quinta-feira, outubro 24, 2013

BRASIL: Conservadorismo, um atraso de vida!

Por Cristiano Alves


Defender o conservadorismo é defender os mais pútridos elementos da sociedade capitalista

Há algum tempo, o filósofo e professor Ghiraldelli publicou um importante artigo chamado "O que é um conservador?", que iniciava com uma notável máxima, alegando que "há três tipos de conservador: um que tem chilique com a palavra “revolução”, outro que tem chilique com a palavra “sexo”, e um terceiro, que arrepia com ambas as palavras". Essa premissa é fundamental, condição sine qua non para entender o que se passou a uma moça de Goiânia chamada "Fran", "apedrejada", ridicularizada e humilhada na internet, especialmente nas redes sociais, seu "crime": ter feito sexo e confiado vídeos íntimos a um parceiro que as difundiu pela internet.

Vivemos numa sociedade altamente conservadora e sexista, cujos membros se horrorizam com o sexo. Adotam eles um discurso pseudomoralista, mas armazenam em pendrives e(pasmem!) até mesmo HDs externos gigabytes de material pornográfico para saciar seu onanismo ou, pior que isso, mesmo chegam a gastar anualmente milhares de reais com "acompanhantes"(um nome mais sofisticado para prostitutas de luxo). Qualquer casa de prostituição está lotada de pais de família casados e católicos que à luz do dia posam de moralistas, mas de noite podem pagar verdadeiras fortunas por uma noite com uma mulher estranha a seu círculo familiar. Segundo a jovem Fran, mulher honesta e trabalhadora, quando o seu vídeo de intimidade com o namorado veio à tona, um homem chegou a oferecer-lhe a quantia de dez mil reais. Esse é o retrato da sociedade que vê enxerga a "moça de família" em contraste com a "cara de vadia", a "mulher vestida para o estupro", onde um cabelo molhado é motivo para ser considerada uma "prostituta" e que já usou em seu Código Penal a nefasta expressão "mulher honesta" como sinônimo para "mulher virgem".

É certamente digna de uma tese de doutorado essa obsessão que elementos conservadores tem pela virgindade, especialmente a feminina, como também o é o fato de um vídeo com a intimidade de um casal tornar-se assunto da semana no Brasil. Há tempos casais registram sua intimidade, seja por fotos, vídeos e até pinturas e desenhos. Um amigo que trabalha com fotografia disse-me certa vez que não raramente apareciam em seu estúdio fotográfico rolos para revelação que traziam momentos íntimos de casais e duplas não tradicionais, especialmente inter feminis. O que tais casais(tradicionais) fazem é o que nossos pais, avós, bisavós fizeram, tenham registrado ou não. Logo por que condenar alguém que registra sua intimidade? Afinal, só se tem acesso a tal material quando alguém voluntariamente o acessa, e quem é o mais "safado" nessa história, quem filma ou quem está preocupado com o que outros andam fazendo?

O moralismo que exige mulheres vestidas da cabeça aos pés é o mesmo que usa e abusa do corpo feminino para propósitos lucrativos

É importante notar que esse fenômeno de jogar na fogueira quem "caiu na net", é um fenômeno brasileiro. Em países socialistas predomina uma coisa chamada "liberdade sexual", um famoso documentário alemão demonstra como as mulheres da antiga Alemanha Oriental tinham mais liberdade sexual do que suas congêneres da Alemanha Ocidental, como o sexo era visto como um ato de amor, e não uma imposição midiática ou religiosa em virtude de casamento. Mesmo nos países capitalistas mais avançados como os Estados Unidos é comum que casais filmem a sua intimidade e mesmo a divulguem pela internet, às vezes com a participação de terceiros até. Na Rússia há atrizes pornográficas que usam um perfil real na rede social VK, e esses não viram ataques de onanistas hipócritas nem se tornam a sensação da semana. Na Alemanha, como em grande parte da Europa, é comum que homens e mulheres(sem propósito sexual) frequentem ambientes parcialmente e até completamente sem roupas, saunas por exemplo.

