sexta-feira, março 21, 2014

SOCIEDADE: A estranha, estranha estória de gays fascistas

Por Johan Hari*
Traduzido por Cristiano Alves do inglês para o português de: http://www.huffingtonpost.com/johann-hari/the-strange-strange-story_b_136697.html

A Página Vermelha: Tem havido por parte de alguns leitores acusações levianas contra A Página Vermelha em função de alguns de seus artigos e vídeos do vlog "A Voz do Comunismo", alguns mesmo nos associando a nomes odiosos como o deputado pastor Marcos Feliciano ou Jair Bolsonaro, insistindo que alguns dos textos estimulam o ódio contra certos tipos de indivíduos e não seu movimento, que promove o anticomunismo, o fascismo e denigre valores do povo brasileiro. Embora possamos discordar de alguns pontos do autor britânico, homossexual assumido, entendemos que o artigo a seguir cumpre no seu propósito em desmistificar o que muitos, seja por preguiça ou má fé, tem dificuldade para perceber. O texto também corrobora as acusações feitas pelo grande marxista-leninista Gorky e outros comunistas heterossexuais sobre a natureza homo-erótica do fascismo.



A notícia de que Jorg Haider, líder fascista austríaco, passou suas últimas horas em um bar gay com um rapaz loirão chocou algumas pessoas. Ela não me chocou. Esse assunto é um tabu para um homem de esquerda gay como eu abordar, mas sempre houve, uma ligação esquisita e desproporcional entre homossexualidade e fascismo. Respire fundo, aqui vai.

Cerca de 10.000 homossexuais foram assassinados nos campos de morte nazistas. Muitos outros mais foram humilhados, presos, deportados , etnicamente limpos ou castrados. Um sobrevivente gay dos campos, LD Classen von Neudegg, escreveu sobre suas experiências. Um instante: "Três homens tentaram escapar numa noite. Eles foram capturados e quando voltaram tinham a palavra "homo" rabiscada em suas roupas. Eles foram colocados em um bloco e chicoteados. Em seguida, eles foram forçados a bater num tambor e gritar “Hurra! Voltamos! Hurra!” Em seguida, eles foram enforcados . " Este é um dos acontecimentos mais leves documentados no seu livro.

Assim, a ideia de um gay fascista parece ridícula. No entanto, quando o Partido Nacional Britânico - nossos negacionistas domésticos do Holocausto fanáticos - anunciou que estava lançando um candidato abertamente gay nas eleições europeias deste junho, seguidores dedicados do fascismo não piscaram. A verdade é que gays têm estado no cerne de todo grande movimento fascista que já existiu - incluindo o asfixiador de gays e homocida Terceiro Reich. Com exceção de Jean Marie Le Pen, todos os fascistas do mais alto nível na Europa nos últimos 30 anos têm sido gays. É hora de admitir uma coisa. O fascismo não é algo que acontece lá fora, um mau hábito adquirido por rapazes héteros. Ele é, em parte pelo menos, coisa de gay, e que é hora dos gays não-fascistas acordarem e encararem a canção da marcha.

Basta olhar para o nosso próprio continente na última década. O fascista flamengo Pim Fortuyn promoveu uma plataforma anti-imigrante flagrantemente racista, descrevendo o islã como "um câncer" e "a maior ameaça para a civilização ocidental hoje". No entanto, com dois cãezinhos felpudos e um complexo de “mamãe”, ele era abertamente e “flamboiantemente” gay. Quando acusado por um adversário político de odiar os árabes, ele respondeu: “Como posso odiar árabes? Eu chupei um na noite passada”.

Jorg Haider impulsionou a política pós-nazista da Áustria para os escombros em 2000, quando o seu neofascista “Partido da Liberdade” ganhou um quarto dos votos e se juntou ao governo do país como um parceiro de coalizão. Vários fatos surgiram sempre na cobertura da imprensa internacional: seu queixo quadrado, seu torso músculos , o apoio à SS de seu pai, o seu antissemitismo raivoso, seu ódio a imigrantes , sua descrição de Auschwitz e Dachau como "centros punitivos". Poucos jornais mencionaram que ele estava sempre cercado de jovens malhados e fanáticos. Um punhado foi mais além e alegou que esses jovens homens eram abertamente gays. Então, um jornal de esquerda lançou a história que todos insinuavam. Alegaram que Haider é gay.

