domingo, setembro 28, 2025

Nesta segunda-feira, exclusivamente no canal Camarada Comissário: tradução de documentário sobre o terrorista ucraniano Stepan Bandera

Tradução de documentário sobre o terrorista ucraniano Stepan Bandera

Acesso pelo link: https://youtube.com/live/fwyqYjKcygM?feature=share



Como a IA Gemini 2.5 Pro inventa falsas informações

Ultimamente o uso da IA tem sido cada vez mais comum, todavia, vários equívocos têm sido verificados não somente nesta, como também em outras IAs.

Tem sido incrivelmente difícil confiar no Gemini ultimamente. O mesmo tem se passado ao Deep Research - é feita grande coleta de recursos e citações com grandes quantidades de texto para passar uma sensação de confiança, mas quanto relatórios são investigados, mais se percebe que, apesar de toda essa pesquisa, ele regularmente inventa fatos, declarações, etc. São frequentemente apresentadas informações completamente fabricadas e mesmo obtidas de fontes duvidosas, mas a IA os apresenta como verdade espremida entre os fatos realmente pesquisados, tornando muito difícil de detectar. 

Esses equívocos também acontecem no Chat GPT. O fato é que numa época em que fala-se muito de inteligência artificial, parece que tem perdido força a inteligência natural.

Deputado bolsonarista que defende divisão da SS foi desmoralizado em debate com jornalista Breno Altman

 


sexta-feira, setembro 26, 2025

Karl Heinrich Marx x Karl Heinrich Ulrichs: a luta do marxismo contra o uranismo

 

Os fundadores do socialismo científico, Karl Heinrich Marx e F. Engels, rejeitaram as teses do uranismo (mais tarde conhecido por várias letras) de Karl Heinrich Ulrich

É comum em tempos pós-modernos que alguns movimentos que visam a legitimação ou "humanização" do capitalismo tentem ocupar praticamente todos os espaços da vida social, inclusive no terreno político-ideológico, no contexto de uma luta pelo poder, micro e macro. Neste sentido, algumas ideologias acabam sendo descaracterizadas por hordas que fazem esforços não somente para se apropriar de uma corrente filosófica, como também para subordiná-la ao que ficou chamamos de "ideologia da sodomia", na qual praticamente todas as esferas da vida social ficam subordinadas a uma ideologia antinatural, frequentemente coordenada por ONGs estrangeiras e grupos agressivamente vitimistas, numa busca não somente pelo triunfo de sua narrativa, como também pelo poder de polícia.

Karl Ulrichs é considerado o pioneiro do movimento LGBT, considerado como organização extremista em vários países membros da ONU

Embora alguns acreditem se tratar de um fenômeno exclusivamente recente, no qual certa ideologia seria um símbolo do "progresso", o fato é que em outros tempos foram testemunhados intensos embates. No século XIX dois homens duelariam em nome do triunfo de suas ideias, não com roupeiras e nem mesmo pistolas, como era comum naquele século, mas com suas canetas, atrasando assim, por séculos, a implantação de um programa misantrópico celebrado em verdadeiras procissões em São Paulo, Amsterdão, Telaviv e Nova Iorque, e positivado sob a forma de leis repressivas em países como a Alemanha e até o Brasil; tratava-se da luta ideológica entre Karl Heinrich Marx e Karl Heinrich Ulrichs, este último o avô ideológico daqueles em nosso tempo chamados de "povo do alfabeto".

Nos Manuscritos econômico-filosóficos, traduzidos para o português pela editora Martin Claret, Marx escreveu que "as únicas relações naturais são aquelas entre um homem e uma mulher". Neste sentido, ao receber exemplares das obras de Karl Ulrichs, um defensor da descriminalização do crime de pederastia do código penal alemão, os pais do socialismo científico tiveram uma reação bastante negativa. Ulrichs enviou seus escritos a uma ampla variedade de figuras influentes. Karl Marx recebeu sua obra "Mennon oder incubus". Marx e Engels sequer se deram ao trabalho de agradecer a Ulrichs por lhe enviar seu trabalho ou enviar-lhe uma crítica dele. Engels leu o livro de Ulrich e escreveu a Marx em 22 de junho de 1869:

"Que 'sodomita' (o termo em alemão original é "urning") curioso você me enviou. São revelações extremamente antinaturais. Os pederastas estão ficando muito ousados e descobriram que constituem um poder no Estado. Faltava apenas a organização, mas, segundo isso, ela já parece existir em segredo. (Original: "Das ist ja ein ganz kurioser ‚Urning', den Du mir da geschickt hast. Das sind ja äußerst widernatürliche Enthüllungen. Die Päderasten fangen an sich zu zählen und finden, daß sie eine Macht im Staate bilden. Nur die Organisation fehlte, aber hiernach scheint sie bereits im geheimen zu bestehen)..." (Obras em alemão. Vol. 32, pp. 324/5, Engels para Marx, 22 de junho de 1869)

