sábado, novembro 12, 2011

MUNDO

Até um rato pode cuspir num leão moribundo
Por Cristiano Alves



A imprensa mundial celebrou, com todos os louros, há alguns dias atrás, a morte de Muamar Kadaffi, chefe de Estado líbio. Se o seu fuzilamento físico fora efetuado há apenas alguns dias atrás, o seu fuzilamento moral já havia sido feito há meses atrás, e para ser mais preciso, há décadas. Quem nunca ouviu falar da "Líbia bombardeada" na famosa canção da banda "Engenheiros do Hawaii"? Para o autor deste artigo, esta foi a primeira vez que ele ouviu falar do pequeno país africano. O que será que os brasileiros sabem a respeito da Líbia, além do fato de que ela foi(já nos anos 80) bombardeada?

A Líbia compreende uma região na África que abrigou diversos povos, inclusive os cartagineses, foi palco de disputas entre os governos da Itália e da Turquia e por muitos anos a sede de uma monarquia corrupta que veio a ser derrubada pelo revolucionário Muamar Kadafi, que fundou "A Grande República Popular Socialista Árabe da Líbia", mostrando os seus vínculos com a cultura árabe e uma forma de governar populista próxima do socialismo(pois popular socialista é um oxímoro, uma vez que socialismo não é populismo nem popular, mas operário e camponês). Apesar das distorções teóricas deste sistema, a práxis demonstrou um forte progressismo, o país elevou a qualidade de vida de seu povo e também encorajou outros movimentos de libertação nacional ao redor do mundo. Uma das manifestações de solidariedade mais fortes com a América Latina se deu durante a Guerra das Malvinas, quando o povo da Líbia, sob a direção de Muamar Kadafi, apoiou a Argentina em sua guerra contra a Grã-Bretanha. Aviões líbios passavam por território brasileiro, que pouca vista faziam aos aviões de suprimentos militares, que então seguiam para Buenos Aires. Idealista, o líder líbio defendia a unificação dos povos árabes, o que irritou aos países imperialistas e foi obstruído pela colocação de fantoches em países como o Egito, Tunísia e outros do norte africano e Oriente Médio. Progressista, o modelo liderado por Kadafi levou à redução do analfabetismo no país e ao aumento de sua qualidade de vida, resolvendo problemas como a falta de moradia, proibindo a especulação imobiliária e o aluguel de casas, chegando a declarar a "Lei do colchão", uma lei que autorizava qualquer cidadão que soubesse de uma casa por alugar ou morasse em uma casa de aluguel a tornar-se seu proprietário simplesmente atirando um colchão no quintal desta casa. Até a embaixada brasileira acabou sofrendo com isso, num caso onde o governo líbio precisou intervir para garantir o prédio da embaixada e uma casa nova para o cidadão líbio. Este governo também garantiu saúde e educação a toda a população, será que a imprensa internacional se deu conta disso?

As últimas notícias que se teve da Líbia durante o início da guerra foi que "este ou aquele país congelou a fortuna pessoal de Muamar Kadafi". Segundo o presidente venezuelano Hugo Chávez, isso na verdade se deu de forma diferente, na realidade eram fundos líbios que este ou aquele país pediu para que a Líbia depositasse suas reservas em razão de problemas advindos da crise econômica. A confiança nos líderes ocidentais sempre revelou-se um grave problema, nos anos 80, por exemplo, Nicolae Ceaucescu, líder romeno que hoje na Romênia é visto pela maioria da população como um personagem positivo, foi um dos governantes a sofrer o mais violento golpe, este tendo sido promovido por oficiais da segurança interna em conluio com países ocidentais, que mais tarde colocariam o país numa vala e enriqueceriam tremendamente, em contraste com o povo trabalhador. Ainda, um outro equívoco cometido por Muamar Kadafi foi ter destruído muitas armas criadas para proteger o seu próprio povo. Nenhum líder europeu teria ousado ativar a OTAN para atacar a Líbia sabendo que mísseis Scud poderiam cair em Roma ou Paris. A destruição dessas armas, entretanto, advinham de um dilema pelo qual passam todos os países que visam seguir um caminho independente do imperialismo: garantir as armas para proteger o seu povo e sofrer constantes embargos econômicos, correndo o risco de ter seu país atingido pela fome e a recessão advindos do isolacionismo provocado pelo embargo; ou destruir as armas e garantir uma relativa prosperidade, entretanto correndo grande risco de ser invadido e deposto pelos seus "parceiros" econômicos. Kadafi optou pelo segundo caminho.

Se a União Européia já gozava de certa liberdade para explorar o povo e os recursos minerais líbios, esta abusou da confiança e resolveu buscar mais, enviando alguns dos mais modernos caças, bombardeiros e caça-bombardeiros para reduzir a Líbia a escombros. Se o país africano tinha o melhor IDH do continente, melhor inclusive do que o do Brasil, e era conhecido por sua paisagem exuberante, ele foi reduzido a escombros pelas "bombas humanitárias" da União Européia e pelas ações dos grupos de comandos e de mercenários da Europa e dos Estados Unidos. O próprio jornal britânico The Guardian, assim como o francês Le Monde, já publicaram notícias onde comandantes militares destes países admitiam ter treinado os "rebeldes" líbios, em realidade mercenários destas potências historicamente imperialistas, no caso francês, este país historicamente fracassado e derrotado militarmente, nunca faltou coragem aos soldados e mercenários a serviço da ditadura parisiense para massacrar e trucidar homens e mulheres indefesos em lugares como o Vietnã e norte da África, de onde haviam sido expulsos. Indesejáveis de gastar com uma guerra, os líderes da OTAN anunciaram a sua retirada do país, dado que já conseguiram o que queriam - a instalação de um governo fantoche.

O assassinato de Muamar Kadafi, como bem colocado pelo presidente bielorrusso Aleksander Lukashenko, não foi uma mera "casualidade" ou simples "produto de uma rebelião popular", tratou-se de um golpe de Estado orquestrado, financiado e executado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte contra um governo legítimamente constituído que trouxe progresso e desenvolvimento para seu povo e inclusive outros povos. O apoio dado por Kadafi a Nelson Mandela levou este último a prestar-lhe suas homenagens, tendo o seu neto sido inclusive batizado com o nome do líder líbio, que foi martirizado, humilhado, torturado e executado, numa ação análoga àquela que o tráfico efetua nas favelas do Rio de Janeiro, e, exceto por alguns casos, até pior do que as execuções promovidas pelos nazistas. Não foi dada ao líder líbio sequer a oportunidade de se defender num tribunal, não foi lhe dado o direito de ser escutado para ser julgado, apenas uma execução incitada desde o início pela União Européia e seus panfletos jornalísticos. O mundo não pode seguir por este caminho. Hoje o direitismo sádico comemora a morte de um homem que morreu lutando.

JAMAIS PERDOAR!
JAMAIS ESQUECER!

Um comentário:

Eduardo Vasco disse...

Excelente texto! Temos que divulgar e compartilhar a verdade de todos os meios possíveis, já que a grande imprensa brasileira não diz a verdade! Estou compartilhando no twitter e no facebook.