Por Johan Hari*
Traduzido por Cristiano Alves do inglês para o português de: http://www.huffingtonpost.com/johann-hari/the-strange-strange-story_b_136697.html
A Página Vermelha: Tem havido por parte de alguns leitores acusações levianas contra A Página Vermelha em função de alguns de seus artigos e vídeos do vlog "A Voz do Comunismo", alguns mesmo nos associando a nomes odiosos como o deputado pastor Marcos Feliciano ou Jair Bolsonaro, insistindo que alguns dos textos estimulam o ódio contra certos tipos de indivíduos e não seu movimento, que promove o anticomunismo, o fascismo e denigre valores do povo brasileiro. Embora possamos discordar de alguns pontos do autor britânico, homossexual assumido, entendemos que o artigo a seguir cumpre no seu propósito em desmistificar o que muitos, seja por preguiça ou má fé, tem dificuldade para perceber. O texto também corrobora as acusações feitas pelo grande marxista-leninista Gorky e outros comunistas heterossexuais sobre a natureza homo-erótica do fascismo.
A notícia de que Jorg
Haider, líder fascista austríaco, passou suas últimas horas em
um bar gay com um rapaz loirão chocou algumas pessoas. Ela não me chocou.
Esse assunto é um tabu para um homem de esquerda gay como eu
abordar, mas sempre houve, uma ligação esquisita e desproporcional
entre homossexualidade e fascismo. Respire fundo, aqui vai.
Cerca
de 10.000 homossexuais foram assassinados nos campos de morte
nazistas. Muitos outros mais foram humilhados, presos, deportados ,
etnicamente limpos ou castrados. Um sobrevivente gay dos campos, LD
Classen von Neudegg, escreveu sobre suas experiências. Um
instante: "Três homens tentaram escapar numa noite. Eles
foram capturados e quando voltaram tinham a palavra "homo"
rabiscada em suas roupas. Eles foram colocados em um bloco e
chicoteados. Em seguida, eles foram forçados a bater num tambor e
gritar “Hurra! Voltamos! Hurra!” Em seguida, eles foram
enforcados . " Este é um dos acontecimentos mais leves
documentados no seu livro.
Assim, a ideia de um gay fascista
parece ridícula. No entanto, quando o Partido Nacional Britânico -
nossos negacionistas domésticos do Holocausto fanáticos - anunciou
que estava lançando um candidato abertamente gay nas eleições
europeias deste junho, seguidores dedicados do fascismo não
piscaram. A verdade é que gays têm estado no cerne de todo grande
movimento fascista que já existiu - incluindo o asfixiador de gays e
homocida Terceiro Reich. Com exceção de Jean Marie Le Pen, todos os
fascistas do mais alto nível na Europa nos últimos 30 anos têm
sido gays. É hora de admitir uma coisa. O fascismo não é algo que
acontece lá fora, um mau hábito adquirido por rapazes héteros. Ele
é, em parte pelo menos, coisa de gay, e que é hora dos gays
não-fascistas acordarem e encararem a canção da marcha.
Basta
olhar para o nosso próprio continente na última década. O fascista
flamengo Pim Fortuyn promoveu uma plataforma anti-imigrante
flagrantemente racista, descrevendo o islã como "um câncer"
e "a maior ameaça para a civilização ocidental hoje". No
entanto, com dois cãezinhos felpudos e um complexo de “mamãe”,
ele era abertamente e “flamboiantemente” gay. Quando acusado por
um adversário político de odiar os árabes, ele respondeu: “Como
posso odiar árabes? Eu chupei um na noite passada”.
Jorg Haider impulsionou
a política pós-nazista da Áustria para os escombros em 2000,
quando o seu neofascista “Partido da Liberdade” ganhou um quarto
dos votos e se juntou ao governo do país como um parceiro de
coalizão. Vários fatos surgiram sempre na cobertura da imprensa
internacional: seu queixo quadrado, seu torso músculos , o apoio à
SS de seu pai, o seu antissemitismo raivoso, seu ódio a imigrantes ,
sua descrição de Auschwitz e Dachau como "centros punitivos".
Poucos jornais mencionaram que ele estava sempre cercado de jovens
malhados e fanáticos. Um punhado foi mais além e alegou que esses
jovens homens eram abertamente gays. Então, um jornal de esquerda
lançou a história que todos insinuavam. Alegaram que Haider é
gay.
