É sabido que os americanos costumam reescrever a história conforme seus próprios interesses, da maneira que lhe pareça mais confortável, essa prática fica ainda mais evidente quando se trata da própria história da IIGM, onde mais de 27 milhões de soviéticos foram mortos pelas hordas fascistas, civis e militares, crianças, mulheres e homens, muitos deles aldeões indefesos incinerados vivos em igrejas em massacres como o de Hatin, em Belarus, ou mesmo heroicos combatentes como os da batalha de Stalingrado, a maior da história. Ocorre que, embora Stalingrado, Kursk ou Brest não fiquem em Nova Iorque, nos EUA existe a versão de que foi o país americano o grande "vencedor da guerra", o grande "libertador". Esse processo de falsificação e exclusão do papel soviético, facilmente refutável até mesmo por fontes americanas da época da guerra, é apresentado aqui pelo candidato de ciências tecnológicas armeno Tigran Halatyan, que hoje vive nos Estados Unidos.
Por Tigran Halatyan
Tradução de Cristiano Alves
Eu moro na América e quero compartilhar com você a forma como é apresentada a Segunda Guerra Mundial nos EUA. Primeiramente, o que me impressionou, é o fato de que a maioria dos americanos acreditam que eles foram o fator básico que decidiu a destruição da Alemanha fascista, e no tocante à União Soviética tem eles uma visão anuviada. Muitos até mesmo pensam que União Soviética lutou ao lado de Hitler...
Mas abandonemos pontos de vista e passemos aos fatos. Como falsificar a história sem recorrer a mentiras deslavadas? Basta contar uma parte da verdade, e assim teremos uma mentira sem máscara.
É assim que se escreve a história no Ocidente. Problemas ideológicos são resolvidos por meio de distorção e ocultação..
Tomemos o livro de história da 7ª série pelo qual estudou a minha filhinha, "Prentice Hall. History of Our World 2007"(Prentice Hall. História do nosso mundo, 2007). Na página 623 (seção 4, capítulo 21), a guerra que se passa em 1943-45 na Europa tem a ela apenas um parágrafo dedicado. Aqui ao todo:
"A vitória na Europa. Através das campanhas na África do Norte e na Itália, os Aliados abriram a frente ocidental contra os enfraquecidos alemães. Em 6 de junho de 1944, navios aliados com 156.000 soldados embarcados assaltaram a Normandia, na costa setentrional da França. Conhecido como Dia D, o assalto à Normandia iniciou a marcha dos aliados em direção ao leste. Em seis meses os exércitos aliados alcançaram a Alemanha. Após a última tentativa de atingir sucesso em dezembro de 1944, conhecida como "Batalha nas Ardenas", o Exército Alemão foi destruído. Os aliados alcançaram a vitória na Europa em 8 de maio de 1945.
E foi assim que acabou a guerra na Europa. É justo dizer que a Batalha de Moscou e de Stalingardo foi lembrada no capítulo acima. Mas como os americanos chegaram à Europa, os autores rapidamente esqueceram-se dos russos. Não há "ataques poderosos do Exército vermelho em 1944-1945, não há o assalto a Berlim. Há apenas alemães enfraquecidos, enfraquecidos pela aviação estratégica dos aliados!
Agora vejamos a biblioteca local. Na estante há muitos livros sobre a Segunda Guerra Mundial. Em suma falam sobre as batalhas com participação americana ou sobre o Holocausto. Muitos livros dedicam-se aos ataques japoneses em Pearl Harbor e ao Dia D. Para os que não sabem, a abertura da Segunda Frente em 6 de junho de 1944 se chama Dia D, termo militar para o dia do início da operação.
Isso, aliás, não é coincidência. Muito conveniente, em vez de falar sobre a segunda frente, os americanos preferem lembrar o "Dia D: o começo do fim para a Alemanha nazista" como a batalha mais importante da Segunda Guerra Mundial, em sua descrição. E ao começar a falar sobre a segunda frente, surge imediatamente a pergunta: onde foi a primeira frente e qual foi a frente mais importante? Portanto, a resposta mais curta e clara é "Dia D".
Mas de volta à biblioteca, eu noto em local visível três belas cópias do livro do historiador americano Stephen Ambrose, "A justa luta: Como foi vencida a Segunda Guerra Mundial"(Stephen E. Ambrose. The good fight. How World War II was won, 2001).