Naquele século, os criadores do socialismo científico utilizavam cartas para sua troca cotidiana de ideias, assim como hoje usa-se smartfones, e-mail e aplicativos de mensagens, esta carta não tinha um propósito doutrinário e nem a intenção de ser publicada, todavia, ela revela claramente o que se passava na mente de Engels quando ele se deparou com doutrinas homossexuais. Enfatize-se que Engels utiliza o termo "Päderasten", utilizado no século XIX para designar um homossexual masculino, não necessariamente um homem obcecado por jovens do sexo masculino. O próximo ponto que chama a atenção é o termo "antinatural", usado ainda na Grécia Antiga por Platão. Engels também deixa implícito que já existia uma organização de sodomitas, o que o século posterior viria a confirmar. Engels também chama Ulrichs de covarde ("Infelizmente, ele ainda não tem coragem de admitir isso abertamente" ) porque ele não confessa publicamente.

Nesta carta a Marx, Engels, além disso, expressa indiferença e até simpatia pela iminente adoção do Direito Penal prussiano pela Confederação da Alemanha do Norte, que criminalizava a prática da pederastia. Sem ser contestado por Marx e Engels, o parágrafo contra a sodomia foi incorporado inicialmente ao Código Penal da Confederação da Alemanha do Norte e, em 1871, ao Código Penal Imperial. In verbis, a pederastia era legalmente definida como:

"Fornicação antinatural cometida entre pessoas do sexo masculino ou entre humanos e animais deve ser punida com prisão; a perda dos direitos civis também pode ser imposta."

Esta é a redação do Artigo 175 do Código Penal, promulgado no ano da fundação do Império. Esta redação é idêntica ao Artigo 173 do projeto de Código Penal para a Confederação da Alemanha do Norte de 1869. Seu conteúdo é baseado no Artigo 143 do Código Penal para os Estados Prussianos, adotado em 1851.

Ao final de seu desabafo quanto ao trabalho de Ulrichs, Engels pede a denúncia do homossexualismo de outros oponentes políticos. Não foi a primeira vez que Engels expressou seu descontentamento quanto a tais militantes. Já em 10 de março de 1865, Marx escreveu a Engels:

"A audácia de Herr Schweitzer (homossexual seguidor de Ferdinand Lasalle), que sabe que eu só precisei publicar suas próprias cartas, é fabulosa. Mas o que mais este maldito cão pode fazer? ... Você deve enviar algumas piadas sobre esse sujeito para Siebel (Carl Siebel, 1836 - 1868, amigo de Marx, poeta e publicista), que, por sua vez, deve divulgá-las nos diversos jornais." (Obras Vol. 31, p. 95)

Em "A origem da família, da propriedade privada e do Estado", escrito principalmente por Engels, pode-se encontrar passagens inequívocas acerca da posição que os comunistas devem ser acerca do assunto. Trata-se de uma obra fundamental sobre a qual Lenin escreveu em 1919:

"Espero que, em relação à questão do Estado, vocês se familiarizem com a obra de Engels "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado". É uma das obras fundamentais do socialismo moderno, na qual se pode confiar em cada frase, na qual se pode ter certeza de que nenhuma frase é proferida ao acaso, que cada uma é escrita com base em uma enorme quantidade de material histórico e político." Lenin. Sobre o Estado, Obras Vol. 29, p. 425

Milhões de comunistas foram educados por esta obra. Falando sobre as origens da sodomia na Alemanha, Engels escreve:

"Esse progresso, no entanto, surgiu decisivamente do fato de que os germanos ainda viviam na família matrimonial e, na medida do possível, enxertavam a posição correspondente das mulheres na monogamia, mas de forma alguma da natureza lendária e maravilhosamente moralmente pura dos germanos, que se limita ao fato de que o casamento por matrimônio não envolve, de fato, as flagrantes contradições morais da monogamia. Pelo contrário, os germanos haviam se corrompido moralmente durante suas migrações, especialmente para o sudeste, em direção aos nômades das estepes do Mar Negro, e, além da equitação, também adotaram deles graves vícios antinaturais, como Amiano, dos taifalianos, e Procópio, dos hérulos, expressamente testemunham." (Obras Vol. 21, p. 71)

Os autores Amiano Marcelino e Procópio, em diferentes séculos, expressaram repulsa pelo fato de as tribos germânicas dos taifalianos e herulianos praticarem o chamado "vício de Sodoma". Tribos pagãs, de acordo com Amiano Marcelino, esses povos possuíam práticas sociais que, segundo o autor, eram libidinosas e obscenas, como a pederastia. Afirma Marcelino que frequentemente a pederastia destas tribos tinha um caráter de ritual antes de atos de violência praticada em campanhas militares.

