quarta-feira, novembro 09, 2011

BRASIL

A ocupação da reitoria da USP
Por Cristiano Alves

Ultimamente tem ganho as páginas de muitos jornais a ocupação da reitoria da USP. É certo que não é a primeira vez que essa reitoria é ocupada e alguns jornais de linha progressista tem apontado que não se trata apenas da "reivindicação de toxicômanos". Jornais de linha direitista contra a ocupação tem colocado que se trata apenas de adolescentes mimados atacando o patrimônio público. É necessário analisar todos os lados da questão.

Entretanto, o que o blog "Ocupa USP contra a repressão" tem deixado transparecer no vídeo "Por que ocupamos?" é que se trata de uma mera ação contra a prisão de três toxicômanos. O uso de tóxicos alucinógenos sempre foi considerado uma aboninação em todos os países socialistas e de orientação marxista, uma "manifestação de decadência da burguesia", onde esta, por sua incapacidade de produzir uma sociedade melhor para os trabalhadores vê nas drogas um meio de destruir a consciência dos jovens e do proletariado, historicamente usada para destruir qualquer capacidade de contestação no indivíduo que mergulha nas águas turvas de "terapias alternativas". Um exemplo histórico do uso de alucinógenos para destruir a resistência de um povo é a "Guerra do Ópio", nela o Império Britânico procurou fomentar de todas as formas possíveis o uso do ópio na milenar sociedade chinesa. Quando o seu consumo foi proibido, o Império Britânico, então, iniciou uma guerra contra o Império Chinês para obrigar seu próprio povo a consumir ópio. Um outro exemplo de uso de tóxicos para a destruição de um povo e facilitar sua dominação, assim como destruir o seu sistema político e econômico, ocorreu com o chamado "Plano de Alen Dulles", uma diretriz do chefe da CIA onde este reconhecia a impossibilidade de vencer militarmente a União Soviético, entendendo que essa vitória só poderia ser alcançada a partir da degradação de sua sociedade, do culto da traição e da destruição dos valores morais da classe operária soviética. Para isso, a CIA procurou de todas as formas facilitar a disseminação das drogas na União Soviética, criando uma juventude rebelde que se espelhava na juventude niilista ocidental que mais tarde seria facilmente enganada em 1991. Ainda, no Afeganistão, o documentário "Zeitgeist" demonstra que o cultivo do ópio no país iniciou-se a partir da intervenção da CIA no Afeganistão. Mais tarde, quando o taliban, que chegou ao poder com a ajuda dos próprios americanos, resolveu incendiar plantações de ópio, os EUA resolveram invadir o país sob a alegação de que ele hospedava Osama Bin Laden, personagem mítico que desde 2001 não é visto em parte alguma. Enfim, as drogas foram sempre uma arma da burguesia ou de um país estrangeiro para acabar com a resistência popular e denegrir os trabalhadores, porém, quem são esses que ocupam a USP.

A Universidade de São Paulo é praticamente uma cidade de estudantes, tendo milhares deles concentrados num único lugar. Muitos desses estudantes são pequeno-burgueses que não trabalham, uma realidade diferente da de muitos estudantes de universidades particulares, que trabalham duramente para pagar seus estudos. Tendo sido educados sem qualquer ordem, sem qualquer formação humanística ou sem qualquer referencial político, esses jovens com frequência acabam recorrendo às drogas para solucionar seus problemas. De acordo com muitas pesquisas, cerca de metade dos estudantes universitários já experimentou algum tipo de droga, drogas estas que são introduzidas no meio universitário por traficantes, e disseminadas por elementos que sempre aparecem como sendo os "bacanas", os "caras legais", ou mesmo por meninhas "populares", sendo um objeto de socialização num universo onde impera a anomia. São na realidade doentes errantes sem quaisquer amparo médico-psiquiátrico. A solução para os seus problemas é a internação em comunidades de trabalho onde possam receber uma doutrinação anti-narcóticos e tratamento médico, e não em faculdades, como ocorria nos países socialistas, assim como a persecução penal daqueles responsáveis pelo tráfico de drogas, que também estão no meio burguês.

