domingo, março 16, 2014

BRASIL: Kizomba, a festa da raça e a greve dos garis

Por Marcelo Biar*



Mais uma vez a Comlurb roubou a cena no carnaval. Estamos acostumados a ver o Sorriso, famoso Gari, a desfilar atrás das escolas, limpando e sambando. Mas desta vez o desfile foi completo. Um bloco… Uma escola de samba… Na verdade, para desespero do prefeito, uma categoria, quase na íntegra, nas ruas. Diferente dos “blocos chapa branca”, ligados a prefeitura, estes foram o povo na rua. E fizeram uma festa.

Me lembrou os carnavais de 1988 e 1989. No primeiro, a Vila Isabel foi campeã com o enredo Kizomba, a festa da raça. Sim, que bonito foi ver os garis resistindo às pressões da prefeitura… às notícias difamatórias da mídia. Foi bonito ver aqueles garis, oriundos de extratos sociais baixos, logo, por ser no Brasil, negros, erguendo vassouras e tomando as ruas. Era Palmares, Canudos, porto do Rio de Janeiro na Revolta da Chibata… Sem superestimar, momentos como este me dão pistas da possibilidade de um novo Brasil.

Ao mesmo tempo me lembrei do desfile da Beija Flor, em 1989. O Luxo do Lixo. As ruas foram tomadas pelo lixo lembrando os carros alegóricos da época. Uma alegoria do desgoverno. O lixo na rua, não é culpa do gari que não o recolheu. A responsabilidade da limpeza pública é do prefeito. Ele não estava tornando possível, pelo NÃO aumento, o exercício da limpeza.

Evidenciado o cheiro e a verdadeira cara da gestão PAES, uma coisa sim, foi um lixo: algumas manifestações que, ainda que sem querer, mostraram-se recalcadas com relação a conquista dos garis. Ora, comparar o tempo de greve do gari e seu índice de aumento, com os professores e sua greve é um equívoco. Se os garis conseguiram mais em menos tempo, ótimo! Mérito deles e até nosso também. Por que não nos pensamos todos como cidadãos e funcionários públicos? Por que não entender a vitória do gari como uma consequência do desgaste acumulado da greve dos professores e do apoio popular? Um acúmulo de golpes que vem fragilizando o adversário.

Pensar assim nos coloca em maioria. Nos salva de uma política autofágica. A questão hoje é o embate entre a participação popular e a gestão autoritária do Eduardo Paes Cabral. Quando uma categoria profissional tem êxito, é o trabalhador, de modo geral, que é  vitorioso. Quando Paes Cabral perde, ganhamos todos.

Somos o luxo deste lixo e devemos vencer o Paes Cabral que é o lixo deste luxo.


* Marcelo Biar é professor de História, compositor e escritor.

Nenhum comentário: