sábado, janeiro 15, 2011

BRASIL

Prostituição, ao invés de jornalismo na Folha de São Paulo
Por Cristiano Alves

No último final de semana, uma notícia choca à toda a comunidade cristã brasileira: "Dilma manda retirar Bíblia e cruxifixo de seu gabinete". Essa notícia foi divulgada em jornais impressos e no site deste bordel, em letras garrafais e sem sequer ser assinada.

A "notícia"1 tinha basicamente a seguinte estrutura textual, seis parágrafos. Destes seis, apenas dois se dedicavam ao que é dito no título, os demais apenas se limitavam a dar uma de "Caras" ou talvez "Capricho", dizendo que a presidente mandou trocar os estofados, trocou um computador desktop por um laptop e não tolera atrasos, no final da notícia, alega que a presidenta se sente mais a vontade do que nos dias das eleições.

Enfim, apenas dois parágrafos para falar do assunto proposto e quatro para "encher linguiça", esse é o tipo de "jornalismo" que somos obrigados a tolerar. Ainda que essa notícia fosse verdadeira, ignorando a paupérrima estrutura textual, deve-se perguntar, desde quando o Brasil é uma teocracia? Para quem não sabe, diz a Constituição da República Federativa do Brasil que:

"Art. 5°.
(...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;"

Ainda, o artigo 19 do referido documento, alega que:

"É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na formada lei, a colaboração de interesse público"

Isto é, inexiste qualquer obrigatoriedade do Estado de colocar símbolos religiosos em lugares públicos, seja o crucifixo, Bíblia, Quarto crescente, Estrela de Davi, estátua de Vishnu, de Iemanjá, pé-de-coelho, pentagrama... Aliás, parte da doutrina jurídica defende inclusive a inconstitucionalidade da existência de símbolos religiosos em prédios públicos, inclusive renomados juristas como Pontes de Miranda, dentre vários outros doutores no assunto, quase todos, diga-se de passagem, cristãos convictos. Interessante ressaltar que a liberdade que existe hoje, seja para o ortodoxo, o católico, o protestante, judeu ou muçulmano, se deve à liberdade garantida pelo modelo repúblicano. Em grandes cidades como São Paulo, por exemplo, percebe-se catedrais, sinagogas, mesquitas, terreiros, todos outrora proibidos nos tempos do Império. Vejamos o que dizia a constituição do Império Brasileiro de 25-3-1824, em seu artigo 5°, a respeito do assunto:
"a religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras Religiões são permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma exterior de templo"2

                   Catedral ortodoxa e sinagoga em São Paulo. Nos tempos do Império, estes templos jamais existiriam

Como vimos, nada obriga nenhuma personalidade pública a manter qualquer tipo de objeto religioso em sua sala de trabalho. Ocorre, entretanto, que apesar de todos estes fatos, a notícia apresentada pela Folha de São Paulo é falsa, tendo sido, inclusive, prontamente desmentida  pela jornalista e ministra Helena Chagas, que de tão pouca importância que deu a esse jornal, respondeu por Twitter as acusações. Ocorre que o crucifixo que teria sido retirado era em realidade do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, tendo origem portuguesa e sido dado a este por um amigo. A Bíblia está em cima de uma mesa, numa sala contígua, e também a presidenta não trocou um desktop por um laptop, isto é, a notícia é praticamente quase inteiramente falsa, fruto de um produto de prostituição de indivíduos que venderam seus corpos mentes e almas ao capitalismo liberal, ideologia predominante na Folha de São Paulo.

O impacto desta notícia foi visível em redes sociais, onde em comunidades de católicos vários indivíduos, tomando por verdade o que foi escrito na FSP, começaram a choramingar, ignorando princípios constitucionais elementares.

Exemplo de falsificação grotesca. O aborto não fazia parte do programa de governo do PT. Como retirar o que não há?

Assim, em razão destas e de outras pseudo-notícias, como o famoso caso da Coréia Popular, que não transmitiria os jogos da Copa do Mundo de 2010, exceto em caso de vitória do time, o que se mostrou falso, é que constitui uma verdade inexorável alegar que nesse tipo de jornal não trabalham jornalistas, mas sim trolls3, e que aquilo que se lê na imprensa da burguesia é falso até que o contrário seja provado, a julgar pela enorme quantidade de notícias falsas e factóides. Embora Dilma tenha já alegado que prefere o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras, é importante enfatizar que "imprensa" jamais poderá ser confundido com casas de fofoca ou prostituição que, por sua falta de ética e de profissionalismo, distorcem o sentido da palavra "jornalismo", razão pela qual este instrumento nefasto não deve ter sua concessão renovada

A credibilidade da Folha de São Paulo é a mesma de um pedaço de papel higiênico sujo, não merecendo a consideração de qualquer pessoa séria. É parte integrante de um sistema sujo. O capitalismo mais reacionário sustenta-se através de mentiras e falsificações, conforme já demonstrado em A Página Vermelha, tudo isso para encobrir os crimes de um modelo nefasto e genocida. Aqueles que defendem a sua ideologia ou simplesmente com ele simpatizam são cúmplices de todos os seus crimes.

2-  QUEIROZ, Fernando Fonseca. Brasil: Estado laico e a inconstitucionalidade da existência de símbolos religiosos em prédios públicos. Artigo jurídico publicado no site Jus Navigandi. Em http://jus.uol.com.br/revista/texto/8519/brasil-estado-laico-e-a-inconstitucionalidade-da-existencia-de-simbolos-religiosos-em-predios-publicos
3- Troll: denominação usada na internet para indivíduos cujo objetivo é semear a discórdia, normalmente a partir de notícias falsas ou mentiras. Um exemplo clássico de troll é o indivíduo que, numa página sobre música clássica escreve que "aqueles que ouvem música clássica são menos homens do que quem escuta outro gênero". A expressão é uma referência à criatura mitológica sueca, citada nos livros de Selma Lagerlöf, cuja atividade principal era destruir o que os homens construíam, razão pela qual gostavam de viver em ambientes subterrâneos.

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