segunda-feira, novembro 22, 2010

NY Times noticia, EUA abrigaram nazistas

Por Cristiano Alves



Neste dia 13 de novembro, o periódico ianque The New York Times publicou uma notícia muito importante sobre a abertura de um relatório de 600 páginas que torna oficial o fato de que os Estados Unidos da América abrigaram criminosos nazistas.

Ao contrário da crença popular segundo a qual "normalmente não passavam de técnicos e cientistas", o arquivo revela um fato diferente, que demonstra que dentre os acobertados estavam torturadores, guardas de campos de concentração, dentre os quais o banderista ucraniano Ivan Demjanyuk(alcunha: Ivã o Terrível), agentes secretos, médicos nazistas, dentre outros. É um fato, por exemplo, que alguns destes nazistas foram inclusive empregados pelo próprio governo americano e a CIA, dentre os quais o influente espião nazista Heinhard Gehler, diretor da Rádio Svoboda/Europa Livre, que até hoje existe e transmite a ideologia pró-americana para as mentes da Europa Oriental.

Engraçado é como ante a estes fatos, ainda há quem implique que "nazismo é comunismo", embora os EUA fizesse questão de eletrocultar e expulsar comunistas, ao passo que nazistas recebiam abrigo e tratamento VIP.


Fonte: http://www.nytimes.com/2010/11/14/us/14nazis.html?_r=1&scp=1&sq=CIA%20files%20nazi%20United%20States&st=cse
Mais uma da burguesia!

Por Cristiano Alves


Recentemente saiu no The New York Times uma matéria sobre um site que estava arrecadando milhões de dólares através da internet. Até aí nada surpreendente, exceto pelo nome do site "Fashism". Certamente, qualquer um que tenha conhecimento da língua russa acha absurdo tal nome, qualquer um que conheça a história acha um sacrilégio, porém qualquer que conheça bem o capitalismo e seus mecanismos, além dos dois quesitos anteriores, enxerga aí apenas mais um ato de vilania.

De fato, o site nome do site, na verdade, não quer dizer "fascismo"(fashism em russo), mas é uma junção bizarra de "fashion" + "fascismo", isso por que a proposta do site é fazer com que usuários, anonimamente, postem suas fotos com uma determinada peça de roupa para que outros marquem as opções "Eu amei" ou "Eu odiei". Na verdade, este tipo de site é apenas um lado macabro do capitalismo, numa sociedade onde as pessoas seguem uma ditadura comportamental, onde até mesmo a forma como elas devem se vestir é ditada pela sociedade de consumo, pela ideologia, tudo sob um propósito mercadológico.

Seja pela proposta do site, seja pelo seu nome bizarro e de extremo mal gosto, ele é mais uma vez a idéia de que o capitalismo, não o comunismo, tem muito em comum com o fascismo, e o site referido faz o favor de reforçar este argumento. Um nítido desrespeito àqueles que lutaram contra o nazismo entre 1939-41 passa despercebido para muita gente, fazendo o pensamento de Mussolini parecer apenas uma "brincadeira", algo "simpático". Após nome tão bizarro, qual será a próxima, um site chamado "Not Z"(que soa em inglês americano como "nazi") ou "Hit lore"(Hitler)?

Fonte: http://bits.blogs.nytimes.com/2010/11/19/social-shopping-site-fashism-gets-cash/

terça-feira, novembro 16, 2010

A burguesia brasileira e o culto ao nazi-fascismo

Por Cristiano Alves


Desde o surgimento da internet, tornou-se mais fácil a propagação de diferentes idéias, sejam elas de extrema direita ou esquerda, liberais ou comunistas, religiosas ou atéias, de amor ou de ódio... Enfim, até um suspiro pode ficar famoso quando jogado na rede. Há, entretanto, um lado sinistro nisso que serve a interesses macabros.

Engana-se quem acredita que o nazi-fascismo acabou em 1945. De fato, caiu o regime fascista alemão, derrotado pelo Exército Vermelho, que fincou a bandeira vermelha com a foice e o martelo no alto do Reichstag, pondo fim à maior tirania que o mundo já conheceu. O fundador desta idéia foi Adolf Hitler, que não era empresário e nem proletário, não era nenhum latifundiário ou dono de propriedades, mas tão somente um cabo frustrado oriundo da classe média da Áustria, país onde nasceu. Suas idéias, em suma, eram uma sintetização do mais intenso ódio racial, fruto de um mundo inserido no colonialismo, no imperialismo, chovinismo e no anticomunismo, que apesar do nome enxergava qualquer movimento com alguma reivindicação social como "comunista".
É certo que, mesmo não sendo da classe social denominada "burguesia", isto é, a dos detentores dos meios de produção (grandes fábricas, latifúndios, redes comerciais, etc), Hitler integrava o universo que Lenin1 denominava "forças sociais", ao invés de "classes sociais", isto é, um conceito que enquadra o indivíduo não num contexto meramente "de classe", mas sim no papel que este desempenha na luta de classes. Assim, pela teoria leninista, não tem suma relevância a origem social do indivíduo, mas de que lado ele realmente está. Neste diapasão, enquanto temos, por exemplo, nomes como Friedrich Engels, de origem burguesa, que muito contribuiu para a luta do proletariado, em contrapartida temos Lech Walessa, de origem operária, que muito contribuiu para a completa restauração capitalista na Polônia e para o fortalecimento da burguesia naquele país.
Charde de Hitler, famoso líder nazi-fascista derrotado em 1945, totem de grande parte da burguesia

Desde a popularização da internet no Brasil, ficou cada vez mais saliente o lixo intelectual de uma população de "cultura televisiva", onde predomina a "ideologia de fato" das grandes redes de TV(especialmente a Rede Globo) e, fora disso, de publicações como a "Revista VEJA", que tem por um de seus acionistas o grupo NASPERS, patrocinador oficial do antigo regime conhecido por "Apartheid". Foi nesse contexto que, com a recente eleição de Dilma Roussef, houve uma verdadeira tempestade de diarréia mental em redes sociais como o Facebook, Twitter e Orkut, todas elas tendo por alvo dois grupos étnicos: nordestinos e negros.