Rumores de um garçom indiano com “detalhes íntimos” do corpo de Haider saíram na imprensa. O gerente geral Gerald Miscka, do Partido da Liberdade, rapidamente deixou o cargo em meio a acusações de que ele era o amante de Haider. O amigo íntimo gay de Haider, Walter Kohler, fotografado mostrando uma pistola no coldre enquanto Haider se ria, declarou sua oposição aos políticos assumidos. Haider, que era casado e tem dois filhos, ficou em silêncio enquanto seus funcionários negavam os rumores. A revelação de que ele morreu depois de sair de um bar gay sugere esses rumores eram verdadeiros.

Aos poucos a coisa acontece. Se você percorreu toda a Europa de trem, só parando com gays fascistas, não há muitos pontos turísticos que você iria perder. O líder fascista da França do pós-guerra foi Edouard Pfieffer, que não jogava no time tradicional. O líder neonazista da Alemanha durante a década de 80 se chamava Michael Kuhnen, ele morreu de AIDS em 1991, poucos anos depois de sair do armário. Martin Lee, autor de um estudo sobre fascismo europeu, explica: “Para Kuhnen , havia algo de supermacho em ser um nazista, bem como em ser homossexual, ambos aplicadas a sensação de viver no limite, de pertencer a uma elite que estava destinada a causar impacto”. Ele disse a um jornalista da Alemanha Ocidental que os homossexuais eram “especialmente adequados para a nossa tarefa por que eles não querem laços com esposa, filhos e família”.

E não seria muito antes de sua turnê de chegada na Grã-Bretanha. À primeira vista, os nossos nazistas parecem militantemente héteros. Eles tentaram perturbar paradas gays, descrever os gays como "maus", e o líder do PNB Nick Griffin reagiu charmosamente ao bombardeio do pub Admiral Duncan em 1999 com uma coluna dizendo que “as filmagens de TV de manifestantes gays [fora da cena de carnificina] exibindo sua perversão na frente de jornalistas de todo o mundo mostraram por que tantas pessoas comuns acham essas criaturas repugnantes”.

Mas basta arranhar a superfície homofóbica e há uma suástica por baixo. Em 1999, Martin Webster, um ex-organizador da Frente Nacional e chefão do movimento fascista britânico escreveu um panfleto de quatro páginas explicando o seu “caso” com Nick Griffin. “Griffin buscava relações íntimas comigo”, o gay assumido Webster explicou, “no final dos anos 70, ele era vinte anos mais jovem do que eu”. Ray Hill, que infiltrou-se no movimento fascista britânico para colher informações para grupos antifascistas, disso que tudo é plausível. A homossexualidade é “extremamente vigente” nos altos escalões da direita militante britânica e num estágio dos anos 80, quase metade dos organizadores desses movimentos eram gays, ele clama.

Gerry Gable, editor da revista antifascista “Searchlight”, explica: “eu vigiei os grupos nazistas da Grã-Bretanha por décadas e esta hipocrisia homofóbica era comum o tempo todo. Eu não podia acreditar que uma organização da extrema-direita que tenha atacado pessoas em razão da sua orientação sexual ao mesmo tempo tivesse muitos oficiais e ativistas gays”.

O suposto romance gay de Griffins iria ficar numa longa tradição fascista britânica. O líder do movimento skinhead durante toda a década de 70 era bandido louco e musculoso chamado Nicky Crane. Ele foi o ícone dos reacionários contra os imigrantes, o feminismo e o estilo de vida "hippie" da década de 60. A ênfase de seu movimento, em conformidade com uma normalidade raspada e desumanizada assemelhava-se aos movimentos fascistas clássicos; Crane logo se tornou um militante e líder da Frente Nacional. Ah, e ele era gay. Antes de morrer de AIDS, em meados da década de 80, Crane saiu do armário e admitiu que estrelou em vários vídeos pornôs gays. Pouco antes de morrer, em 1986, ele foi autorizado a estrelar uma marcha do Orgulho Gay em Londres, apesar dele ainda ter dito que estava “orgulhoso de ser um fascista”.

O atrito com sola de borracha entre fascistas gays e progressistas gays britânicos resultou em ódio em 1985, quando o Movimento Skinhead Gay organizou uma discoteca no Centro Gay de Londres. Várias lésbicas em particular opuseram-se à "invasão" do centro. Elas sentiram que o culto do “homem de verdade” e de bandidos hipermasculinos estava incitando os sentimentos mais básicos “em cada lugar, o movimento gay, onde você menos espera”.