Estes indivíduos, alheios a qualquer doutrina política nada representam de positivo para a sociedade, muito pelo contrário, expressam uma ferida aberta nesta, um câncer do capitalismo, sistema campeão em quantidade de narcômanos. Não se percebe em suas publicações qualquer condenação aos narcóticos, reivindicação por melhores condições estudantis ou oportunidades, em fim, mero oportunismo que exige o direito de consumir narcóticos à revelia da lei, reivindicando este privilégio em detrimento dos direitos dos demais cidadãos. O que se vê é uma defesa de interesses de classe pequeno-burgueses, o narcisismo juvenil, egolatria, individualismo e outras posições que nos países socialistas sempre foram considerados vícios burgueses. Será que em Cuba isso acontece? Em Cuba isso sequer se iniciaria! Na Bielorrússia, país que preservou muitos aspectos da União Soviética, assim como na Transnístria, inexistem manifestações em favor de narcóticos, ao passo que no Brasil e em muitos outros países capitalistas esse tipo de manifestação é tolerado pelas autoridades capitalistas. Esse tipo de protesto revela uma grande crise de valores trazida pela "morte das ideologias"(em realidade das idéias), pois e os jovens de ontém protestavam contra uma tirania fascista no Brasil e ao redor do mundo organizavam greves contra ressurgimento do fascismo, como os jovens alemães, contra o capitalismo, contra a guerra Vietnã e contra o capitalismo, a favor do comunismo, hoje os jovens da decadente sociedade onde vivemos vão às ruas para protestar... pelo seu direito de enriquecer os senhores do tráfico, os mesmos que utilizam crianças como escudo humano e "aviãozinho do tráfico". Deve-se perguntar, será que esses supostos "revolucionários uspianos"(pois somente em suas cabeças é que são super-homens revolucionários que estão mudando o mundo) já saíram alguma vez às ruas, trazendo pelo menos 5 colegas para fazer um protesto contra a invasão da Líbia pelos caças e mercenários da OTAN? Pergunto, quantas vezes esses "revolucionários uspianos" se organizaram para protestar contra a invasão do Paquistão pelos VANTs* da CIA? Quantas vezes estes já se organizaram para protestar contra invasões como a do Afeganistão, do Iraque... Provavelmente, a resposta será nenhuma, pois hoje há uma concepção absolutamente equivocada de que "ser de esquerda" é defender a liberalização da maconha e levantar bandeiras estranhas e repudiadas pela classe trabalhadora. Ora, qualquer pessoa de "esquerda" tradicionalmente exige a presença do Estado, que se faz ausente numa instituição que é conhecida por violações da lei. Se uma pessoa defende privilégios de classe, de violar a lei sem ser "importunado" por agentes do Estado, então este indivíduo está tomando posição claramente individualista, defendendo a "supremacia do indivíduo e sua sacrossanta liberdade sem limites", posições claramente de direita. São eles progressistas? Em direção a quê?

A bandeira do socialismo científico não tem uma folha e nem é colorida, é uma bandeira vermelha cuja expressão maior são homens honrados que sempre na hora da luta e mesmo fora dela apresentavam-se sóbrios, sem qualquer tóxico, nunca embriagados, sempre prontos para a luta, defendendo não "privilégios de classe", mas interesses da classe trabalhadora e de seu povo, assim o burguês de nascimento Friedrich Engels não defendia privilégios de classe nem o "sacrossanto individualismo", defendia uma sociedade dirigida pela classe trabalhadora, assim também foi o advogado e filho de latifundiário Fidel Castro Ruz, tendo sido uma das primeiras propriedades a ser repartida com os camponeses as de sua própria família, tendo sido também assim com o médico de origem pequeno-burguesa Esnesto "Che" Guevara de la Serna, que lutava não para que sua família tivesse mais privilégios, mas para que todos os trabalhadores do mundo pudessem ter uma vida digna, com saúde e educação, tendo estes dois quesitos ele inclusive passado a muitos revolucionários e camponeses com quem teve contato, tratando doentes e tentando operar aquela que seria a maior cirurgia de sua vida, a remoção de um tumor cancerígeno chamado "capitalismo".


*VANT: Sigla militar para "Veículo Aéreo Não-Tripulado". Aviões militares que não carregam piloto, sendo controlados à distância por um piloto numa sala através de um computador central. São amplamente usados pelas forças armadas americanas e também pela CIA para efetuar espionagem, violação do espaço aéreo de vários países e inclusive atacar alvos terrestres.

"A bandeira do socialismo científico não tem uma folha e nem é colorida, é uma bandeira vermelha cuja expressão maior são homens honrados que sempre na hora da luta e mesmo fora dela apresentavam-se sóbrios"

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