Seguindo os mesmos passos de Hitler, uma dessas expressões macabras do racismo tão bem camuflado no Brasil foi a estudante de Direito que nada tem de direita (entenda-se direita como sinônimo de correta, justa) de nome Mayara Petruso, filha de um empresário paulista, autêntica representante da burguesia e da direita tupiniquim. Sendo supostamente alguém com acesso à cultura, com possibilidades e chances na vida para invejar muita gente neste país, além de estagiária de renomado escritório de advocacia, esta veio a escrever postagens que fariam o tirano austríaco se contorcer de inveja. Vale citar, num parágrafo em separado, a expressão totalitária de ódio de Mayara, compartilhada por vários segmentos da burguesia brasileira e especialmente a classe média, o qual chegou a ganhar destaque no jornal britânico Telegraph:

"AFUNDA BRASIL. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171"

"Nordestisto não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!"(sic)

                              A criminosa mobilizou todos os recursos possíveis numa frustrada campanha de ódio racial

Se um famoso ditado diz que "desgraça pouca é bobagem", vale a pena ler o que outros filhotes da burguesia pronunciaram a respeito do tema. Numa clara apologia ao terrorismo e ao genocídio, o usuário "@henrigpierre", no twitter, escreveu o seguinte:

"Ir aonde? Nordeste? Só se for de caminhão tanque pra explodir todos vocês"
"Na Moral. Maranhão, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Paraíba, PERNAMBUCO, Piauí TEM QUE CAIR UMA BOMBA EM CADA UM DESSES ESTADOS E MATAR TODOS"

E, para encerrar de vez o mito segundo o qual "no Brasil não existe racismo" ou responder àqueles estrangeiros que se admiram ao ouvir dizer que "no Brasil existem nazistas", a despeito da diversidade cultural e étnica deste país, vale repetir aqui que o nazismo não acabou em 1945, conforme a usuária do twitter "aanacarla" deixou bem claro:

"não só matar um nordestino, mas todos os outros pobres e ignorantes deste meu Brasil, por um mundo melhor!"

Nessa mesma linha, "AndreBittarello" assume abertamente seu racismo, desta vez ampliando seu leque aos afrodescendenes, que no Brasil representam 51% da população(e não a minoria!):

"Me tornei RACISTA HOJE POR CAUSA DE VOCÊS PRETOS FEDIDOS QUE SÓ QUEREM TER FILHOS E ENCHER A BARRIGA COM O DINHEIRO DOS QUE TRABALHAM!!!"

E, para coroar, a usuária sob nome @medeiros_raah glorificava o nome de Hitler, alegando que este seria necessário para lançar todos os nordestinos numa câmarada de gás.


De fato, este ato vil de provocação racista está vinculado às campanhas de ódio da VEJA, Globo e do PSDB, partido do qual eram integrantes muitos dos racistas envolvidos neste episódio vergonhoso. Não que o PSDB ou um militante deste partido seja necessariamente racista, mas ele abriga racistas e elitistas, já que coaduna com este tipo de idéia. Importante lembrar aqui que, conforme define a ONU, racismo não se limita a discriminar nacionais de um país, ou uma etnia, mas também se extende à população de uma determinada região, este é o correto entendimento por parte das Nações Unidas e do Direito Brasileiro, nominalmente, da Lei 7.716/89.

Sendo a maioria dos vândalos virtuais da região Sudeste, especialmente São Paulo, estado de muitos trabalhadores formado por diferentes povos, escravos e imigrantes trabalhadores, seus perfis sociais revelam suas procedências, sendo a maioria filhotes de burgueses com sobrenome estrangeiro, crentes numa idéia fútil de superioridade racial, esquecendo-se que seus antepassados muitas vezes chegavam aqui em porões de navio, passavam fome e não raro eram tratados como escravos. Covardes que desconhecem a história de seu Estado, que cresceu às custas da matança de povos nativos e hoje reclamam de outros brasileiros que vão para seu Estado(isto é, aquele onde vivem) para trabalhar de forma dura e honesta, não para expulsá-los de suas casas e massacrá-los, como os bandeirantes faziam com os índios. Estes indivíduos são covardes mimados, que não tem coragem e expor seus ideais ridículos e primitivos em público, nazistas de salão.

Se os comunistas nórdicos, da URSS, fincaram a bandeira vermelha no alto do Reichstag, é preciso fincá-la agora no alto do Reichstag intelectual, identificar e combater a ameaça nazi-fascista incubada que ainda existe na mente de muitos brasileiros em pleno século XXI, seja no livre debate de idéias, assim como, com mão de aço, pela lei. Com tanta necessidade de ferrovias, portos e estradas, seria uma boa idéia pensar na utilização dessa mão de obra ociosa em trabalhos corretivos, tão bem oculta atrás de um computador.

1- Pseudônimo de Vladimir Ilich Ulianov, jornalista, advogado e filósofo russo. Escreveu uma das primeiras obras de teor antiracista, condenando atitudes e termos discriminatórios contra minorias nacionais.


Fontes:

- Jornal The Telegraph. Em http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/brazil/8111046/Brazilian-law-student-faces-jail-for-racist-Twitter-election-outburst.html

- Blog HeartBeatz. Em http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/brazil/8111046/Brazilian-law-student-faces-jail-for-racist-Twitter-election-outburst.html

quarta-feira, novembro 10, 2010

Os mestres do racismo

Por Cristiano Alves

Capitalismo, nazismo e racismo são "ismos" que tem muito em comum, além de sua terminação. Muitos falam do genocídio da Alemanha nazista contra eslavos, judeus e negros, porém poucos conhecem a história do grande genocídio contra os hereros, povo que foi quase exterminado pelos alemães capitalistas, muito antes de Hitler chegar ao poder.

Os hereros eram um povo de pastores, que viviam da pecuária, isso até que suas terras fossem tomadas por imperialistas alemães. Para dominar o território dos hereros, que hoje corresponde à atual Namíbia(ver foto), estes usaram-se de uma tática muito em voga até os dias atuais, usadas, por exemplo, nas ex-Repúblicas Soviéticas, especialmente Rússia e Ucrânia, a tática de "dividir para conquistar".



Esta tática, particularmente neste caso, correspondia a alimentar tensões locais, apoiar povos nativos uns contra os outros. A medida que isso ocorria, este povo pastor ia perdendo suas terras, por vezes em meio a negociação, mas geralmente na base de falcatruas, violência e intimidação. O domínio alemão era cruel e implacável, nem mesmo em outros lugares onde hereros viviam, por exemplo, nas zonas de domínio inglês, se dava tamanha brutalidade como nas zonas alemãs.

Para se ter uma idéia do quão hipócrita era essa dominação, havia até políticas racistas, segregacionistas, instituídas contra os povos locais. É como imaginar uma situação onde um povo da Ásia, por exemplo, resolve invadir um determinado país do continente americano pela força das armas, alimentar tensões étnicas, e simplesmente institucionalizar que pelo fato daquele povo viver naquele país, este não teria mais acesso a cargos públicos, não poderia mais estabelecer um comércio, teria que ceder suas casas e terras para o povo asiático invasor. Isso seria um absurdo, e foi justamente isso que aconteceu nas terras dos hereros. Isso, naturalmente, levou a reações por parte dos hereros contra os dominadores alemães, fossem militares ou apenas colonos civis. Assim, a mídia alemã, num gesto hipócrita comum a muitos órgãos de imprensa atuais, passou a pintar os hereros como selvagens descontrolados, prontos para roubar e matar colonos, envenenando a população local contra o povo que por justo direito lutava por suas terras.

Tendo os hereros percebido a nocividade do domínio alemão, a situação chegou a um ponto insuportável tal, que a rebelião e o conflito armado mostraram-se a melhor opção, no ano de 1904. Assim, o caudilho Samuel Maharero passou a organizar a população nativa para a insurreição, tratando de chamar outros povos para a luta. Em uma carta ao líder dos namas, outro povo nativo, o líder africano escreveu: "Toda a nossa subserviência e paciência em relação aos alemães não nos trouxe vantagens. Por isso, faço um apelo, meu irmão, para que participes da nossa revolta, de modo a toda a África levantar suas armas contra os alemães."