Rumores de um garçom indiano com “detalhes íntimos”
do corpo de Haider saíram na imprensa. O gerente geral Gerald
Miscka, do Partido da Liberdade, rapidamente deixou o cargo em meio a
acusações de que ele era o amante de Haider. O amigo íntimo gay de
Haider, Walter Kohler, fotografado mostrando uma pistola no coldre
enquanto Haider se ria, declarou sua oposição aos políticos
assumidos. Haider, que era casado e tem dois filhos, ficou em
silêncio enquanto seus funcionários negavam os rumores. A revelação
de que ele morreu depois de sair de um bar gay sugere esses rumores
eram verdadeiros.
Aos poucos a coisa
acontece. Se você percorreu toda a Europa de trem, só parando com
gays fascistas, não há muitos pontos turísticos que você iria
perder. O líder fascista da França do pós-guerra foi Edouard
Pfieffer, que não jogava no time tradicional. O líder neonazista da
Alemanha durante a década de 80 se chamava Michael Kuhnen, ele
morreu de AIDS em 1991, poucos anos depois de sair do armário.
Martin Lee, autor de um estudo sobre fascismo europeu, explica: “Para
Kuhnen , havia algo de supermacho em ser um nazista, bem como em ser
homossexual, ambos aplicadas a sensação de viver no limite, de
pertencer a uma elite que estava destinada a causar impacto”. Ele
disse a um jornalista da Alemanha Ocidental que os homossexuais eram
“especialmente adequados para a nossa tarefa por que eles não
querem laços com esposa, filhos e família”.
E não seria
muito antes de sua turnê de chegada na Grã-Bretanha. À primeira
vista, os nossos nazistas parecem militantemente héteros. Eles
tentaram perturbar paradas gays, descrever os gays como "maus",
e o líder do PNB Nick Griffin reagiu charmosamente ao bombardeio do
pub Admiral Duncan em 1999 com uma coluna dizendo que “as filmagens
de TV de manifestantes gays [fora da cena de carnificina] exibindo
sua perversão na frente de jornalistas de todo o mundo mostraram por
que tantas pessoas comuns acham essas criaturas repugnantes”.
Mas
basta arranhar a superfície homofóbica e há uma suástica por
baixo. Em 1999, Martin Webster, um ex-organizador da Frente Nacional
e chefão do movimento fascista britânico escreveu um panfleto de
quatro páginas explicando o seu “caso” com Nick Griffin.
“Griffin buscava relações íntimas comigo”, o gay assumido
Webster explicou, “no final dos anos 70, ele era vinte anos mais
jovem do que eu”. Ray Hill, que infiltrou-se no movimento fascista
britânico para colher informações para grupos antifascistas, disso
que tudo é plausível. A homossexualidade é “extremamente
vigente” nos altos escalões da direita militante britânica e num
estágio dos anos 80, quase metade dos organizadores desses
movimentos eram gays, ele clama.
Gerry Gable, editor da
revista antifascista “Searchlight”, explica: “eu vigiei os
grupos nazistas da Grã-Bretanha por décadas e esta hipocrisia
homofóbica era comum o tempo todo. Eu não podia acreditar que uma
organização da extrema-direita que tenha atacado pessoas em razão
da sua orientação sexual ao mesmo tempo tivesse muitos oficiais e
ativistas gays”.
O suposto romance gay
de Griffins iria ficar numa longa tradição fascista britânica. O
líder do movimento skinhead durante toda a década de 70 era bandido
louco e musculoso chamado Nicky Crane. Ele foi o ícone dos
reacionários contra os imigrantes, o feminismo e o estilo de vida "hippie" da década de 60. A ênfase de seu movimento, em
conformidade com uma normalidade raspada e desumanizada
assemelhava-se aos movimentos fascistas clássicos; Crane logo se
tornou um militante e líder da Frente Nacional. Ah, e ele era gay.
Antes de morrer de AIDS, em meados da década de 80, Crane saiu do
armário e admitiu que estrelou em vários vídeos pornôs gays.
Pouco antes de morrer, em 1986, ele foi autorizado a estrelar uma
marcha do Orgulho Gay em Londres, apesar dele ainda ter dito que
estava “orgulhoso de ser um fascista”.
O atrito com sola de
borracha entre fascistas gays e progressistas gays britânicos
resultou em ódio em 1985, quando o Movimento Skinhead Gay organizou
uma discoteca no Centro Gay de Londres. Várias lésbicas em
particular opuseram-se à "invasão" do centro. Elas
sentiram que o culto do “homem de verdade” e de bandidos
hipermasculinos estava incitando os sentimentos mais básicos “em
cada lugar, o movimento gay, onde você menos espera”.