E essa Gaystapo tem um ícone para reverenciar, um Führer alternativo para cultuar: o líder gay fascista derrotado Ernst Rohm. Junto com Adolf Hitler, Rohm foi o pai fundador do nazismo. Nascido de servidores civis conservadores da Bavária em 1887, a vida de Ernst Rohm começou, em sua visão, nas “heroicas” trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Como muitos de sua geração que formaram o Partido Nazista, ele tinha interesse e obsessão com o mito homoerótico das trincheiras, heroicos e belos rapazes preparados para morrer por seus irmãos e seu país.

Ele emergiu da guerra com um rosto cicatrizado e uma reverência pela guerra. Como ele colocou em sua autobiografia: “Uma vez que sou um homem imaturo e ímpio, a guerra e a instabilidade me atraem mais do que a boa ordem burguesa”. Depois de ser dispensado, ele tentou com o coração partido ter um pé na vida civil, mas ele a via como alienígena, burguesa, entediante. Ele não tinha convicções políticas, apenas preconceitos especialmente contra os judeus. O historiador Joachim Fest descreve geração de Rohm como de jovens alienados, desmobilizados humilhados pela derrota como “agentes de uma revolução permanente sem qualquer ideia revolucionária de futuro, apenas um desejo de eternizar os valores das trincheiras”.

Foi Rohm que viu pela primeira vez o potencial de um orador apaixonado chamado Adolf Hitler. Ele o viu como o demagogo de que ele precisava para mobilizar o apoio para o seu plano para derrubar a democracia e estabelecer um “Estado de soldado”, onde o exército governou desenfreadamente. Ele introduziu o jovem fascista aos políticos locais e líderes militares; eles o conheciam por muitos anos como “o menino de Rohm”. O historiador gay Frank Reitor observa: “Hitler era, de forma substancial , o protegido de Rohm”. Rohm integrou Hitler ao seu movimento clandestino para derrubar a República de Weimar.

A flagrante e aberta homossexualidade de Rohm parece bizarra agora, dado o genocídio gay que se seguiria. Ele falou abertamente sobre seu gosto por bares gays e banhos turcos, e era conhecido por sua virilidade. Ele acreditava que os gays eram superiores aos héteros, e viu a homossexualidade como um princípio fundamental de sua proposta da Brava Nova Ordem Fascista. Como o historiador Louis Snyder explica, Rohm “projetou uma ordem social na qual a homossexualidade seria considerada como um padrão de comportamento humano de alta reputação... Ele ostentava a sua homossexualidade em público e insistiu que seus comparsas fizessem o mesmo. Ele acreditava que pessoas heterossexuais não tão adeptas de intimidação e agressão como os homossexuais, por isso à homossexualidade foi dado o grande prêmio da SA. “Eles promoveram uma forma agressiva, hipermasculina de homossexualidade, condenando “mulheres histéricas de ambos os sexos”, em referência a homens homossexuais femininos.

Essa crença na superioridade da homossexualidade teve uma forte tradição alemã que cresceu, na virada do século XX em torno de Adolf Brand, editor da primeira revista gay do país. Você poderia chamá-lo de “Queer as Volk”: eles pregavam que os homens gays foram a base da fundação de todos os Estados-nação e representavam uma elite, uma casta de guerreiros que deveria governar. Eles veneravam as antigas seitas guerreiras de Esparta, Tebas e Atenas.

Rohm frequentemente se referia à antiga tradição grega de enviar casais de soldados gays para a batalha, pois acreditava-se que eles eram os lutadores mais ferozes. A famosa passagem de Termópilas, por exemplo, foi defendida por 300 soldados ferozes, ela consistia em 150 casais gays. Em seu início, a SA, exército clandestino de Hitler e Rohm, era vista como predominantemente gay. Rohm designou postos elevados para seus amantes, fazendo de Edmund Heines seu deputado e Karl Ernst o comandante da SA em Berlim. A organização algumas vezes se reunia em bares gays. O historiador de arte gay Christian Isermayer disse numa entrevista, “eu conheci algumas pessoas da SA. Eles normalmente promoviam festas conspirativas, mesmo em 1933... eu fui a uma. Havia bom comportamento, mas definitivamente gay. Mas mesmo naqueles dias, a SA era ultra-gay”.

