Por Cristiano Alves
Duguin e Duke, Grão-Mago do Ku Klux Klan, em foto mantida no site do último |
Esteve no Brasil recentemente o filósofo e professor russo Alexander Duguin, palestrante do Encontro Evoliano sediado na cidade de São Paulo, e ex-professor da Universidade Estatal de Moscou(MGU), demitido após uma série de críticas suas à inação das elites russas ante o conflito na Novorrússia e pedidos mais enérgicos de intervenção direta da Rússia no conflito no Leste da Ucrânia. Muitos saudaram o professor russo de forma entusiástica, inclusive pessoas de esquerda, comunistas que se consideram marxistas-leninistas. Essa não foi a primeira vez que o professor Duguin esteve no Brasil, onde até lançou livros seus em português. Apesar do entusiasmo de muitos militantes de esquerda e mesmo de nossas saudações a alguns trabalhos seus, nós não nos iludimos quanto à verdadeira natureza de suas ideias, que esse artigo visa expor.
Alexander Duguin é sem dúvidas um progressista quando se trata de expor o processo de dominação cultural e militar ao qual o ocidente tem tentado submeter a Rússia. Ele também mesmo chega a superar muitos ditos "comunistas" quando se trata de denunciar de forma exemplar o flagelo conhecido por liberalismo, digno da mais profunda repulsa por qualquer pessoa que se diz comunista. Pode-se mesmo recomendar a aquisição de alguns trabalhos seus, pois suas análises também são muito ricas no que tange o pós-modernismo e a sua natureza enquanto ideologia do capitalismo contemporâneo. Mas isso não faz de Duguin nenhum "sábio excepcional", superdotado ou "a nova alternativa". Em realidade, sua alternativa política parece ser "velha como o mundo", como se diz na Rússia, e qualquer um que minimamente sabe russo sabe muito bem o que Duguin e muitos de seus partidários tem a esconder.
Tudo começa quando a investigação de um dos entusiastas de Duguin no Brasil se revela simpático a uma racista, conivente com o racismo. Parece pouco? Não é pouco se levarmos em conta que ele também integra um grupo nazista à moda antiga que defende ideias de "supremacia ariana", pseudocientífico, obviamente. Aparentemente, muitos que têm receio de assumir publicamente o seu nazismo assumem socialmente a Quarta Teoria de Duguin, e não fazem isso por acaso. Não são poucos os russos que comentam sobre o fascismo disfarçado de Alexander Duguin. Melhor que isso, só mesmo analisando os seus escritos. Em 1997, num poema chamado Nezhdaniy nikem avatara(Avatar inesperado de ninguém), o nome de Himmler é evocado por um certo "Alexander Sternberg", pseudônimo de Alexander Duguin, conforme alegado pela poetisa russa Tatyana Scherbina. Duguin alegou que não fora o autor do artigo, o que foi contrariado por Vladimir Pribylovsk.
Em vez da teoria marxista da "luta de classes", Duguin, em manifesto político de 1992, "A Grande Guerra dos Continentes", sustentou que a história de todas as sociedades não foi uma "história da luta de classes", mas sim da "história da luta de atlantistas contra eurasianos", publicada no diário nacional-patriótico Den, e republicado no livro Konspirologiya. Lá Duguin desenvolve suas teorias conspiratórias sobre "atlantistas x eurasianos", onde eles sustentam que eles foram as "forças ocultas de todas as guerras". Nesse mesmo artigo, Duguin salienta que "encontramos representantes dessa ordem(eurasianista) no Abwer(a inteligência nazista), e depois nos setores estrangeiros da SS e SD(especialmente a SD, cujo chefe Himler foi um eurasianista convicto, tornando-se vítima das intrigas do atlantista Canaris). Esse artigo absurdo sustentava também que o KGB(do qual o pai de Duguin era general) era uma "organização dos atlantistas".