Engels, é claro, também não gostava do papel dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo na Grécia "clássica":

"Com o passar do tempo, essa família ateniense tornou-se o modelo a ser seguido não apenas pelos demais jônios, mas também, cada vez mais, por todos os gregos do interior e das colônias, que moldavam suas relações domésticas a partir dela. Mas, apesar de todo o isolamento e vigilância, as mulheres gregas frequentemente encontravam oportunidades para enganar seus maridos. Estes, que teriam vergonha de revelar qualquer amor por suas esposas, divertiam-se em todo tipo de casos amorosos com hetairas; mas a degradação das mulheres vingou-se dos homens e também os degradou, até que eles afundaram na repugnância do amor por rapazes e degradaram seus deuses, assim como a si mesmos, através do mito de Ganimedes." (Obras, Vol. 21, p. 67)

Em tempos antigos, em vez da bandeira do arcoíris, os homossexuais eram representados pelo mito de Ganímede, personagem da mitologia grega sequestrado pelo próprio Zeus em forma de águia para ser o seu "namorado"

O mito de Ganímede, conforme se sabe, diz respeito a um rapaz grego, aquário, que por sua beleza tornou-se "amante" de Zeus. Mas nem sempre, em cartas privadas, Engels mantinha o mesmo refino no vocabulário.Referindo-se, por exemplo a Wilhelm Liebknecht, Engels escreveu a Marx que este

"...Liebknecht está naturalmente furioso, já que todas as críticas foram dirigidas especificamente a ele, e ele é o pai que, junto com o come-cu Hasselmann, concebeu um programa podre..." (Marx-Engels Werke Vol. 38, pp. 30/31, Engels para FA Sorge, 11 de fevereiro de 1891) 

No original o termo usado é "arschficker" que corresponde exatamente à tradução supracitada. O termo alemão "ficker" tem a mesma raiz do termo em inglês "fucker", sendo o inglês também uma língua germânica. O programa descrito por F. Engels é o famoso Programa de Gotha. 

Justiça seja feita, é importante enfatizar que até a realização desta pesquisa não foram encontrados registros de que Hasselmann fosse de fato um sodomita, podendo o termo ter sido usado com o intuito de suscitar repulsa por aquele autor. Por esta razão algumas traduções mais "puritanas" utilizam o termo "ignóbil", "idiota" ou algum insulto menos "picante" para o termo "aschficker". Ainda que Hasselmann não o fosse, esta carta apenas reforça a ideia de que tanto K. Marx quanto F. Engels desaprovavam tal comportamento e qualquer ideia que de alguma forma o legitimasse, como é comum no século XXI nos países do Ocidente.

Apesar desta posição, Marx e Engels tinham a mais alta estima pelo socialista utópico francês Charles Fourier, ao qual Marx e especialmente Engels teceram grandes elogios, usando-se, entretanto, da famosa estratégia de "comer o peixe sem comer as espinhas". Isso deve ser tomado em conta, a considerar que a posição de Fourier a esse respeito diferia da postura dos alemães. O francês escreveu: 

"A integridade sexual aproxima os sexos. Quando nada é proibido ou suprimido, pontes são construídas entre as identidades sexuais, para os amores sáficos e pederásticos, e essa ponte para preferências sexuais menos comuns é necessária para a harmonia." 

Marx e Engels fizeram vista grossa para essa passagem. Embora alguns possam alegar que Marx e Engels eram "homens de seu tempo", o fato é que em todos os tempos, em todas as eras e séculos, a origem da vida está vinculada à ideia de união entre homem e mulher, não entre dois homens ou entre duas mulheres, mas entre sexos opostos. Essa união não apenas garante a vida, como a continuidade de povos, tribos e inteiras civilizações. 

Hoje, na União Europeia, com suas "paradas LGBTs", o feminismo e a doutrina childfree e congêneres, a população cai, a produtividade cai e a previdência já é tida como um problema certo no futuro para a geração atual. Em alguns lugares da Alemanha, terra natal de Engels e Marx, já acontece a "Grande substituição", onde o déficit de mão-de-obra leva o capitalista alemão a recorrer a grandes massas de trabalhadores ilegais do Oriente Médio e da Índia, o que pela diferença de culturas, em especial relativa à mulher, tem levado a grandes convulsões sociais. 

