quarta-feira, julho 01, 2015

NOVORRÚSSIA: Temos que resistir no Donbass, entrevista com uma miliciana

Tradução russo-português de Cristiano Alves

Introdução de A Página Vermelha: Enquanto muitos ditos "homens" idolatram pervertidos e a Casa Branca, uma jovem siberiana pegou em armas para lutar contra Kiev e os valores ocidentais que os neonazistas pretendem impor na Ucrânia Oriental.

Como é que garotas do interior dos Urais aparecem na milícia do Donbass? Como elas combatem? O que elas dizem sobre isso?

Outro dia eu tive o prazer de conversar com uma dessas valentes garotas. O nome dela é Svetlana, ela tem pouco mais de 20 anos, nasceu e vive na cidade de Solikamsk, na região de Perm, antes trabalhava com tipografia. A guerra na Donbass não a deixou indiferente e, em novembro de 2014, Svetlana demitiu-se do trabalho, recebeu a indenização, gastou dinheiro com presentes para crianças de Donetsk e partiu para o Donbass.

Svetlana passou a servir no batalhão “Pyatnashka”. Primeiramente trabalhou conseguindo na Rússia ajuda humanitária, distribuindo-a para os necessitados. Entregava comida e roupas a pessoas que viviam em porões. Para as crianças ela trazia bombons. “Se vocês vissem os seus olhos!” – diz Svetlana sobre as crianças de Donetsk, e os olhos da própria Svetlana mudam, tornando-se vivazes.

"E o que você fazia em Donetsk?" - pergunto eu.

"Não consegui ficar muito tempo sentada como ajudante humanitária, pedi para entrar em um grupo de combate” – responde Svetlana. 

"Por que?" - pergunto.

"De fato, não quero que a guerra chegue à Rússia. Preciso parar isso tudo lá" - responde Svetlana.

E torna-se compreensível por que a frágil garota largou o trabalho, por que em meio à incompreensão de conhecidos e parentes ela deixou a sua cidade natal, por que ela foi ao próprio inferno e por que ela pegou em armas.
Abaixo, passo algumas das mais interessantes partes da nossa conversa.

Sobre a construção do Estado na RPD (República Popular de Donetsk)

Pergunta: “Como se dá hoje a construção do Estado na RPD?”

Svetlana: “Constroem, ativamente constroem. Organizaram seus comissariados de recrutamento militar (adiante CRM), através deles se dá a mobilização dos donenses no exército. Organizam o pagamento de benefícios, pensões. As pessoas gostam muito de Zaharchenko e esperam dele a melhoria em sua vida”.

Sobre o espírito combativo dos habitantes da RPD e da milícia

Pergunta: “E como é o povo de Donetsk? Há prontidão de combate, para guerrear?”

Svetlana: “A guerra afetou muito os cidadãos pacíficos. Mas no exército da RPD o espírito de luta é muito alto. Afinal de contas, por que temos tanto sucesso, por que temos poucas perdas? Por que temos um alto espírito de luta, alta motivação. E os soldados das Forças Armadas Ucranianas (adiante FAU) vem aqui involuntariamente, não querem guerrear.  A propósito, atrás das posições das FAU estão os “pravoseki” (NT: membros do Praviy Sektor), a guarda nacional, como destacamento punitivo*. Eles mesmos não se envolvem na batalha... nós fizemos muitos prisioneiros, as FAU não querem guerrear... Agora temos potencial militar bem maior, do que tínhamos a um ano atrás. Das FAU, nos “caldeirões”, nós tomamos o máximo que pudemos, armas, munições, equipamentos!”

Pergunta: "Muitos nativos estão na milícia?"

Svetlana: "Muitos, oitenta a noventa por cento. Os milicianos tem um moral muito elevado. Eles correm em direção à luta".

Sobre como tudo começou

Pergunta: “E como foi que tudo começou na primavera de 2014? O que dizem os habitantes locais?”

Svetlana: “Aqueles com quem eu conversei, em sua maioria, disseram que eles queriam se separar da Ucrânia, juntar-se à Rússia ou viver independentemente. Os nativos se levantaram por si mesmos, se auto-organizaram, eles mesmos invadiram as administrações locais...”

Sobre Strelkov

Pergunta: “E quem é Strelkov, o que falam a seu respeito em Donetsk?”

Svetlana: “Sim, já esqueceram dele. Quando no ano passado ele entregou Slavyansk e veio para Donetsk, muitos falaram dele. E agora na Rússia, ele faz discursos... Lembrar de que a respeito dele?”

Sobre a defesa de Slavyansk

Pergunta: “E o que falam a respeito de Slavyansk? Era possível defende-la, mantê-la?”

Svetlana: “Entregaram em vão. A milícia poderia manter Slavyansk, em sua maior parte, dizem. E Strelkov? A entrega de Slavyansk não foi covardia dele, mas antes de tudo estupidez...”

Sobre a ajuda humanitária.

Pergunta: “Há rumores de que a ajuda humanitária da Rússia é vendida em Donetsk nos mercados e lojas. É verdade?”

