BRASIL
Prostituição, ao invés de jornalismo na Folha de São Paulo
Por Cristiano Alves
No último final de semana, uma notícia choca à toda a comunidade cristã brasileira: "Dilma manda retirar Bíblia e cruxifixo de seu gabinete". Essa notícia foi divulgada em jornais impressos e no site deste bordel, em letras garrafais e sem sequer ser assinada.
A "notícia"1 tinha basicamente a seguinte estrutura textual, seis parágrafos. Destes seis, apenas dois se dedicavam ao que é dito no título, os demais apenas se limitavam a dar uma de "Caras" ou talvez "Capricho", dizendo que a presidente mandou trocar os estofados, trocou um computador desktop por um laptop e não tolera atrasos, no final da notícia, alega que a presidenta se sente mais a vontade do que nos dias das eleições.
Enfim, apenas dois parágrafos para falar do assunto proposto e quatro para "encher linguiça", esse é o tipo de "jornalismo" que somos obrigados a tolerar. Ainda que essa notícia fosse verdadeira, ignorando a paupérrima estrutura textual, deve-se perguntar, desde quando o Brasil é uma teocracia? Para quem não sabe, diz a Constituição da República Federativa do Brasil que:
"Art. 5°.
(...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;"
Ainda, o artigo 19 do referido documento, alega que:
"É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na formada lei, a colaboração de interesse público"
Isto é, inexiste qualquer obrigatoriedade do Estado de colocar símbolos religiosos em lugares públicos, seja o crucifixo, Bíblia, Quarto crescente, Estrela de Davi, estátua de Vishnu, de Iemanjá, pé-de-coelho, pentagrama... Aliás, parte da doutrina jurídica defende inclusive a inconstitucionalidade da existência de símbolos religiosos em prédios públicos, inclusive renomados juristas como Pontes de Miranda, dentre vários outros doutores no assunto, quase todos, diga-se de passagem, cristãos convictos. Interessante ressaltar que a liberdade que existe hoje, seja para o ortodoxo, o católico, o protestante, judeu ou muçulmano, se deve à liberdade garantida pelo modelo repúblicano. Em grandes cidades como São Paulo, por exemplo, percebe-se catedrais, sinagogas, mesquitas, terreiros, todos outrora proibidos nos tempos do Império. Vejamos o que dizia a constituição do Império Brasileiro de 25-3-1824, em seu artigo 5°, a respeito do assunto:
"a religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras Religiões são permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma exterior de templo"2
Como vimos, nada obriga nenhuma personalidade pública a manter qualquer tipo de objeto religioso em sua sala de trabalho. Ocorre, entretanto, que apesar de todos estes fatos, a notícia apresentada pela Folha de São Paulo é falsa, tendo sido, inclusive, prontamente desmentida pela jornalista e ministra Helena Chagas, que de tão pouca importância que deu a esse jornal, respondeu por Twitter as acusações. Ocorre que o crucifixo que teria sido retirado era em realidade do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, tendo origem portuguesa e sido dado a este por um amigo. A Bíblia está em cima de uma mesa, numa sala contígua, e também a presidenta não trocou um desktop por um laptop, isto é, a notícia é praticamente quase inteiramente falsa, fruto de um produto de prostituição de indivíduos que venderam seus corpos mentes e almas ao capitalismo liberal, ideologia predominante na Folha de São Paulo.
O impacto desta notícia foi visível em redes sociais, onde em comunidades de católicos vários indivíduos, tomando por verdade o que foi escrito na FSP, começaram a choramingar, ignorando princípios constitucionais elementares.
Exemplo de falsificação grotesca. O aborto não fazia parte do programa de governo do PT. Como retirar o que não há?
Assim, em razão destas e de outras pseudo-notícias, como o famoso caso da Coréia Popular, que não transmitiria os jogos da Copa do Mundo de 2010, exceto em caso de vitória do time, o que se mostrou falso, é que constitui uma verdade inexorável alegar que nesse tipo de jornal não trabalham jornalistas, mas sim trolls3, e que aquilo que se lê na imprensa da burguesia é falso até que o contrário seja provado, a julgar pela enorme quantidade de notícias falsas e factóides. Embora Dilma tenha já alegado que prefere o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras, é importante enfatizar que "imprensa" jamais poderá ser confundido com casas de fofoca ou prostituição que, por sua falta de ética e de profissionalismo, distorcem o sentido da palavra "jornalismo", razão pela qual este instrumento nefasto não deve ter sua concessão renovada
A credibilidade da Folha de São Paulo é a mesma de um pedaço de papel higiênico sujo, não merecendo a consideração de qualquer pessoa séria. É parte integrante de um sistema sujo. O capitalismo mais reacionário sustenta-se através de mentiras e falsificações, conforme já demonstrado em A Página Vermelha, tudo isso para encobrir os crimes de um modelo nefasto e genocida. Aqueles que defendem a sua ideologia ou simplesmente com ele simpatizam são cúmplices de todos os seus crimes.
2- QUEIROZ, Fernando Fonseca. Brasil: Estado laico e a inconstitucionalidade da existência de símbolos religiosos em prédios públicos. Artigo jurídico publicado no site Jus Navigandi. Em http://jus.uol.com.br/revista/texto/8519/brasil-estado-laico-e-a-inconstitucionalidade-da-existencia-de-simbolos-religiosos-em-predios-publicos
3- Troll: denominação usada na internet para indivíduos cujo objetivo é semear a discórdia, normalmente a partir de notícias falsas ou mentiras. Um exemplo clássico de troll é o indivíduo que, numa página sobre música clássica escreve que "aqueles que ouvem música clássica são menos homens do que quem escuta outro gênero". A expressão é uma referência à criatura mitológica sueca, citada nos livros de Selma Lagerlöf, cuja atividade principal era destruir o que os homens construíam, razão pela qual gostavam de viver em ambientes subterrâneos.
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