8 de março
Quem foi Marina Raskova
Por Cristiano Alves
Durante os tempos do Império Russo, as mulheres operárias e camponesas vivenciavam um estado de submissão e ignorância, a elas eram negados direitos básicos como a educação, sendo muitas analfabetas, tendo sua vida econômica restrita a algumas atividades braçais, à escravidão doméstica ou, em certos casos, à prostituição. Apenas as mulheres que faziam parte da nobreza tinham acesso a alguns direitos além destes, sendo alfabetizadas, porém, a Revolução de Outubro de 1917, como toda revolução comunista, estendeu direitos antes limitados apenas à aristocracia, como o de saberem ler e escrever, a todas as trabalhadoras e camponesas do país. Nos anos 20 e 30, entretanto, elas viriam a dar passos muito mais longos.
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Privilégios como o acesso às idéias mais modernas, uma formação filosófica e cultural se restringiam às elites russas até a Revolução de 1917, a pessoas como Catarina II, autocrata de Toda a Rússia |
A aviação dava seus primeiros passos nos anos 20, o invento de Alberto Santos Dumont ganhava novas dimensões e capacidades que até então eram estranhos para homens e mulheres. Poderia o homem voar? Esta pergunta, cuja resposta negativa consistia uma "verdade eterna", cuja resposta afirmativa era até então apenas uma mera afirmação de loucos, foi devidamente respondida com o século XX, entretanto, com tantos avanços, as mulheres, consideradas inferiores aos homens, seriam capazes de operar máquinas voadoras?
Amelia Earheart, filha de um influente banqueiro e de uma família cheia de fortunas, foi uma mulher pioneira na aviação, cruzando o Oceano Atlântico e recebendo condecorações americanas e francesas, além de ser uma ativista pelos direitos das mulheres, embora sua defesa fizesse apologias à propriedade privada dos meios de produção, no "Partido National das Mulheres", burguês. Será que no país dos sovietes, até então conhecido por ser um país de "meros camponeses" alcançar tamanha façanha em um meio de transporte de tamanho avanço tecnológico?
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Amélia Earheart, aviadora americana filha de um próspero banqueiro |
Marina Malinina era uma jovem soviética, morena e amante da música clássica, filha de um cantor russo. Durante sua infância, tinha o sonho de se tornar uma cantora lírica, de ópera. Por um acidente no destino, as circunstâncias mudaram. Seu pai morreu atropelado por uma motocicleta em 1919, quando então tinha 7 anos de idade. Mesmo com seus estudos de música, ela sofria constantemente de stress, até trocar a música pela química, graduando-se em 1929 e passando a trabalhar numa fábrica de tinturas como química. Após casar-se com o engenheiro Sergey Raskov, tornando-se então Marina Raskova, ela passou a trabalhar no Laboratório de Aviação da Academia da Força Aérea Soviética, onde ganhou interesse pela aviação e fazendo curso de navegadora e de piloto. A função de navegadora tinha uma enorme importância numa era em que não existia o radar.
Após o término do curso, Marina Raskova tornou-se a primeira navegadora e piloto da Força Aérea Soviética. Um ano depois ela se tornou a primeira instrutora de vôo da academia da Força Aérea, tornando-se ainda célebre por estabelecer vários recordes no país, a maioria entre 1937 e 1938. Um desses conferiu à Marina Raskova e a outras duas camaradas suas, Polina Osipyenko e Valentina Grizodubova o mesmo status de Yuri Gagárin viria a desfrutar na URSS nos anos 50. Marina e suas camaradas aceitaram o desafio de voar seis mil quilômetros, de Moscou a Komsomolsk-sobre-o-Amur, distância equivalente a uma ida e vinda de São Paulo a Fortaleza, pilotando um avião que seria batizado como "Rodina"(Pátria), um Antonov 37, de controles mecânicos, que exigia força para manusear seu manche, avião bimotor e capacidade de vôo muito inferior ao dos aviões modernos.
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Antonov-37, fabricado na Ucrânia soviética |
O vôo das "três irmãs" eram uma sensação nas rádios da União Soviética, que decidiu cobrir o evento, até que por um momento apareciam cada vez menos notícias de seu vôo, dando a entender que haviam falhado ou prestes a falhar. Ao enfrentar uma tempestade na Sibéria, o avião era quase como uma folha de papel ante os ventos fortes e congelantes, que chegavam a congelar partes do avião. Tudo indicava que, sob as péssimas condições de visibilidade, que prejudicam até hoje os aviões modernos, o bimotor Ant-37 iria colidir com os pinheiros da taigá siberiana, o que levou as aviadoras a se desfazer de vários mantimentos a fim de liberar o peso do avião. Uma vez que a cabine de navegadora apresentava sérios riscos para esta, em caso de colisão, assim como para liberar mais peso do avião, Marina Raskova soltou de pára-quedas do avião, em plena Sibéria, sem levar kit de sobrevivência. Apesar de seu salto, o recorde já havia sido batido.
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Marina Raskova, Valyentina Grizudobova e Polina Osypienko junto ao avião "Rodina"(Pátria) |
Após o salto de Marina Raskova o Antonov 37 aterrissou em seu destino, completando 6,450 km percorridos após 26 horas de vôo, no qual as "três irmãs voadoras" se revezaram. Apesar de tudo, as duas que chegaram ao destino final se recusaram a participar de quaisquer celebrações antes de ter notícias de Marina Raskova. Após 10 dias desaparecida, a comunista foi encontrada por um caçador solitário em plena floresta siberiana, onde poderia morrer de frio ou ser devorada por lobos, ursos ou mesmo o temido tigre da Sibéria, o maior de todos.
