segunda-feira, janeiro 20, 2014

TEORIA: Na onda do marxismo ocidental

Por Thelman Madeira de Souza


Foto: Karl Kautsky

A luta feroz contra os detratores do marxismo começa, antes mesmo do eclodir da revolução proletária na Rússia (25 de Outubro-7 de novembro de 1917), quando Lenin escreve O Estado e a Revolução, cujo texto demonstra que a maior autoridade da II Internacional, o teórico Karl Kautsky, deturpava a doutrina de Marx.

Na visão do renegado Kautsky, o marxismo deveria ser esvaziado do seu conteúdo revolucionário de luta, isto é, da ditadura do proletariado. Sem se deter na análise da deturpação teórica, contida na argumentação de Kautsky, Lenin prossegue ajustando contas com aqueles que insistem em caminhar a reboque da ideologia burguesa, isto é, os revisionistas de diversos matizes.

Nessa categoria, também, encontra-se a judia polaca Rosa Luxemburgo, que se destacou por atacar o programa dos marxistas russos e negar o direito das nações à autodeterminação, com base apenas em definições jurídicas e desconsiderando o aspecto sócio-econômico dos movimentos nacionais, uma exigência da teoria marxista para a análise de qualquer questão social.

Sem perceber que autodeterminação significava a formação do Estado nacional, morreu defendendo a espontaneidade das massas, no lugar do trabalho de organização partidária, em total dissonância com os princípios marxistas.

Ainda nessa linha de traição ao marxismo, no período pre- e pós- revolução bolchevique, surge o mais nocivo dos revisionistas, Léon Trotski, a quem Lenin deu um combate sem tréguas. Inimigo declarado da posição bolchevique, no seio do Partido Comunista da URSS, Trotski trava uma luta declarada contra o leninismo (o marxismo da era do imperialismo e da revolução proletária), opondo-se ao programa de construção do socialismo na URSS.

Apesar da soberba, a sua "contribuição teórica" ao marxismo beira à mediocridade, limitando-se a um opúsculo sobre a revolução permanente, um escrito anticientífico, refutado pelo desenvolvimento social na URSS, e vista por analistas isentos como uma aplicação da doutrina sionista. Em sua escalada de injúrias ao Estado soviético, Trotski buscou desintegrar a ditadura do proletariado e abrir caminho para a contra-revolução. No entanto, as suas pretensões não se realizaram graças à firmeza da direção leninista do Estado soviético.

Esses exemplos de revisão do legado de Marx não passavam de uma pretensão descarada de reescrever o marxismo, com as tintas da ideologia burguesa. São o que Lenin chamou de revisionismo, que não deve ser entendido de uma forma ampla e positiva, mas, sim, como o rompimento com o socialismo real e científico de Marx.
Do ponto de vista do seu conteúdo, o revisionismo sempre caminhou a reboque da ciência acadêmica burguesa. E é dos meios acadêmicos que brota uma nova forma de revisionismo, o marxismo ocidental.

Essa erva daninha surge, por volta de 1920, como um questionamento ao marxismo soviético, que, segundo os marxistas ocidentais, valoriza mais o determinismo econômico, no lugar da cultura, filosofia e da arte. Os defensores mais destacados dessa interpretação oportunista do marxismo foram Giórgy Lukács, Antonio Gramsci, Merleau-Ponty, Sartre e os representantes da Escola de Frankfurt. Em comum, defendiam o retorno ao jovem Marx, a rejeição à dialética de Engels, a valorização do papel dos intelectuais e a ênfase nos conceitos de consciência e subjetividade.

O seguimento dessa guinada antimarxista é a teoria crítica lançada, em 1937, por Max Horkheimer, diretor do Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt, que propunha a substituição do materialismo dialético por um materialismo mais aceitável.

Embora se apresentassem como o resgate do vigor crítico do pensamento de Marx, esses teóricos, diferentemente de Lenin, nada acrescentaram ao marxismo, pois encontravam-se em total desacordo com a concepção que Marx tinha da história. Longe de enriquecer o marxismo, tentaram sepultar e esquecer Marx, apesar das honrarias acadêmicas do féretro.

Quando retiraram o conteúdo revolucionário da teoria de Marx, reduziram uma filosofia transformadora a uma filosofia do sujeito, onde a existência paira acima de tudo e de todos. Teóricos da superestrutura, fugiam da crítica da economia política. Com o passar dos anos, a Escola de Frankfurt acabou ficando na crítica pela crítica, isto é, atendo-se apenas a especulações estéreis e esquecendo o aspecto revolucionário da filosofia marxista. É o exemplo gritante da esperteza do dever ser.

Com uma postura arrogante e odienta, em relação ao campo soviético, o marxismo ocidental, em todas as suas vertentes, jamais se propôs reinterpretar a teoria de Marx, de maneira séria e honesta, com base no papel histórico do primeiro Estado socialista do mundo, que enfrentava o cerco imperialista e a sabotagem interna dos cooptados pela contra-revolução. Longe disso, essa corrente revisionista fingia ignorar que a essência de qualquer Estado é a ditadura da classe dominante, no caso, o proletariado que tomara em suas mãos o poder político.

