores fascistas alemães, durante a qual se desenvolveram, em toda a sua magnificência, relações de alta moralidade entre os homens soviéticos. O patriotismo soviético é uma grande força moral e por essa razão é incompatível com o nacional-chovinismo; por isso também as tradições nacionais dos povos da URSS se misturam de modo harmonioso aos seus interesses vitais comuns. A moral soviética considera que toda demonstração de hostilidade ou de ódio para com os homens de outra nação é uma violação das mais grosseiras dessa moral.

Eis por que o fortalecimento ulterior da amizade entre os povos e a eliminação definitiva de todos os vestígios nacionalistas ocupam um lugar de destaque no ensino da moral comunista.

O camarada Stálin, mais de uma vez advertiu contra os vestígios vivos da psicologia nacionalista. Escreveu ele:

"É necessário notar que os restos do capitalismo na consciência dos homens estão mais vivos no domínio da questão nacional do que em qualquer outra. São mais vivos nessa questão, porque têm a possibilidade de se fantasiar sob vestes nacionais"(10).

Os vestígios nacionalistas acabam sempre por se manifestar. Isso se nota especialmente nas regiões que desde há pouco tempo fazem parte da União Soviética: nas Repúblicas do Báltico, na Moldávia, na Ucrânia e na Bielo-rússia Ocidental, onde é necessário realizar um grande trabalho de educação para eliminar os vestígios do nacionalismo burguês, assim como os vestígios do velho ódio nacional. O anti-semitismo também faz parte dos vestígios do chovinismo de raça. O camarada Stálin ensina que:

"O chovinismo nacional e de raça é o vestígio dos caracteres misantrópicos próprios do perigo do canibalismo. O anti-semitismo, como forma extrema do chovinismo de raça, é o mais perigoso vestígio do canibalismo".

Uma das tarefas no ensino da moral comunista consiste em extirpar completamente os restos dos preconceitos nacionalistas e de raça, em reforçar por todos os meios a amizade e o respeito mútuos entre os homens de diferentes nacionalidades, tendo em mente o que diz Stálin:

"a amizade entre os povos da URSS é uma grande e séria conquista, pois, enquanto esta amizade existir, os povos do nosso país serão livres e invencíveis".

O ensino da moral comunista é orientado para a criação de relações entre os homens, baseadas nos princípios do humanismo socialista. Estas relações devem estar impregnadas de um verdadeiro sentimento, humano, excluindo o interesse pessoal e o cálculo egoísta. A ajuda mútua, a amizade sincera, a camaradagem e o profundo respeito pela dignidade da personalidade humana devem ser o apanágio de todos os trabalhadores. A moral comunista exige que todas as manifestações de insensibilidade e de burocratismo sejam energicamente combatidas.

A conduta digna de um membro da sociedade comunista, no seio da família, é uma das partes integrantes da ética comunista. A moral comunista, que educa o homem como cidadão, como construtor ativo da nova sociedade, não é absolutamente indiferente à sua vida familiar. O governo soviético procura fortalecer a família soviética. Elevou a um nível extraordinário o título de mulher-mãe, criando as condições materiais necessárias para ajudar as mães de família numerosa. Ensinar é também ajudar o fortalecimento da família soviética.

A destruição da propriedade privada dos meios ds produção e a libertação do trabalho de toda espécie de exploraçio são uma base firme para o desenvolvimento progressivo da moral comunista, para que os homens se libertem de todos os vestígios bestiais, incentivados e cultivados durante séculos e na sociedade de classes.

Dentro dos limites do capitalismo, é impossível dominar no homem os vestígios do animal. Aos homens que se preocupam com esta maldade, de que o mundo está cheio, mas que não compreendem ou não querem compreender que só a liquidação da exploração do homem pelo homem pode criar as condições necessárias para uma verdadeira existência humana, a esses homens nada mais resta a fazer do que se entregarem ao desespero e ao pessimismo sem saída. Em nome deles, fala um dos personagens que Wells, o doutor Norbert, que em seu desespero, escreve:

"O homem ficará sempre como foi: eternamente bestial, invejoso, traiçoeiro, ávido! O homem, nu e sem polimento, é sempre o mesmo animal medroso, rosnento e feroz tal como era há centenas de milhares de anos. . . O que vos estou dizendo é uma verdade monstruosa".

Somente numa sociedade em que as classes exploradoras foram liquidadas e onde foram criadas condições de relações verdadeiramente humanas é que se abre de fato a possibilidade de destruir entre o homem os vestígios da besta. E, até certo ponto, isto é, facilitado pelo fato de que a cultura é accessível a todo o povo.

A sociedade soviética, sã, cheia de heroísmo no trabalho, sem cessar, criando o novo, é o mais favorável para o desenvolvimento de todas as qualidades morais do homem.

O desenvolvimento das novas qualidades morais efetua-se na luta contra as influências e as revivescências do passado. As ervas daninhas da moral burguesa serão arrancadas, pois, como disse Gorki:

"Na União Soviética, a vontade do indivíduo acha-se limitada, sempre que é hostil à vontade da massa, consciente de seu direito de edificar as formas novas da vida, sempre que essa vontade do indivíduo é hostil à vontade da massa, que fixou para si um objetivo inaccessível ao indivíduo isolado, mesmo que seja dotado do gênio mais excepcional" (11).

O ensino da moral comunista, a educação dos homens no espírito da comunidade socialista, a despeito dos resultados importantes já obtidos neste caminho, não podem sem por um momento ser esquecidos enquanto, como observa Lênin:

"os homens não se tiverem habituado progressivamente a respeitar as regras elementares da vida em comum, já há séculos conhecidas, repetidas há milênios em todos os tratados sobre moral; enquanto não se acostumarem a respeitar sem imposição, sem submissão, sem o uso de aparelho especial de coerção, chamado Estado»"(12).

O ensino da moral comunista interessa à opinião pública soviética de modo geral, a todas as suas organizações e instituições (do Partido, das Juventudes Comunistas, dos Pioneiros, dos Sindicatos), assim como aos órgãos do Estado Soviético e ao Tribunal Soviético, que se baseia na opinião geral do povo, na defesa do direito soviético e que colabora no fortalecimento da moral comunista.

O portador das qualidades e virtudes morais mais elevadas e o educador do povo no espírito da moral comunista é o grande Partido de Lênin e Stálin.

A fisionomia moral do Partido Bolchevique revelou-se durante os longos anos de uma história heróica, durante os combates cruéis contra os inimigos, combates que exigiram dos bolcheviques uma força de caráter extraordinária.

Na luta e na edificação socialista, o Partido de Lênin e Stálin ensinou aos comunistas uma grande firmeza e um grande sangue-frio, a audácia e a coragem, a dedicação ilimitada à causa dos trabalhadores e ensinou-lhes também a se sacrificarem em nome da vitória do socialismo. O Partido de Lênin e Stálin educa os comunistas no amor à pátria, no ódio aos inimigos e na valentia no combate, na solidariedade entre camaradas e na vontade de vencer todas as dificuldades, na modéstia e no desprezo ao lucro e ao egoísmo, no desdém por tudo aquilo que opõe o individual ao geral. O Partido cultiva entre os comunistas uma alta ideologia, o espírito de princípio, a intolerância pelos erros, a atitude bolchevique diante da crítica e da autocrítica.