No Brasil, a opressão da mulher chega a uma proporção tamanha, que "cair na net", nas palavras da jovem trabalhadora Fran, chega a ser pior do que morrer, pois quando alguém morre, acaba tudo, mas quando uma mulher "cai na net", ela passa a viver sem poder se expor, é "apedrejada" por onde passa e mesmo o seu local de trabalho passa a ser visto por homens machistas como "local de prostituição" devido a boatos. Aliás, é interessante perceber como esse tipo de mentalidade não surge por geração espontânea, um famoso historiador burguês, Simon Sebag Montefiore, descrevia em sua obra "O jovem Stalin" a mãe do líder georgiano como uma prostituta pelo simples fato desta trabalhar demais em casas alheias como lavadeira; coisas que só existem numa mente machista, uma "prostituta que trabalha muito honestamente". É interessante lembrar que como bem destaca Daniela Arbex, autora do livro "Holocausto brasileiro - vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil", mulheres que casavam sem ser virgens ou que demonstravam um comportamento sem uma genuflexão ao macho eram enviadas para um campo de concentração e hospício.

Campanha da ONU que usa o Google para demonstrar a força do preconceito contra a mulher no mundo

É comum presenciar elementos conservadores negando o sexismo e a opressão da mulher no Brasil, dizem eles "mas nós temos uma presidenta", "ah, mas sou conservador e adoro M. Tatcher", um raciocínio tão pueril que pode ser facilmente desmontado demonstrando ao ignorante que a mesma Inglaterra que tinha Elizabeth I à sua testa era a mesma cuja sociedade decapitava mulheres para que monarcas pudessem se casar novamente. É trivial perceber revistas conservadoras como a Veja tentando coisificar a mulher, sempre arranjando uma "musa disso ou daquilo", como tentaram fazer com uma jovem integrante do Black Block, como se o fato desta ser esteticamente bela a impedisse de protestar.

De fato, na sociedade brasileira é comum perceber em alguns lugares como as mulheres adotam uma postura de submissão que lhes é imposta desde a infância, assim, se uma mulher passa por um homem, esta abaixa a cabeça, tal como os judeus agiam ante os nazistas em seus guetos na Alemanha hitleriana. É uma cena comum, e os leitores homens podem fazer o teste na rua. E justamente por aprenderem desde a infância que devem ser meros objetos de diversão masculinos, elas repassam aos seus filhos homens que esses devem ser também machistas, algumas mesmo chegam a atacar ideias feministas como se essas fossem "coisa de extremistas neuróticas", ou de "mulheres feias com sovaco cabeludo"(até nisso a sociedade reproduz a ideologia da Inquisição, que apresentava a bruxa como uma criatura feia), como foram descritas em um hangout(conferência em vídeo) do deputado Jair Bolsonaro, neste dia 23 de outubro. Há algum tempo, um professor da UFT reagiu de modo furioso quando uma das leitoras de A Página Vermelha, Angela M., alegou que o seu sítio virtual perdeu a credibilidade, chamando-a de "burra, desmiolada e retardada", epítetos que tal covarde poupou para os homens que o criticaram.

Típico machista esbravejando contra uma mulher

Durante algum tempo circulou pela rede um boato de que a jovem Fran teria sido encontrada morta, após suposto suicídio, um rumor comprovadamente falso. Mas muitas mulheres enfrentam um destino parecido, após serem traídas por seus parceiros e até por parceiras, em alguns casos, muitas são obrigadas a mudar sua aparência(inclusive através de plásticas), cortando ou mudando a cor do cabelo, saindo de seu estabelecimento de ensino, de seu emprego e até mesmo fugindo para outras regiões ou países. Assim, o meme que tem circulado as redes sociais com o intuito difamatório contra a jovem de Goiás demonstram apenas o quão hipócrita, atrasada, reacionária e conservadora é a sociedade brasileira. O seu machismo, longe de ser uma mera "posição ideológica" ou "afirmação de virilidade", é uma doença, uma forma de perverter o homem num ser misógino, energúmeno e opressor da mulher. É como a cleptomania! Por que não propagar e louvar a cleptomania numa sociedade onde já se propaga o machismo?

O Brasil não precisa de conservadorismo, um atraso de vida! A solução para superar a sociedade arcaica, reacionária e opressora da mulher, para livrá-la da escravidão doméstica e de sua condição de "bunda e peito", está no socialismo científico; são as suas teses que apresentam um método para a superação da sociedade conservadora em que vivemos e sobretudo para a emancipação da mulher. É por isso e por outros motivos que muitas mulheres abraçam a causa comunista, a causa de Rosa Luxemburgo, de Zoya Kosmodemyanskaya, de Eliza Branco, de Dolores Ibarruri e de milhões de mulheres honradas que lutaram contra a opressão não apenas das mulheres, mas de todos os trabalhadores!

Um comentário:

John Rodrigues disse...

Brilhante, como sempre.