Homossexuais não devem ser discriminados e devem ter seus direitos respeitados, enquanto seres humanos, mas não por sua postura ideológica ou suas escolhas pessoais. Eles devem ter acesso a um sistema de saúde, tal como os demais cidadãos, mas por motivos biológicos e médicos deve ser feita uma separação entre o que é o verdadeiro "sexo" do que é um "vício", tal como se faz com o vício do cigarro ou do alcoolismo, que são permitidos a cada um, todavia são alvo de devidas campanhas educativas. Um fumante consciente, por exemplo, que respeita normais morais e a legislação, evita fumar próximo de um não fumante e principalmente num ambiente voltado para não-fumantes e em nenhum momento um estabelecimento que reitera que "É proibido fumar!" é considerado "discriminatório" ou "racista". Essa discussão deveria ser colocada em pauta, em vez de outras de menor relevância.

A práxis mais uma vez confirma a assertividade das teorias de Marx e Engels: a exaltação do urano-homossexualismo não tem absolutamente nada de "progressista" e nem é o caminho para a liberdade e o desenvolvimento social, mas sim um atestado de um experimento social planetário falho e nocivo para as gerações do presente e do futuro.


sábado, setembro 06, 2025

O DIREITO DA NAÇÃO E O RACISMO SEM MÁSCARA NA UCRÂNIA

 O DIREITO DA NAÇÃO E O RACISMO SEM MÁSCARA NA UCRÂNIA

A organização política Patriotas da Ucrânia (embrião do Batalhão/Regimento/Brigada Azov), fundada pelo já defunto Andriy Parubiy, tinha um programa abertamente neonazista. Enquanto o Partido Social-Nacional da Ucrânia disfarçava o seu neonazismo nas entrelinhas, o Patriotas da Ucrânia expunha de forma aberta um programa com ideologia racista, xenófoba, neonazista e eugenista. Anos após a sua fundação, o Patriotas da Ucrânia converter-se ia, em 2014, no Batalhão Azov, depois Regimento Azov e hoje na Brigada Azov. Inicialmente se tratava de um grupo paramilitar apoiado pelo Ministério do Interior da Ucrânia, até ser integrado às FFAA da Ucrânia. A unidade militar foi fundada por Andriy Biletskiy e Oleg Odnorojenko, seu ideólogo, ambos neonazistas confessos, tendo o primeiro sido condenado em mais de uma oportunidade por crimes comuns de direito penal como roubo. O programa político do partido do qual derivou o Azov expunha o Direito da Nação, o primeiro documento publicado pela organização, da seguinte maneira: “1. A nação, como comunidade natural, organismo espiritual e biológico mais vivo, com origem comum, tipo racial, mentalidade, língua, território de residência e cultura, tem o direito incondicional à vida e à preservação de sua identidade racial e espiritual. 2. A nação tem o direito incondicional e legal de resistir em caso de tentativas de privá-la de sua própria autossuficiência. 3. A nação tem o direito de travar uma luta defensiva e ofensiva contra as forças que procuram destruí-la ou deformá-la. 4. A nação tem direito à monoetnicidade do seu próprio Estado, bem como à total independência estatal e à ignorância das normas internacionais, caso estas ameacem a existência ou o desenvolvimento normal da nação. 5. A nação, como população genética fechada, tem o direito de se livrar, em seu território, de impurezas de outras raças, deportando seus portadores para o território histórico onde vivem. 6. A nação tem o direito de melhorar a sua própria saúde através da implementação de legislação racial, eugenista e ecológica. 7. A nação tem o direito de restaurar seu espaço espiritual, cultural e linguístico natural por meio da renacionalização de seus representantes individuais e grupos sociais e regionais da população que foram desnacionalizados como resultado da ocupação estrangeira, da integração em formações estatais multiétnicas ou da influência da cultura cosmopolita. 8. A nação tem o direito de estabelecer uma ordem socialmente justa em seu próprio Estado, bem como de se livrar das camadas parasitárias que tentam, por meio de manipulações econômicas e políticas, apropriar-se dos valores materiais da nação. 9. O Direito da Nação prevalece sobre os direitos particulares de indivíduos, famílias e grupos sociais. Os direitos destes últimos são exercidos dentro dos limites e sem prejuízo do Direito da Nação. 10. A nação tem um dever inalienável: implementar plenamente e por todos os meios disponíveis o Direito da Nação.” A Constituição da República Federativa do Brasil repudia explicitamente o racismo, razão pela qual a ideologia e os valores das Forças Armadas Ucranianas são completamente incompatíveis com os valores brasileiros. Por esta mesma razão também é desejável que os brasileiros que servem ao regime de Kiev jamais retornem ao Brasil vivos.