Estes traços da fisionomia moral do Partido Bolchevique servem igualmente de modelo à moral comunista; são a expressão dos princípios do código moral dos comunistas.

Só um tal partido, dotado das melhores qualidades dos heróis, combatendo pela verdade e a justiça, pode educar os milhões de trabalhadores no espírito da dedicação à causa do socialismo e aos interesses da pátria. O papel do Partido Bolchevique, inspirador das massas populares em seu trabalho e em seus atos, é verdadeiramente inestimável. As organizações do Partido têm como missão educar, sem descuido, suas próprias fileiras, no espírito da moralidade comunista e arrastar toda a massa de trabalhadores por seu próprio exemplo.

O papel da propaganda do Partido, notadamente da propaganda impressa, destinada a educar os homens no espírito do leninismo e elevar sempre mais, por conseqüência, sua consciência comunista e a implantar sempre mais amplamente e mais profundamente as bases da moral comunista, e particularmente grande na educação da juventude comunista.

A família e a escola têm um grande papel a desempenhar no ensino da moral comunista. A família lança as bases na formação da fisionomia moral do homem. A família sempre desempenhou um papel educativo imenso; colocou seu timbre na psique da criança, em sua conduta, em sua formação, seus hábitos e aspirações. A família soviética deve ser o auxiliar ativo do Partido e do governo soviético na educação comunista da consciência dos homens.

Não é necessário trazer esclarecimento especial para compreender o papel que a escola e os pedagogos soviéticos têm que desempenhar para forjar o modelo do pensamento e da conduta comunistas dos homens. A influência pessoal do mestre, do pedagogo é, por vezes, tão grande que deixa um traço profundo, e para toda a vida, na alma do homem. O pedagogo soviético tem a felicidade de cultivar no homem algo de verdadeiramente humano, que corresponde justamente à expectativa do professor destinado a desenvolver as forças morais e intelectuais do homem. Por isso a responsabilidade do pedagogo soviético é tão grande, por isso seu papel é tão relevante na edificação da sociedade comunista.

A literatura e a arte soviéticas desempenham grande papel no ensino da moral comunista.

A literatura russa do século XIX e do início do século XX adquiriu fama mundial pelo fato de ser a expressão clara da consciência social. A literatura russa mereceu esta alta classificação pela profundeza ideológica com que se manifestou contra as vilanias, da antiga sociedade, denunciando inflexivelmente a mentira e a hipocrisia da moral feudal e burguesa, partindo a máscara de todos os que sufocavam a liberdade de nosso país, e revelando toda a sordidez que reinava então na sociedade.

A literatura soviética, herdeira ideológica das melhores tradições da literatura clássica russa, tem uma tarefa criadora a cumprir: a de educar o homem novo. A literatura soviética reflete na arte, o processo grandioso da edificação da sociedade comunista, o processo de transformação da consciência dos homens e coopera para cultivar neles novas e altas qualidades morais.

Durante a grande guerra patriótica, que exigiu a mobilização de todas as forças morais do povo soviético, nossos escritores produziram inúmeras obras de valor, que refletem a superioridade moral e a grandeza dos homens soviéticos, as quais contribuíram seriamente para a educação de milhões de leitores soviéticos.

A literatura soviética e a arte soviética destinam-se, hoje, na nova conjuntura, a levantar bem alto a bandeira da educação comunista dos homens.

A literatura e arte soviéticas devem refletir, sob formas artísticas, tudo o que há de heróico e de criador na vida dos povos soviéticos, formá-los nos exemplos de heroísmo, no combate, no trabalho e nas manifestações de um verdadeiro humanismo.

A literatura e a arte soviéticas devem desempenhar um grande papel na luta contra os remanescentes do capitalismo na consciência dos homens, revelar as manifestações da instabilidade moral, da psicologia ligada à propriedade privada, da dissolução pequeno-burguesa dos costumes e da indisciplina anarquista dos "defensores das tradições do capitalismo".

A literatura soviética deve possuir uma alta ideologia e tomar por guia a política do Estado soviético. A resolução do Comitê Central do P. C. (b), de 14 de agosto de 1946, acentua:

"A força da literatura soviética, a literatura mais avançada do mundo, está no fato de que não tem, nem pode ter outros interesses do que os interesses do povo e do Estado. A tarefa da literatura soviética consiste em ajudar o Estado, a educar bem a juventude, responder às necessidades, formar uma nova geração de homens ardentes, confiantes em sua obra, não temendo as dificuldades e dispostos a vencê-las todas, quaisquer que sejam. Por essa razão a falta de ideologia, o caráter apolítico, "a arte pela arte", são estranhos à literatura soviética, são prejudiciais aos interesses do povo e do Estado soviéticos e não devem ter lugar em nossas revistas".

A arte dramática soviética, o teatro, devem desempenhar grande papel educativo. Todo mundo sabe o quanto as representações cênicas têm o poder de impressionar. É claro que a questão do repertório tem uma importância primordial. Se começarmos a fazer prevalecer no teatro as peças dos autores burgueses, no gênero das peças de Moguem, se não dermos uma atenção limitada às peças que têm um tema do passado longínquo, portanto relativas à vida das camadas superiores da antiga sociedade e representando os hábitos, os costumes e as opiniões dos parasitas, é claro que nesse caso, o teatro, o propagador da cultura socialista e da moral comunista, se transforma numa instituição que arrastará o espetáculo soviético para a moral e a ideologia do inimigo.

Os homens soviéticos têm necessidade de peças saturadas de um conteúdo ideológico elevado e que reflitam a verdade magnífica de nossa vida. Temos necessidade de peças que cultivem entre os homens soviéticos os pensamentos, os sentimentos, os traços de caráter novos e que lhes mostrem as novas normas de conduta dos homens.

O cinema tem excepcional importância como instrumento de combate ideológico de nosso Partido e do Estado soviético na formação cultural e política do povo. O que distingue o cinema soviético, o que o coloca bem acima da cinematografia estrangeira, é seu valor ideológico. É inadmissível encontrar no cinema soviético, a arte de massa por excelência, a ausência de conteúdo político, o abandono da atualidade e a fuga para o passado distante, assim como uma atração desmedida pelas produções literárias e dramáticas antigas.

O cinema deve ser estreitamente ligado à vida, à atualidade soviética e ser seu fiel reflexo. Isto exige dos diretores uma grande probidade na elaboração do tema.

O filme feito às pressas, sem um conhecimento bastante profundo da vida soviética, sem um estudo atento dos caracteres, do meio representado, faz surgir a realidade sob uma forma desfigurada e tolhe a educação política justa das massas.

Só os filmes que são profundamente ligados à realidade soviética, que são o fruto do estudo consciencioso desta realidade e que a refletem com veracidade, sob uma forma artística, podem servir com maior êxito à causa da educação comunista.

Na hora presente, quando nosso povo sofreu com heroísmo a prova cruel da guerra e obteve uma vitória sem par na história, devemos estar especialmente vigilantes às manifestações de auto-suficiência, capazes de prejudicar o desenvolvimento ulterior da sociedade soviética.

