BRASIL
O que é depender do transporte coletivo em Teresina para o trabalhador
Por Cristiano Alves
A Página Vermelha acompanhou de perto os protestos na capital piauiense, onde houve um aumento de mais de 10% sobre a passagem de ônibus. Acompanhe a reportagem e fique por dentro do que emissoras e outros jornais não mostram
O dia 1º de agosto foi marcado por mais um protesto na capital do estado do Piauí. Essa ação pode ser considerada inédita na capital em anos recentes, onde vários aumentos incidiram sobre a passagem, mas não sobre a qualidade do transporte público na capital. Mas fica a pergunta, isso tudo por causa de 10 centavos?
Para aqueles que não conhecem, a cidade de Teresina é conhecida por seus baixos índices de umidade do ar, isso sob um calor de mais de 30 graus durante praticamente todo o ano, pela manhã e especialmente durante a noite, estando a mais de 400 quilômetros do litoral, a cidade não tem brisas de vento nem mesmo no vigésimo andar dos mais altos prédios da cidade. Qualquer cidadão corre sério risco de futuro câncer de pele na capital piauiense, onde há altos índices de pessoas com problemas de pele, risco esse que aumenta ainda mais de acordo com a classe social do indivíduo. Se o filme-documentário "Zeitgeist: Moving foward" comprovara que quanto mais o invíduo ganha um centavo a menos no nosso sistema econômico, maior é a chance dele ter doenças, essa realidade é palpável em Teresina, especialmente no que diz respeito a problemas de pele e de visão.
O trabalhador teresinense, seja ele o obreiro, o campesino, assim como o estudante, é completamente ignorado pelas autoridades. Vivendo numa capital de mais de 700 mil pessoas, o seu direito à locomoção é mitigado por uma série de fatores, dentre a ausência de cobertura em grande parte das paradas de ônibus, isto é, em muitos pontos, a "parada" é apenas o local onde o transporte coletivo para, não havendo qualquer placa ou banco com cobertas, em poucas palavras, cada indivíduo precisa providenciar por conta própria seu guarda-sol(daí é comum ver indivíduos carregando guarda-chuvas em tempo aberto e ensolarado), ou ainda usar-se de outros artifícios tais como ficar embaixo de uma placa, atrás de alguém alto e, se for muito esperto, entra numa loja com arcondicionado e cronometra o exato tempo que o ônibus irá passar para sair na ocasião, o que é quase impossível, dada a falta de pontualidade do serviço de ônibus na capital piauiense. Embora o bom senso implique que para ser pontual é necessário jamais sair em cima da hora, em Teresina, capital de pequeno porte, é preciso se antecipar em pelo menos 1 hora para ser pontual, pois o transporte coletivo, como afirmado, não tem pontualidade.
A cidade de Teresina não dispõe de um serviço de integração, de um "terminal", isso quer dizer que quem mora em lugares mais afastados da cidade necessita pagar duas passagens para chegar num dado lugar, isso quer dizer que para quem vive de salário mínimo, ele gastará no mês cerca de 1/5 de seu salário para pagar despesas de transporte. Considerando que ele mora longe, esse gasto sobe para 2/5, que com sua despesa de alimentação e moradia, fechará os 3/5 restantes, levando este indivíduo a uma situação de sobrevivência, onde não poderá desfrutar de lazer nem de educação de qualidade, direitos constitucionalmente garantidos. É importante frisar que a capital piauiense é precária em termos de empregos, além da falta, a maioria das empresas contrata segundo o QI, isto é, "quem indica", o que inclui o grupo do maior plutocrata da cidade, também político, João Claudino.
Além de todo gasto que o trabalhador ou o estudante tem com a passagem, foi enfatizada a qualidade precária, a falta de pontos de espera condizentes com as condições climáticas da região, a falta de pontualidade do serviço e mesmo a falta de ônibus em determinadas linhas. Em avenidas como a Kennedy é muito comum ver uma série de veículos passando com as luzes apagadas, indo para a garagem. Curiosamente, as linhas universitárias mais parecem uma lata de ração animal(como essas de cãezinhos de estimação), dado que estudantes comprimem-se o máximo que podem para ir assistir aula ou voltar para casa em plenas 10:00 ou 10:30 da noite. A cena é triste, e estar dentro de um desses coletivos é mais triste ainda. Qualquer homem casado ou comprometido precisa estar junto de sua parceira, pois ela será voluntariamente ou não seviciada pelos seus colegas universitários, não que os estudantes de Teresina sejam tarados, mas pelo simples fato de ser impossível que estes removam os seus órgãos sexuais. É praticamente impossível se mecher nos horários de pico, dada a escassez de transporte para determinadas linhas. Fora isso, no intuito de encher o transporte ao máximo, muitas linhas tem apenas uma fila de cadeiras, não permitindo que uma dupla, por exemplo, sente-se no mesmo banco. Fora isso há o despreparo dos profissionais, que frequentemente são mal-humorados, motoristas despreparados, que não raramente causam acidentes, e veículos com pouca ou nenhuma manutenção, sendo já conhecidos, só no ano de 2011, dois casos onde o ônibus "entrou" numa residência, próximo aos bairros "Morada do Sol" e "Buenos Aires".
Hoje a passagem foi aumentada de R$ 1,90 para R$ 2,10. Esse preço não implica nenhuma melhora nos serviços, uma vez que não é o primeiro aumento em Teresina. Propostas como um sistema de integração tem sido promessa vaga, melhorias nos pontos de espera tem sido praticamente nulos, exceto em locais onde há publicidade desta ou daquela empresa. Com todos estes fatos, pouco ou em ocasião nenhuma abordados pela imprensa local, que em grande parte serve a interesses privados, o Jornal Nacional, na sua edição de quinta-feira, cumpriu mais uma vez com a sua função anti-social da propriedade, divulgando notícias caluniosas e injuriosas a respeito de um movimento inédito na capital do Piauí. A todo momento preocuparam-se em mostrar que "os estudantes estavam brigando por apenas 10 centavos", o que é falso, sendo uma luta contra um aumento de mais de 10% e que reivindica melhores condições para o transporte público na capital, que, é um serviço de utilidade pública, e não um serviço de "táxi coletivo" onde o dono pode estabelecer o preço que bem entender. Isso, entretanto, a ninguém surpreende, vindo de um órgão de imprensa muito bem descrito no documentário britânico "Além do Cidadão Kane"(Beyond the citizen Kane).
Alguns empresários em Teresina não entendem que a propriedade deve ter a sua função social, constituindo uma verdadeira heresia contra o direito pátrio a alegação de que "seu objetivo é meramente o lucro", essa afronta por parte deste grupelho de plutocratas, intríssecamente vinculada ao grupo político do prefeito, tem sido a gasolina que é jogada a cada dia na chama do movimento estudantil, movimento esse inspirado por lutas do passado, por lutas contemporâneas que se desenrolam no Chile e no Reino Unido, e que tem se espalhado por várias capitais brasileiras. Em breve, a plutocracia teresinense irá entender que nada acontece por acaso, e que por mais que tentem através de seus órgãos de imprensa, os quais são "patrocinados" com os caros preços que pagam por sua publicidade, os protestos tem uma raiz, que nasceu de uma semente impopular que estes plantaram. E eles que tratem de providenciar uma solução, pois enquanto muitos são senhores sem energia e qualquer sensibilidade para com o seu próprio povo, para com o trabalhador ou o estudante, os manifestantes são jovens cheios de energia, dispostos a muita coisa para atingir os fins almejados pela sociedade.
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