Brestskaya Krepost (2010)
Por Cristiano Alves
Brestskaya Krepost(A Fortaleza de Brest) é um filme bielorrusso feito em parceria com a Rússia, do ano 2010, ano que marcou os 65 anos da vitória sobre o fascismo. Para muitos este foi talvez o melhor, mas com certeza um dos melhores filmes de guerra feito nos últimos 20 anos, trazendo a guerra da perspectiva dos soldados da heróica guarnição do extremo ocidente da União Soviética, hoje, ponto mais ocidental da República de Belarus, sua produção foi inclusive elogiada por seu presidente, Aleksander Lukashenko.
Muitas pessoas no mundo provavelmente já ouviram falar de Stalingrado, Leningrado ou, se gostam de olhar mapas, talvez mesmo Kaliningrado, que diferente das outras cidades, ainda leva o mesmo nome(a despeito da região de São Petersburgo ser ainda chamada "Região Leningradense"), poucos, entretanto, ouviram falar dos comunistas da Fortaleza de Brest, aliás, os próprios soviéticos, só vieram saber de seus feitos durante os anos 60, quando vieram a tona documentos e depoimentos que relatavam o que realmente aconteceu lá.
O jovem cadete Sashka Akimov, que nos relata a história
A Fortaleza de Brest, cidade bielorrussa que foi reconquistada pelos soviéticos em 1939, quando os nazistas invadiram a Polônia e o governo deste país colapsou, deixando de existir de fato e de direito, o que possibilitou aos comunistas retomar áreas de maioria bielorrussa e ucraniana, que 20 anos antes pertenciam a estes países. Esse avanço possibilitou construir uma linha de defesa que retardou o avanço fascista e salvou a capital Moscou, como bem atestado pelo historiador belga Ludo Martens. Um sistema de muralhas, fossos, pontes e torres abrigavam tropas de infantaria e artilharia que guardavam a fronteira que então separava a URSS da Alemanha. O foco do filme está na história de 3 comandantes notáveis desta fortaleza, o major Gavrilov, comandante da Fortaleza, o comissário político Yefim Fomin e o capitão Ivan Zubachyov, todos de etnias diferentes, o primeiro era tártaro, o segundo judeu e o último era russo, entre eles havia algo em comum, eram todos militares, comunistas exemplares e tinham consciência da necessidade de resistir, todos eles receberam a condecoração e título máximos do país: a estrela dourada de Herói da União Soviética.
Foto da parede da Fortaleza de Brest contendo a inscrição "Por Stalin"
O enredo do filme inicia-se com um dia de rotina na vida soviética, 12 horas antes de iniciar a invasão nazista. Livre de clichês holywoodianos, no filme os soldados aproveitam um final de semana com suas famílias tirando fotos, indo a bailes, cavalgando, jogando xadrez, indo ao cinema do quartel ou namorando. Seu principal relator é um garoto, cadete da banda musical, que testemunhara de perto a guerra, tal como o garoto do filme "Idi e Smotri"(Vá e veja), de 1985, também bielorrusso. Alguns soldados, entretanto, discutem rumores trazidos por desertores alemães e por poloneses, anunciando uma eminente invasão alemã, o que entretanto não foi levado a sério, visto que falavam em eminentes datas. O comandante da guarnição, o Major Gavrilov, já tinha suas preocupações e a propagação deste rumor acaba levando a Fortaleza a receber uma visita de um agente do NKVD, um jovem tenente que fora investigar a origem dos rumores. Diferentemente dos filmes de guerra ocidental, notadamente antisoviéticos, o tenente do NKVD não é um açouguero sedento de sangue interessado em fuzilar soldados soviéticos, é um personagem simpático, que dança muito bem, a despeito de seu peso avantajado, e que é cortêz com seus camaradas do Exército.
Major Pyotr Mihailovich Gavrilov em foto jovem(esq.) e Alexander Korshunov em seu papel(dir.)
De fato, o filme traz um tópico abordado até então apenas no "Comando 10 de Navarrone", o uso de tropas diversionárias. No filme, de um trem recém chegado com uma suástica chegam vários soldados portando uniformes comunistas, do NKVD, e armas soviéticas, todos falando alemão, diversionários que cortaram as comunicações e a eletricidade da Fortaleza, de modo a dificultar sua defesa, um desses diversionários, numa tentativa frustrada de levar os soldados para uma cilada, é desmascarado pelo tenente do NKVD, que o identifica por causa da tacha de seu coturno, de origem alemã. Numa outra cena, os nazistas capturam os civis que estavam na Fortaleza e oferecem todos eles em troca do comissário político, que anda até eles desarmado, só que ao invés do que ocorreria num filme americano, o comissário grita a todos para deitarem-se e snipers e metralheiros abatem os fascistas.