Novas tarefas exigem de nós um novo impulso ds nossas forças, exigem que vençamos novas dificuldades que se apresentam diante do país.

Para cumprirmos essas tarefas com êxito, é necessário elevar a educação comunista das massas, ensinar-lhes a moral comunista, ensinar-lhes, em suma a servir com desinteresse à pátria e a causa do comunismo.



Notas de rodapé:

(1) Karl Marx e F. Engels — "Obras", vol. XIV, pág. 94 — Edição russa Moscou. (retornar ao texto)
(2) Lênin — "Obras", vol. XXV, pás;. 393 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(3) Karl Marx — "Obras", vol. III, pág. 661 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(4) Lênin — "Obras", vol. XXX, pás. 41S — Edição russa. Moscou. (retornar ao texto)
(5) Stálin "Obras", vol. I, pág. 338 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(6)Lênin "Obras", vol. XXIV, pág. 342 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(7) Marx e Engels — "Obras", vol. XIV, pág. 93 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(8) Lênin — "Obras", vol. XXIV, pág. 342 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(9) Stálin — "Questões do Lêninismo", págs. 546 e 547 — 11.ª edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(10) Stálin — "Questões do Leninismo", pág. 474 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(11) Máximo Gorki — "Se o inimigo não se entrega, esmagá-lo-emos", pág. 186 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(12) Lênin — "Obras", vol. XXI, pág. 431 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)

Só Stalin? (Ou Porque a "esquerda festiva" nos odeia)



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APRENDA UMA COISA

Esses não são "almofadinhas burgueses", são comunistas numa universidade na Coreia:




Esses não são revolucionários, são degenerados pequeno-burgueses no Brasil:


EDITORIAL: Todo apoio a qualquer repressão contra promotores do tráfico

Por Cristiano Alves



Recentemente muitos ficaram indignados com a ação da Polícia Federal na Universidade Federal de Santa Catarina. Embora muitos neguem que a ação foi motivada pelo tráfico, entendemos que a alegação não condiz com a verdade, pois já foi testemunhado pelo autor desse texto e por vários outros comunistas convictos, dotados de plena credibilidade, que muitos jovens que se reúnem em universidades federais para "puxar um baseado".

Entendemos que a ação das forças policiais foi exagerada em alguns momentos, entretanto damos todo apoio a qualquer medidas tomadas contra consumidores e traficantes de narcóticos, uma vez que entendemos que esse vício se trata de uma manifestação de decadência da burguesia. Em países como Cuba, China e Coreia do Norte trata-se de um crime punível com a pena de morte! Nenhum regime capitalista matou tantos traficantes como as forças comunistas operárias da República Popular da China nos anos de Mao Tse Tung, o que representa um orgulho para qualquer comunista. Se os liberais e fascistas, que até criaram drogas como o Speed na época de Adolf Hitler, são tolerantes com as drogas em menor ou maior escala, nos países socialistas essa tolerância é zero!

Recentemente foi publicado um artigo em um outro blog que clama que "a invasão da UFSC não tem nada a ver com a maconha". O texto, cheio de falácias e apelos emocionais, basicamente se resume a dizer que "isso é coisa de partidário da ditadura". Por esse motivo o texto do blog "Crítica da Espécie"(acesse aqui), mereceu nossa atenção especial e sua devida refutação.

O texto é mal escrito e ressaltamos aqui alguns pontos mais relevantes:

"Sem se identificar, não estão efetuando uma prisão, estão realizando sequestro exatamente como os que são lembrados às vésperas do aniversário de 50 anos da ditadura milita"


A Página Vermelha - Segundo a Constituição brasileira, qualquer "pessoa do povo" pode prender alguém em caso de flagrante de delito. Testemunhas alegam que o detido foi encontrado com substâncias entorpecentes.

"E também vamos parar com o moralismo de tratar maconha como se fosse pior que drogas legais, tipo cigarro, que mata e ninguém se importa"

A Página Vermelha - Não é verdade, tanto se importa que o Brasil tem campanhas exemplares contra o tabagismo a ponto de impressionar turistas da Europa, famosa pelo intenso consumo de tabaco. Em muitos recintos inclusive é proibido o consumo de cigarros, charutos e cachimbos por lei municipal. O Brasil teve recentemente uma Lei Seca e tem penas pesadas para quem dirige alcoolizado, ainda que tenha tomado apenas 2 copos de cerveja. Se em muitos casos ela não é aplicada, cabe à população e seus representantes exigir maior aplicação. Além disso a maconha só não mata gente mais por que é coibida.

"Polícia que não se identifica está agindo como bandido, fora da lei"

A Página Vermelha - Errado, e já foi esclarecido o porquê. Não apenas a polícia pode dar voz de prisão, como qualquer cidadão. É necessário que no Brasil, a fim de ganhar apoio nas universidades, os comunistas constituem organizações que patrulhem o ambiente universitário para coibir o consumo de narcóticos. Na antiga União Soviética, a juventude comunista(Komsomol) patrulhava locais como praças e universidades em busca de pessoas que consumissem álcool ou drogas nesses locais. Em alguns casos eram patrulhas femininas e aqueles detidos cometendo infrações podiam ser julgados pela Corte dos Camaradas, uma espécie de tribunal de conciliação. Aqueles que desrespeitavam a autoridade da patrulha da Komsomol podiam ser processados, julgados e se condenados iam para Campos de Trabalhos Corretivos.

"Um dia são aprovados e passam a ser um juiz, um procurador, um delegado, investidos de autoridade de Estado sem que tenham experimentado a vida real"

Aqui o artigo parte de um argumento ad hominem, as opiniões e decisões do jovem delegado seriam "menos válidas" por que este é jovem e "não experimentou a vida real". O que seria "experimentar a vida real"? Seria experimentar maconha? Que inversão de valores! Aliás, voltando ao tema da idade, Gilmar Mendes é bem jovem para tomar decisões irresponsáveis, não?(Aos analfabetos funcionais, essa foi uma ironia!) Quando um juiz velho toma decisões absurdas, logo "é por que é velho demais e por isso conservador", se é jovem, então "é por que é muito novo e não conhece a vida". Brincadeira, não?

"A operação desastrosa tinha por objetivo pegar “perigosos” estudantes de Ciências Humanas que fumavam um baseado sem colocar em risco a vida de ninguém!"

Falso! Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o tráfico de drogas, assim como o consumo legal dela também em alguns países, envolve um negócio criminoso que destrói milhares de famílias, envolve crianças, ações armadas para que no final pequeno-burgueses ignóbeis venham a "desfrutar em paz o seu baseado". O problema é que essa "paz" custa muito sangue para o proletariado.

"O delegado, que talvez se sentisse melhor trabalhando no DOI-CODI do regime golpista"

Infelizmente, graças a esse tipo de opinião e ao texto como um todo vemos comentários no estilo:

"Comunista… não tinha como pensar diferente!"

Mas não existe "comunista maconhista", existe comunista, e comunista que se preze não se mistura com viciados(exceto no intuito de curá-los)!