Em 30 de junho de 1934, Rohm foi acordado num hotel em Berlim pelo próprio Hitler. Ele atirou-se a seus pés e saudou, dizendo “Heil, mein Fuhrer!”, e Hitler simplesmente disse: “você está preso”. E assim que ele deixou o quarto, foram dadas ordens para Rohm ser levado à prisão de Standelheim. Ele foi fuzilado naquela noite. A matança de Rohm foi a de mais alto estalão durante o massacre chamado “a noite das facas longas”.

Rohm era suspeito por Hitler de deslealdade, mas seu assassinato iniciou uma massiva perseguição aos gays. Heinrich Himmler, chefe da Gestado, descreveu a homossexualidade como “um sintoma de degeneração que poderia destruir nossa raça. Nós devemos voltar para o princípio maior nórdico: o extermínio dos degenerados”.

O historiador alemão Lothar Machtan sustenta que Hitler teve Rohm, e a maioria dos gays da SA, mortos para silenciar a especulação sobre suas próprias experiências homossexuais. Sua 'evidência' de Hitler ter sido gay é chocante e tem sido questionada por muitos historiadores, apesar de que algumas descobertas são sugestivas. Um amigo próximo de Hitler de sua adolescência, Augusto Kubizek, alegou um caso “romântico” entre eles. Hans Mend, um cavalariano que serviu junto a Hitler na Primeira Grande Guerra, clamou ter visto Hitler fazendo sexo com um homem. Hitler era certamente muito próximo de vários gays, e parece nunca ter tido relacionamentos sexuais normais com uma mulher, nem mesmo com sua esposa, Eva Braun.

Rudolph Diels, o fundador da Gestapo, registrou alguns dos pensamentos privados de Hitler sobre a homossexualidade. “Ela tinha destruído Grécia antiga, disse ele. Uma vez grassa, estendeu seus efeitos contagiosos como uma lei inelutável da natureza para os melhores e mais viris personagens, eliminando do plantel mesmos homens do qual o Volk mais necessita”. Essa ideia, de que a homossexualidade é “contagiosa” e, implicitamente, tentadora é reveladora.

Rohm é venerado em sites homonazi que tem se proliferado na internet como gemes numa ferida. Eles tem nomes como Gays Against Semitism(com o acrônimo GAS), e Aryan Resistance Corps(ARC). Sua filosofia rômista é simples: enquanto os homens brancos são superiores às outras raças, os gays são “mestres da Raça Mestre”. Eles sozinhos são dotados da capacidade de “vínculo masculino puro”, e “intelecto superior” necessário para uma “revolução fascista”. A ARC mesmo organiza feriados para “encontros” de seus membros onde “você pode relaxar em meio à companhia de nossos queridos irmãos brancos”.

Por isso, é bastante fácil de estabelecer que os gays não são inoculados do fascismo. Eles o têm sido muitas vezes em seu coração. Isso levanta a questão maior: por quê? Como é que os gays, tantas vezes vítimas da opressão e do ódio tornam-se parte integrante do movimento político mais odioso e maléfico de todos? É apenas uma forma extrema de auto-agressão, o equivalente político para as crianças gays que cortar seus próprios braços para fitas de auto-ódio?

O pornógrafo gay e cineasta Bruce LaBruce tem uma explicação. Ele clama que “todo pornô gay hoje é implicitamente fascista. O fascismo está em nossos ossos, por que fala de glorificar a supremacia branca masculina e fetichizar a dominação, crueldade, poder e monstruosas figuras de autoridade”. Ele tentou explorar a relação entre homossexualidade e fascismo em seus filmes, iniciando com “No skin off my ass”(Nota do tradutor: literalmente “Nenhum couro fora do meu traseiro”) em 1991. Em seu filme perturbador, “Skin Flick”, um casal gay burguês, um negro e um branco, são sexualmente aterrorizados por uma gangue de skinhead gays que recorrem ao “Mein Kampf” e batem nos “afeminados”. Ele implica que as normas gays burguesas rapidamente quebram para revelar um fascista escondido; o filme termina com o personagem negro sendo estuprado na frente de seu amante branco, enquanto a gangue racista canta “Foda-se o macaco”.

Eu decidi rastrear alguns fascistas gays e perguntar-lhes diretamente. Wyatt Powers, diretor do ARC, diz, “Eu sempre soube no meu coração que racistas e gays eram ambos moralmente corretos. Não vejo nenhum conflito entre eles. É apenas a imprensa gay-judia que tenta nos convencer que o racialismo é o mesmo que homofobia. Você pode ser um nacionalista extremo e gay sem qualquer contradição”.