Outro artigo absurdo de Duguin é o artigo político "Nacionalismo de esquerda", escrito em 1992. Lá Duguin sustenta uma apologia ao neofascismo russo, ele sustenta que "o fascismo é o Terceiro Caminho". Ele defende no artigo um "fascismo sem chovinismo", "sem ódio racial", um "fascismo russo". O fascismo, como bem coloca William Bland, é a "ditadura terrorista aberta e sem máscara da burguesia exercida através de um partido fascista contra o proletariado", sendo um ideário incompatível com o comunismo e com os objetivos dos operários e camponeses, normalmente as maiores vítimas de seu regime político. Embora ele tente se distanciar do fascismo alemão, Duguin sustenta no artigo que a SS era um oásis ideológico. Alguns podem alegar que Duguin mudou, que ele abandonou suas convicções filo-nazistas, mas outros sustentam ser isso mera retórica.
Desde 1992, Duguin publicou a revista "Elementos" junto a nomes da extrema-direita europeia, Robert Stoykers, Jean Tiriar, Claudio Mutti, Allan De Benoi, na qual muitos aprendiam a ideologia da Waffen SS. A conexão de Duguin com neonazistas é algo que parece não incomodar nenhum pouco o cientista político russo, tampouco é coisa do passado. Em 2005, Duguin manteve encontros com o grão-mago David Duke, do Ku Klux Klan, renomado racista americano que foi à Rússia para escrever um livro sobre "como os judeus impuseram o comunismo na Rússia". Um certo Vladimir Romanov chegou a escrever sobre Duke era importante para uma revolução feita por um povo russo livre como John Reed foi importante para a escravidão bolchevique, 87 anos antes. A foto de Duguin com Duke está em vários sites, inclusive na página pessoal do Grão-Mago. E isso por que verbalmente Duguin rejeita os "aspectos racistas do nazismo".
As críticas a Duguin não partem apenas de liberais, como poderiam alegar alguns, como também de comunistas, democratas, nacionais-bolcheviques como Limonov e mesmo de eurasianistas(Duguin se enquadraria como um neo-eurasianista). Um artigo publicado pelo Centro Gumilyov, eurasianista, sustenta que numa entrevista em inglês dada em 1996, Duguin enfatizou várias vezes que era um fascista, bem como um "conservador revolucionário". Durante a década de 2000, precisamente em 2006, Duguin ressaltou como exemplos a serem seguidos os "nazistas de esquerda" como Otto e Grevor Strasser, além de Goebbels, essas são algumas posições pouco comentadas no tocante ao líder "eurasianista".
Tudo isso explica o porquê da afirmação de Duguin segundo o qual "o comunismo foi uma ideologia fracassada e totalitária", empregando um término liberal(apesar dele incluir o liberalismo também no rol de ideologias totalitárias). É notável para qualquer observador atento que Duguin, durante o encontro evoliano, praticamente nada disse sobre os crimes e atrocidades cometidas pelo fascismo, logo ele que nasceu na União Soviética, país invadido por dezenas de milhões de hordas fascistas da Alemanha, Itália, Hungria e de outros países, cuja influência nefasta Duguin procura atenuar.
Essas posições não são todos os absurdos ideológicos do professor russo, que diferente de Olavo de Carvalho teve uma formação intelectual universitária. Duguin rejeita a importância da cosmonáutica soviética, desenvolvida sob o socialismo e tendo em Yuri Gagárin e Valentina Tereshkova seus grandes ícones. Para ele, o desenvolvimento da cosmonáutica foi "uma vergonha", pois o certo seria o homem servir à Deus e à Igreja. Mas tal como Olavo de Carvalho antes de se apresentar como "católico fervoroso" recorria ao ocultismo, astrologia e magia negra, o joven Duguin foi flagrado numa missa negra em memória de Aleyster Crowlei, bruxo e ocultista(segundo alguns, satanista), segundo nos informa um blog comunista russo. Essa mesma tese é sustentada em um fórum de um site cristão ortodoxo russo, onde são levantadas ligações suas com o paganismo. A confusão ideológica(e religiosa) de Duguin faz parte de sua própria história. Nos anos 90 ele trocou de movimento político como quem troca de camisa, podemos listar dentre alguns de seus movimentos o Pamyat, poderia-se falar mesmo no KPRF, Frente Nacional-Bolchevique, Partido Nacional Bolchevique, Eurásia e outros.