Num gesto capitulacionista, infelizmente os nama não aderiram à rebelião, ficando na expectativa. Ocorre que, em razão desta rebelião, o Kaiser Guilherme II enviou para o país o aristocrático general Lothar von Trotha. Se um açougue é conhecido por ser um lugar cheio de sangue, pode-se dizer que é bem pouco se comparado às mãos e uniforme do general von Trotha, em uma carta enviada ao governador Theodor von Letwein suas palavras foram: "Conheço muitas tribos africanas… Terror, violência brutal. Essa é a minha política". Segundo o periódico alemão Deutsche Welle, há uma frase que demonstra bem suas intenções: "Vou dizimar os rebeldes com enxurradas de sangue!"

Enfim, embora isso possa parecer chocante ao leitor, que talvez associe o general a uma série de adjetivos negativos, é interessante compreender o contexto desta afirmação sem querer relativizar esse ato vil de brutalidade. Seria muito fácil dizer que um criminoso de tamanha magnitude, com este tipo de idéias, foi "um monstro", "um assassino", apenas "mais um típico vilão branco", ou ainda só mais um "maldito alemão"(como se ingleses e americanos já não tivessem feito coisas análogas e até piores), não só seria fácil, como jornais sensacionalistas e hipócritas fazem o tempo todo. Ocorre que a figura deste general, muitas vezes pronto para chegar em casa seus filhos, ou ajudar alguém que caiu na rua, é apenas mais um produto do sistema capitalista. Especificamente do imperialismo, que Lenin, que era favorável à emancipação dos países africanos, apresentava como uma "etapa superior do capitalismo", o que se verifica hoje em dia na prática, diante de guerras como a do Iraque, Afeganistão e, futuramente, do Irã.

Deste modo, com o envio de tropas pelo Kaiser Guilherme II à África Sudocidental no ano de 1904, estas iniciaram a repressão violenta contra os herero a 400Km ao norte de Windhoek , formando um cerco que só podia ser rompido por uma passagem que dava para o deserto de Omaheke. Mesmo assim, segundo relatórios do comando do Exército Imperial, os herero ainda foram perseguidos.

No dia 2 de outubro de 1904, muito antes de Adolf Hitler, o general von Trotha baixou uma ordem de extermínio, decretando a intenção de executar todos os herero com ou sem gado, fossem homens, mulheres ou crianças, que visse pela frente. Segundo a Sociedade para os Povos Ameaçados(Gesellschaft für bedrohte Völker) este genocídio vitimou entre 10 e 60 mil pessoas. Como se isso bastasse, as tropas de von Trotha decapitaram um grande número de hereros e namas, enviando suas cabeças para a Alemanha, para que fossem estudadas por doutores especializados na pseudo-ciência denominada "eugenia", que propunha a existência de "raças superiores", muito em voga no século XIX e início do século XX. O Prof. Dr. Eugen Fischer, por exemplo, chegou a ser convidado para a África do Sudoeste, para estudar os herero, proclamando, no alto de sua autoridade científica, que estes eram animais. Este doutor, a propósito, é considerado um dos fundadores do nazismo, demonstrando que nazismo não se limita a Hitler.


Cabeça decapitada de nama

A barbárie do general von Trotha foi tamanha, que o próprio chanceler alemão Bernhard von Bülow interviu junto ao kaiser, advertindo-o que os herero eram mão de obra indispensável para fazendas e minas da África Sudocidental. O kaiser, num gesto cínico, se comprometeu a analisar a questão, hesitando por duas semanas até analisar revogar a ordem de von Trotha e aceitar a capitulação dos hereros, quando enfim já era tarde demais.

O domínio alemão na África Sudoriental permaneceu até a invasão do país por tropas inglesas, transformando-o numa posse britânica e depois sob administração da África do Sul, onde sofreriam com a política racista do Apartheid. Somente nos anos 80, sob a liderança da Swapo, a Organização para a Libertação dos Povos da África, de orientação marxista-leninista, é que este país veio a ser emancipado sob o nome de Namíbia, em 21 de março de 1990.

Prisioneiros herero: esse "Gulag" não aparece nos livros da burguesia

Somente durante o evento que marcou os 100 anos do genocídio contra o povo herero pelos imperialistas alemães, em 2004, houve um debate sério a respeito no parlamento alemão. Aliás, o fato de somente 100 anos depois vir a ser efetuado um debate a respeito disso revela um trágico absurdo nas relações internacionais.

Em 1945, quando o Exército Vermelho, a justo título, ocupou o território alemão, retaliando o bárbaro ataque à União Soviética, a Alemanha veio a pagar indenizações altíssimas ao país dos sovietes, sob a mira de submetralhadoras soviéticas, até ser efetuada a divisão entre Alemanha Oriental e Ocidental. O lado ocidental, que muito pouco fez para condenar os crimes do presente e passado, preferiu fechar os olhos para outras questões, enquanto o lado Oriental patrocinou vários movimentos emancipacionistas na África. Isso, diga-se de passagem, legitima a luta da Facção do Exército Vermelho(RAF), demonstrando ter sido justa sua procupação de não permitir a ressurreição de um novo nazismo na Alemanha, independente de seu nome, fosse ele com ou sem Hitler, com chanceler ou kaiser.

Quando em 2004 o parlamento alemão discutiu o massacre dos herero, falou-se apenas em "assumir a responsabilidade história e moral da Alemanha", sem mencionar um pedido de desculpas ou o genocídio criminoso, levando Arnold Tjihuiko, representante do povo herero, a chamar os farsantes desta conferência de "mestres do racismo".

Soviéticos em Berlim: o fim do "racismo científico"

De fato, massacres como este conta o povo herero, não são exceções na história do capitalismo, mas sua regra, paralelo com o massacre de armenos por turcos, eslavos por alemães, proletários finlandeses por Mannerheim e trabalhadores insurgentes poloneses por Pilsudski. Assim, a fim de encobrir cinicamente estes crimes, cada ano gasta-se milhões com livros, jornais, revistas e até filmes que demonizam a luta dos povos, mostrando-a sempre como uma "causa perdida", uma "causa de terroristas e ditadores", "antidemocrática". Inventam genocídios onde há fome provocada pela ação dos cães imperialistas ou catástrofes naturais.

Se há um ideal parecido com o nazismo, este não é o comunismo, conforme afirmam, cinicamente alguns, com a mesma autoridade científica do Prof. Dr. Eugen Fischer, mas tão somente o imperialismo(capitalismo), mentor do III Reich.


Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Herero_people
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,1295507,00.html
http://www.family-hipp.co.nz/site/klausdierks/Biographies/Biographies_F.htm

domingo, novembro 07, 2010

Originalmente publicado no Blog Mamayev Kurgan (http://mamayev-kurgan.blogspot.com/) do historiador Paulo Gabriel



Causas do fim da União Soviética - Parte II

Aproxima-se o aniversário de 93 anos da Grande Revolução de Outubro. No calendário da antiga Rússia, o marco da Revolução é o dia 25 de Outubro, porém no calendário atual, o dia é 7 de Novembro. Como parte da homenagem a esse grande episódio da história da humanidade, seguirei com a segunda parte das causas do fim da União Soviética, com o intuito de apresentar a versão marxista de seus problemas econômicos internos. Versão esta, que é ignorada por grande parte dos ditos marxistas e pela maioria das pessoas do mundo, que preferem acreditar com todas as suas forças na velha versão liberal de que os mais fortes (ou mais competitivos e individualistas) sobrevivem.

Guerra Fria e a relatividade do conceito de bipolaridade

Bom, o primeiro ponto a ser abordado é: por mais que o mundo no século XX estivesse dividido em dois campos antagônicos, o socialista e o capitalista, eles não eram dois blocos monolíticos e isolados um do outro. O pragmatismo econômico levava a trocas entre os países rivais e, não olhemos apenas para o lado econômico, haviam trocas culturais também. Utilizemos um exemplo bem simples, porém de enormes proporções. Um estudante ocidental em maio de 1968, apesar das restrições e censuras em muitos países, levantou-se junto com milhares de seus companheiros em prol de uma sociedade mais justa e igualitária. O exemplo: Mao Tse-Tung e a República Popular da China. E não se enganem, da mesma maneira que essas ideias penetraram no ocidente, a ideologia liberal conquistou seu espaço no "oriente vermelho" também. Principalmente nos anos 70 e 80 com a grande influência de teóricos como Martin Friedman, que influenciaram variados países que buscavam um maior desenvolvimento econômico. Entre estes países, inclui-se a Polônia "socialista" [1].

Neste sentido, o conceito de bipolaridade se torna um pouco mais complexo do que normalmente se ouve falar. O antagonismo nos discursos muitas vezes não era acompanhado na prática e, o que parecia ser uma disputa aguda entre dois sistemas, estava mais próximo de uma disputa de interesses geopolíticos entre nações imperialistas. O próprio cisma sino-soviético é uma prova disso. Duas grandes nações, supostamente do mesmo bloco, se tornam inimigas mortais de uma hora para outra. Ora, que bipolaridade é essa? Alguns analistas dizem que foi a brilhante diplomacia americana que causou tal separação, enganam-se. Os interesses estratégicos - e predatórios - da União Soviética em relação à China, além dos graves conflitos ideológicos entre os dois Partidos (Partido Comunista da União Soviética e Partido Comunista da China) resultaram em uma separação definitiva entre os dois países.

Ora, mas qual seria o conflito ideológico entre duas nações ditas socialistas? Não seriam as duas grandes nações portadoras do mesmo sistema? Ou seja, planificação central da economia, coletivização das terras, socialização dos meios de produção, etc. A resposta é não. Como eu disse, a bipolaridade é um conceito relativo e, a URSS, à época do cisma com a China, já estava infectada com a ideologia liberal e dominada por uma nova burguesia conhecida como nomenklatura.

O Cisma sino-soviético e a influência burguesa na URSS

Vimos anteriormente que a causa principal do cisma no bloco socialista foi o conflito ideológico entre um Partido claramente marxista (O PCCh) e um com fortes tendências liberais (O PCUS), ao contrário do que se diz sobre a eficiência da diplomacia estadunidense. Mas qual seria a base de tais disputas? Estariam os chineses corretos em sua análise? Estaria a URSS seguindo políticas claramente capitalistas? Comecemos com as palavras do próprio Mao Tsé-Tung:


"[...]O Comitê Central do PCUS apontou em seu relatório ao 19º Congresso do Partido, em Outubro de 1952, que a degeneração e a corrupção haviam aparecido em certas organizações do Partido.


"Os líderes destas organizações haviam as transformado em pequenas comunidades compostas inteiramente de seus próprios companheiros, 'colocando seus interesses de grupo acima dos interesses do Partido e do Estado' (N. A., Aqui Mao cita as palavras do relatório soviético). Alguns executivos de empresas industriais 'esquecem que as empresas que foram confiadas a eles são do Estado, e tentam torná-las parte de seus próprios domínios privados'.


"[...] Desde que Kruschev usurpou a liderança do Partido e do Estado, houve uma mudança fundamental na luta de classes na União Soviética.


"Kruschev conduziu uma série de políticas revisionistas que serviram aos interesses da burguesia, aumentando rapidamente as forças do capitalismo na União Soviética." [2]

Nestes trechos, retirados dos escritos do líder chinês do ano de 1964, é fácil a observação de uma crítica feroz ao regime soviético e de uma clara inconsistência ideológica entre as duas nações. Estas palavras de Mao representam a análise chinesa acerca da URSS, mas ainda fica no ar a questão se ela condiz ou não com a realidade. Vejamos o que economistas soviéticos diziam após a morte de Stálin:

"Estas deficiências na gestão da economia devem ser eliminadas não através da complexificação, do maior detalhamento e centralização da planificação, mas sim através do desenvolvimento da iniciativa e da independência econômica das empresas - Empresas devem possuir iniciativa mais ampla; elas não devem estar presas a uma tutelagem trivial e a métodos burocráticos de planificação central" [3]

Observem o caráter tipicamente liberal deste trecho - independência econômica das empresas em contraponto à planificação socialista. Maior independência para as empresas significa:

1. A desregulação da planificação. À medida que empresas ganham maior independência, elas repassam cada vez menos de seu lucro para o Estado, facilitando a concentração de capital na mão de seus gestores e provocando uma desigualdade de rendimentos e investimentos entre as empresas e ramos econômicos do país.
2. Maior concentração de capital em empresas independentes - a volta da busca pelo lucro. Basicamente se forma uma propriedade privada não-oficial. Já que os gestores passaram a deter mais poder.
3. Uma "planificação" vinda de baixo. As empresas mudam seus planos conforme seus desejos, basicamente inutilizando os planos centrais e criando uma série de mecanismos de mercado como, por exemplo, a flutuação de preços.

A passagem acima citada foi escrita por um economista soviético em 1955, em tempos que Bill Bland definiu como a fase de propaganda das reformas capitalistas na URSS [4].

Subseqüentemente, em Setembro de 1965, veio a fase de implementação de tais reformas. Fase liderada pelo Primeiro-Ministro Alexei Kosygin. Vejamos, em números, o que estas reformas alcançaram em 4 anos em relação a concentração de lucros e, portanto, de capital nas mão de empresas cada vez mais independentes da planificação:

1966: 26%
1967: 29%
1968: 33%
1969: 40% [5]

A porcentagem significa o quanto de lucro uma empresa deteve para si em detrimento do Estado.

Portanto, Mao tinha razão em relação ao aburguesamento da União Soviética. Os revisionistas estavam restaurando o capitalismo em larga escala, sob o pretexto disfarçado de melhorar a eficiência do planejamento central. De fato, como o prosseguimento da história nos mostrou, as reformas minaram a eficiência do planejamento e também não implantaram totalmente uma economia de mercado, causando uma forte estagnação econômica nos anos 70. A então segunda economia do mundo entraria nos anos 80 em uma espiral de decadência.

