quinta-feira, janeiro 20, 2011

BRASIL

Um hino que deveria ser o do Brasil
Por Cristiano Alves

Durante muito tempo o Brasil conviveu com hinos inacessíveis à maioria da população, trazendo letras parnasianas, praticamente inacessíveis ao cidadão que nunca frequentou uma escola, aos 16 milhões de analfabetos que este país tem e a outros tantos milhões de analfabetos funcionais que, ainda que tenham frequentado uma escola, foram aprovados em sistemas "automáticos" ou "semi-automáticos". Trata-se de um hino composto há dois séculos atrás, que se por um lado é inacessível por seu parnasianismo, é desatualizado e sem sintonia com as lutas do povo brasileiro.

Diferentes países tem hinos nacionais, sendo estes uma forma de lembrar ao povo que este faz parte dele ou daquele país, para a composição destes hinos, frequentemente são contratados compositores, poetas e escritores que tem alguma sintonia com os ideais no Estado em questão, assim, para a composição do hino americano, por exemplo, foi usada uma letra escrita pelo advogado e poeta amador Francis Scott Key, após este testemunhar a destruição de um forte atacado pelos ingleses, na guerra de 1812, onde os EUA, já independentes, foram derrotados pelo Reino Unido, que chegou a ocupar e incendiar Washington[1], sua melodia, entretanto, era de origem inglesa, embora sem vínculos com o modelo monárquico. Na França, teve lugar a Marselhesa, escrita em conformidade com a Revolução Francesa. Em várias monarquias temos hinos do tipo "Deus Salve a Rainha(o Rei, o Tzar, etc)", há casos curiosos como o holandês, cuja letra do hino diz "eu tenho o sangue alemão" e "respeito o Rei da Espanha", embora o país flamengo mantenha uma política independente da Espanha. Na antiga URSS, firmou-se como "hino de fato" a Internacional, até surgir um hino oficial nascido da II Guerra Mundial nos anos 40.

A Segunda Guerra Mundial popularizou várias canções ao redor do mundo como "Bella ciao", na Itália, "Moorsoldaten", na Alemanha, dentre os prisioneiros dos campos de concentração nazista, "Der Heimliche aufmarsch" também na Alemanha, e várias outras na União Soviética, principalmente "Katyusha", "Svyaschennaya voyna", que adequadamente classifica os fascistas como "estupradores e ladrões, torturadores de pessoas", em um de seus versos, assim como aquela que viria a ser o hino da URSS, cuja melodia era o hino do partido comunista, hoje compondo a melodia do hino da Rússia. No Brasil surgiu uma música que é pouco conhecida, embora se destaque pela sua simplicidade e simbolismo ante outras canções nacionais, a "Canção do Expedicionário".

A Canção do Expedicionário foi criada para apresentar na música quem eram aqueles que haviam se alistado para combater o fascismo na Itália, homens vindo de várias partes do Brasil, "dos pampas, dos seringais, das margens crespas dos rios, dos verdes mares bravios, da minha terra natal". O hino traz uma letra compreensível para a maioria da população brasileira e, pelo seu símbolismo, um momento exaltado por todas as correntes políticas legalizadas em território nacional, a participação da FEB na II Guerra Mundial é talvez o que a história republicana tenha de mais progressista, por parte do Estado brasileiro, razão pela qual o Hino do Expedicionário deveria ser adotado como oficial da república atual, com ligeiras modificações, em respeito aos cristãos ortodoxos e protestantes, judeus, muçulmanos e ateus que existem no Brasil.



Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Do pampa, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Você sabe de onde eu venho?
E de uma Pátria que eu tenho
No bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacaranda,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho de além desse monte
Que ainda azula no horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da cruz !

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil

Um comentário:

Alexandre Rosendo disse...

Ótimo texto, Cristiano. De fato, a um país livre deve corresponder um hino que represente nossa liberdade. Ressalto aqui também o Hino da Independência que, apesar de ter sido composto por um monarca, serviu como canção de combate a todos os patriotas que tombaram na luta revolucionária. Trabalhemos para construir um Brasil cada vez mais brasileiro: Soberano, independente, socialista, mulato por natureza e livre do imperialismo. Forte abraço.