HISTÓRIA
O futuro do socialismo(trecho de entrevista com Anita Leocádia Prestes)
A historiadora condena os que, desde a dissolução da União Soviética, vêem o socialismo como uma ideologia em crise, deslocada da realidade.
"Eu acho que este pensamento se insere dentro da luta ideológica que citei. Sem dúvida, erros e até crimes muito sérios foram cometidos na construção do socialismo, na União Soviética e em alguns outros países do Leste Europeu. Isto foi bem aproveitado pelo imperialismo, palavra que hoje em dia está fora de moda, mas isso foi bem aproveitado e os agentes do imperialismo souberam utilizar as insatisfações justas que existiam na população desses países, em particular a da URSS. Isto contribuiu para a derrota atual, muito séria. Mas, na minha opinião, isto não invalida os objetivos socialistas".
"O socialismo, desde Karl Marx e Friederich Engels, tornou-se uma ciência deixou de ser uma utopia, mesmo que determinadas sociedades tenham cometido graves erros ao tentar implantá-lo. sendo até derrotadas. Isto, porém, não invalida a teoria. É preciso levar em conta que esse socialismo real, que a URSS viveu, teve uma série de características e condições que dificultaram seu desenvolvimento socialista. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a União Soviética foi o primeiro país a experimentar o socialismo e o fez num grande isolamento: de início, 14 países imperialistas fizeram-lhe guerra e invadiram a Rússia Soviética dos primeiros anos. O país era muito atrasado economicamentee e esse ponto de partida já dificultou muito a edificação socialista. Era um socialismo com problemas muito sérios, não era a utopia da massa que se imaginava, um regime popular que seria vitorioso sobre aqueles países capitalistas mais avançados".
Ela lembra que, duas décadas depois, a Segunda Guerra Mundial iria impor um retrocesso muito grande para a URSS. 'Basta lembrar que o pais perdeu 20 milhões de pessoas, além de prejuízos materiais extensos. Toda a Rússia Européia foi praticamente destruída. Imagine a dificuldade para edificar o socialismo em meio a situações tão devastadoras", aponta.
"É preciso salientar que o socialismo não se constrói na base da miséria, do atraso, da falta de recursos."
Família russa morando em um buraco nas ruínas de Stalingrado. Após a II Guerra Mundial, quando os nazistas arruinaram o país, era assim que viviam 25 milhões de russos
Alguns poucos após a II Guerra, todas as famílias que antes moravam em buracos viviam em apartamentos como estes. Eram pequenos e apertados, mas eram moradias dignas
"Essas dificuldades todas, eu acho que contribuíram para o revés do socialismo, o que eu vejo, porém, como passageiro. A propaganda da direita mundial procura fazer com que a opinião publica mundial esqueça inteiramente as conquistas reais que existiam no campo socialista e, em particular, na União Soviética."
Anita cita algumas das conquistas sociais do regime soviético: "Nenhum país capitalista, por mais adiantado que seja (mesmo os Estados Unidos), resolveu as questões sociais como o fez a União Soviética. Todo cidadão soviético, ainda que modestamente, tinha casa para morar. Podia-se morar apertado, mas com decência, e ninguém morava nas ruas. Todo mundo tinha um emprego, todo mundo tinha escola grátis para os filhos, ensino completo inteiramente gratuito, assim como também assistência médica, estendida a toda a população, além de férias para todo mundo. Quer dizer, um bem-estar generalizado, embora em níveis modestos, devido exatamente àquelas dificuldades já apontadas, provocadas por uma implantação socialista em meio à hostilidade internacional e à guerra. Mas, mesmo assim, os problemas sociais estavam resolvidos na União Soviética, o que até hoje nenhum país capitalista desenvolvido conseguiu dar à sua população."
Menina no lixão: cena constante no Brasil, país maior e mais rico que Cuba, onde não há a mesma cena
Veja o caso de Cuba: "Apesar de todo o bloqueio e das condições naturais modestas, pois é uma ilha pequena, Cuba não tem miseráveis, ninguém passa fome, ninguém passa a situação dos miseráveis dos Estados Unidos, ou da Alemanha, ou daqui mesmo do Brasil, que vivem nessa crise gigantesca", assinala a historiadora. "Eu tenho a profunda certeza de que, se meu pai fosse vivo, manteria a convicção que sempre teve, de que o socialismo é a solução para a humanidade. Isto não quer dizer que o caminho do socialismo vá ser exatamente igual ao que se deu na URSS ou em outros países. Os caminhos serão diversificados. Os próprios erros e as experiências desse socialismo que já existiu vão ajudar outros países, futuramente, se possível, a construir sociedades com menos problemas".
"Sem dúvida uma derrota é uma derrota, é problema muito sério. Eu pessoalmente, acho que os comunistas, em âmbito internacional, nessa segunda metade do século, não conseguiram formular uma estratégia para a revolução socialista pelo menos no Ocidente, de acordo com as novas condições. Não conseguiram fazer com a teoria marxista o que Lênin conseguiu fazer no fim do século passado. Lênin inovou. Diante daquela época de imperialismo, ele inovou diante de uma nova realidade. Acho que, na nossa época isso não aconteceu. Mesmo o Partido Comunista Italiano, o mais importante do Ocidente depois da Segunda Guerra, fez várias tentativas, mas não conseguiu. Aqui na América Latina é ainda mais complicado. Quando não se conhece de forma adequada a realidade, quando não se dispõe de pesquisas suficientes para se ter uma visão mais próxima, a tendência é o mimetismo, é a de copiar. E aqui no Brasil essa sempre foi a tendência: copiar o exemplo do exterior, que vem de uma realidade diferente. E o exemplo da Revolução Soviética foi tão esmagador que a tendência era essa mesma: de copiá-la", analisa Anita Prestes.
"Quando ocorre uma derrota a tendência é achar que tudo estava errado e perder a orientação. Isto também é humano. O socialismo está num período de crise, sem dúvida. Novos caminhos terão que ser encontrados. Mas o socialismo não acabou. Enquanto houver capitalismo, a teoria marxista basicamente continua válida. O marxismo, porém, não é um dogma. Como dizia Lênin, o marxismo tem que ser estudado, aplicado e desenvolvido. Não se trata de ficar repetindo o que Marx e Lênin disseram. Trata-se de encontrar os caminhos para o socialismo nessa realidade de hoje, que é bastante complexa e diferente, Ievando-se em conta também a especificidade de cada pais. É o que os cubanos estão procurando fazer."'
Divisão e crise
"O meu pai sempre dizia que, a partir da luta dos trabalhadores, é que surgiriam novas lideranças, que se encontrariam novos caminhos para o socialismo, para a construção de novos partidos e organizações capazes de levar adiante a luta. Eu acho que, no panorama brasileiro atual, nenhuma organização partidária é realmente revolucionária com uma proposta de mudanças e avanços. Mas acredito que acabará surgindo."
Anita Leocádia Preses: "Eu acho que, no panorama brasileiro atual, nenhuma organização partidária é realmente revolucionária com uma proposta de mudanças e avanços. Mas acredito que acabará surgindo"
De acordo com Anita, nosso próprio processo de formação da sociedade brasileira prejudica essa evolução, a partir do movimento popular. A classe dominante brasileira sempre viu triunfarem seus esforços para impedir a organização popular. Isso levou a um crescente desanimo, a uma descrença por parte da população. No século XIX, por exemplo, quantos movimentos populares não foram esmagados? E no nosso século, no período de 1934-35, havia um entusiasmo popular enorme, e logo veio uma derrota. Depois, tivemos outro grande surto de entusiasmo nos anos 60, cortado pelo golpe militar de 1964."
Ela atribui a um fato o pouco avanço social: "Vejo o povo trabalhador altamente desorganizado. Hoje em dia temos, porém uma novidade, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, um movimento de organização elogiável. A própria participação da Igreja Católica é outro fator positivo. Mas, ao longo da história, nossa trajetória é de um movimento popular desorganizado, porque, quando tenta se organizar. vem a repressão."
"A repressão, que houve após 1964, desestruturou e amedrontou as pessoas. Vejo isto na universidade: pessoas muito insatisfeitas, mas descrentes das lideranças, desestimuladas, desinteressadas até para defender seus próprios interesses, as causas as que as afetam diretamente. Assim, é difícil que venham a levantar bandeiras por causas mais amplas."
Anita não julga irremediável esta situação. "Não é uma fatalidade que isto deva permanecer assim. Até mesmo por causa do agravamento da situação social, vai chegar o momento em que haverá uma reação. É neste processo que surgirão novas lideranças, novas formas de organização. Não existe, para o movimento social. uma espécie de receita de bolo. Por enquanto, porém, as forças de esquerda continuam divididas."
Josef Mengele, o "médico monstro", denominado "O anjo da morte", nazista e integrante da Waffen SS, responsável por conduzir experimentos sádicos com seres humanos vivos. Conviveu no Brasil tranquilamente, até sua morte, abrigado pela mesma tirania fascista que prendia e torturava comunistas
A ditadura exerceu um papel muito negativo na formação de lideranças no pais, segundo Anita. "A ditadura impediu que as pessoas pensassem, esterilizou o pensamento. Daí, o que vemos é que nas esquerdas só surgiu o Lula no final dos anos 70. As demais lideranças existentes, como Brizola e Arraes, sao pré-64", afirma.
Anita Prestes lamenta também, que os jovens de hoje sejam as maiores vítimas desse tipo de situação.
"Atualmente, podemos observar na juventude um baixo interesse pela participação política. Existe um clima de desalento, de desencanto mesmo. A politica é vista como sinônimo de safadeza. Cada rapaz e cada moça estão mais interessados em cuidar de sua própria carreira profissional"
3 comentários:
Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.
- Daniel
Pura propagando comuinista
DEUS,FAMÍLIA E PÁTRIA ! UMA GRANDE CATASTROFE ACONTEÇA COM A PÚTRIDA ESQUERDA,QUE MORRAM SUFOCADOS PELOS LIVROS DE CARLOS MARCOS E LÊNIN !
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