Os devaneios daquele que sustenta ter sido o comunismo uma "ideologia fracassada do século XX" não param por aí, chegando mesmo a níveis pueris. Um bom exemplo está num vídeo onde Alexander Duguin propõe a proibição da internet(Bog protiv interneta, isto é, "Deus contra a internet"), que segundo ele "nada traz de bom", curiosamente essa "internet que nada traz de bom" tem um número expressivo de vídeos duguinistas no Youtube, na rede social VK, além do próprio Duguin manter uma página virtual, uma página na rede social russa VK e até mesmo no Facebook, todas aparentemente operadas por alunos seus, segundo indícios. Ele também espinafra sites como o Livejournal, que segundo ele é um "mecanismo de degradação da juventude. Tamanho absurdo nem mesmo Olavo de Carvalho ousou cometer! Absurdos esses que demonstram que o pensador russo não pode ser, ao menos em sua totalidade e mesmo em grande parte de seu sistema de ideias, levado a sério!
A chamada "Quarta Teoria Política" de Duguin não passa de um mero truque, uma falácia, ela não tem nada de novo, apenas velhas fórmulas com uma nova roupagem. Nem mesmo Duguin acredita em "quarta teoria", a despeito de alegar que "a quarta teoria é o eurasianismo". O próprio Duguin sustenta que há apenas 3 teorias, comunismo, liberalismo e fascismo, se encontrando a sua no último campo, só que com uma nova roupagem, um novo discurso, uma nova retórica, especialmente quando hoje na Rússia é punido por lei a "propaganda do extremismo", o que leva o professor a buscar uma nova roupagem para velhas ideias com uma nova linguagem e nomes pomposos como sua teoria sobre o "dasain", que, é necessário admitir, já foi desmistificada até mesmo pelo embusteiro Olavo de Carvalho. Para muitos intelectuais, russos e estrangeiros, a Quarta Teoria não é mais que um embuste ideológico pseudo-intelectual.
Dugin merece grande respeito enquanto oponente do imperialismo ocidental e do liberalismo(e sem isso ele não teria nenhuma popularidade), enquanto pesquisador histórico que ajudou a desmistificar as mentiras sobre a história da União Soviética fabricadas pela indústria anticomunista da Glasnost, demonstrando o mito das "milhões de vítimas do comunismo", todavia enquanto "mentor ideológico", "professor ideológico" ou referência teórica ele pertence ao mesmo abismo que nomes como Soljenytsin e Olavo de Carvalho. Para impedir que o fascismo, histérico ou não, se alastre dentre a juventude faz-se necessária a criação de um Partido Comunista de tipo revolucionário que resgate o espírito combativo dos comunistas e atue de forma agressiva contra o flagelo do liberalismo e do pós-modernismo!
Duguin em missa negra:
Fonte de consulta:
O doutor Duguin é fascista?
Duguin e Crowley, ocultista e satanista
2 comentários:
Ainda bem que não te iludes com duguin.
Eu prefiro mil vezes um comunista imperfeito ou qualquer outro socialista, ou mesmo uma pessoa sem opção partidária ou ideológica mas com o minimo de inteligência do que este tipo de escarro que é um fascista mascarado de anti-imperialista. Um fascista é um imperialista e a ideologia deste duguin é do mais reacionário que pode haver.
Para mim não merece respeito nenhum. É uma das formas do inimigo. Para mim ele merecia era um asilo para os doentes mentais para se curar das suas óbvias patologias mentais.
O que é preciso é mais pessoas a lerem Marx e Lenin e interessadas em construir um mundo melhor livre do capitalismo e das suas manifestações extremas e aberrantes fascismo e imperialismo, escondam-se sob que pele se esconderem.
Estava querendo saber mais sobre essa "política inovadora" já faz tempo, obrigado pela informação Cristiano, e continue com o trabalho excelente.
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