Influência burguesa e fortalecimento de uma elite


A forte influência do liberalismo na URSS resultou no fortalecimento de uma elite e em uma forte estratificação da sociedade soviética. Isto porque as reformas econômicas revisionistas privilegiavam a alta administração do Estado e do Partido, colocando boa parte dos lucros das empresas diretamente em suas mãos e enfraquecendo o planejamento central. O que significa isso?

Basicamente significa a desmobilização da ditadura do proletariado e a transformação do regime soviético em uma ditadura sobre o proletariado. O planejamento central tinha duas funções primordiais: 1. Distribuir igualmente as riquezas da nação; 2. Fiscalizar as atividades econômicas de toda a União. A distribuição igual das riquezas servia como a argamassa social que unia todos os povos em torno de uma nação, provendo um padrão de vida médio a todos e impedindo a exploração do homem pelo homem, já que eliminava a mais-valia. É o sustentáculo primordial do socialismo e o instrumento básico para a constituição de uma sociedade igualitária e justa. E a fiscalização das atividades econômicas é a ação que permitia a construção deste tipo de economia socializada. Como tudo era planejado e decidido em detalhes, qualquer rublo sequer que fosse desviado da economia era facilmente perceptível pelas autoridades e repreendido com rigor. Portanto o surgimento de uma classe burguesa que concentrasse capitais em suas mãos era uma possibilidade bem remota.

À medida que o planejamento central é dificultado através do já mencionado "planejamento de baixo pra cima" e o controle da economia pelo Gosplan (Ministério do Planejamento) é enfraquecido, abre-se um grande espaço para o enriquecimento ilícito por parte das camadas administrativas do Estado e do Partido. Disto resulta uma nova classe de capitalistas "vermelhos", que passam a investir no mercado negro para aumentarem seus lucros e patrimônios pessoais. Detendo poder político e econômico, esta classe soviética passa a utilizar os mecanismos repressivos do Estado contra o proletariado (vide o Capítulo 8 da obra de Bill Bland, "Liberdade de contratar e demitir"), demolindo a força dos sindicatos e dos trabalhadores através da "flexibilização" dos direitos trabalhistas. Logo, a URSS se transforma em algo muito próximo de um Estado capitalista monopolista, em outras palavras, de uma ditadura sobre o proletariado.

A ditadura sobre o proletariado e a segunda economia

Finalmente chegamos ao ponto crucial deste artigo: a segunda economia ou, em outras palavras, o mercado negro privado na URSS. Keeran & Kenny definem a segunda economia soviética como "atividade econômica para ganho privado, seja legal ou ilegal" [6]. A economia privada persistia na União Soviética de Stálin, porém de forma legal. Um exemplo usual é o da agricultura, em que era permitido aos camponeses soviéticos possuírem uma pequena parte de terra para cultivar suas próprias plantas e criar seus próprios animais, como uma forma de complementação aos seus salários nas fazendas coletivas e/ou estatais. Calcula-se que em 1950, 22% do PIB da URSS vinha deste tipo de economia privada legal [7]. Já os tipos ilegais eram fortemente proibidos e coibidos pelo Estado, não representando problema sério ao socialismo. Dentre os tipos ilegais encontram-se práticas como utilizar dinheiro público para a construção de dachas, vender bens públicos a terceiros, alugar casas, vender combustível de carros pertencentes ao Estado, entre outros tipos de corrupção e desvio de bens do povo.

No entanto, a partir da morte de Stálin e do golpe revisionista, este mercado negro começou a crescer exponencialmente, resultando, no fim dos anos 70, em taxas que beiram os 35% da economia soviética [8], segundo especialistas na área como Gregory Grossman.

Neste sentido, podemos observar que a formação de uma nova classe burguesa fomentou o crescimento do mercado negro, o mercado capitalista. Quanto mais dinheiro era movimentado ilegalmente, mais a nomenklatura enriquecia, mais forte se tornava a economia de mercado e mais bizarro e irreal tornava-se o planejamento central socialista. Além disso, essa base capitalista clandestina da economia soviética fomentava as ideologias liberais no seio do país, já que a estrutura de produção material de uma nação influi tremendamente no pensamento, na ideologia e na cultura desta. Em outras palavras, criou-se as bases econômicas e sociais do capitalismo.

Os êxitos da planificação socialista

Como um contraponto ao fracasso econômico revisionista, é importante frisar os êxitos da economia socialista. Desde a introdução dos Planos Qüinqüenais, a URSS cresceu a taxas nunca antes vistas na história da humanidade, saindo de uma economia atrasada e semi-feudal e alcançando o posto de segunda economia do mundo em menos de 30 anos. Como exemplo, citarei alguns dados relativos à época:

*De 1930 a 1940, o crescimento médio da produção industrial foi de 16, 5% ao ano. [9]
*Crescimento industrial comparado entre 4 países, de 1919 a 1939:

Alemanha: —24.6%
Grã-Bretanha: —14.8%
EUA: +10.2%
URSS: +291.9% [10]


*Crescimento do capital fixo industrial, tomando como 100 o índice de 1913: 136 (1928) e 1085 (1940) [11]
*Crescimento do capital fixo agrícola, tomando como 100 o índice de 1913: 141 (1928) e 333 (1940) [12]
*Índice de incremento da produção industrial bruta de 1936 a 1938: crescimento de 88%. Sendo o aumento nas indústrias de bens de capital de 107% e, o nas indústrias de bens de consumo, de 66%[13]

Ao observar os dados, é impressionante o quanto que a URSS se desenvolvia economicamente. As proporções não são nem comparáveis aos dos países capitalistas de tão superiores. A planificação socialista fez o que as potências ocidentais demoraram 300 anos para fazer, em menos de 30. Fazendo a União Soviética, um país recém-formado, ultrapassar países já desenvolvidos como a Alemanha, a Inglaterra, a França, o Japão. Apenas os Estados Unidos se mantiveram na frente do Urso Vermelho. E o posto de segunda economia do mundo só foi retirado quando do colapso do país, em 1991.

Portanto, não se pode deixar de lado a planificação socialista, alegando seu suposto fracasso e entoando aos quatro cantos do mundo a superioridade da economia de mercado. Pois os sucessos soviéticos durante o tempo em que o planejamento dominou a política econômica são gigantescos, sendo dificilmente ultrapassáveis por qualquer economia capitalista. Como vimos, a introdução de mecanismos de mercado e o fortalecimento do mercado negro é que foram as principais causas da estagnação econômica da URSS.

Conclusão

Durante a Guerra Fria, as trocas culturais entre as nações do mundo não cessaram completamente e muito da propaganda e da ideologia burguesa penetrou em regimes socialistas. A União Soviética sofreu inclusive uma mudança radical após a morte de Stálin e o golpe revisionista de Kruschev contra as lideranças marxistas-leninistas restantes. Esta mudança, como já vimos, resultou em uma série de reformas que restauraram certos mecanismos da economia de mercado, dificultando o funcionamento no planejamento central. Tais reformas privilegiaram a alta cúpula da administração estatal, o que acabou por formar uma nova e poderosa elite capitalista, fomentando a existência de um mercado negro na URSS e a constituição de uma ditadura sobre o proletariado.

