A burguesia brasileira e o culto ao nazi-fascismo
Por Cristiano Alves
Desde o surgimento da internet, tornou-se mais fácil a propagação de diferentes idéias, sejam elas de extrema direita ou esquerda, liberais ou comunistas, religiosas ou atéias, de amor ou de ódio... Enfim, até um suspiro pode ficar famoso quando jogado na rede. Há, entretanto, um lado sinistro nisso que serve a interesses macabros.
Engana-se quem acredita que o nazi-fascismo acabou em 1945. De fato, caiu o regime fascista alemão, derrotado pelo Exército Vermelho, que fincou a bandeira vermelha com a foice e o martelo no alto do Reichstag, pondo fim à maior tirania que o mundo já conheceu. O fundador desta idéia foi Adolf Hitler, que não era empresário e nem proletário, não era nenhum latifundiário ou dono de propriedades, mas tão somente um cabo frustrado oriundo da classe média da Áustria, país onde nasceu. Suas idéias, em suma, eram uma sintetização do mais intenso ódio racial, fruto de um mundo inserido no colonialismo, no imperialismo, chovinismo e no anticomunismo, que apesar do nome enxergava qualquer movimento com alguma reivindicação social como "comunista".
É certo que, mesmo não sendo da classe social denominada "burguesia", isto é, a dos detentores dos meios de produção (grandes fábricas, latifúndios, redes comerciais, etc), Hitler integrava o universo que Lenin1 denominava "forças sociais", ao invés de "classes sociais", isto é, um conceito que enquadra o indivíduo não num contexto meramente "de classe", mas sim no papel que este desempenha na luta de classes. Assim, pela teoria leninista, não tem suma relevância a origem social do indivíduo, mas de que lado ele realmente está. Neste diapasão, enquanto temos, por exemplo, nomes como Friedrich Engels, de origem burguesa, que muito contribuiu para a luta do proletariado, em contrapartida temos Lech Walessa, de origem operária, que muito contribuiu para a completa restauração capitalista na Polônia e para o fortalecimento da burguesia naquele país.
Charde de Hitler, famoso líder nazi-fascista derrotado em 1945, totem de grande parte da burguesia
Desde a popularização da internet no Brasil, ficou cada vez mais saliente o lixo intelectual de uma população de "cultura televisiva", onde predomina a "ideologia de fato" das grandes redes de TV(especialmente a Rede Globo) e, fora disso, de publicações como a "Revista VEJA", que tem por um de seus acionistas o grupo NASPERS, patrocinador oficial do antigo regime conhecido por "Apartheid". Foi nesse contexto que, com a recente eleição de Dilma Roussef, houve uma verdadeira tempestade de diarréia mental em redes sociais como o Facebook, Twitter e Orkut, todas elas tendo por alvo dois grupos étnicos: nordestinos e negros.
Seguindo os mesmos passos de Hitler, uma dessas expressões macabras do racismo tão bem camuflado no Brasil foi a estudante de Direito que nada tem de direita (entenda-se direita como sinônimo de correta, justa) de nome Mayara Petruso, filha de um empresário paulista, autêntica representante da burguesia e da direita tupiniquim. Sendo supostamente alguém com acesso à cultura, com possibilidades e chances na vida para invejar muita gente neste país, além de estagiária de renomado escritório de advocacia, esta veio a escrever postagens que fariam o tirano austríaco se contorcer de inveja. Vale citar, num parágrafo em separado, a expressão totalitária de ódio de Mayara, compartilhada por vários segmentos da burguesia brasileira e especialmente a classe média, o qual chegou a ganhar destaque no jornal britânico Telegraph:
"AFUNDA BRASIL. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar o bolsa 171"
"Nordestisto não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!"(sic)
A criminosa mobilizou todos os recursos possíveis numa frustrada campanha de ódio racial
Se um famoso ditado diz que "desgraça pouca é bobagem", vale a pena ler o que outros filhotes da burguesia pronunciaram a respeito do tema. Numa clara apologia ao terrorismo e ao genocídio, o usuário "@henrigpierre", no twitter, escreveu o seguinte:
"Ir aonde? Nordeste? Só se for de caminhão tanque pra explodir todos vocês"
"Na Moral. Maranhão, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Paraíba, PERNAMBUCO, Piauí TEM QUE CAIR UMA BOMBA EM CADA UM DESSES ESTADOS E MATAR TODOS"
E, para encerrar de vez o mito segundo o qual "no Brasil não existe racismo" ou responder àqueles estrangeiros que se admiram ao ouvir dizer que "no Brasil existem nazistas", a despeito da diversidade cultural e étnica deste país, vale repetir aqui que o nazismo não acabou em 1945, conforme a usuária do twitter "aanacarla" deixou bem claro:
"não só matar um nordestino, mas todos os outros pobres e ignorantes deste meu Brasil, por um mundo melhor!"