As notas sobre a obra são promissoras. Lá está escrito "Steven E. Ambrose, um dos melhores historiadores dos nossos tempos, escreveu a história da Segunda Guerra Mundial para os nossos jovens leitores". E aqui leio uma lista dos acontecimentos principais da guerra:
1939: 1º de Setembro. Alemanha invade a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial.
1940: 27 de setembro. Japão assinou o Pacto de Aço.
1941: 5 de novembro. O governo japonês toma a decisão secreta de ir à guerra com os Estados Unidos.
7 de Dezembro. Os japoneses fazem um ataque surpresa na base militar norte-americana em Pearl Harbor, no Havaí.
8 de dezembro. Estados Unidos declaram guerra ao Japão.
1942: 20 de janeiro. A Conferência de Wannsee.
18 de abril. Raide de Dulit no Japão.
4 de junho. A Batalha de Midway, os japoneses capturados nas ilhas de Attu e Kiska perto Alaska.
7 de agosto. Fuzileiros navais dos EUA invadem o Guadal Canal japonês.
8 de novembro. Operação Tocha, o desembarque aliado na África do Norte.
E assim por diante. Sobre a guerra da URSS contra o nazismo - praticamente nada se diz.
Isto é, respondendo à pergunta sobre como a Segunda Guerra Mundial foi vencida, por um "dos melhores historiadores do nosso tempo", tranquilamente e sem qualquer pitada de consciência é falado apenas sobre as batalhas e eventos envolvendo a participação dos americanos. E na América isso é adotado como norma. Visite um website popular de venda de livros. Lá há apenas comentários positivos sobre o autor(menos as opiniões verdadeiras dos leitores).
Steven Ambrose, um dos historiadores mais populares de livros escritos nos EUA, possui um livro com um parágrafo significante em "Os vencedores: Eisenhower e seus rapazes. Os homens da II Guerra Mundial"(The Victors: Eisenhower And His Boys The Men Of World War II). Na página 352 temos:
"Na primavera de 1945, em diferentes partes do mundo, apareceram destacamentos de dúzias de jovens, armados e uniformizados, que semearam o terror nos corações das pessoas. Fossem eles destacamentos do Exército Vermelho... ou do Exército Alemão... ou destacamentos do Exército Japonês... esses destacamentos recorriam a estupros, pogroms, saques, destruição maciça e matanças desmotivadas. Mas havia uma exceção, eram os destacamentos do Exército Americano, visão que despertava os maiores sorrisos, visíveis nos rostos das pessoas, que semeavam a alegria em seus corações..."
Se Ambrose não vê diferença entre o Exército Vermelho e os nazistas, fazer o quê? E como ficam seus amigos ingleses? Num ataque de narcisismo até esqueceram deles. E isso, repito, num dos principais historiadores americanos - seus livros são vendidos em toda parte. Mas será que não é possível encontrar na biblioteca livros dedicados à participação da União Soviética na guerra?
É possível. Temos um livro de 2004, de Margaret D. Goldstein: "Segunda Guerra Mundial na Europa" (Margaret J. Goldstein. World War II in Europe).
Lá, na página 17, há um mapa da Europa intitulado "Blitzkrieg de Hitler: 1939-1941". Só a União Soviética, por algum motivo, não está pintada. Olhei mais de perto e vi "União Soviética, aliada da Alemanha até junho de 1941". Isso de forma clara e sem pudor. Depois disso, não é surpreendente que sobre a contribuição da União Soviética não tenha sido tamanha. Mas, mesmo depois de junho de 1941, tivemos como aliados a Inglaterra e os EUA. Mas, na página 86 há uma lista de grandes batalhas.
As principais batalhas da Segunda Guerra Mundial na Europa:
A invasão alemã da Polônia - 1 de setembro de 1939
A invasão alemã da Noruega e da Dinamarca - 09 abril de 1940
A invasão alemã da Bélgica, Holanda e França - 10 de maio de 1940
A Batalha da Grã-Bretanha - De julho a outubro 1940
A invasão alemã da União Soviética - 22 de junho de 1941
A batalha de Kiev, Kursk, Leningrado, Moscou, Sevastopol e Stalingrado - junho de 1941 a junho 1944
Os japoneses bombardearam Pearl Harbor, Hawaii - 07 de dezembro de 1941
A Batalha de El Alamein - de outubro para novembro 1942
Invasão aliada da Argélia e Marrocos - 08 de novembro de 1942
Invasão aliada da Tunísia e Líbia - de fevereiro a maio 1943
A invasão aliada da Sicília - 10 de julho de 1943
A batalha de Monte Cassino, Itália - 4 de janeiro to 18 de maio, 1944
A invasão aliada da Anzio na Itália através de: - 22 de janeiro de 1944
Invasão aliada da França através da Normandia (Dia D) - 06 de junho de 1944
Invasão aliada do sul da França - agosto 1944
Isso mesmo, sem qualquer respeito, todas as mais importantes das nossas batalhas são reunidas numa simples linha. E as batalhas por Budapeste e Berlim, além de outras, sequer aparecem. Por isso que o americano médio não entende que 80% do exército alemão foi destruído na Frente Oriental. Ah, nós lembramos - "após a batalha nas Ardeñas o exército alemão foi esmagado". Nos dá a impressão, ainda, de que após a chegada dos americanos na Europa, apenas eles combateram os alemães.