E essa Gaystapo tem um
ícone para reverenciar, um Führer alternativo para cultuar: o líder
gay fascista derrotado Ernst Rohm. Junto com Adolf Hitler, Rohm foi o
pai fundador do nazismo. Nascido de servidores civis conservadores da
Bavária em 1887, a vida de Ernst Rohm começou, em sua visão, nas
“heroicas” trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Como muitos de
sua geração que formaram o Partido Nazista, ele tinha interesse e
obsessão com o mito homoerótico das trincheiras, heroicos e belos
rapazes preparados para morrer por seus irmãos e seu país.
Ele
emergiu da guerra com um rosto cicatrizado e uma reverência pela
guerra. Como ele colocou em sua autobiografia: “Uma vez que sou um
homem imaturo e ímpio, a guerra e a instabilidade me atraem mais do
que a boa ordem burguesa”. Depois de ser dispensado, ele tentou com
o coração partido ter um pé na vida civil, mas ele a via como
alienígena, burguesa, entediante. Ele não tinha convicções
políticas, apenas preconceitos especialmente contra os judeus. O
historiador Joachim Fest descreve geração de Rohm como de jovens
alienados, desmobilizados humilhados pela derrota como “agentes de
uma revolução permanente sem qualquer ideia revolucionária de
futuro, apenas um desejo de eternizar os valores das trincheiras”.
Foi Rohm que viu pela
primeira vez o potencial de um orador apaixonado chamado Adolf
Hitler. Ele o viu como o demagogo de que ele precisava para mobilizar
o apoio para o seu plano para derrubar a democracia e estabelecer um
“Estado de soldado”, onde o exército governou desenfreadamente.
Ele introduziu o jovem fascista aos políticos locais e líderes
militares; eles o conheciam por muitos anos como “o menino de
Rohm”. O historiador gay Frank Reitor observa: “Hitler era, de
forma substancial , o protegido de Rohm”. Rohm integrou Hitler ao
seu movimento clandestino para derrubar a República de Weimar.
A
flagrante e aberta homossexualidade de Rohm parece bizarra agora,
dado o genocídio gay que se seguiria. Ele falou abertamente sobre
seu gosto por bares gays e banhos turcos, e era conhecido por sua
virilidade. Ele acreditava que os gays eram superiores aos héteros, e
viu a homossexualidade como um princípio fundamental de sua proposta
da Brava Nova Ordem Fascista. Como o historiador Louis Snyder
explica, Rohm “projetou uma ordem social na qual a homossexualidade
seria considerada como um padrão de comportamento humano de alta
reputação... Ele ostentava a sua homossexualidade em público e
insistiu que seus comparsas fizessem o mesmo. Ele acreditava que
pessoas heterossexuais não tão adeptas de intimidação e agressão
como os homossexuais, por isso à homossexualidade foi dado o grande
prêmio da SA. “Eles promoveram uma forma agressiva,
hipermasculina de homossexualidade, condenando “mulheres histéricas
de ambos os sexos”, em referência a homens homossexuais femininos.
Essa crença na
superioridade da homossexualidade teve uma forte tradição alemã
que cresceu, na virada do século XX em torno de Adolf Brand, editor
da primeira revista gay do país. Você poderia chamá-lo de “Queer
as Volk”: eles pregavam que os homens gays foram a base da fundação
de todos os Estados-nação e representavam uma elite, uma casta de
guerreiros que deveria governar. Eles veneravam as antigas seitas
guerreiras de Esparta, Tebas e Atenas.
Rohm frequentemente se
referia à antiga tradição grega de enviar casais de soldados gays
para a batalha, pois acreditava-se que eles eram os lutadores mais
ferozes. A famosa passagem de Termópilas, por exemplo, foi defendida
por 300 soldados ferozes, ela consistia em 150 casais gays. Em seu
início, a SA, exército clandestino de Hitler e Rohm, era vista como
predominantemente gay. Rohm designou postos elevados para seus
amantes, fazendo de Edmund Heines seu deputado e Karl Ernst o
comandante da SA em Berlim. A organização algumas vezes se reunia
em bares gays. O historiador de arte gay Christian Isermayer disse
numa entrevista, “eu conheci algumas pessoas da SA. Eles
normalmente promoviam festas conspirativas, mesmo em 1933... eu fui a
uma. Havia bom comportamento, mas definitivamente gay. Mas mesmo
naqueles dias, a SA era ultra-gay”.
Em 30 de junho de 1934,
Rohm foi acordado num hotel em Berlim pelo próprio Hitler. Ele
atirou-se a seus pés e saudou, dizendo “Heil, mein Fuhrer!”, e
Hitler simplesmente disse: “você está preso”. E assim que ele
deixou o quarto, foram dadas ordens para Rohm ser levado à prisão
de Standelheim. Ele foi fuzilado naquela noite. A matança de Rohm
foi a de mais alto estalão durante o massacre chamado “a noite das
facas longas”.