Nessa mesma linha, "AndreBittarello" assume abertamente seu racismo, desta vez ampliando seu leque aos afrodescendenes, que no Brasil representam 51% da população(e não a minoria!):
"Me tornei RACISTA HOJE POR CAUSA DE VOCÊS PRETOS FEDIDOS QUE SÓ QUEREM TER FILHOS E ENCHER A BARRIGA COM O DINHEIRO DOS QUE TRABALHAM!!!"
E, para coroar, a usuária sob nome @medeiros_raah glorificava o nome de Hitler, alegando que este seria necessário para lançar todos os nordestinos numa câmarada de gás.
De fato, este ato vil de provocação racista está vinculado às campanhas de ódio da VEJA, Globo e do PSDB, partido do qual eram integrantes muitos dos racistas envolvidos neste episódio vergonhoso. Não que o PSDB ou um militante deste partido seja necessariamente racista, mas ele abriga racistas e elitistas, já que coaduna com este tipo de idéia. Importante lembrar aqui que, conforme define a ONU, racismo não se limita a discriminar nacionais de um país, ou uma etnia, mas também se extende à população de uma determinada região, este é o correto entendimento por parte das Nações Unidas e do Direito Brasileiro, nominalmente, da Lei 7.716/89.
Sendo a maioria dos vândalos virtuais da região Sudeste, especialmente São Paulo, estado de muitos trabalhadores formado por diferentes povos, escravos e imigrantes trabalhadores, seus perfis sociais revelam suas procedências, sendo a maioria filhotes de burgueses com sobrenome estrangeiro, crentes numa idéia fútil de superioridade racial, esquecendo-se que seus antepassados muitas vezes chegavam aqui em porões de navio, passavam fome e não raro eram tratados como escravos. Covardes que desconhecem a história de seu Estado, que cresceu às custas da matança de povos nativos e hoje reclamam de outros brasileiros que vão para seu Estado(isto é, aquele onde vivem) para trabalhar de forma dura e honesta, não para expulsá-los de suas casas e massacrá-los, como os bandeirantes faziam com os índios. Estes indivíduos são covardes mimados, que não tem coragem e expor seus ideais ridículos e primitivos em público, nazistas de salão.
Se os comunistas nórdicos, da URSS, fincaram a bandeira vermelha no alto do Reichstag, é preciso fincá-la agora no alto do Reichstag intelectual, identificar e combater a ameaça nazi-fascista incubada que ainda existe na mente de muitos brasileiros em pleno século XXI, seja no livre debate de idéias, assim como, com mão de aço, pela lei. Com tanta necessidade de ferrovias, portos e estradas, seria uma boa idéia pensar na utilização dessa mão de obra ociosa em trabalhos corretivos, tão bem oculta atrás de um computador.
1- Pseudônimo de Vladimir Ilich Ulianov, jornalista, advogado e filósofo russo. Escreveu uma das primeiras obras de teor antiracista, condenando atitudes e termos discriminatórios contra minorias nacionais.
Fontes:
- Jornal The Telegraph. Em http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/brazil/8111046/Brazilian-law-student-faces-jail-for-racist-Twitter-election-outburst.html
- Blog HeartBeatz. Em http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/brazil/8111046/Brazilian-law-student-faces-jail-for-racist-Twitter-election-outburst.html
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