sexta-feira, agosto 15, 2025

De Heinz Christen a René Júnior: as lições centenárias de um escritor soviético sobre sociedades doentias

Essa semana, a sociedade brasileira foi chocada por um acontecimento trágico. Um psicopata, armado, assassinou a sangue frio um operário que fazia o seu trabalho. Naturalmente, René da Silva Nogueira Junior não se definia dessa forma, ele se apresentava nas redes sociais como um "CEO cristão, marido e patriota", e a sociedade o via como um "cidadão de bem", o "modelo de sucesso" numa sociedade extremamente materialista onde cada um é julgado segundo os bens que acumulou. A vítima do crime era um operário, pai de família, Laudemir de Souza Fernandes, gari, um lixeiro, mas a sociedade em que vivia vai um pouco mais além, era um "lixo" e por isso sua vida tinha menos valor do que o caminhão que dirigia ou a vassoura que carregava. O motivo do assassinato - o mais fútil possível, o caminhão que recolhia o lixo estava na frente do seu precioso automóvel.

Certa vez, um escritor soviético escreveu um artigo chamado "Humanismo proletário", nele o comunista Alexei Maximovich Peshkov, mais conhecido pelo pseudônimo de "Maxim Gorkiy" (que literalmente significa "Maximamente Amargo", ou talvez uma referência à famosa metralhadora Maxim, mas que dispara o amargo) discutia frases que já em seu tempo, o início do século XX, ressoavam na boca de muitos: "o mundo está doente", "o mundo enlouqueceu". Gorkiy escrevia que "humanidade", "compaixão", "generosidade" são sentimentos não aplicáveis à realidade, já que são difíceis de transformar em mercadoria pois não encontram clientes e prejudicam o crescimento dos lucros comerciais e industriais. Afinal, generosidade não rende dividendos no banco, não pode ser trocada por bitcoins e nem serve para comprar um automóvel elétrico. 

Cenas como a que o Brasil viu recentemente não são nenhuma novidade, será que alguém lembra quando o famoso jornalista Boris Casoy, antigo integrante do CCC, ridicularizou garis que lhe desejaram "Feliz Natal!" ao vivo? Num passado não muito distante, os anos 50, surgiu uma denúncia de que indígenas foram usados como alvos para a prática de tiro, tragédia que foi recapitulada pelo cineasta italiano Sergio Corbucci pela sua genial e profunda obra-prima de faroeste italiano "Django", de 1963. 

Numa sociedade em que possuir um automóvel é quase uma obrigação para alguém que se considera minimamente digno de se considerar um "ser humano", este item de consumo tem um caráter quase sacrossanto. Nas estradas de muitas cidades do Brasil, alguém que respeita o limite de velocidade é frequentemente perturbado por luzes altas ou buzina de indivíduos "apressadinhos" que consideram como um enorme insulto à sua dignidade e status social, à marca de seu automóvel, ter em sua frente um "idiota" que respeita o limite de velocidade e não lhe abre passagem, como se este fosse alguma espécie de dignatário de renome internacional. Não é raro que tais ocorridos gerem "rixas" e até resultem em assassinatos, como ocorreu em Fortaleza, onde um advogado matou a sangue frio um motorista com quem se desentendeu; no Rio, onde um motorista de uma veículo importado alemão executou um motociclista, ou em São Paulo onde um promotor atropelou vários ciclistas que estavam à frente de seu carro. 

Por que será que tais indivíduos, cuja avaliação cabe a um psiquiatra, estão tão apressados? Dizendo-se cristãos, eles estão indo a um encontro com Jesus Cristo? Talvez são profissionais apressados para desarmar uma bomba nuclear? Mesmo em países como a Alemanha, onde a pontualidade é uma relevante regra social, onde carros possuem marcas famosas no mundo inteiro e as estradas permitem ultrapassar os 200km/h, não se percebe tamanhas aberrações no trânsito.