Rohm era suspeito por
Hitler de deslealdade, mas seu assassinato iniciou uma massiva
perseguição aos gays. Heinrich Himmler, chefe da Gestado, descreveu
a homossexualidade como “um sintoma de degeneração que poderia
destruir nossa raça. Nós devemos voltar para o princípio maior
nórdico: o extermínio dos degenerados”.
O historiador
alemão Lothar Machtan sustenta que Hitler teve Rohm, e a maioria dos
gays da SA, mortos para silenciar a especulação sobre suas próprias
experiências homossexuais. Sua 'evidência' de Hitler ter sido gay é
chocante e tem sido questionada por muitos historiadores, apesar de
que algumas descobertas são sugestivas. Um amigo próximo de Hitler
de sua adolescência, Augusto Kubizek, alegou um caso “romântico”
entre eles. Hans Mend, um cavalariano que serviu junto a Hitler na
Primeira Grande Guerra, clamou ter visto Hitler fazendo sexo com um
homem. Hitler era certamente muito próximo de vários gays, e parece
nunca ter tido relacionamentos sexuais normais com uma mulher, nem
mesmo com sua esposa, Eva Braun.
Rudolph Diels, o
fundador da Gestapo, registrou alguns dos pensamentos privados de
Hitler sobre a homossexualidade. “Ela tinha destruído Grécia
antiga, disse ele. Uma vez grassa, estendeu seus efeitos contagiosos
como uma lei inelutável da natureza para os melhores e mais viris
personagens, eliminando do plantel mesmos homens do qual o Volk mais
necessita”. Essa ideia, de que a homossexualidade é “contagiosa”
e, implicitamente, tentadora é reveladora.
Rohm é venerado em
sites homonazi que tem se proliferado na internet como gemes numa
ferida. Eles tem nomes como Gays Against Semitism(com o
acrônimo GAS), e Aryan Resistance Corps(ARC). Sua filosofia
rômista é simples: enquanto os homens brancos são superiores às
outras raças, os gays são “mestres da Raça Mestre”. Eles
sozinhos são dotados da capacidade de “vínculo masculino puro”,
e “intelecto superior” necessário para uma “revolução
fascista”. A ARC mesmo organiza feriados para “encontros” de
seus membros onde “você pode relaxar em meio à companhia de
nossos queridos irmãos brancos”.
Por isso, é bastante
fácil de estabelecer que os gays não são inoculados do fascismo.
Eles o têm sido muitas vezes em seu coração. Isso levanta a
questão maior: por quê? Como é que os gays, tantas vezes vítimas
da opressão e do ódio tornam-se parte integrante do movimento
político mais odioso e maléfico de todos? É apenas uma forma
extrema de auto-agressão, o equivalente político para as crianças
gays que cortar seus próprios braços para fitas de auto-ódio?
O pornógrafo gay e
cineasta Bruce LaBruce tem uma explicação. Ele clama que “todo
pornô gay hoje é implicitamente fascista. O fascismo está em
nossos ossos, por que fala de glorificar a supremacia branca
masculina e fetichizar a dominação, crueldade, poder e monstruosas
figuras de autoridade”. Ele tentou explorar a relação entre
homossexualidade e fascismo em seus filmes, iniciando com “No skin
off my ass”(Nota do tradutor: literalmente “Nenhum couro fora do
meu traseiro”) em 1991. Em seu filme perturbador, “Skin Flick”,
um casal gay burguês, um negro e um branco, são sexualmente
aterrorizados por uma gangue de skinhead gays que recorrem ao “Mein
Kampf” e batem nos “afeminados”. Ele implica que as normas gays
burguesas rapidamente quebram para revelar um fascista escondido; o
filme termina com o personagem negro sendo estuprado na frente de seu
amante branco, enquanto a gangue racista canta “Foda-se o macaco”.
Eu decidi rastrear
alguns fascistas gays e perguntar-lhes diretamente. Wyatt Powers,
diretor do ARC, diz, “Eu sempre soube no meu coração que racistas
e gays eram ambos moralmente corretos. Não vejo nenhum conflito
entre eles. É apenas a imprensa gay-judia que tenta nos convencer
que o racialismo é o mesmo que homofobia. Você pode ser um
nacionalista extremo e gay sem qualquer contradição”.