Esta debilitação da economia socialista acabou por criar uma estagnação terrível na União Soviética, que resultou em uma brusca queda do padrão de vida da população, uma grande concentração de renda na mão de poucos e na explosão de todo o tipo de atividade ilegal, incluindo o crime organizado - a temida máfia russa. Tudo isto foi feito com o consentimento do Partido, seja através da corrupção, seja através da má índole dos líderes. Fez-se vista grossa ao assunto, já que quase não se discutia a segunda economia na URSS, e manteve-se uma aparência de socialismo.

As reformas econômicas revisionistas foram apresentadas como medidas para o aumento da eficiência da planificação central e as atividades ilícitas varridas para debaixo do tapete.

Portanto formalmente a URSS permaneceu como uma economia socialista centralmente planificada até a perestroika de Gorbachev, mas na realidade, era um misto nenhum pouco harmônico de economia capitalista e socialista. Os problemas econômicos derivavam, em grande parte, da corrupção, do mercado negro e da confusão gerada na planificação quando da introdução da busca pelo lucro, da independência das empresas em relação ao Estado, da flutuação de preços, etc. O que Gorbachev fez, na verdade, foi legalizar boa parte do mercado negro capitalista e dissolver de vez os últimos resquícios da economia socialista, para assim beneficiar a nomenklatura e reestruturar a economia em frangalhos da URSS.

Concluo que as deficiências econômicas internas da União Soviética estavam mais ligadas às reformas capitalistas instauradas de maneira estabanada e pouco harmônica do que ao sistema socialista de planificação central. Até porque, pelos dados econômicos disponíveis, a URSS crescia vertiginosamente enquanto o regime marxista-leninista existia. Neste sentido, as causas econômicas internas do fim da União Soviética estão relacionadas à traição aos princípios socialistas, e não à sua aplicação coerente.


[1] Keeran & Kenny, Socialism Betrayed - Behind the Collapse of the Soviet Union, p. 51
[2] Mao Tsé-Tung, On Kruschov's Phoney Communism and its Historical Lessons for the World. N.A., trecho traduzido pelo próprio autor.
[3] E.G. Liberman: "Cost Accounting and Material Encouragement of Industrial Personnel", in: "Voprosy Ekonomiki" (Problems of Economics), No 6, 1955, in: M.E. Sharpe (Ed.): op. cit., Volume 1; p.7; citado em: Restauration of Capitalism in the USSR, de Bill Bland.
[4] Bill Bland, Restauration of Capitalism in the USSR, Chapter 1.
[5] ibid., Chapter 15.
[6] Keeran & Kenny, Socialism Betrayed - Behind the Collapse of the Soviet Union, p. 52
[7] Keeran & Kenny, Socialism Betrayed - Behind the Collapse of the Soviet Union, p. 55
[8] Keeran & Kenny, Socialism Betrayed - Behind the Collapse of the Soviet Union, p. 60
[9] Ludo Martens, Stálin - Um Novo Olhar, p. 73
[10] Bill Bland, Stalinism, palestra dada para Academia Sarat, em Londres. Dados de fontes ocidentais citadas no 17º Congresso do Partido Comunista de Toda a União (Bolchevique)
[11] Harpal Brar, Trotskismo x Leninismo - Lições da História, p.133
[12] Idem
[13] Hiroaki Kuromiya, Stalin's Industrial Revolution, p. 287

Publicado originalmente no Diário Vermelho (www.vermelho.org.br)

O Holodomor, novo avatar do anticomunismo "europeu"

Numa sociedade de classes a História é o resultado da luta de classes e não a efabulação feita em Hollywood e nas mídias dominadas pelos monopólios. Neste estudo, a historiadora Annie Lacroix-Riz fala-nos das campanhas sobre da “fome da Ucrânia, lançada em 1933 (…) quando os grandes imperialismos”, na sua intensa luta ideológica, sentem condições para a tentar impor.

A partir de novembro de 1917 sucederam-se sem descanso campanhas anti-bolcheviques tão violentas como variadas, mas a da “fome na Ucrânia”, lançada em 1933, voltou a aparecer com força nos últimos vinte anos. Desencadeia-se quando os grandes imperialismos, com a Alemanha e os Estados Unidos à cabeça, desejosos desde o século 19 de pilhar os imensos recursos da Ucrânia, se consideram em condições de o conseguir.

Por Annie Lacroix-Riz, para o Diario.Info

A conjuntura é favorável ao Reich em 1932-1933, quando o Sul da URSS (a Ucrânia e outras “terras negras”, o Norte do Cáucaso e do Cazaquistão) foi atingido por uma considerável baixa de colheitas e o conjunto da União por dificuldades de abastecimento que provocou o regresso a um racionamento severo. Uma grave “escassez”, principalmente durante a “soudure” (período entre duas colheitas), não especificamente ucraniana, segundo a correspondência diplomática francesa; uma “fome” ucraniana, segundo os relatos de 1933-1934 dos cônsules alemães e italianos, explorados pelos Estados ou por grupos dedicados à cisão da Ucrânia: a Alemanha, a Polônia, centro principal de agitação em Lwow e o Vaticano.

Esta escassez ou esta fome era resultante de fenômenos naturais e sociopolíticos: uma seca catastrófica sobreposta aos efeitos da retenção cada vez maior das entregas (abate de gado inclusive), a partir do fim dos anos vinte, feita pelos antigos koulaks (os camponeses mais ricos) rebeldes à coletivização. Esta fração, em luta aberta contra o regime soviético, constituía na Ucrânia uma das bases do apoio à “autonomia”, máscara semântica de cisão da região agrícola rainha das “terras negras”, para além de principal bacia industrial do país, em benefício do Reich. O apoio financeiro alemão, maciço antes de 1914, tinha-se intensificado durante a Primeira Guerra mundial, em que a Alemanha transformou a Ucrânia, assim como os países bálticos, na base económica, política e militar do desmantelamento do império russo. A República de Weimar, fiel ao programa de expansão do Kaiser, continuou a financiar “a autonomia” ucraniana. Os hitlerianos, logo que conquistaram o poder, divulgaram o seu plano de conquista da Ucrânia soviética e todos os autonomistas ucranianos (as profundezas policiais, diplomáticas e militares em convergência), entre 1933 e 1935, aliaram-se ao Reich que na altura era mais discreto quanto às suas pretensões sobre o resto da Ucrânia.