Aliás, falando em Alemanha, Maxim Gorkiy, ainda nos anos 30, nos advertiu para um problema que aconteceu naquele país, que então tinha como símbolo de "sucesso social" não automóveis, mas a farda de organizações nazistas. Gorkiy nos conta no "Humanismo proletário" como Heinz Christen, um adolescente de 14 anos, matou seu amigo Fritz Walkenhorst, um garoto de 13 anos. O assassino contou friamente que cavou um túmulo para seu amigo com antecedência, jogou-o lá vivo e manteve-o com o rosto na areia até que Valkenhorst moresse sufocado. Ele motivou o assassinato dizendo que queria muito ficar com o uniforme de soldado de Hitler que pertencia a Valkenhorst. Isso aconteceu no início do século XX, mas no início do século XXI percebemos que pouca coisa mudou. No Brasil em vez de crianças temos dois adultos, ambos considerados pais de família, mas um deles com dignidade moral e valores em falta na sociedade, foi executado por um motivo absurdamente fútil - "ele estava na frente do carro de um príncipe do sucesso". 

Na época de Gorkiy a Alemanha nazista ainda não possuía campos de extermínio e nem havia invadido ainda praticamente toda a Europa. Havia uma sociedade que valorizava a "raça superior" e seus atributos (no caso o uniforme ou distintivo do NSDAP). No Brasil temos uma sociedade diferente, mas com muita coisa em comum, um sociedade capitalista extremamente materialista, consumista, pautada noutro tipo de racismo, não racial, mas social! Ao contrário de muitos países desenvolvidos, que costumam investir no transporte público, muitos brasileiros contraem empréstimos para comprar automóveis, gastando até o último centavo de suas poupanças, se é que tem alguma, para assim serem aceitos como "gente de bem". Costuma-se dizer que "brasileiro adora carro", quando na realidade o que ele adora é o impacto social causado por um.

Longe de querer discutir armas de fogo, um advogado que matou outro motorista em Fortaleza usou uma chave de fenda, o promotor que atropelou ciclistas em São Paulo usou seu próprio veículo como arma, o problema definitivamente não está nas armas de fogo, na região ou na cor do agressor, o problema é uma grande doença social chamada capitalismo, que enquanto existir irá fuzilar, atropelar ou estocar muitas pessoas como Laudemir de Souza Fernandes. 

A história da "doença" do capitalismo, como ensinou Gorkiy, começou quase imediatamente após a burguesia arrancar o poder das mãos dos senhores feudais desgastados. Acerca dessa doença escreveram nomes eminentes como Nietsche, Marx, Engels e outros pensadores, mas para quê estudar filosofia se isso é "mera perda de tempo que não gera dividendos na bolsa" como nos ensinam coaches infantis em podcasts? Para quê falar em generosidade, humanidade e compaixão numa sociedade que cultua o consumo e um outro "ismo" que Gorkiy criticou ainda nos anos 30?

domingo, junho 22, 2025

Nazismo é um tipo de socialismo?

Por Cristiano Alves (Kristianograd)

Símbolo da Sociedade Thule de magia negra, precursora do partido nazista


Materiais compartilhados por aplicativos de mensagens, sem qualquer crivo científico ou pesquisa aprofundada, frequentemente disseminam o mito de que comunismo e nazismo são "farinha do mesmo saco", atestando a ignorância de grupos de extrema-direita com relação a questões político-ideológicas e históricas.

O clássico argumento da direita sustenta que "se nazismo significa nacional-socialismo, logo é socialismo". Por tal raciocínio leviano pode-se concluir que o Mar Vermelho tem a cor de sangue, o Mar Negro tema cor de piche e a Companhia Negra de Geyer Flórian era formada por africanos. Curiosamente, essa idiocracia omite o fato de que "Brasil" vem de "brasa", que tem cor avermelhada, e berra que "a nossa bandeira jamais será vermelha" (embora vários toponímicos como "guará" e o próprio nome Brasil estejam mais relacionados a vermelho do que ao verde-amarelo).

No que tange ao nazismo, artigo científico de Vassiliy Saizev define o nacional-socialismo (nazismo) como 

...uma ideologia radical, antissemita, racista, anticomunista e antidemocrática. Suas raízes remontam ao Movimento Popular (Völkische Bewegung), que surgiu na década de 1880 no Império Alemão e na Áustria-Hungria. Desde 1919, após a Primeira Guerra Mundial, o Nacional-Socialismo se tornou um movimento político independente nos países de língua alemã. Assim como o fascismo, que chegou ao poder na Itália em 1922, o objetivo do Nacional-Socialismo era criar um Estado autoritário sob um único líder (autoritärer Führerstaat) – o Führer. A diferença entre a ideologia alemã e o fascismo era seu extremo antissemitismo.