Com o recorde alcançado, as três comunistas receberam a Ordem de Lenin e o título de Herói da União Soviética, tendo sido as primeiras soviéticas a serem agraciadas com tal honraria, que receberiam pessoalmente do então Primeiro-Ministro da União Soviética, Iósif Stalin. Em 1939 as três receberiam a Estrela Dourada, que neste ano passou a distinguir os Heróis da União Soviética daqueles agraciados com a Ordem de Lenin. Marina Raskova, Valentina Grizudobova e Polina Osypienko passariam então a desfrutar da mesma fama de Yuri Gagárin nos anos 30.
Com o estourar da II Guerra Mundial e a Grande Guerra Patriótica, Marina Raskova, usando-se de sua posição influente no país, solicitou a Stalin a criação de três regimentos especiais de mulheres como pilotos, engenheiras e mecânicas, o que foi de pronto atendido pelo líder e revolucionário soviético. A unidade recebeu inicialmente o nome de Grupo de Aviação 122, e, após o fim do treino dividiu-se em outros grupos.
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Marina Raskova foi a idealizadora da formação de unidades especiais de mulheres na Força Aérea Soviética |
O primeiro grupo, idealizado por Raskova, tornou-se 586º Regimento de Aviação de Caça(incumbido de atacar outros aviões), da Força de Defesa Aérea(PVO), tendo voado 4.419 vôos, destruindo 38 aeronaves inimigas em 125 batalhas aéreas. Este foi o primeiro a entrar em combate nos ares, operando caças Yakovlev. Uma de suas mais famosas integrantes, depois movida para um regimento masculino, foi a Aspirante Lidiya Vladimirovna Litvyak, a "Rosa Branca de Stalingrado", maior ase feminina da história.
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Modelo do Yak-1 |
O segundo grupo e sem dúvidas o mais célebre, foi o 46º Regimento da Guarda de Aviação de Bombardeiros Noturnos, isto é, de ataques a alvos terrestres. Este grupo produziu 24 Heróis da União Soviética, após voar mais de 24 mil missões de combate até o final da guerra. Foi o único dos grupos a ser exclusivamente feminino até os últimos dias da guerra. Por voarem em aviões de madeira e lona, obsoletos, mas eficazes monomotores Po-2, além de disseminar o terror entre o inimigo em aviões praticamente inaudíveis e quase invisíveis a olho nu, mesmo com auxílio dos holofotes, além de ser alvo difícil para os aviões alemães, em razão de sua baixa velocidade, os nazistas as apelidaram de "As Bruxas da Noite".
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Po-2(também chamado U-2), modelo então obsoleto durante a IIGM, mas que produziu um dos melhores resultados em termos de bombardeio noturno |
O terceiro grupo era o 125º Regimento de Bombardeiros da Guarda, comandado pessoalmente por Marina Raskova, que operava o melhor de todos os bombardeiros soviéticos, o Pe-2. Após voar mais de 1.134 missões de combate, este grupo descarregou cerca de 980 toneladas de bombas sobre os nazistas, tendo produzido 5 Heróis da União Soviética.
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Pe-2, o mais moderno bombardeio da Força Aérea Soviética. Já nos primeiros dias da guerra efetuou bombardeios em Berlim, na Alemanha nazista |
A major Marina Raskova, uma das quase 1 milhão de mulheres a combater os fascistas durante a IIGM, entraria para a glória eterna em 5 de janeiro de 1943, quando, operando na já triunfante Batalha de Stalingrado, o avião de Marina tentou um pouso forçado num banco do rio Volga, o que acarretou num desastre que vitimou toda a população. Comunista dedicada, recebeu o primeiro velório oficial da guerra, tendo as suas cinzas sido depositadas no Muro do Kremlin de Moscou. Nos Estados Unidos da América, país capitalista, um navio cargueiro foi batizado com o seu nome, o SS Marina Raskova.
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Marina Raskova, em seu uniforme de aviadora | | | | |
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Ordem da Guerra Patriótica, conferida à Marina Raskova, póstuma |
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Estrela Dourada de Herói da União Soviética, conferida à Marina Raskova em vida |
5 comentários:
Qual foi a primeira aviadora de testes do mundo?
A primeira mulher piloto de testes do mundo?
Foi Hanna Reitsch,da Luftwaffe ,ás do III Reich.
Dá-se o Movimento Integralista, como o primeiro movimento político a aceitar mulheres em suas fileiras, em sua história, somam-se heróis como o Almirante Negro João Cândido.
Seria o integralismo "reacionário"?hahahahaha!
1ª Mentira:
Amélia Earheart pilotou um avião muito antes do III Reich sequer existir.
2ª Mentira
O movimento bolchevique no Império Russo já tinha mulheres(sendo Alexandra Kollontai a mais conhecida)
O movimento espartaquista na Alemanha era liderado por uma mulher, Rosa Luxemburgo. Outra mulher famosa a participar do movimento comunista foi Olga Benário.
O movimento abolicionista teve a Princesa Isabel como seu integrante, no século XX.
Portanto não venha com mentiras aqui para promover seu ideal decadente e reacionário que é o integralismo.
Se você mente a respeito de fatos tão elementares, imagina a respeito de outros fatos...
Tudo isso quando o integralismo nem existia ainda!
Isso sem falar no movimento farroupilha no Sul, com Anita Garibaldi, no século XIX também.
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