Um comentário num website gay racista vai ainda mais longe na loucura racista. Um homem gay de Ohio diz: “Mesmo que você seja gay e branco, ou retardado e branco, VOCÊ É BRANCO, PONTO FINAL! Ao invés de deiar a raça branca ser extinta por causa de raças inúteis como africanos e mexicanos fazendo milhões de bebês por dia, nós temos que combater essa merda fudida que eles estão fazendo. Eles estão estuprando o nosso país”. É verdade que o racismo e a homofobia não necessariamente se sobrepõem, mas como o rabino Bernard Melchman explica, “homofobia e antissemitismo frequentemente são parte da mesma doença”. Os racistas são normalmente homofóbicos. Mesmo depois de ler todos os seus devaneios na web, eu não cheguei perto de entender por que tantos gays se aliam com pessoas que quase sempre se voltam contra eles, como os nazistas fizeram.

O defensor dos direitos gays Peter Tatchell tem uma explicação sensível e intrigante. “Há muitas razões para esse tipo de coisa”, ele diz. “Alguns deles estão em negação. Eles vão para a hiper-masculinidade, a mais extrema possibilidade de ser um homem. É uma forma de ostentação rejeitando a efeminação percebida no “outro” homossexual. Esses homens problemáticos tem uma crença simples em suas mentes: “Homens heterossexuais são durões. “Queers” são fracos”, desse modo se sou forte não posso ser um “queer”. É uma forma desesperada de provar sua masculinidade.

A revista Searchlight”, a bíblia do movimento antifascista britânico, com informantes em todas as organizações de extrema-direita, oferece uma explicação alternativa. “Geralmente condenada por uma sociedade que continua a ser largamente hostil aos gays, alguns homens podem encontrar refúgio e um novo status de energia na extrema-direita”, um de seus escritores explicou. “Através da adesão às políticas defendidas por grupos fascistas, uma nova identidade emerge, aquela onde eles não são excluídos por serem Homens Brancos, superiores a todos. Eles tomam a parte gay de sua identidade invisível, ou rejeitam as partes socialmente menos aceitáveis, como ser femininos, enquanto alardeiam o que eles veem como superior”.

Mas há outra questão importante: será que movimentos fascistas inevitavelmente interessam aos gays? No caso dos nazistas, ele parece ter sido bastante arbitrário; a principal razão de Hitler matar Rohm não estava relacionada com a sua sexualidade. Da minha perspectiva como alguém de mente progressista de esquerda, todo fascismo é mau, mas todos os gays o enxergam como hostil aos seus interesses? É possível haver um fascista gay que não age contra seus próprios interesses? O fascismo é muitas vezes definido como “uma ideologia política que advoga um governo hierárquico que nega sistematicamente a igualdade para determinados grupos”. É verdade que esta hierarquia poderia beneficiar os gays em detrimento de, por exemplo, as pessoas negras. Mas, dada a prevalência da homofobia, será que, mesmo para as pessoas que não veem o fascismo como um mau inerente, não é um risco terrível para tomar? Será que uma cultura que violentamente se volta contra uma minoria não vai atacar os gays no final? Isso parece, em última análise, uma lição lamentável para a vidinha miserável de Ernst Rohm.

A crescente conscientização do papel que gays desempenham em movimentos fascistas foi abusada por alguns homofóbicos. Em um trabalho especial de nítido teor revisionista histórico chamado “The Swastika Pink”(N.T.: A suástica rósea), o “historiador” Scott Lively tenta culpar os gays por todo o Holocausto, e descreve o assassinato de homens gays nos campos apenas como “violência de gay contra gay”. Um típico website comentando o livro clama absurdamente, que “The Pink Swastika mostra como havia muito mais brutalidade, estupro, tortura e assassinatos cometidos contra pessoas inocentes peos nazistas homossexuais do que conta os próprios homossexuais”.

Contudo, não podemos permitir que esses loucos evitem algumas sérias auto-reflexões do movimento gay. Se Bruce LaBruce estiver certo, muitos dos elementos do mainstream da cultura gay, o culto ao corpo, grito do forte, um fetiche por figuras de autoridade e crueldade, fornecem um pântano em que o vírus fascista pode prosperar. Será que alguns gays realmente ainda precisam aprender que os fascistas não nos trarão uma Solução Fabulosa para os gays, mas uma Solução Final para todos nós?


*Articulista do jornal "Independent", do Reino Unido

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