Um comentário num
website gay racista vai ainda mais longe na loucura racista. Um homem
gay de Ohio diz: “Mesmo que você seja gay e branco, ou retardado e
branco, VOCÊ É BRANCO, PONTO FINAL! Ao invés de deiar a raça
branca ser extinta por causa de raças inúteis como africanos e
mexicanos fazendo milhões de bebês por dia, nós temos que combater
essa merda fudida que eles estão fazendo. Eles estão estuprando o
nosso país”. É verdade que o racismo e a homofobia não
necessariamente se sobrepõem, mas como o rabino Bernard Melchman
explica, “homofobia e antissemitismo frequentemente são parte da
mesma doença”. Os racistas são normalmente homofóbicos. Mesmo
depois de ler todos os seus devaneios na web, eu não cheguei perto
de entender por que tantos gays se aliam com pessoas que quase sempre
se voltam contra eles, como os nazistas fizeram.
O defensor dos direitos
gays Peter Tatchell tem uma explicação sensível e intrigante. “Há
muitas razões para esse tipo de coisa”, ele diz. “Alguns deles
estão em negação. Eles vão para a hiper-masculinidade, a mais
extrema possibilidade de ser um homem. É uma forma de ostentação
rejeitando a efeminação percebida no “outro” homossexual. Esses
homens problemáticos tem uma crença simples em suas mentes: “Homens
heterossexuais são durões. “Queers” são fracos”, desse modo
se sou forte não posso ser um “queer”. É uma forma desesperada
de provar sua masculinidade.
A revista Searchlight”,
a bíblia do movimento antifascista britânico, com informantes em
todas as organizações de extrema-direita, oferece uma explicação
alternativa. “Geralmente condenada por uma sociedade que continua a
ser largamente hostil aos gays, alguns homens podem encontrar refúgio
e um novo status de energia na extrema-direita”, um de seus
escritores explicou. “Através da adesão às políticas defendidas
por grupos fascistas, uma nova identidade emerge, aquela onde eles
não são excluídos por serem Homens Brancos, superiores a todos.
Eles tomam a parte gay de sua identidade invisível, ou rejeitam as
partes socialmente menos aceitáveis, como ser femininos, enquanto
alardeiam o que eles veem como superior”.
Mas há outra questão
importante: será que movimentos fascistas inevitavelmente interessam
aos gays? No caso dos nazistas, ele parece ter sido bastante
arbitrário; a principal razão de Hitler matar Rohm não estava
relacionada com a sua sexualidade. Da minha perspectiva como alguém
de mente progressista de esquerda, todo fascismo é mau, mas todos os
gays o enxergam como hostil aos seus interesses? É possível haver
um fascista gay que não age contra seus próprios interesses? O
fascismo é muitas vezes definido como “uma ideologia política que
advoga um governo hierárquico que nega sistematicamente a igualdade
para determinados grupos”. É verdade que esta hierarquia poderia
beneficiar os gays em detrimento de, por exemplo, as pessoas negras.
Mas, dada a prevalência da homofobia, será que, mesmo para as
pessoas que não veem o fascismo como um mau inerente, não é um
risco terrível para tomar? Será que uma cultura que violentamente
se volta contra uma minoria não vai atacar os gays no final? Isso
parece, em última análise, uma lição lamentável para a vidinha
miserável de Ernst Rohm.
A crescente
conscientização do papel que gays desempenham em movimentos
fascistas foi abusada por alguns homofóbicos. Em um trabalho
especial de nítido teor revisionista histórico chamado “The
Swastika Pink”(N.T.: A suástica rósea), o “historiador” Scott
Lively tenta culpar os gays por todo o Holocausto, e descreve o
assassinato de homens gays nos campos apenas como “violência de
gay contra gay”. Um típico website comentando o livro clama
absurdamente, que “The Pink Swastika mostra como havia muito mais
brutalidade, estupro, tortura e assassinatos cometidos contra pessoas
inocentes peos nazistas homossexuais do que conta os próprios
homossexuais”.
Contudo, não podemos
permitir que esses loucos evitem algumas sérias auto-reflexões do
movimento gay. Se Bruce LaBruce estiver certo, muitos dos elementos
do mainstream da cultura gay, o culto ao corpo, grito do forte, um
fetiche por figuras de autoridade e crueldade, fornecem um pântano
em que o vírus fascista pode prosperar. Será que alguns gays
realmente ainda precisam aprender que os fascistas não nos trarão
uma Solução Fabulosa para os gays, mas uma Solução Final para
todos nós?
*Articulista do jornal "Independent", do Reino Unido
*Articulista do jornal "Independent", do Reino Unido
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