Portanto, ao fugir da realidade, o marxismo ocidental foi, paulatinamente, absorvido pela ideologia burguesa e, hoje, não passa de um instrumento teórico a serviço do capitalismo. Sem medo de errar, pode-se afirmar que o marxismo ocidental contribuiu para o aniquilamento do campo socialista, em especial, quando solapou a influência positiva da União Soviética, nas lutas de libertação nacional dos povos coloniais. O seu trabalho de sapa prosseguiu e se fez sentir, quando da realização do XX Congresso do Partido Comunista da URSS, em 1956, oportunidade em que Kruschev, adotando uma postura revisionista, dá início à destruição do regime soviético, pela via da demonização de Stálin.

Nessa data, sob a influência do marxismo ocidental, as discussões teóricas buscaram afastar o partido dos princípios mais caros do marxismo, como ditadura do proletariado, centralismo democrático e luta de classes, ao mesmo tempo em que se faziam revelações caluniosas e sem provas contra aquele que libertou o mundo do nazismo, o Marechal Stálin. A consequência imediata da denúncia irresponsável e revanchista foi semear a dúvida e estimular a dissidência, no bloco socialista, além de jogar no antissovietismo a maioria dos partidos comunistas, cujos dirigentes, por oportunismo e fraqueza teórica, tonaram-se reféns da forma mais nefasta do revisionismo de direita.

Nessas circunstâncias, não é de surpreender que, no Brasil, não seja diferente. Em outras palavras, aqui, também, os ditos Partidos Comunistas se deixaram influenciar por uma academia que ainda confunde marxismo ocidental com a teoria de Marx. Em nosso meio universitário, diga-se de passagem, com baixo lastro intelectual, o que mais se vê são acadêmicos que não pensam com o próprio bestunto, acostumados, que são, a pensarem com as cabeças de teóricos europeus e americanos.

Dessa gente, pode-se dizer que até a alma é colonizada, pois possuídos de um sentimento de inferioridade, incutido pela classe dominante, jamais ousam questionar o entulho teórico alienígena. Para eles, é mais confortável passar para os trilhos do revisionismo, adotando um discurso antissocialista, do que prosseguir na defesa de uma formulação teórica, capaz de questionar o modo de produção capitalista.
Já que é assim, só lhes resta, Partidos Comunistas e seus mentores intelectuais, desmerecer as obras de Marx, Engels, Lenin e Stálin e surfar, na onda festiva do marxismo ocidental, enaltecendo o revisionismo de Lukács, Gramsci e Néstor Khoan e vendo aspectos positivos em Trotski.



Nota: Estes artigos de opinião são para discutir com classe e com a devida argumentação, não para lançar pueris ataques na página de Facebook sem qualquer fio de comentário inteligente. Grato pela compreensão. Timothy Bancroft-Hinchey, Director e Chefe de Redacção da versão portuguesa da Pravda.Ru

5 comentários:

Carlos disse...

O autor do texto comete erros de forma e de análise das questões que importa notar:
1- É preciso cuidado na utilização da palavra "científico". A qualificação de científico ao socialismo de Marx e Lenin refere-se em oposição ao socialismo utópico dos primordiais socialistas franceses Saint-Simon etc., que predicavam uma utopia socialista não baseada na realidade material, histórica e económica da sociedade, algo que alguns socialistas mais jovens ou ingénuos ainda fazem. Nada tem a ver com o científico da academia, burguesa ou não. Não existe ciência burguesa ou ciência proletária (que obedeçam a leis diferentes), se ciência proletária é aquela feita em países socialistas, então temos que nos lembrar que ela foi construida nos alicerces da ciência burguesa, anteriormente existente. A ciência parte sempre da acumulação de conhecimentos humanos, não existe uma ciência feudal ou uma ciência escravista. 1 + 1 = 2 independentemente se num país capitalista ou num país socialista. Há que distinguir entre aquilo que as ciências sociais entendem por ciência e aquilo que são as ciências puras e naturais, cujo conhecimento vem sendo construído desde o início da humanidade, independentemente do sistema sócio-económico. Há também que ter em atenção que a ciência implica discussão de ideias, por vezes opostas ou paralelas, mas que é essa discussão feita de uma forma honesta em busca dos factos e da verdade que faz progredir a ciência. Rejeitar uma teoria qualificando-a de não científica, necessita provar porque não é científica. E nisso Marx, Engels e Lenin nunca deixaram de fazer uma análise séria das ideias dos adversários. Nem é preciso dizer mais de que a grande obra de Marx é "O Capital" um estudo sobre o capitalismo, não um estudo sobre o socialismo...
2- Acho de muito mau gosto denominar Rosa Luxemburgo como a judia polaca. A forma utilizada é o tipo de tirada que um nazi utilizaria. Então o autor deveria chamar de Marx o judeu alemão ou Lenin o ortodoxo cristão russo e Mandela o preto.. Um Marxista, não pensa desta forma racista, um verdadeiro Marxista-Leninista é internacionalista, não usa este tipo de expressão. Senão estamos a prestar um serviço ao sionismo, ao identificar todos os judeus com o sionismo, que é precisamente o que os sionistas pretendem, que seria o mesmo que dizer que todos os alemães são nazis.
3- Não concordamos com as teorias deste ou daquele pensador? Isso não quer dizer que não sejam um contributo para a discussão política e teórica, o que fará avançar a "ciência". Pelo contrário rejeitar a priori qualquer teoria que seja diferente daquilo que Marx ou Lenin disseram, qualificando-a de revisionista, isso não é científico. Isso apenas promove a estagnação mental. As teorias científicas são constantemente postas à prova...
Por outro lado, há um fundo de argumentação correcta no texto, que é a realidade de que a maior parte dos socialistas e dos partidos comunistas atualmente existentes no mundo são revisionistas, abandonaram o conceito de luta de classes, e entram em coligações com a burguesia servindo de muleta a esta, etc.
Mas como referi acima a argumentação deste artigo está muito incorrecta, do ponto de vista Marxista-Leninista.
Se o Marxismo ocidental, tão fraco teoricamente, contribui para a derrocada do bloco socialista, então esse bloco socialista era mesmo muito fraquinho. Não, não foi essa a razão... foi precisamente a falta de trabalho teórico no bloco socialista, a corrupção e o abandono dos princípios correctos do Marxismo-Leninismo que causaram essa derrocada. Quanto mais se falar sobre Marxismo, mais pessoas vão querer saber mais e a verdade virá ao de cima, sempre. Em ciência teorias erradas não perduram.
Muito fica por dizer, mas espero que o que disse se entenda como uma argumentação digna e não um ataque pueril.