A partir de 1879, antissemitas alemães organizaram vários partidos e grupos políticos de inspiração antissemítica, saudosista e ocultista, dentre as quais a "Liga do Martelo do Reich" (Reichshammerbund), a "Associação contra a Arrogância do Judaísmo" (Verband gegen die Überhebung des Judentums) ou a "Ordem Secreta dos Alemães" (der geheime Germanenorden). No ano de 1918, surgiu a "Sociedade Thule" de Munique, publicando a revista "Observador de Munique" (Münchner Beobachter) com o símbolo da suástica na capa. Em 1919, a revista foi renomeada para "Observador do Povo" (Völkischer Beobachter). A ideia de um novo Reich, o III, partia de uma ideia saudosista de resgatar a grandeza do Sacro Império Romano-Germânico (I Reich) e de dar continuidade ao Império Alemão surgido após a unificação, o II Reich. Ideias de recriação de "grandes impérios do passado" são estranhas à filosofia marxista-leninista, bem como ao pensamento das correntes socialistas utópicas do século XIX.

Ao contrário da filosofia marxista, baseada no materialismo histórico, a Sociedade Thule, precursora do Partido Nazista, buscava inspiração no misticismo, no ocultismo, na magia negra, sua base era a metafísica, o que em parte explica a obsessão de Hitler por artefatos como o Santo Graal, a Lança de Longino e outros, buscados por renomados arqueólogos nos locais mais remotos da Terra. 

Os partidários da Sociedade Thule e mais tarde do NSDAP (partido nazista) rejeitavam a ideia de "luta de classes" em prol da ideia de que a força que move a história são as sociedades secretas: os illuminati, os cátaros, a maçonaria, a seita Moon, o KKK e até os Skull&Bones seriam os verdadeiros agentes da história. A crença em antigos mitos persas, germânicos, celtas e teutônicos não possui absolutamente nenhuma relação com a filosofia marxista e mesmo com a filosofia dos chamados socialistas utópicos, mas está presente em quase todos os movimentos neonazistas dos nossos dias, sendo um exemplo clássico o neopaganismo abertamente cultuado nas fileiras das Forças Armadas da Ucrânia (ZSU) e das organizações de emigrados ucranianos no Canadá, adeptos da seita neopagã RUN Vira.

Após a Revolução de Outubro de 1917 e a subsequente guerra civil, refugiados da Rússia criaram células anticomunistas e equiparavam os comunistas aos judeus, foi nesse momento que surgiu a expressão "bolchevismo judaico". Esses refugiados eram em geral elites e oficiais reacionários que ajudaram a disseminar a teoria da conspiração de um "judaísmo mundial todo-poderoso". Criaram também a chamada "Organização da Reconstrução" (Wirtschaftliche Aufbau-Vereinigung), que apoiava ideológica e financeiramente o partido NSDAP. Todos esses grupos se fundiram em um grande movimento nacional-socialista. O antissemitismo os uniu fortemente, temperado com objetivos imperialistas e racistas.

As ideias antissemitas e racistas de Hitler não eram nenhuma novidade, tais axiomas já haviam sido deduzidos no século XIX e início do século XX, ápice do colonialismo, por teóricos raciais (por exemplo, Goubineau, Francis Galton, Ernst Haeckel, Alfred Ploetz ou Wilhelm Schallmayer). Hitler inovou ao falar em "higiene racial" como programa político. Para o famoso pintor austríaco, a preservação da raça a principal tarefa do Estado.

Isso significava a esterilização obrigatória de pessoas com defeitos genéticos e aleijados, além de diversos benefícios para as "famílias alemãs decentes". Isso levou posteriormente ao extermínio de mais de 70.000 deficientes e alemães com doenças mentais. Aqueles com a "maior pureza racial" deveriam receber um "certificado de assentamento" e se estabelecer nas colônias capturadas. Hitler enfatizou especialmente que um Estado que apoia seus melhores elementos raciais deve invariavelmente se tornar o governante da Terra, deixando claro o seu nítido viés colonial-imperialista, que em muito se inspirava nas campanhas do Império Britânico e dos Estados Unidos contra os povos "menos civilizados". Hitler, como descreveu o professor russo Yegor Yakovlyev, era um "germânico que queria ser anglossaxão".

Enquanto os escritos do líder comunista Lenin condenam abertamente o antissemitismo, como forma da classe dominante de implodir a unidade dos trabalhadores, Hitler descreve os judeus como mendigos, parasitas, micróbios, sanguessugas, fungos de fissura, ratos, etc. O "judaísmo", em todas as suas formas, buscava "decompor", "bastardizar" (Bastardisierung) e "envenenar o sangue" do povo alemão, escreveu ele. Para esse propósito, acreditava Hitler, os judeus recorriam à "prostituição", à disseminação de doenças venéreas e à sedução de meninas arianas inocentes. Hitler atribuiu os males do mundo como a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a inflação, aos ardis do "Judaísmo Mundial". Ele incluiu nas fileiras deste último tanto o "capital financeiro" dos EUA quanto, sem ver qualquer contradição nisso, seu oponente político, o "bolchevismo".