Alguém pode alegar que eu escolhi especialmente os piores livros, e que, de súbito, há melhores. Há, nó é preciso buscar muito. É possível recolher migalhas da verdade, mas o filho de um americano não conseguiria fazê-lo. E eu citarei trechos de publicações mais populares. Por exemplo, o que pode ser mais popular do que a famosa série "Para leigos"(For Dummies), que é publicada em enormes tiragens para todo o mundo, inclusive na Rússia?
Vejamos um livro de Kate D. Dickson, "A Segunda Guerra Mundial para leigos"(Keith D. Dickson. World War II for Dummies). Na contra-capa do livro, que deve prender a atenção do leitor, temos: "Conheça a história de Hitler, Pearl Harbor, Dia D e Hiroshima". A frase é bastante notável e mostra a quê os americanos associam a guerra. Não surpreende, que entre vários eventos importantes não havia lugar para Moscou e Kursk. Mas é interessante o que está no capítulo 23, página 371 de "Os dez maiores líderes da Segunda Guerra Mundial".
O autor trata o assunto a sério: "Quando se trata de fazer tal lista, há que escolher aqueles que merecem atenção... Eu fiz uma lista com as principais qualidades de liderança de pessoal, domínio da técnica militar, capacidade de inspirar as pessoas na batalha, capacidade de usar a vontade individual em prol dos interesses nacionais. Para fugir de discussões maiores eu coloco a lista em ordem alfabética".
Como resultado, os dez primeiros foram:
1. Winston S. Churchill: A Grandeza Eterna (Inglaterra).
2. Dwight D. Eisenhower: Não se preocupe, alegre-se (EUA).
3. Douglas MacArthur: Malditos torpedos! (EUA).
4. George Marshall: A Verdadeira devoção (EUA).
5. Chester W. Nimitz: Senhor dos Mares (EUA).
6. George S. Patton: Guerreiro para qualquer época do ano (Estados Unidos).
7. Erwin Rommel: A raposa do deserto (Alemanha).
8. Franklin D. Roosevelt: Esquivador habilidoso (EUA).
9. Isoruko Yamamoto: Guerreiro Samurai (Japão).
10. Georgy Júkov: O líder das massas (URSS).
É compreensível o porquê desse livro, ao contrário da série For Dummies, este livro sobre a Segunda Guerra Mundial não seja traduzido em russo. Nós provavelmente tínhamos outra Segunda Guerra Mundial completamente diferente. Mas adivinhem quem disse o seguinte:
"A história não conhece maior exemplo de coragem do que o que foi mostrado pelo povo da Rússia Soviética". "Nós e os nossos aliados estão eternamente gratos e sempre em débito com o exército e o povo da União Soviética.". "A capacidade e o espírito de luta combativo dos soldados russos têm a admiração do Exército dos EUA". "A escala e a grandiosidade da contribuição russa pode ser considerada como o maior feito militar de toda a história".
Eu encontrei essas declarações no alto comando dos EUA no famoso filme-documentário americano "Por que lutamos: A batalha da Rússia", dirigido por Frank Kapra, produzido em 1943. A primeira citação pertence a Henri L. Simpson, Ministro da Guerra dos EUA; a segunda, a Frank Knox, Ministro da Marinha dos EUA; a terceira, ao Diretor do Estado-Maior George Marshal; a quarta, ao general Douglas McCarthur, comandante das forças americanas no Oceano Pacífico.
Assim, no distante ano de 1943, quando a União Soviética praticamente sozinha combateu a força da Alemanha nazista e salvou todo o mundo da ameaça parda, eles falavam de modo completamente diferente...
Extraído da revista Gorod 812: http://www.online812.ru/2012/05/23/010/
Traduzido por Cristiano Alves
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