O melhor propagandista do anticomunismo é um "esquerdista viciado"!
Drogas e comunismo não se misturam como água e óleo!
Repressão aos traficantes e aos financiadores do tráfico!
Por uma patrulha universitária formada por marxistas-leninistas!

FOTO DA SEMANA: A juventude abraça o marxismo-leninismo, as ideias de Iósif Vissaryonovich Stalin



sábado, março 22, 2014

SOCIEDADE: A arte moderna como "arma da CIA"

Por Frances Stonor Saunders*
Publicado originalmente no jornal britânico Independent
Traduzido por Cristiano Alves

Quadro expressionista abstrato premiado, visitado pela ativista síria Mimi Al Laham, em Londres. Vemos nela uma quadro sem nada, exceto com alguns rabiscos numa tela. É exatamente o que o capitalismo quer que você tenha em mente, "nada", e para o capitalismo isso é "liberdade".

Durante décadas nos círculos de arte isso ou era um boato ou uma piada, mas agora confirma-se como um fato. A Agência Central de Inteligência usou-se da arte moderna americana, incluindo as obras de artistas como Jackson Pollock, Robert Motherwell, Willem de Kooning e Mark Rothko, como uma arma na Guerra Fria. Na forma de um príncipe da Renascença, exceto por agir secretamente, a CIA fomentou e promoveu a Pintura Expressionista Abstrato Americano em todo o mundo por mais de 20 anos.

A conexão é improvável. Este foi um período, na década de 50 e 60, em que a grande maioria dos americanos não gostava ou mesmo desprezava a arte moderna, o presidente Truman resumiu o ponto de vista popular ao dizer: “Se isso é arte, então sou Hottentot”. Para os próprios artistas, muitos eram ex-comunistas que mal eram aceitos na América da era mccarthista, e certamente não o tipo de pessoas que normalmente recebiam apoio do governo americano.

Por que a CIA passou a apoiá-los? Por que na guerra de propaganda contra a União Soviética, esse novo movimento artístico poderia ser apresentada como prova da criatividade, da liberdade intelectual, e o poder cultural dos EUA. A arte russa, presa na camisa de força ideológica comunista, não poderia competir.

A existência dessa política, presente em rumores e contestada por muitos anos, agora foi confirmada pela primeira vez por ex-oficiais da CIA. Desconhecida para os artistas, a nova arte americana era secretamente promovida sob uma política conhecida como “longa coleira”, acordos semelhantes aos do apoio indireto da CIA ao jornal Encounter, editado por Stephen Spender.

A decisão de incluir a cultura e a arte no arsenal da Guerra Fria nos EUA foi tomada assim que a CIA foi fundada em 1947. Consternada com o apoio que o comunismo ainda tinha entre muitos intelectuais e artistas no ocidente, a nova agência organizou uma divisão, os Ainventários Ativos de Propaganda(Propaganda Assets Inventory), que em seu auge pôde influenciar mais de 800 jornais, revistas e formadores de opinião pública. Eles brincavam dizendo que era como uma caixa de música Wurlitzer: quando a CIA apertava o botão, podia-se ouvir qualquer música tocando pelo mundo inteiro.

O próximo passo decisivo veio em 1950, quando a Divisão de Organizações Internacionais(IOD) foi instituída por Tom Braden. Foi este escritório que subsidiou a versão animada de A Revolução dos Bichos de George Orwell, que patrocinou artistas americanos de jazz, recitais de ópera, a programada turnê internacional da Orquestra Sinfônica de Boston. Seus agentes foram colocados na indústria cinematográfica, em editoras, assim como escritores viajantes para os celebrados guias Fodor. E, agora sabemos, ela promoveu o movimento de vanguarda anárquico Expressionismo Abstrato.

Inicialmente, mais tentativas abertas foram feitas para apoiar a nova arte americana. Em 1947, o Departamento de Estado organizou e pagou por uma exibição internacional chamada “Avançando a Nova Arte Americana”, com o escopo de refutar sugestões soviéticas de que a América era um deserto cultural. Mas o show causou indignação em casa, levando a Truman e sua observação sobre Hottentott e um congressista amargurado a declarar: “Eu sou só um americano idiota que paga impostos para este tipo de lixo”. A turnê teve que ser cancelada.

O governo dos EUA agora enfrenta um dilema. Esse filistinismo, combinado com as denúncias histéricas de Joseph McCarthy de que tudo o que era de vanguarda ou não ortodoxo era profundamente embaraçoso. Ele desacreditou a ideia de que a América era uma sofisticada e culturalmente rica democracia. Ele também impediu o governo dos EUA de consolidar uma mudança de supremacia cultural de Paris para Nova Iorque desde 1930. Para resolver esse dilema, a CIA foi chamada.

A conexão não é tão estranha quanto pode parecer. Neste momento a nova agência, composta principalmente por graduados de Yale e Harvard, muitos dos quais colecionavam arte e escreviam romances em seu tempo livre, eram um refúgio do liberalismo quando comparado com um mundo político dominado por McCarthy ou com o FBI de J. Edgar Hoover. Se havia uma instituição política estava em posição de celebrar uma coleção de leninistas, trotskistas e alcólatras que compunham a Escola de Nova Iorque, esta era a CIA.

Até agora não houve nenhuma evidência em primeira mão para provar que esta ligação foi feita, mas nela, pela primeira vez alguém antes oficial no caso quebrou o silêncio. Sim, ele diz, a agência viu o Expressionismo Abstrato como uma oportunidade e sim, ele correu com ela.

"No que diz respeito expressionismo abstrato, eu adoraria ser capaz de dizer que a CIA inventou isso apenas para ver o que acontece em Nova York e no centro SoHo amanhã!", brincou. "Mas eu acho que o que fizemos realmente foi reconhecer a diferença. Foi reconhecido que o Expressionismo Abstrato era o tipo de arte que fez realismo socialista olhar ainda mais estilizado e mais rígido e confinado do que era. E essa relação foi explorada em algumas das exposições.

"De certa forma o nosso entendimento foi ajudado porque Moscou naqueles dias era muito cruel na sua denúncia de qualquer tipo de não-conformidade com os seus próprios padrões muito rígidos. Assim, pode-se de forma adequada e precisa raciocinar que qualquer coisa que eles criticavam muito e com mão pesada valia a pena ser apoiado de uma forma ou de outra".

Para prosseguir em seu interesse clandestino na vanguarda esquerdista da América, a CIA tinha que ter certeza de que seu patrocínio não poderia ser descoberto. “Questões desse tipo só poderia ter sido feito em dois ou três removes”, o Sr. Jameson explicou, "de modo que não haveria qualquer questão de ter que limpar Jackson Pollock, por exemplo, ou fazer qualquer coisa que possa envolver essas pessoas com a organização. E não poderia ter sido melhor, pois a maioria deles eram pessoas que tinham muito pouco respeito pelo governo, em particular, e, certamente, nenhum pela CIA. Se você tivesse que usar pessoas que se consideravam de uma forma ou de outra mais próximas de Moscou do que Washington, bem, tanto melhor, talvez".