Svetlana: “Antes poderia ser, mas não agora. Mercadorias russas vem para Donetsk apenas em comboios humanitários. Se alguém ver em uma loja mercadorias, mesmo que remotamente pareçam com ajuda humanitária da Rússia, então o dono da loja não apenas é multado... Isso é rigorosamente punido”.

Sobre ações militares

Pergunta: “De que ações militares você participou pessoalmente?”

Svetlana: “Agora nós estamos a 200 metros das FAU em Marinka. Eu olho no binóculos, e os soldados das FAU me observam. Os soldados das FAU adoram sentar-se em residências, colocam tanques no meio da rua. Como atirar neles? A nossa unidade ajudou a tomar o aeroporto de Donetsk, lá nós tomamos muitos uniformes da OTAN. Mochilas (mostra a sua), kits de primeiros socorros, rações, fuzis M-4... O Ocidente está ajudando a Ucrânia seriamente, e mesmo as próprias FAU se preparam seriamente. Nós, em Debaltsevo, após a libertação, invadimos muitos hangares com alimentos, armas, equipamentos e munições, que as FAU prepararam para si. Eles poderiam se defender durante a metade do ano...”

Sobre Donetsk

Pergunta: “Fale de Donetsk, o que achou da cidade?”

Svetlana: “Donetsk é uma cidade muito bonita, o centro da cidade mesmo agora está em condição quase ideal. Lá crescem rosas, Donetsk é geralmente chamada de a cidade das rosas. Se é necessário limpar, as pessoas saem aos sábados maciçamente e de forma gratuita. Pessoas fortes, vencê-las é impossível”

Sobre a relação dos civis com os milicianos

Pergunta: “Como os habitantes nativos se relacionam com a milícia, com o exército?”

Svetlana: “Como se relacionam com a milícia? Dou um exemplo: às vezes nas trincheiras de combate nos faltam batatas** e nós vamos até os nativos trocar carne enlatada por batatas, temos muita. Então eles não pegam a carne moída, dizem: “Você já nos ajuda! Fique com elas”. Uma mulher foi nos chamar na adega, pediu para pegar as compotas, com conservas. “Só devolvam as latas”. Depois as FAU mataram o seu marido e a feriram...”

Sobre as relações com a Rússia

Pergunta: “Algumas fontes na Rússia “divulgam” que no Donbass não gostam da Rússia e dos russos”

Svetlana: “As pessoas se dão muito bem com a Rússia e com os russos. No inverno aqui eu tive resfriado, fui até a enfermaria de Donetsk, pedi ajuda. Então lá, melhor do que na Rússia, eles me trataram, vieram atrás de mim, me levaram, cuidaram de mim. Fui curada... A eles sou muito grata.”

Sobre os habitantes dos territórios ocupados pela Junta banderista*

Pergunta: “Qual é a sua relação com os habitantes da Ucrânia?”

Svetlana: “Às vezes nos ajudam os nativos de Donetsk de locais temporariamente ocupados pela Junta. Falam das FAU, para onde se mudaram... Eles vivem lá com medo, revistam tudo, levam as pessoas. Batem à porta e os vizinhos são despejados pelas FAU, em seus lugares colocam outras pessoas... A Ucrânia hoje vive um bloqueio de informação... Quando o povo da Ucrânia conhecer a verdade, ele se levantará”.

Sobre o principal

Pergunta: “E que saída você vê para essa guerra civil?”

Svetlana: “Chegar até Kiev. Não há outra opção, eles não vão descançar. Nós temos que resistir no Donbass! Ninguém “enterra” o Donbass, não o entregará a essas pessoas. Nós temos que defender essas terras, do contrário a guerra irá até a Crimeia, à Rússia, a Rússia irá guerrear com a OTAN no território da Ucrânia. E não serão granadas que irão voar, mas foguetes atômicos”.

Hoje Svetlana voltou a Donetsk para lutar pela Rússia, pelo Donbass, pelo povo. Contra o fascismo.
Foto de Svetlana com uma metralhadora 7,62, de seu arquivo pessoal


*Originalmente, “zagradotryad”, tropas punitivas responsáveis por atirar em soldados que tentam fugir da guerra. Não confundir com a expressão “batalhão punitivo”, responsável por promover atos de terror e bombardear civis na Ucrânia Oriental.
**Na Rússia, Novorrússia e Ucrânia, é comum usar como complemento alimentar a batata, em vez de arroz, como no Brasil ou partes da Ásia.
***Seguidora das ideias de Stepan Bandera, colaborador de Hitler na Ucrânia e agente da inteligência do III Reich, o Abwehr, conhecido sadista e pervertido sexual responsável pelo assassinato e estupro de russos, ucranianos e de poloneses no massacre de Volhynia, na Ucrânia Ocidental durante a IIGM.

Um comentário:

Pedagogia do Futuro disse...

Isso é mais uma prova de que a luta socialista está forte, por isso é um exemplo de esperança para o mundo, uma jovem que saiu de sua zona de conforto para lutar no Exército Popular, Novo Exército Vermelho.