Com efeito a URSS não controlava na altura senão a Ucrânia oriental (Kiev-Kharkov), que voltara a ser soviética a partir de 1920, depois da cisão efetuada durante a guerra civil estrangeira: tinham-lhe arrancado grandes porções da Ucrânia, ou não lhe tinham sido atribuídas, apesar da afinidade étnica das suas populações, das promessas francesas em 1914 de entregar os despojos do império austro-húngaro à Rússia czarista aliada e da fixação em 1919 da “linha Curzon”. O imperialismo francês, um dos dois maestros (com Londres) da guerra estrangeira contra os soviéticos, e depois o “cordão sanitário” que se seguiu ao fiasco dessa guerra, ofereceu à Romênia, em 1918, a Bessarábia (Moldávia, capital Kichinev), antiga porção do império russo, e a Bucovina; a Tchecoslováquia recebeu diretamente a Rutênia subcarpática; a Polônia de Pilsudski, em 1920-1921, a Ucrânia ocidental ou Galícia oriental, outrora austríaca – capital Lemberg (em alemão), Lvov (em russo), Lwow (em polaco), Lviv (em ucraniano) – com o apoio do corpo expedicionário francês dirigido por Weygand. E isto quando, em 1919, a “linha Curzon” (nome do secretário do Foreign Office) tinha considerado esse território “etnicamente” russo: a “Rússia” devia recebê-lo dos seus aliados quando em conjunto com os Brancos tivesse corrido com os bolcheviques, o que não veio a acontecer.

Este distinguo geográfico é decisivo, porque Lwow tornou-se – e Lviv mantém-se – um centro importante do alarido alemão, polaco e do Vaticano sobre a “fome na Ucrânia, que começou no verão de 1933, ou seja, depois de uma excelente colheita soviética ter posto fim à crise dos abastecimentos. Se é que houve fome em 1932-1933, que atingiu o auge durante a “soudure” (entre as duas colheitas), o mês de julho de 1933 assinalou o fim dela. A campanha foi alargada a todo o campo anti-soviético, Estados-Unidos inclusive, onde a imprensa germanófila do grupo Hearst se apoderou dela. A fome não tinha sido “genocidária”, como reconhecem todos os historiadores anglo-saxões sérios, tais como R.W. Davies e S. Wheatcroft, não traduzidos em francês, ao contrário de Robert Conquest, agente dos serviços secretos britânicos que se tornou um prestigiado “investigador” de Harvard, ídolo da “faminologia” francesa a partir de 1995 [1].

A campanha original nem sequer tinha esgrimido o “genocídio”: Berlim, Varsóvia, o Vaticano, etc. maldiziam Stálin, os soviéticos ou os judeo-bolcheviques, estigmatizando a sua ferocidade ou a sua “organização” da fome e descreviam uma Ucrânia empurrada pela fome para o canibalismo. Quanto aos franceses, atribuíam aos planos secessionistas do trio esse alarido lançado enquanto que o Reich prometia ao ditador polaco Pilsudski, se este restituísse Dantzig e o seu corredor, que lhe entregava de bandeja a Ucrânia soviética que em breve iriam conquistar juntos: François-Poncet, delegado do Comitê des Forges e embaixador em Berlim, troçava dos soluços quotidianos debitados pela imprensa do Reich sobre o mártir ucraniano, truque grosseiro com intenções externas (anexar a Ucrânia) e internas (“difamar os resultados do regime marxista” [2].

A abundante correspondência militar e diplomática da época contraria a tese da ingenuidade dos “anjinhos” pró-soviéticos, cegos, durante a sua viagem de setembro de 1933 à Ucrânia, às mentiras e mistérios de Moscou, como Édouard Herriot: ou seja, a tese defendida em 1994 pelo demógrafo Alain Blum que iniciou em França o número dos “6 milhões de mortos”. Este símbolo concorrencial a que os ucranianos anti-semitas se agarraram tanto – era preciso pelo menos equiparar-se aos judeus, antes de passarem a ser muito mais, 7, 9, 10, 12, até 17 milhões pelo que conheço (para um efetivo total duma trintena de milhões de ucranianos soviéticos) – foi adoptado em Le Livre noir du Communisme em 1997 por Nicolas Werth. Mesmo assim este refutava na altura a tese “genocidária” que agora defende desde o seu empenhamento em “2000 num projecto de publicação de documentos sobre o Goulag (6 volumes, sob a égide da fundação Hoover e dos arquivos de estado da Federação da Rússia)” [3]. Número duplamente inaceitável: 1º Alain Blum deduziu-o de estimativas demográficas, visto que a URSS não fez nenhum recenseamento entre 1926 e 1939: ora, entre essas datas, no enquadramento de uma explosão industrial dedicada, desde o início da grande crise capitalista, à defesa contra a ameaça alemã, ocorreram gigantescas movimentações inter-regionais da população, que afetaram especialmente a Ucrânia agrícola coletivizada. O fraco crescimento da população ucraniana entre os dois recenseamentos não autoriza portanto a equivalência: déficit demográfico igual a mortos pela fome; 2º o modo de cálculo da estimativa é absurdo: Alain Blum baseou-se em especialistas de estatística russos que em 1990 reagruparam o decênio de 1930 de perdas presumidas – 6 milhões – num único ano de 1933 [4].

O número fatídico foi retomado por “sovietólogos” franceses ligados, tal como Stéphane Courtois, ou não ligados, aos defensores da “Ucrânia independente” laranja. Absurdo supremo, na Ucrânia oriental teriam pois morrido em poucos meses tantas vítimas – duas ou três vezes mais – como os judeus que foram exterminados, de 1939 e sobretudo de 1942 a 1944, num território que se estende da França aos Urais; e isso sem deixar quaisquer vestígios visíveis, fotos ou escritos deixados pelo genocídio nazi.

É neste contexto que se agitaram em França grupos “ucranianos”, como a associação “Ucrânia 33” que albergou o arcebispo de Lyon, e cujo presidente honorário era Monsenhor Decourtay. Depende da autoridade do Congresso ucraniano mundial, situado em Washington e presidido por Askold S. Lozynskyj, de quem o New York Times publicou a seguinte mensagem no dia a seguir a 18 de Julho de 2002: “quando os soviéticos foram obrigados a recuar perante a invasão dos nazis em Junho de 1941, massacraram os seus prisioneiros […] da Ucrânia ocidental presos e internados às dezenas de milhares em 1939 […]. Isso foi executado com a ajuda dos comunistas locais, sobretudo os etnicamente judeus. Esse massacre infelizmente não constituiu uma aberração dos atos soviéticos na Ucrânia. Em 1032-33 na Ucrânia oriental, os soviéticos já tinham assassinado cerca de 7 milhões de homens, de mulheres e de crianças ucranianas através de um genocídio estrategicamente planificado de fome artificial. O homem escolhido por Josif Stálin para perpetrar este crime foi um judeu, Lazar Kaganovitch.

O conhecido historiador britânico Norman Davies chegou à conclusão que nenhuma nação tinha tido tantos mortos como a ucraniana. O que foi em grande parte resultado dos atos dos comunistas e dos nazis. Os russos e os alemães eram uns bárbaros. Mas os judeus eram os piores. Traíram os seus vizinhos e fizeram-no com imenso zelo!” [5].

Estes anti-semitas frenéticos mostraram-se mais discretos em França, onde adulavam associações judaicas e a Liga dos Direitos do Homem em “colóquios internacionais” e em debates sobre “os genocidas” (judeu, armênio, ucraniano) [6], Exigiram em 2005-2006 a minha expulsão da universidade ao presidente de Paris 7, depois ao presidente da República Jacques Chirac, rotulando-me de “negacionismo” por ter dirigido pela Internet aos meus alunos um conjunto crítico de arquivos sobre os contos da carochinha da campanha germano-polaco-vaticana de 1933-1935. Acima de tudo não me perdoavam eu ter recordado em 1996 o papel, na Ucrânia ocupada pela Wehrmacht, da Igreja uniata da Galícia oriental submetida ao Vaticano e confiada ao bispo (de Lwow), Monsenhor Szepticky, que abençoou as matanças da divisão ucraniana SS Galicia saída dos grupos do uniata nazi Stefan Bandera [7]. Acrescentemos a esses dossiês comprometedores para os arautos do “Holodomor” que eu me atrevo a afirmar que a diabolização do comunismo e da URSS não resulta da análise histórica mas de campanhas ideológicas, que, não contente em ser marxista, sou judia e que um dos meus avós foi morto em Auschwitz – fato que tornei público em 1999, perante uma outra enorme campanha [8], e que todos esses excitados conheciam [9] elementos de natureza a mobilizá-los.

Falhou a realização do sonho em conseguir até mesmo o apoio dos judeus de França para uma campanha contra uma “judia-bolchevique” mascarada de “negacionista”! A perseguição, contra a qual se levantaram o Snesup e o PRCF, que lançou em Julho de 2005 uma eficaz petição apoiada pela (única) Libré Pensée [10], abrandou depois de os “ucranianos” terem, a 25 de Maio de 2006, sob a protecção da polícia do ministro do Interior, N. Sarkozy, prestado homenagem no Arco do Triunfo ao grande progromista Petlioura. Emigrado em França depois dos seus crimes de 1919-1920, fora abatido em 1926 pelo judeu russo emigrado Schwartzbard, e a defesa deste último gerou a Liga contra o anti-semitismo (LICA) que em 1979 passou a LICRA. Esta denunciou por fim em 26 de Maio de 2006, através do seu presidente Patrick Gaubert, esses anti-semitas de choque – depois de vários avisos frustrados de cautela em relação à pretensa “negacionista” Lacroix-Riz. A algazarra dos grupúsculos “ucranianos” irá recomeçar aqui, estimulada pelo Parlamento europeu?

A Ucrânia ocidental laranja, tutora (oficial) de toda a Ucrânia, ocupa de novo o centro de uma campanha que, desde a era Reagan – fase crucial do desmantelamento da Rússia posto em marcha a partir de 1945 pelos Estados Unidos – deve tudo ou quase tudo a Washington, tal como a precedente devia tudo ao dinheiro alemão. Os seus paladinos amontoam milhões de mortos duma Ucrânia oriental cujos cidadãos, embora dedicados ao primeiro chefe, nunca se juntaram à matilha. A CIA, como retaliação, armou-se em chefe de orquestra, apoiada 1º em ucranianos “anti-semitas e anti-bolcheviques, colaboracionistas importantes durante a ocupação alemã, emigrados quando a Wehrmacht foi expulsa da Ucrânia.

Fonte: ODiario.Info
Perspectivas acerca das eleições

Por Cristiano Alves


Recentemente o jornal A Nova Democracia denunciou, com êxito, a farsa eleitoral, o grande circo chamado "Eleições", tendo como símbolo maior disso a eleição do palhaço Tiririca. Vale lembrar aqui um trecho inesquecível da reportagem, em que afirma que "o selo perfeito para o primeiro turno do circo eleitoral foram os mais de um milhão e trezentos mil votos para o deputado Tiririca. Enquanto alguns esbravejavam clamando uma "reforma política" que impeça que Tiriricas arrastem outros de sua legenda, ele é uma grande prova da despolitização, vaziez, imprestabilidade da farsa eleitoral e ao mesmo tempo é o retrato fidedigno do que representa o sistema de governo do velho Estado".1

De fato, antes de comemorar a vitória de Dilma, há que se comemorar a derrota de Serra, que representou no processo eleitoral o que há de mais reacionário na política brasileira. Não que a campanha de Dilma seja necessariamente progressista ou revolucionária, mas por um lado ela estava com setores progressistas da sociedade, embora com alguns reacionários. Sua história de luta, inclusive, é digna de louvor, assim como parece que será boa gerente. A questão, entretanto, é a superação de um modelo ultrapassado e arcaico, incapaz de satisfazer às necessidades da classe operária, que é caracterizado pelo embrutecimento do proletariado, pela subcultura do forró, do funk da periferia, da novela global, da ignorância, do semi-analfabetismo, do misticismo, da aversão à ciência e à ética, do atraso.

Vivemos numa sociedade hipócrita que, ao mesmo tempo que prende ladrão de galinha, deixa passar impune o professor de universidade pública que comparece na faculdade apenas 1 vês no mês e de lá subtrai R$ 3.000,00 a R$ 6.000,00 pagos com o dinheiro do contribuinte. Este mesmo comportamento num país como Cuba ou a ex-União Soviética e o sujeito automaticamente receberia a justa pena do Direito Socialista. A mesma sociedade que prende alguém que subtraiu R$ 100,00 de uma carteira, mas deixa passar impune aquele que subtraiu 1 a 10 milhões dos cofres públicos. Enfim, como reza a letra da Internacional, "o crime do rico a lei o cobre".

Assistimos à uma sociedade brutalizada a cada dia por valores mesquinhos apresentados por novelas globais de teor elitista, consumista e mesmo racista, onde seleciona-se etnias específicas num país que tem a maior população negra das Américas, segunda maior do mundo, perdendo para a Nigéria apenas. Prova disso é que nenhuma novela global tem em seu papel principal um ator negro, talvez algumas raras tragam atrizes negras, mas normalmente contracenando com atores brancos. E se essa novela traz afrodescendentes, seu papel é sempre terciário, é o de faxineiro, de empregado, jardineiro... não que essas profissões não sejam importanes, mas na trama em si, normalmente tem pouca relevância se comparado com o papel principal, por exemplo. Mesmo nos EUA, que tem uma longa e forte tradição racista, essa mentalidade arcaica já foi superada, conforme se verifica em várias séries.

Enfim, fora a completa falta de ética, do abandono da coisa pública e do povo a um estado semi-bárbaro, o Brasil tem ainda que aturar os delírios elitistas de uma classe média esnobe, facilmente manipulada por organizações como a Globo e outras redes de TV, por revistas como a VEJA e jornais como Estadão, que em pouco ou nada contribuem para a sociedade onde vivemos, senão para a sua alienação com a propagação de mentiras, misticismo e propaganda imperialista.

Espera-se que no governo de Dilma Roussef haja um pouco da revolucionária que esta um dia foi, e que promova a educação no país sob parâmetros distintos daquele que há hoje no país, que o anticomunismo seja extirpado dos livros escolares e seja jogado na lata do lixo, seja da sala de aula, seja da história!

1- Em http://www.anovademocracia.com.br/no-70/3045-14-do-brasil-nao-vota-anula-ou-vota-em-branco