Comissário político Yefim Fomin e Pavel Derevyanko representando o seu papel, em Brestskaya Krepost
Brestskaya Krepost traz algumas cenas muito fortes, embora sem excessos gráficos, numa delas, por exemplo, civis são colocados para fora da Fortaleza, até serem metralhados pelos alemães, após algum tempo, no filme, um carro de combate passa por cima dos corpos, com suas lagartas, o que deixa o chão completamente vermelho, embora isso aconteça com a câmera muito alta, filmando de cima a cena. O filme traz alguns soldados sem braços, vítimas das bombas alemãs, e há uma cena em que a bela mocinha que namorava o militar responsável pelo cinema acaba sendo capturada pelos nazistas, o filme, diferente de Vá e Veja, não retrata o que exatamente aconteceu à moça. Outra cena produzida, ainda, é a dos bombardeios Stuka, assim como um dogfight de dois caças nazistas contra um comunista
Avião soviético abatido em combate no filme Brestskaya Krepost
Brestskaya Krepost não traz tantos clichês patrióticos da era soviética, procurando enfatizar a luta que os soldados travaram, embora sem desvinculá-los do seu significado político. A cena, por exemplo, em que o Major Gavrilov faz um discurso pregando a resistência incondicional e envia o garoto que relata-nos a história para anunciar a todos os outros que comandavam a guarnição para que resistissem. Talvez os americanos, antes de fazer seus filmes injuriosos e difamatórios contra os comunistas do Exército Vermelho, jamais soubessem que a Fortaleza de Brest levou mais de 1 mês para ser tomado pelos nazistas, em razão da sua obstinada resistência, feita sob cerco, praticamente sem água, sem reforços, sem diretrizes do governo e praticamente sem comunicação, exceto por um telegrafista que repete uma voz que faz eco na mente do espectador: "ya krepost, ya krepost, derjú abaronu"(sou a fortaleza, sou a fortaleza, mantenho a defesa).
Para muitos historiadores, a Fortaleza de Brest representou o prólogo da vitória do humanismo sobre o racismo, tendo sido um enorme obstáculo no caminho dos fascistas. Estima-se que 5% do efetivo total alemão, só nos primeiros dias, foi perdido na Fortaleza de Brest. Embora ela tenha caído no final de junho, alguns soldados continuaram a oferecer resistência a partir dos esgotos, incluso o proprio major Gavrilov. Uma vez que o livro de Sergei Smirnov, jornalista investigativo, foi publicado em 1957, os feitos heróicos dos resistentes da Fortaleza de Brest passaram a ser internacionalmente reconhecidos. Esta guarnição recebeu o título de "Fortaleza Heróica" e hoje é um dos principais pontos turísticos da Bielorrússia, sendo também um importante ponto da guarnição do país, lá serviram nomes como Alexander Lukashenko, atual presidente de Belarus, como guarda de fronteira.
O então Sgt. Alexander Lukashenko, do Exército Vermelho, hoje presidente de Belarus, na guarnição de Brest
Brestskaya Krepost, sob a direção de Alexander Kott, é um drama de guerra único, uma vez que foca nos primeiros dias da guerra para os soviéticos, assim como Pearl Harbor focou no primeiro dia da guerra para os americanos, com a diferença de que seu desfecho tem um sentido muito mais profundo, assim como o filme como um todo, a julgar pelo realismo de suas cenas, de sua história e a brilhante atuação dos atores, com pouquíssima fantasia. Sem dúvidas um filme que marcará o cinema e tem seu lugar dentre os melhores filmes de guerra já feito nos últimos 20 anos.
Site oficial: http://brestkrepost-film.ru/
4 comentários:
A verdade é que Soviéticos e Alemães DIVIDIRAM a Polonia entre eles. Stalin aproveitou para executar 20 mil poloneses em Katyn e ainda saiu como o grande salvador do povo.
ERRADO! Não se pode dividir algo que não existe.
A URSS só pegou de volta partes da Bieorrússia e Ucrânia que haviam sido tomados do país no final da I Guerra Mundial.
Quando os nazistas invadiram a Polônia, o governo polonês colapsou, deixou de existir, assim a União Soviética recuperou esses territórios, uma vez que já eram zona contestada. Graças a isso, os bielorrussos e ucranianos não caíram sob a tirania nazista. Graças a isso, a URSS ampliou suas linhas de defesa e impediu os alemães de entrarem em Moscou.
Se você nega isso, só podemos entender como uma simpatia pelos nazistas da sua parte.
não sabia que o lukashenko tinha servido lá
esse filme é interessante para que a população desses paises novamente tenha orgulho de seu passado
Tudo mentira? Tudo obra dos porcos capitalista? Holodomor,Katyn, expurgos, gulags, crimes da NKVD, massacre do povo em TODAS as revoluções comunistas? Tudo isso é invenção do maldito capitalismo para difamar homens de bem do naipe de Stalin? Então é isso? Responda por favor, caro comunista.
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