Essa foi a "longa coleira". A peça central da campanha da CIA tornou-se o Congresso pela Liberdade Cultural, um grande congresso de intelectuais, escritores, historiadores, poetas e artistas, que foi criado com recursos da CIA em 1950 e dirigido por um agente da CIA. Era a cabeça de praia a partir da qual a cultura pôde ser defendida dos ataques de Moscou e seus "colegas de viagem" no Ocidente. No seu auge, ela tinha escritórios em 35 países e publicou mais de duas dezenas de revistas, incluindo a Encounter.

O Congresso para a Liberdade Cultural também deu à CIA a frente ideal para promover sua participação secreta no Expressionismo Abstrato. Seria o patrocinador oficial de exposições itinerantes, suas revistas iriam fornecer plataformas úteis para os críticos favoráveis à nova pintura americana; e ninguém, os artistas incluídos, seria mais sábio.

Esta organização reuniu várias exposições do Expressionismo Abstrato nos anos 50. Uma das mais significativas, “A nova pintura americana”, visitou cada grande cidade europeia em 1958-59. Outros shows influentes incluindo a "Arte Moderna nos Estados Unidos"(1955) e "Obras-primas do século XX" (1952).

Pelo fato do Expressionismo Abstrato ser caro para se movimentar e apresentar, milionários e museus foram chamados para o jogo. Preeminente entre estes estava Nelson Rockefeller, cuja mãe foi cofundadora do Museu de Arte Moderna de Nova York. Como presidente do que ele chamou de "Museu da Mamãe", Rockefeller era um dos maiores apoiadores do Expressionismo Abstrato (que ele chamou de "pintura de livre empresa"). Seu museu foi contratado para o Congresso para a Liberdade Cultural para ser organizador e curador da maioria de suas importantes mostras de arte.

O museu também estava ligado à CIA por várias outras pontes. William Paley, o presidente da difusora CBS e um dos fundadores da CIA, sentou-se na mesa de membros do Programa Internacional do museu. John Hay Whitney, que tinha servido em tempos de guerra antecessores da agência, a OSS, foi o seu presidente. E Tom Braden, primeiro chefe da Divisão de Organizações Internacionais da CIA, foi secretário-executivo do museu, em 1949.

Agora em seus oitenta anos, o Sr. Braden mora em Woodbridge, Virgínia, em uma casa repleta de trabalhos do Expressionismo Abstrato e guardada por enormes alsacianos. Ele explicou o objetivo do IOD.

"Queríamos unir todas as pessoas que eram escritoras, que eram músicos, que eram artistas, para demonstrar que o Ocidente e os Estados Unidos eram dedicados à liberdade de expressão e de realização intelectual, sem quaisquer barreiras rígidas sobre o que e como você deve escrever, e o que você deve dizer, e o que você deve fazer, e o que você deve pintar, que era o que estava acontecendo na União Soviética. Eu penso que foi a divisão mais importante que a agência tinha, e eu penso que ela desempenhou um papel enorme na Guerra Fria".

Ele confirmou que sua divisão agiu secretamente por causa da hostilidade do público à vanguarda: "Foi muito difícil fazer o Congresso acompanhar algumas das coisas que queríamos fazer, enviar a arte ao exterior, enviar sinfonias ao exterior, publicar revistas no exterior. Essa é uma das razões por que tinha de ser feito de forma encoberta, tinha que ser um segredo. Para incentivar a abertura tivemos que ser secretos".

Será que o Expressionismo Abstrato teria sido o movimento de arte dominante dos anos do pós-guerra sem este patrocínio? A resposta é provavelmente sim. Igualmente, seria errado sugerir que quando você olha para uma pintura expressionista abstrata você está sendo enganado pela CIA.

Mas olhe onde esta arte acabou: nos salões de mármore dos bancos, nos aeroportos, nas prefeituras, salas de reuniões e grandes galerias. Para os guerreiros frios que a promoveram, estas pinturas foram um logotipo, uma assinatura da sua cultura e sistema que eles queriam mostrar em todos os locais possíveis. Eles conseguiram.

Operação secreta

Em 1958, a exposição itinerante "The New American Painting " , incluindo obras de Pollock, De Kooning , Motherwell e outros, estava em exibição em Paris. A Tate Galery fez questão de recebê-la em seguida, mas não tinha dinheiro para trazê-la. No final do dia, um milionário americano e amante de arte, Julius Fleischmann , entrou em cena com o dinheiro e a mostra foi trazida para Londres.

O dinheiro que Fleischmann forneceu, porém , não era seu, mas da CIA. Ele veio através de um órgão chamado a Fundação Farfield, da qual Fleischmann foi presidente, mas longe de ser um milionário caridoso, a fundação era um canal secreto para os fundos da CIA.

Então , desconhecido para a Tate , o público ou os artistas , a exposição foi transferido para Londres às custas dos contribuintes americanos para servir a fins de propaganda da Guerra Fria sutis. Um ex- agente da CIA , Tom Braden, descrito como tais condutas como a Fundação Farfield foram criadas . "Gostaríamos de ir para alguém em Nova York, que era uma pessoa rica bem conhecido e que dizia: 'Queremos criar uma fundação . Gostaríamos de dizer a ele o que estávamos tentando fazer e prometer-lhe que o segredo , e ele diria: ' É claro que eu vou fazer isso ', e então você iria publicar um papel timbrado e seu nome seria nele e haveria uma fundação. foi realmente um dispositivo muito simples".

Então, desconhecida para a Tate, o público ou os artistas, a exposição foi transferida para Londres às custas dos contribuintes americanos para servir a fins de propaganda da Guerra Fria sutis. Um ex-agente da CIA , Tom Braden, descreveu como tais condutas como a Fundação Farfield foram criadas. "Nós recorreríamos a alguém em Nova York que fosse rico e bem conhecido e que diria: 'Queremos criar uma fundação'. Nós lhe contaríamos o que estávamos tentando fazer e exigir dele o segredo, e ele diria: 'É claro que eu vou fazer isso', e então você iria publicar um papel timbrado e seu nome estaria nele e haveria uma fundação. Foi um dispositivo realmente muito simples".

Julius Fleischmann estava bem colocado para esse papel. Ele sentou-se na mesa do Programa Internacional do Museu de Arte Moderna de Nova York, como fizeram várias figuras poderosas perto da CIA.


*Historiadora, jornalista e escritora britânica, autora da obra "Who paid the bill?"(Quem pagou a conta?), baseada em materiais da Agência Central de Inteligência(CIA), que revela o apoio da agência a intelectuais corruptos como Hannah Arendt, George Orwell, Fernando Henrique Cardoso e outros, em nome da guerra cultural contra o comunismo.

sexta-feira, março 21, 2014

A PÁGINA VERMELHA: Diga não à marcha dos idiotas com o demônio!