No segundo volume de "Mein Kampf", Hitler já escrevia abertamente sobre a necessidade de exterminar os judeus: 

"Se durante a guerra 12 ou 15 mil desses judeus poluidores do povo tivessem sido submetidos a gás mostarda, assim como centenas de milhares de nossos melhores trabalhadores alemães de todas as classes e profissões que foram forçados a suportá-lo, seus milhões de vítimas não teriam sido em vão. Pelo contrário, 12 mil bandidos removidos a tempo provavelmente teriam ajudado a salvar um milhão de alemães decentes, necessários para o futuro." E essa tarefa, na opinião de Hitler, lhe foi confiada pelo próprio Deus: "Ao me livrar do judeu, estou fazendo a obra do Senhor", escreveu ele. 

Hitler não acreditava que membros de famílias judias também servissem na frente de batalha e, portanto, estivessem sujeitos a ataques com gás. Seu amigo e mentor, Dietrich Eckart, acreditava tão firmemente nessa ideia, inventada pelos próprios nazistas, que declarou que pagaria mil marcos a qualquer pessoa que conseguisse o nome de uma família judia cujos filhos tivessem servido no front por mais de três semanas. Quando o rabino Samuel Freund nomeou vinte dessas famílias, Dietrich se recusou a pagar. O rabino entrou com uma ação judicial, na qual nomeou outras cinquenta famílias. Nas famílias nomeadas, até sete filhos serviram, dos quais até três morreram em batalha. Eckart perdeu o caso e foi forçado a pagar o valor.

O sociólogo alemão Max Horkheimer escreveu em 1939 que o fascismo é equivalente ao capitalismo. O historiador Manfred Weissbecker chamou o nome do partido NSDAP de pura demagogia, já que não era nacionalista nem socialista, mas puramente fascista. É importante enfatizar que o programa econômico do III Reich não foi elaborado por Adolf Hitler, mas sim por Albert Speer, que liderava uma organização de grandes empresários alemães. 

O historiador e economista britânico Antony C. Sutton acredita que o Partido Nazista era apoiado por bancos americanos. O economista ítalo-americano Guido Giacomo Preparata compartilha dessa opinião. O partido, que não tinha dinheiro nem mesmo para um congresso no verão de 1928 e depois perdeu as eleições, reuniu cerca de 200 mil membros em trens especialmente encomendados de toda a Alemanha no verão de 1929 e os levou até Nuremberg.

De fato, no partido havia uma facção socialista liderada por Gregor Strasser até 1930, mas ele e seus camaradas deixaram o partido e mesmo foram reprimidos no regime hitlerista. A ideologia do partido continha alguns elementos de anticapitalismo, mas sempre subordinadas ao viés antissemita. 

O cientista político Franz Neumann escreveu que o nacional-socialismo não se libertou da produção capitalista privada, mas, pelo contrário, criou o “capitalismo monopolista totalitário”. O próprio Hitler se manifestou a favor da propriedade privada já em 1919, em conversas privadas, e em 1926, publicamente, durante um discurso no Clube Nacional de Hamburgo. Em 26 de junho de 1944, em um discurso diante de figuras importantes da indústria militar, Albert Speer e Adolf Hitler prometeram que "após a vitória, uma grande era viria para a iniciativa privada na indústria alemã". Apesar disso, Hitler não era um adepto do livre mercado, embora não defendesse uma ditadura do proletariado, ainda que alemão. Sua ideologia também não era a favor da nacionalização da produção. A Alemanha de Hitler pode ser vista como uma Alemanha na qual o poder dos grandes bancos foi repassado para a indústria armamentista.

O programa do NSDAP pôs em prática alguns princípios assistencialistas, mas ao contrário do marxismo, que promete igualdade social aos trabalhadores, esse programa estava subordinado ao princípio de homogeneidade étnica. Houve tentativas de colocar essa promessa em prática, mas somente no Serviço de Trabalho do Reich (Reichsarbeitsdienst), na Juventude Hitlerista e no exército (Wehrmacht). 

Esses fatos, atestados até mesmo pelos trabalhos mais medíocres sobre o III Reich, refutam completamente o mito de que "socialismo e nazismo são irmãos gêmeos", mitos estes que levam o povo à ignorância e à manipulação dos defensores da mais cruel forma de capitalismo

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