A Página Vermelha disse...

Concordo com sua colocação sua a "judia polaca". Aliás, não entendo por que o autor referiu-se à nacionalidade de Rosa, mas calou-se sobre a de Kautsky(que era tchecoeslovaco). Além disso, essa colocação não apenas ofende os camaradas judeus, como também poloneses. É sabido que no Brasil até mesmo poloneses étnicos são espinafrados quando falam em "polacas" por causa da conotação pejorativa que esse termo ganhou.
Entendo que quando o autor fala em "ciência burguesa", ele se refere aos paradigmas da burguesia, e nisso ela se difere e muito da socialista. Por exemplo, até recentemente a ciência burguesa considerava científica a eugenia, enquanto a socialista a negava enfaticamente, inclusive desprezando a genética por associá-la à eugenia.
Em nenhum momento o autor nega a contribuição de Karl Kautsky ou de Rosa Luxemburgo, apenas mostra como seus desvios tiveram um enorme prejuízo à unidade marxista e como suas teorias levaram ao fracasso revolucionário no ocidente. Em nenhum momento ele também a classifica como revisionista apenas por "ir contra o que Marx dizia", e sim por ter servido à burguesia, e isso Lenin nos ensina muito bem em suas obras e é facilmente constatado na política internacional moderna.
A social-democracia europeia, como bem demonstra Ludo Martens, promove capitalismo selvagem e destrói países como a Líbia, rejeita uma resistência iraquiana e combate as massas do terceiro mundo ombro a ombro com o imperialismo liberal anglo-americano.

A Página Vermelha disse...

"Mas como referi acima a argumentação deste artigo está muito incorrecta, do ponto de vista Marxista-Leninista.
Se o Marxismo ocidental, tão fraco teoricamente, contribui para a derrocada do bloco socialista, então esse bloco socialista era mesmo muito fraquinho."

O texto não diz que "o marxismo ocidental foi determinante para derrubar o bloco socialista", apenas o coloca como fator que contribuiu. Aliás o historiador marxista-leninista Ludo Martens não apenas argumenta nessa linha como o prova em seu artigo "A social-democracia também promove capitalismo selvagem". A social-democracia não teve pudor algum em ingressar na OTAN e investir milhões na propaganda anticomunista. Junto com os demais imperialistas, os capitalistas sociais-democratas representaram 2/3 do mundo contra o bloco socialista.

"Não, não foi essa a razão... foi precisamente a falta de trabalho teórico no bloco socialista, a corrupção e o abandono dos princípios correctos do Marxismo-Leninismo que causaram essa derrocada. "

Essa foi uma das razões, a falta de trabalho teórico foi outra razão. E sem dúvidas o abandono da teoria da luta de classes foi um fator determinante.

Revistacidadesol disse...

Oi, Cristiano e Carlos. É urgente criticar o marxismo ocidental mesmo. Ele não tinha prestígio algum antes do XX Congresso.

Em geral, esses autores praticam anticomunismo. Zizek, que apoia o resgate dos bancos, denuncia que muitos franquifurtianos apoiavam a guerra americano no Vietnã.

Meszaros e Lukács também parecem ter ganho respeito no ocidente a partir do apoio à contrarrevolução de 56.

Abs do Lúcio Jr.

Felipe disse...

O fato do marxismo ocidental ser chamado de revisionista se justifica por causa dos autores que o representam misturarem as idéias de Marx (que era materialista) com as de outros filósofos de matriz idealista.