*Algumas das cenas são meramente ilustrativas, não tendo se passado no Brasil

SOCIEDADE: A estranha, estranha estória de gays fascistas

Por Johan Hari*
Traduzido por Cristiano Alves do inglês para o português de: http://www.huffingtonpost.com/johann-hari/the-strange-strange-story_b_136697.html

A Página Vermelha: Tem havido por parte de alguns leitores acusações levianas contra A Página Vermelha em função de alguns de seus artigos e vídeos do vlog "A Voz do Comunismo", alguns mesmo nos associando a nomes odiosos como o deputado pastor Marcos Feliciano ou Jair Bolsonaro, insistindo que alguns dos textos estimulam o ódio contra certos tipos de indivíduos e não seu movimento, que promove o anticomunismo, o fascismo e denigre valores do povo brasileiro. Embora possamos discordar de alguns pontos do autor britânico, homossexual assumido, entendemos que o artigo a seguir cumpre no seu propósito em desmistificar o que muitos, seja por preguiça ou má fé, tem dificuldade para perceber. O texto também corrobora as acusações feitas pelo grande marxista-leninista Gorky e outros comunistas heterossexuais sobre a natureza homo-erótica do fascismo.



A notícia de que Jorg Haider, líder fascista austríaco, passou suas últimas horas em um bar gay com um rapaz loirão chocou algumas pessoas. Ela não me chocou. Esse assunto é um tabu para um homem de esquerda gay como eu abordar, mas sempre houve, uma ligação esquisita e desproporcional entre homossexualidade e fascismo. Respire fundo, aqui vai.

Cerca de 10.000 homossexuais foram assassinados nos campos de morte nazistas. Muitos outros mais foram humilhados, presos, deportados , etnicamente limpos ou castrados. Um sobrevivente gay dos campos, LD Classen von Neudegg, escreveu sobre suas experiências. Um instante: "Três homens tentaram escapar numa noite. Eles foram capturados e quando voltaram tinham a palavra "homo" rabiscada em suas roupas. Eles foram colocados em um bloco e chicoteados. Em seguida, eles foram forçados a bater num tambor e gritar “Hurra! Voltamos! Hurra!” Em seguida, eles foram enforcados . " Este é um dos acontecimentos mais leves documentados no seu livro.

Assim, a ideia de um gay fascista parece ridícula. No entanto, quando o Partido Nacional Britânico - nossos negacionistas domésticos do Holocausto fanáticos - anunciou que estava lançando um candidato abertamente gay nas eleições europeias deste junho, seguidores dedicados do fascismo não piscaram. A verdade é que gays têm estado no cerne de todo grande movimento fascista que já existiu - incluindo o asfixiador de gays e homocida Terceiro Reich. Com exceção de Jean Marie Le Pen, todos os fascistas do mais alto nível na Europa nos últimos 30 anos têm sido gays. É hora de admitir uma coisa. O fascismo não é algo que acontece lá fora, um mau hábito adquirido por rapazes héteros. Ele é, em parte pelo menos, coisa de gay, e que é hora dos gays não-fascistas acordarem e encararem a canção da marcha.

Basta olhar para o nosso próprio continente na última década. O fascista flamengo Pim Fortuyn promoveu uma plataforma anti-imigrante flagrantemente racista, descrevendo o islã como "um câncer" e "a maior ameaça para a civilização ocidental hoje". No entanto, com dois cãezinhos felpudos e um complexo de “mamãe”, ele era abertamente e “flamboiantemente” gay. Quando acusado por um adversário político de odiar os árabes, ele respondeu: “Como posso odiar árabes? Eu chupei um na noite passada”.

Jorg Haider impulsionou a política pós-nazista da Áustria para os escombros em 2000, quando o seu neofascista “Partido da Liberdade” ganhou um quarto dos votos e se juntou ao governo do país como um parceiro de coalizão. Vários fatos surgiram sempre na cobertura da imprensa internacional: seu queixo quadrado, seu torso músculos , o apoio à SS de seu pai, o seu antissemitismo raivoso, seu ódio a imigrantes , sua descrição de Auschwitz e Dachau como "centros punitivos". Poucos jornais mencionaram que ele estava sempre cercado de jovens malhados e fanáticos. Um punhado foi mais além e alegou que esses jovens homens eram abertamente gays. Então, um jornal de esquerda lançou a história que todos insinuavam. Alegaram que Haider é gay.

Rumores de um garçom indiano com “detalhes íntimos” do corpo de Haider saíram na imprensa. O gerente geral Gerald Miscka, do Partido da Liberdade, rapidamente deixou o cargo em meio a acusações de que ele era o amante de Haider. O amigo íntimo gay de Haider, Walter Kohler, fotografado mostrando uma pistola no coldre enquanto Haider se ria, declarou sua oposição aos políticos assumidos. Haider, que era casado e tem dois filhos, ficou em silêncio enquanto seus funcionários negavam os rumores. A revelação de que ele morreu depois de sair de um bar gay sugere esses rumores eram verdadeiros.

Aos poucos a coisa acontece. Se você percorreu toda a Europa de trem, só parando com gays fascistas, não há muitos pontos turísticos que você iria perder. O líder fascista da França do pós-guerra foi Edouard Pfieffer, que não jogava no time tradicional. O líder neonazista da Alemanha durante a década de 80 se chamava Michael Kuhnen, ele morreu de AIDS em 1991, poucos anos depois de sair do armário. Martin Lee, autor de um estudo sobre fascismo europeu, explica: “Para Kuhnen , havia algo de supermacho em ser um nazista, bem como em ser homossexual, ambos aplicadas a sensação de viver no limite, de pertencer a uma elite que estava destinada a causar impacto”. Ele disse a um jornalista da Alemanha Ocidental que os homossexuais eram “especialmente adequados para a nossa tarefa por que eles não querem laços com esposa, filhos e família”.

E não seria muito antes de sua turnê de chegada na Grã-Bretanha. À primeira vista, os nossos nazistas parecem militantemente héteros. Eles tentaram perturbar paradas gays, descrever os gays como "maus", e o líder do PNB Nick Griffin reagiu charmosamente ao bombardeio do pub Admiral Duncan em 1999 com uma coluna dizendo que “as filmagens de TV de manifestantes gays [fora da cena de carnificina] exibindo sua perversão na frente de jornalistas de todo o mundo mostraram por que tantas pessoas comuns acham essas criaturas repugnantes”.

Mas basta arranhar a superfície homofóbica e há uma suástica por baixo. Em 1999, Martin Webster, um ex-organizador da Frente Nacional e chefão do movimento fascista britânico escreveu um panfleto de quatro páginas explicando o seu “caso” com Nick Griffin. “Griffin buscava relações íntimas comigo”, o gay assumido Webster explicou, “no final dos anos 70, ele era vinte anos mais jovem do que eu”. Ray Hill, que infiltrou-se no movimento fascista britânico para colher informações para grupos antifascistas, disso que tudo é plausível. A homossexualidade é “extremamente vigente” nos altos escalões da direita militante britânica e num estágio dos anos 80, quase metade dos organizadores desses movimentos eram gays, ele clama.

Gerry Gable, editor da revista antifascista “Searchlight”, explica: “eu vigiei os grupos nazistas da Grã-Bretanha por décadas e esta hipocrisia homofóbica era comum o tempo todo. Eu não podia acreditar que uma organização da extrema-direita que tenha atacado pessoas em razão da sua orientação sexual ao mesmo tempo tivesse muitos oficiais e ativistas gays”.

O suposto romance gay de Griffins iria ficar numa longa tradição fascista britânica. O líder do movimento skinhead durante toda a década de 70 era bandido louco e musculoso chamado Nicky Crane. Ele foi o ícone dos reacionários contra os imigrantes, o feminismo e o estilo de vida "hippie" da década de 60. A ênfase de seu movimento, em conformidade com uma normalidade raspada e desumanizada assemelhava-se aos movimentos fascistas clássicos; Crane logo se tornou um militante e líder da Frente Nacional. Ah, e ele era gay. Antes de morrer de AIDS, em meados da década de 80, Crane saiu do armário e admitiu que estrelou em vários vídeos pornôs gays. Pouco antes de morrer, em 1986, ele foi autorizado a estrelar uma marcha do Orgulho Gay em Londres, apesar dele ainda ter dito que estava “orgulhoso de ser um fascista”.

O atrito com sola de borracha entre fascistas gays e progressistas gays britânicos resultou em ódio em 1985, quando o Movimento Skinhead Gay organizou uma discoteca no Centro Gay de Londres. Várias lésbicas em particular opuseram-se à "invasão" do centro. Elas sentiram que o culto do “homem de verdade” e de bandidos hipermasculinos estava incitando os sentimentos mais básicos “em cada lugar, o movimento gay, onde você menos espera”.

E essa Gaystapo tem um ícone para reverenciar, um Führer alternativo para cultuar: o líder gay fascista derrotado Ernst Rohm. Junto com Adolf Hitler, Rohm foi o pai fundador do nazismo. Nascido de servidores civis conservadores da Bavária em 1887, a vida de Ernst Rohm começou, em sua visão, nas “heroicas” trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Como muitos de sua geração que formaram o Partido Nazista, ele tinha interesse e obsessão com o mito homoerótico das trincheiras, heroicos e belos rapazes preparados para morrer por seus irmãos e seu país.

Ele emergiu da guerra com um rosto cicatrizado e uma reverência pela guerra. Como ele colocou em sua autobiografia: “Uma vez que sou um homem imaturo e ímpio, a guerra e a instabilidade me atraem mais do que a boa ordem burguesa”. Depois de ser dispensado, ele tentou com o coração partido ter um pé na vida civil, mas ele a via como alienígena, burguesa, entediante. Ele não tinha convicções políticas, apenas preconceitos especialmente contra os judeus. O historiador Joachim Fest descreve geração de Rohm como de jovens alienados, desmobilizados humilhados pela derrota como “agentes de uma revolução permanente sem qualquer ideia revolucionária de futuro, apenas um desejo de eternizar os valores das trincheiras”.

Foi Rohm que viu pela primeira vez o potencial de um orador apaixonado chamado Adolf Hitler. Ele o viu como o demagogo de que ele precisava para mobilizar o apoio para o seu plano para derrubar a democracia e estabelecer um “Estado de soldado”, onde o exército governou desenfreadamente. Ele introduziu o jovem fascista aos políticos locais e líderes militares; eles o conheciam por muitos anos como “o menino de Rohm”. O historiador gay Frank Reitor observa: “Hitler era, de forma substancial , o protegido de Rohm”. Rohm integrou Hitler ao seu movimento clandestino para derrubar a República de Weimar.

A flagrante e aberta homossexualidade de Rohm parece bizarra agora, dado o genocídio gay que se seguiria. Ele falou abertamente sobre seu gosto por bares gays e banhos turcos, e era conhecido por sua virilidade. Ele acreditava que os gays eram superiores aos héteros, e viu a homossexualidade como um princípio fundamental de sua proposta da Brava Nova Ordem Fascista. Como o historiador Louis Snyder explica, Rohm “projetou uma ordem social na qual a homossexualidade seria considerada como um padrão de comportamento humano de alta reputação... Ele ostentava a sua homossexualidade em público e insistiu que seus comparsas fizessem o mesmo. Ele acreditava que pessoas heterossexuais não tão adeptas de intimidação e agressão como os homossexuais, por isso à homossexualidade foi dado o grande prêmio da SA. “Eles promoveram uma forma agressiva, hipermasculina de homossexualidade, condenando “mulheres histéricas de ambos os sexos”, em referência a homens homossexuais femininos.

Essa crença na superioridade da homossexualidade teve uma forte tradição alemã que cresceu, na virada do século XX em torno de Adolf Brand, editor da primeira revista gay do país. Você poderia chamá-lo de “Queer as Volk”: eles pregavam que os homens gays foram a base da fundação de todos os Estados-nação e representavam uma elite, uma casta de guerreiros que deveria governar. Eles veneravam as antigas seitas guerreiras de Esparta, Tebas e Atenas.

Rohm frequentemente se referia à antiga tradição grega de enviar casais de soldados gays para a batalha, pois acreditava-se que eles eram os lutadores mais ferozes. A famosa passagem de Termópilas, por exemplo, foi defendida por 300 soldados ferozes, ela consistia em 150 casais gays. Em seu início, a SA, exército clandestino de Hitler e Rohm, era vista como predominantemente gay. Rohm designou postos elevados para seus amantes, fazendo de Edmund Heines seu deputado e Karl Ernst o comandante da SA em Berlim. A organização algumas vezes se reunia em bares gays. O historiador de arte gay Christian Isermayer disse numa entrevista, “eu conheci algumas pessoas da SA. Eles normalmente promoviam festas conspirativas, mesmo em 1933... eu fui a uma. Havia bom comportamento, mas definitivamente gay. Mas mesmo naqueles dias, a SA era ultra-gay”.

Em 30 de junho de 1934, Rohm foi acordado num hotel em Berlim pelo próprio Hitler. Ele atirou-se a seus pés e saudou, dizendo “Heil, mein Fuhrer!”, e Hitler simplesmente disse: “você está preso”. E assim que ele deixou o quarto, foram dadas ordens para Rohm ser levado à prisão de Standelheim. Ele foi fuzilado naquela noite. A matança de Rohm foi a de mais alto estalão durante o massacre chamado “a noite das facas longas”.

Rohm era suspeito por Hitler de deslealdade, mas seu assassinato iniciou uma massiva perseguição aos gays. Heinrich Himmler, chefe da Gestado, descreveu a homossexualidade como “um sintoma de degeneração que poderia destruir nossa raça. Nós devemos voltar para o princípio maior nórdico: o extermínio dos degenerados”.

O historiador alemão Lothar Machtan sustenta que Hitler teve Rohm, e a maioria dos gays da SA, mortos para silenciar a especulação sobre suas próprias experiências homossexuais. Sua 'evidência' de Hitler ter sido gay é chocante e tem sido questionada por muitos historiadores, apesar de que algumas descobertas são sugestivas. Um amigo próximo de Hitler de sua adolescência, Augusto Kubizek, alegou um caso “romântico” entre eles. Hans Mend, um cavalariano que serviu junto a Hitler na Primeira Grande Guerra, clamou ter visto Hitler fazendo sexo com um homem. Hitler era certamente muito próximo de vários gays, e parece nunca ter tido relacionamentos sexuais normais com uma mulher, nem mesmo com sua esposa, Eva Braun.

Rudolph Diels, o fundador da Gestapo, registrou alguns dos pensamentos privados de Hitler sobre a homossexualidade. “Ela tinha destruído Grécia antiga, disse ele. Uma vez grassa, estendeu seus efeitos contagiosos como uma lei inelutável da natureza para os melhores e mais viris personagens, eliminando do plantel mesmos homens do qual o Volk mais necessita”. Essa ideia, de que a homossexualidade é “contagiosa” e, implicitamente, tentadora é reveladora.

Rohm é venerado em sites homonazi que tem se proliferado na internet como gemes numa ferida. Eles tem nomes como Gays Against Semitism(com o acrônimo GAS), e Aryan Resistance Corps(ARC). Sua filosofia rômista é simples: enquanto os homens brancos são superiores às outras raças, os gays são “mestres da Raça Mestre”. Eles sozinhos são dotados da capacidade de “vínculo masculino puro”, e “intelecto superior” necessário para uma “revolução fascista”. A ARC mesmo organiza feriados para “encontros” de seus membros onde “você pode relaxar em meio à companhia de nossos queridos irmãos brancos”.

Por isso, é bastante fácil de estabelecer que os gays não são inoculados do fascismo. Eles o têm sido muitas vezes em seu coração. Isso levanta a questão maior: por quê? Como é que os gays, tantas vezes vítimas da opressão e do ódio tornam-se parte integrante do movimento político mais odioso e maléfico de todos? É apenas uma forma extrema de auto-agressão, o equivalente político para as crianças gays que cortar seus próprios braços para fitas de auto-ódio?

O pornógrafo gay e cineasta Bruce LaBruce tem uma explicação. Ele clama que “todo pornô gay hoje é implicitamente fascista. O fascismo está em nossos ossos, por que fala de glorificar a supremacia branca masculina e fetichizar a dominação, crueldade, poder e monstruosas figuras de autoridade”. Ele tentou explorar a relação entre homossexualidade e fascismo em seus filmes, iniciando com “No skin off my ass”(Nota do tradutor: literalmente “Nenhum couro fora do meu traseiro”) em 1991. Em seu filme perturbador, “Skin Flick”, um casal gay burguês, um negro e um branco, são sexualmente aterrorizados por uma gangue de skinhead gays que recorrem ao “Mein Kampf” e batem nos “afeminados”. Ele implica que as normas gays burguesas rapidamente quebram para revelar um fascista escondido; o filme termina com o personagem negro sendo estuprado na frente de seu amante branco, enquanto a gangue racista canta “Foda-se o macaco”.

Eu decidi rastrear alguns fascistas gays e perguntar-lhes diretamente. Wyatt Powers, diretor do ARC, diz, “Eu sempre soube no meu coração que racistas e gays eram ambos moralmente corretos. Não vejo nenhum conflito entre eles. É apenas a imprensa gay-judia que tenta nos convencer que o racialismo é o mesmo que homofobia. Você pode ser um nacionalista extremo e gay sem qualquer contradição”.

Um comentário num website gay racista vai ainda mais longe na loucura racista. Um homem gay de Ohio diz: “Mesmo que você seja gay e branco, ou retardado e branco, VOCÊ É BRANCO, PONTO FINAL! Ao invés de deiar a raça branca ser extinta por causa de raças inúteis como africanos e mexicanos fazendo milhões de bebês por dia, nós temos que combater essa merda fudida que eles estão fazendo. Eles estão estuprando o nosso país”. É verdade que o racismo e a homofobia não necessariamente se sobrepõem, mas como o rabino Bernard Melchman explica, “homofobia e antissemitismo frequentemente são parte da mesma doença”. Os racistas são normalmente homofóbicos. Mesmo depois de ler todos os seus devaneios na web, eu não cheguei perto de entender por que tantos gays se aliam com pessoas que quase sempre se voltam contra eles, como os nazistas fizeram.

O defensor dos direitos gays Peter Tatchell tem uma explicação sensível e intrigante. “Há muitas razões para esse tipo de coisa”, ele diz. “Alguns deles estão em negação. Eles vão para a hiper-masculinidade, a mais extrema possibilidade de ser um homem. É uma forma de ostentação rejeitando a efeminação percebida no “outro” homossexual. Esses homens problemáticos tem uma crença simples em suas mentes: “Homens heterossexuais são durões. “Queers” são fracos”, desse modo se sou forte não posso ser um “queer”. É uma forma desesperada de provar sua masculinidade.

A revista Searchlight”, a bíblia do movimento antifascista britânico, com informantes em todas as organizações de extrema-direita, oferece uma explicação alternativa. “Geralmente condenada por uma sociedade que continua a ser largamente hostil aos gays, alguns homens podem encontrar refúgio e um novo status de energia na extrema-direita”, um de seus escritores explicou. “Através da adesão às políticas defendidas por grupos fascistas, uma nova identidade emerge, aquela onde eles não são excluídos por serem Homens Brancos, superiores a todos. Eles tomam a parte gay de sua identidade invisível, ou rejeitam as partes socialmente menos aceitáveis, como ser femininos, enquanto alardeiam o que eles veem como superior”.

Mas há outra questão importante: será que movimentos fascistas inevitavelmente interessam aos gays? No caso dos nazistas, ele parece ter sido bastante arbitrário; a principal razão de Hitler matar Rohm não estava relacionada com a sua sexualidade. Da minha perspectiva como alguém de mente progressista de esquerda, todo fascismo é mau, mas todos os gays o enxergam como hostil aos seus interesses? É possível haver um fascista gay que não age contra seus próprios interesses? O fascismo é muitas vezes definido como “uma ideologia política que advoga um governo hierárquico que nega sistematicamente a igualdade para determinados grupos”. É verdade que esta hierarquia poderia beneficiar os gays em detrimento de, por exemplo, as pessoas negras. Mas, dada a prevalência da homofobia, será que, mesmo para as pessoas que não veem o fascismo como um mau inerente, não é um risco terrível para tomar? Será que uma cultura que violentamente se volta contra uma minoria não vai atacar os gays no final? Isso parece, em última análise, uma lição lamentável para a vidinha miserável de Ernst Rohm.

A crescente conscientização do papel que gays desempenham em movimentos fascistas foi abusada por alguns homofóbicos. Em um trabalho especial de nítido teor revisionista histórico chamado “The Swastika Pink”(N.T.: A suástica rósea), o “historiador” Scott Lively tenta culpar os gays por todo o Holocausto, e descreve o assassinato de homens gays nos campos apenas como “violência de gay contra gay”. Um típico website comentando o livro clama absurdamente, que “The Pink Swastika mostra como havia muito mais brutalidade, estupro, tortura e assassinatos cometidos contra pessoas inocentes peos nazistas homossexuais do que conta os próprios homossexuais”.

Contudo, não podemos permitir que esses loucos evitem algumas sérias auto-reflexões do movimento gay. Se Bruce LaBruce estiver certo, muitos dos elementos do mainstream da cultura gay, o culto ao corpo, grito do forte, um fetiche por figuras de autoridade e crueldade, fornecem um pântano em que o vírus fascista pode prosperar. Será que alguns gays realmente ainda precisam aprender que os fascistas não nos trarão uma Solução Fabulosa para os gays, mas uma Solução Final para todos nós?


*Articulista do jornal "Independent", do Reino Unido